Resenha – Atanatize – O Caminho dos Mestres Não-Mortos de Alexander L.M

Fonte: Arquivo pessoal

Na resenha de hoje iremos falar sobre um tópico que ainda possui poucos livros a seu respeito dentro do nosso cenário nacional: o vampirismo! Atanatize – O Caminho dos Mestres Não-Mortos, publicado este ano pela Manus Gloriae Editora, chama a atenção sendo um volume direto ao ponto, cheio de exercícios e com rituais funcionais ao seu propósito.

Ficha Técnica

Autor: Alexander L.M

Editora: Publicado originalmente de forma independente e aqui, em território nacional, pela Manus Gloriae Editora

Idioma: Português e inglês

Páginas: 94

Ano: 2023

Sinopse do livro

Atanatize é um grimório de vampirismo que, de forma prática e sem rodeios, ensina os meandros dessa perigosa e fascinante arte. Contendo exercícios e técnicas, certamente auxiliará o iniciante a drenar energia sabendo escapar das ameaças iminentes deste sombrio caminho predatório. O livro apresenta alguns exercícios simples e diretos, um resumo de divindades e personalidades vampíricas e um conjunto de rituais, invocações e pacto com entidades do caminho dos Não-Mortos para aqueles que desejam adentrar no vampirismo e se tornar um Não-Morto.

Resenha

Sendo um dos livros mais curtinhos e funcionais que eu li esse ano, Atanatize cumpre bem a sua proposta e entrega o que promete ao leitor. No entanto, eu diria que ele é mais um livro de nível intermediário do que introdutório, como explicarei um pouco mais nos pontos positivos e negativos da obra. Um completo estranho ao tema pode ficar perdido sem ter alguns contextos mais desenvolvidos pelo autor, mas alguém que já possui noções básicas pode navegar o livro sem dificuldades e encontrar formas de aprimorar a própria prática de forma realista e funcional.

Pontos Positivos

O primeiro ponto positivo que eu realmente consegui sentir ao ler Atanatize é que seu autor fala por experiência própria. Se você tem algum nível de experiência com o vampirismo, mesmo que pouca, vai conseguir identificar na fala de Alexander L.M uma pessoa que sabe o que diz pois realmente é um praticante e está colocando em suas páginas a realidade sobre o assunto sem se alongar com firula. Inclusive, em alguns momentos ele poderia até mesmo ter sim se alongado um pouco mais, mas não o fez. O livro é bem curtinho e você consegue matar a leitura em uma tarde rapidamente.

Eu gostei bastante dos exercícios num geral. A ideia do treinamento com a planta, antes de se passar para outros níveis, é muito legal e vale muito a pena de se fazer. O uso de sangue nos rituais finais é, em minha visão, coerente com as propostas apresentadas. Inclusive, são rituais bem descomplicados e funcionais. Apesar dele os passar para a sua linhagem e vertente especificamente um adepto um pouco mais estudado saberá pegar seu funcionamento base e os aplicar a outras linhas sem problemas.

Um dos melhores pontos no entanto, e sem dúvida, é o quanto o autor não poupa nos alertas sobre as práticas. Ele consegue mandar a real sobre as consequências de cada coisa sem precisar demonizar o vampirismo mas sim se atendo ao que é concreto. Você sabe exatamente o que esperar e nunca vai poder dizer que não te falaram. As indicações bibliográficas também são bem interessantes de se dar uma olhada para se aprofundar no tema. Afinal, ele não inclui e não nos prepara para tudo, mas pode ser um bom livro para se ter quando estamos uns passos já na jornada.

Pontos Negativos

De uma forma muito curiosa eu diria que, em certo nível, a falta de rodeios do autor é justamente o primeiro ponto negativo que eu posso citar. O livro ser curto pode ser bom, mas não precisava ser tão curto. Ele coloca muitos conceitos que precisam de um maior contexto de uma forma muito seca, o que faz com que o leitor realmente só consiga aproveitar a leitura se já tiver algum letramento nos tópicos que são citados, como já disse acima. Ele chega a, em alguns momentos, encavalar conceitos distintos uns nos outros, podendo ficar confuso ao leitor casual.

Um exemplo disso sendo logo na introdução onde ele cita o caminho do vampiro vindo dos Annunaki (um grupo de divindades sumérias, acádias e babilônicas) com conceitos mitológicos de Sekhmet (deusa egípcia), indo para os Vigilantes dos apócrifos de Enoque, para Caim (ambos judaicos) e depois para Lilith (voltando a Mesopotâmia). Todas essas culturas e mitologias são distintas e diferentes entre si. Sendo mais opinativo do que qualquer outra coisa a linha que o texto quer traçar entre elas. Quem tem por costume ler literatura vampírica entende de onde o autor veio e onde ele quer chegar, mas pode causar mais confusão do que qualquer outra coisa para quem é de fora.

