Missa Negra – Da blasfêmia ao psicodrama

Fonte: Arquivo pessoal

Historicamente, é difícil termos outro ritual tão intrinsecamente ligado ao satanismo quanto a Missa Negra no imaginário popular. As lendas urbanas disseminadas ao seu respeito pela Igreja Católica em sua caçada aos hereges e desviantes misturava em si práticas que fossem consideradas chocantes aos ouvintes da época a narrativas antissemitas clássicas. Entre cruzes invertidas e o uso profano de hóstias temos nelas as clássicas acusações de blood libel, incriminações falsas feitas por cristãos contra judeus que tinham por objetivo os culpar de usar sangue cristão em seus rituais, na ideia de que satanistas roubavam crianças não batizadas para usarem seu sangue e sua gordura em seus ritos. Afinal, nunca faltou, por parte da Igreja, o anseio obsessivo de acusar aqueles que ela colocava no papel do outro os crimes que ela mesma propagava de inversão dos símbolos religiosos de outras culturas contra as quais ela antagonizava e da tortura e do rapto de incontáveis adultos e crianças em suas campanhas genocidas ao redor do mundo sob o falso manto de estar levando uma mensagem de paz e de amor.

Contra ela, até a perca de poder progressivo que ela sofreu ao longo dos anos, muitos movimentos e nomes se ergueram. E, para difamar esse nomes, ela sempre levantou os piores boatos do quais foi capaz. Criando medo para controlar as pessoas através do pânico social no qual ela se especializou através dos séculos. Como já mencionado no texto introdutório Satanismo – Um breve resumo histórico, a demonização de tudo que contra ela se levantasse e a eleição de inimigos contra os quais jogar a opinião pública sempre foram os métodos mais queridinhos de controle e manipulação de massa usados pela Igreja Católica e pelo cristianismo num geral até os dias de hoje. E algumas figuras, de certa forma, souberam usar desse imaginário criado pela Igreja de uma melhor forma que outras. As vezes, até mesmo o capitalizando. Afinal, se contam uma mentira sobre você e sobre pessoas como você, por qual motivo você não a usaria ao seu favor tendo o dinheiro e o capital social certo a sua disposição?

Esse parece ter sido exatamente o caso de Catherine Deshayes, conhecida popularmente como Madame Voisin, ou La Voisin. Tendo sido um dos maiores nomes do Caso dos Venenos, que causou um baita rebuliço dentro da corte francesa entre 1670 e 1682, Catherine soube se manter por anos de forma muito próspera dentro dos altos círculos sociais franceses vendendo de venenos a drogas, além do disponibilizar de serviços que incluíam de abortos a encantamentos para os mais diversos fins. É dela, e do processo do seu julgamento que culminou na sua execução em 1680, que temos os relatos históricos mais confiáveis de Missas Negras reais, performadas para a elite francesa e com a participação de padres amistosos a causa, como expressões de um anti cristianismo herético e socialmente subversivo.

Muito longe das malévolas bruxas campestres que a Igreja gostava de pregar no imaginário popular, o mais próximo que tivemos historicamente das Missas Negras provieram de pessoas de alto status social e de participantes do clero que tinham os acessos e a blindagem social oportuna para realizarem suas fantasias com discrição, liderados por uma figura que sabia pegar as fantasias criadas pela Igreja e as usar astutamente dentro dos círculos que frequentava para seus próprios fins. Mesmo após sua execução, a figura de La Voisin continuou rendendo para seus inquisidores uma verdadeira infinidade de material anti herético onde eles deitaram e rolaram. Afinal, o nome dela colocou de forma mais substancial a existência das Missas Negras no mapa, e a máquina de boatos e medos da Igreja pode funcionar a todo vapor, aumentando mil pontos a cada conto.