Citações sobre algumas crenças referentes ao funcionamento da glândula pineal e sobre conspirações envolvendo adrenocromo também surgem sem muito contexto e de forma bem mais solta do que deveriam. No caso, adrenocromo é simplesmente um composto químico sintetizado pela oxidação da adrenalina. Existiram algumas pesquisas sobre ele em pequena escala nas décadas de 1950 e 1960 mas nada muito conclusivo. Sua popularidade se deve a como ele foi mencionado e usado na cultura pop, sendo citado em livros como Laranja Mecânica (1962) de Anthony Burgess e Medo e Delírio (1971) de Hunter S. Thompson de onde o exagero ficcional até hoje causa teorias conspirativas.

Aliás, sempre é de um mau gosto absurdo autores de Mão Esquerda citarem e usarem teorias da conspiração deste tipo em seus livros. Afinal, elas vem predominantemente de grupos de extrema direita como o QAnon e de conspirações politiqueiras como o Pizzagate que usam largamente os estereótipos antissemitas mais batidos da história da humanidade, como os libelos de sangue, colocando tudo nas costas justamente de adeptos da Mão Esquerda. Nestas narrativas, são sempre os perversos satanistas imaginários da elite que roubam criancinhas para sugar delas o elixir da juventude. Um adepto da Esquerda vir com papo de pânico satânico é sempre cafona e brega.

O segundo ponto negativo é o tom, digamos, um tanto quanto impaciente que muitos autores do meio tem e que neste livro encontramos também. Como na pág. 17 onde ele diz, a respeito de um exercício ao ar livre de noite que, se o leitor não consegue fazer aqueles exercícios, basicamente nem tem o que estar fazendo com o livro em mãos porque o caminho não é para quem não consegue fazer nem sequer aquilo. Em primeiro lugar, não é o leitor que está obrigando o autor a passar informação alguma para esse tipo de irritação estar presente no texto. E em segundo lugar, pode ser super de boas sair para caminhar no meio do mato de noite onde ele mora mas isso não é uma realidade em todos lugares do mundo. Dependendo de onde o leitor morar é melhor se poupar do assalto, entende? Existem mil maneiras e técnicas de se desenvolver as mesmas coisas sem se ser burro contra a própria integridade física.

O terceiro ponto negativo é a sempre presente falta de criatividade de autores masculinos ao citar ataques sexuais quase como que a primeira sugestão quando saímos dos exercícios introdutórios para nossos primeiros avanços em outros seres humanos. É sempre uma falta de refinamento incrível e eu sugiro que o praticante satisfaça seus impulsos sexuais de uma forma regular e física ao invés de descontar possíveis frustrações ou anseios em exercícios de vampirismo. Principalmente se estamos tratando de novatos no tema. Podemos exercitar vampirismo sexual com nossos parceiros, tendo conversas prévias sobre, mas eu não iria de cara nisso. Aliás, fica uma coisa até mesmo deslocada já que o livro possui de fato um capítulo sobre vampirismo sexual onde o tema é um pouco mais desenvolvido, mas enfim.

O quarto ponto é mais uma confusão, estando no capitulo sobre os Mestres Não-Mortos. Adeptos da Mão Esquerda não buscam unificação com deus/satã ou qualquer outra coisa como já vimos aqui. Buscar uma existência independente, seja como vampiro ou outros no pós vida, já é o normal na Via Sinistrae. E, além disso, o foco do autor é bem euro centrado ao falar das figuras dos Não-Mortos. Com certeza essas linhas são um caminho, e estão na proposta do livro inclusive, mas não são obrigatórias. Você pode desenvolver seu vampirismo com diversos guias espirituais, inclusive daemons e divindades, sem precisar entrar nas correntes que o autor cita. É, de fato, opcional. Existe bastante diversidade para se ser trabalhada num ramo tão vasto.

Acessibilidade: Eu realmente só achei a obra até agora com a Manus Gloriae e na Amazon, em inglês. As informações sobre o autor em si também são escassas, no máximo eu encontrei o site Temple of Belial com o outro único livro assinado por ele. Mas em um todo, não é um livro caro e pode facilmente ser adquirido sim!

Até mais!

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