Anos depois, durante a década de 60, todo esse repertório cultural e histórico foi reaproveitado de forma igualmente astuta por Anton Szandor LaVey nas fundações da sua Church of Satan. Mesmo que, com o tempo, LaVey tenha deixado de performar sua versão moderna da Missa Negra, ele ainda a inseriu em seu livro The Satanic Rituals para ser executada por aqueles que sentirem que dela precisam para expressarem sua rebelião, e sua oposição a Igreja. Através dela, causando em si mesmos uma quebra definitiva contra os dogmas cristãos. E isso, aqui, é importante de ser frisado. Enquanto o foco das Missas Negras, em seu contexto mais histórico, focava muito mais na blasfêmia, o contexto moderno dado por LaVey a elas é essencialmente o do psicodrama que visa a libertação de seus participantes dos medos, das culpas e do poder que os símbolos cristãos podem infligir mesmo naqueles que já se afastaram de seus domínios.

Tenha em mente que a definição de psicodrama com a qual aqui trabalhamos é a da atividade em grupo na qual seus integrantes desempenham diferentes papéis na dramatização de uma situação com forte carga emocional e a de blasfêmia é a de atos injuriosos contra o nome de um deus ou religião que visam quebrar laços com estes de forma irreversível. No caso da Missa Negra de LaVey, a dramatização é a inversão do ritual da Missa Tridentina, onde a morte de Cristo se dá sem a sua ressureição e com a profanação de sua liturgia, instrumentos e crenças. Ela foi esquematizada para, inicialmente, puxar a carga e as energias cristãs para si para que, logo em seguida, elas sejam alteradas até sua destruição através do sacrilégio. Purgando seus participantes a cada ato e invertendo a dinâmica de poder cristã, tirando-o das mãos do divino e da Igreja e a devolvendo as mãos das pessoas.

Tendo isso em mente, tudo que é performado durante uma Missa Negra moderna visa sempre essa inversão para fins de libertação mental e emocional e elas devem ser performadas apenas para dar vasão a necessidade psicológica dos participantes de renegarem seus prévios laços com o cristianismo através da catarse por ela proporcionada. Sua fantasia deve ser utilizada no único sentido atribuído por LaVey aos verdadeiros ritos satânicos, o de se entrar em um estado subjetivo e livre que facilite aos seus participantes se expressarem e processarem emocionalmente o que preciso for para sua libertação. Para a catalisação da mudança. Sem este foco estabelecido de forma clara, o rito se transforma em apenas uma performance teatral que pode até entreter, mas não terá sua finalidade essencial respeitada ou manifestada.

É importante frisar também que, em The Satanic Rituals, LaVey deixa claro que os papéis ocupados durante a realização das Missas tem como foco a representação do princípio dualista das polaridades ativo/passivo para além dos estereótipos que temos em papéis de gênero. Mulheres podem perfeitamente desempenharem como sacerdotisas na falta de um homem para o papel de padre, desde que elas estejam confortáveis em representar o princípio ativo do rito. Inclusive, é tido como muito mais fluido para o bom andamento deste ter uma mulher forte e de energia projetiva o conduzindo do que um homem tímido e de energia introspectiva. Grupos formados apenas por mulheres ou apenas por homens, incluindo aqui a presença possível de pessoas trans, podem, ainda sim, performarem com sucesso a Missa desde que os papéis sejam executados por pessoas de personalidade e energia adequada a cada um deles.

Volte ao Guia

Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

Quem é Lúcifer

Fonte: Acervo pessoal

A imagem que aprendemos a ter sobre Lúcifer, seja através da cultura pop ou através da influência religiosa cristã ao nosso redor, se constrói através de uma linha sucessiva de erros. E de como a cultura popular tanto absorveu quanto se relacionou com o imaginário do anjo rebelde. Tornando, assim, o desfiar do novelo histórico que o envolve uma tarefa e tanto.

É difícil, principalmente para aqueles que tiveram um berço cristão, nunca terem ouvido ou lido a famosa passagem de Isaías 14:12-14

“¹² Como caíste desde o céu, ó Lúcifer, filho da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações!
¹³ E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte.
¹⁴ Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.”

A figura do mais sublime e alto anjo que, orgulhoso, se rebelou contra o próprio criador e, com isso, causou uma disruptura vital no próprio Universo nos tem um apelo muito particular. Nele temos um herói trágico, a imagem de uma perfeição pervertida, e altamente fascinante justamente por causa disso. Temos a beleza, o poder, a traição, a ira, todas muito exaltadas nessa narrativa. A imagética de uma guerra nos céus, um lugar que supostamente deveria ser habitado apenas pela perfeição e pela paz, captura a imaginação. Nos faz pensar. Refletir.

Mas como Lúcifer, que é um nome oriundo do latim, surgiu em um texto que, em seu original, é em hebraico?

E é neste pequeno detalhe que tudo começa.

Um pouquinho de história

A cronologia de Isaías abrange um período histórico muito específico, englobando em si desde a ocupação assíria até o período pós-exílico, pegando em si também o exílio babilônico. Seu texto nos é passado como a narrativa profética de um só autor mas, hoje em dia, temos evidências o suficiente para sabermos que ele foi um esforço de muitas mãos. E que a passagem sobre a figura que viemos a chamar de Lúcifer é datada como escrita em meados do século VIII AEC, fazendo parte de um contexto altamente político, escrito numa época de guerra, onde Israel perdeu e foi absorvido pelo Império Assírio. É isso que nos dá o tom conservador do autor, e de onde vem sua crítica ao paganismo assírio, ainda que os maiores ataques sejam voltados justamente contra o povo de Israel, que supostamente estavam novamente se afastando de seu Deus e de suas raízes ao aceitar aderir a cultura de seus conquistadores.

Em todos os capítulos iniciais do livro podemos acompanhar uma narrativa extremamente sangrenta. E, na passagem do capítulo 14, a ira profética se volta contra uma figura muito específica. Uma figura que tenta alcançar paridade com o divino. Tendo a Apoteose, a elevação ao status divino, como objetivo. E, contra essa figura, a inversão de seu objetivo é a maldição lançada:

“¹³ E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte.
¹⁴ Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.
¹⁵ E contudo levado serás ao inferno, ao mais profundo do abismo.
¹⁶ Os que te virem te contemplarão, considerar-te-ão, e dirão: É este o homem que fazia estremecer a terra e que fazia tremer os reinos?
¹⁷ Que punha o mundo como o deserto, e assolava as suas cidades? Que não abria a casa de seus cativos?
¹⁸ Todos os reis das nações, todos eles, jazem com honra, cada um na sua morada.
¹⁹ Porém tu és lançado da tua sepultura, como um renovo abominável, como as vestes dos que foram mortos atravessados à espada, como os que descem ao covil de pedras, como um cadáver pisado.
²⁰ Com eles não te reunirás na sepultura; porque destruíste a tua terra e mataste o teu povo; a descendência dos malignos não será jamais nomeada.
²¹ Preparai a matança para os seus filhos por causa da maldade de seus pais, para que não se levantem, e nem possuam a terra, e encham a face do mundo de cidades.”

Aquele que desejou se elevar recebe o castigo da queda. Sendo expulso de seu próprio túmulo, posto para vagar como um fantasma exilado, não recebendo paz ou reconhecimento, e impedido de se juntar aos seus próprios antepassados. O contraste aqui é propositalmente colocado, e impiedosamente estendido aos filhos dessa figura (um tema que retorna quando nos remetemos aos Nefilim). No entanto, não é de Lúcifer que o narrador está falando aqui.

A figura discutida neste capítulo todo é referenciada como הֵילֵל בֶּן-שָׁחַר (Helel ben Shachar, “o brilhante, filho da manhã”, um título hebraico usado para se referir a Vênus como estrela matutina). E é esta expressão que, quando foi traduzida para o grego na Septuaginta se tornou Phosphorus, ou Hèosphóros, nomes divinizados pelos quais os gregos antigos chamavam Vênus, a Estrela da Manhã. E Phosphorus, por sua vez, quando foi traduzido pela primeira vez para o latim na Vulgata, é que foi então traduzido como Lúcifer. Vindo de lux, que significa luz, e ferre, que significa portador, Lúcifer inicialmente constituía um título que significava literalmente O Portador da Luz. E que, assim como seus equivalentes, era usado como referência a Vênus.

Mas o profeta, claramente, não se referia contra um dos planetas do nosso sistema em sua imprecação. Muito menos as figuras divinas ligadas a ele. Ele se referia contra um homem. Um mortal. Que era passível ao falecimento, sendo então suscetível a maldição contra ele e contra seus herdeiros lançada. Com Helel ben Shachar não sendo um nome, como suas traduções também não o são, mas um título, é ao rei da Babilônia que nos referimos, sendo ele o real alvo da ira do narrador em seu período histórico correspondente.

E, apesar da identidade exata deste rei ainda ser um tema de discussão, o contexto torna provável que ele seja o assírio Sargão II, o mesmo mencionado em Isaías 20:1 como aquele que foi até a cidade de Asdode e a subjugou em 711 AEC, o que completou a conquista de Israel. Como um grande rei guerreiro e conquistador de sua época, Sargão II intencionava conquistar o mundo inteiro, e frequentemente usava para si os títulos reais mais pretenciosos da antiga Mesopotâmia para expressar esse desejo, como chamar a si mesmo em diversos registros de “rei do universo” e de “rei dos quatro cantos do mundo”.

Seu amor pelos campos de batalha era, no entanto, arriscado para alguém que tinha suas pretensões. Afinal, se jogar frequentemente em batalhas não costuma ser algo que prolonga naturalmente nossos dias de vida. E sua morte, como não poderia deixar de ser, foi justamente em guerra. E foi tão marcante para o seu próprio povo na época que foi, inclusive, vista como um mau presságio. Pois para ter sido morto da forma que ele foi, ele só poderia ter cometido alguma falta grave contra os deuses, para que esses o abandonassem em campo.

O que fez com que seu herdeiro, assim que assumiu o trono, rapidamente mudasse a capital para outra cidade e procurasse se afastar da memória de seu pai, não conseguindo lidar com o que aconteceu com ele. De certa forma, o impacto e o trauma gerados por sua morte deram alguma concretização as palavras de Isaías. Com seu filho encorajando o povo da Assíria a o esquecer, e até mesmo com sua esposa, Atalia, sendo enterrada as pressas quando morreu. Sem receber as práticas tradicionais de sepultamento e sem menção alguma a Sargão II atrelada a ela em suas inscrições.

É importante, então, deixar claro que o contexto bíblico que sempre fomos levados a crer em relação a Lúcifer, portanto, não existe. Se derivando completamente da retirada do contexto político de Isaías para que um título fosse, então, tido como um nome próprio. Criando assim, artificialmente, um mito que remeteria e se refletiria em outras figuras míticas prévias cujas lendas são marcadas pelos elementos da fuga, do compartilhamento do fogo ou de dons proibidos e a transgressão dos limites impostos pelo divino. Figuras como Aṯtar (ou Astar), Gilgamesh, Ícaro, Prometeu e muitos outros. Contendo, desta forma, uma vasta inspiração pagã, foi fácil criar uma narrativa charmosa e cativante para essa nova figura.

Afinal, diferentemente do judaísmo que não possui a figura de um inimigo central em sua crença, o catolicismo precisava de um bom antagonista. E foi isso que foi criado. Não só na narrativa do anjo caído através de más traduções, como também na figura multifacetada e complexa que o Diabo em si se tornou, absorvendo tudo que o cristianismo procurou demonizar e transformar em tabu perante as culturas que ele dominou e sufocou ao longo dos séculos. Tornando, assim, a figura de seu opositor muito mais intrincada, complexa, vívida e repleta de cores e nuances do que a figura da sua própria divindade.

Mas e na mitologia romana?

É um ponto comum, em meios pagãos, citarem Dianus Lucifero quando falamos de Lúcifer. Principalmente se estamos falando da bruxaria folclórica italiana, a stregheria. Mas é importante dizer que a ideia de Lúcifer como consorte de Diana e pai de Aradia não tem fontes para além do livro do norte-americano Charles G. Leland, lançado no século XIX, Aradia: Evangelho das Bruxas. Este livro teve uma profunda influência em Gardner, que o usaria junto as suas outras inspirações para criar a Wicca na década de 50. Mas, apesar da relevância, ele nunca se configurou como uma fonte histórica confiável. O que realmente se tem de registros sobre Lúcifer em seu berço, que é romano, não o tem como uma divindade mas sim como um título relacionado a Vênus e, quando se difere disso, é em poucas menções mitológicas onde temos uma licença poética de o retratar como filho da Aurora. Sendo Diana, em si, uma deusa virginal que obteve do pai, Júpiter, a permissão para assim permanecer, nunca tendo se casado ou concebido descendentes.

A figura de Lúcifer sempre foi a figura de Vênus. Não se remetendo, originalmente, a uma divindade. Mas tendo uma evolução histórica que o ampliou da sua correspondência original a figura do rebelde angelical, do adversário, e que foi profundamente absorvido pela cultura e pelo folclore de diversas formas por séculos. Todas as tentativas de colocá-lo ou apenas como uma grande figura pagã ou apenas como o anjo caído na verdade limitam a discussão sobre ele. E limitar Lúcifer a um só ponto no tempo, a uma só passagem ou cultura, no momento presente, é desejar limitar a apenas um gole as águas de um rio que corre por toda história humana. Ele é uma figura complexa. E existe muito mais beleza e riqueza na complexidade do que em respostas simples e chapadas como preto no branco.

No Luciferianismo

Dentro do Luciferianismo, Lúcifer é tido como uma das mais elevadas representações da face masculina do Adversário. Ele é entendido como aquele que traz a Luz e a Sabedoria, guiando a Vontade do adepto até a sua libertação e iluminação. Sendo o ponto focal de inspiração que norteia o nosso caminho para explorarmos as profundezas de nossas mentes e almas, trazendo as sombras até a transformação da luz. Para os luciferianos ateístas, ele é o mais alto símbolo inspiração, para os teístas, ele é considerado (e aí sim) como a divindade patronal do Caminho. Sendo uma representação de poder, de ascensão, de maestria pessoal e de inteligência. Assim como diz Michael W. Ford na Bíblia do Adversário, p.59:

“Lúcifer é equilibrado, representante da luz e do intelecto superior e da escuridão, representando os aspectos lascivos ou ocultos do eu. A ‘Luz’ não é meramente uma iluminação ‘acima’, e sim muito mais importante: a Luz interior onde está nossa consciência individual, nosso potencial divino para controlar e comandar nossa vida com base em nossos pensamentos, palavras e ações. A Chama Negra ou a Luz Negra é a referência simbólica a essa consciência divina interior.”

O equilíbrio perfeito entre a luz e a escuridão sendo um traço característico que define o próprio luciferianismo em si. Afinal, nenhuma iluminação pode ser verdadeira se ela não provém, em primeiro lugar, do contato e da maestria das sombras interiores de um indivíduo. Crescemos e nos desenvolvemos quando temos a coragem de explorar e enfrentar nossa própria obscuridade. Lúcifer traz o conhecimento tanto dos nossos traços e desejos destrutivos quanto de nossas maiores qualidades e criatividade e esse conhecimento não deve ser utilizado para que tentemos “anular” as sombras e focar só no que consideramos mais agradável, visto que isso seria um processo auto destrutivo e vão, mas sim o de equilibrar ambas as polaridades, realmente as acolhendo e compreendendo, pois existe tanto propósito quanto aplicabilidade nos dois lados da moeda.

A figura simbólica do anjo rebelde nos inspira a questionar o mundo ao nosso redor, a percebermos que a rebeldia, quando feita com propósito, pode ser uma força de mudança extremamente necessária e libertadora. A figura do Adversário nos motiva em força e em poder para não temermos o processo de “queda” em nossos infernos pessoais. Pois apesar de difíceis, são processos necessários ao nosso crescimento. E existe uma força única naqueles que foram coroados como senhores do próprio submundo. A figura do Senhor deste Mundo nos guia em como podemos nos desenvolver materialmente em nossas vidas. Pois apesar de focarmos no crescimento do nosso espírito ainda estamos encarnados neste mundo e precisamos ter conforto e vitória nele também.

O luciferianismo pensa a escuridão (o demoníaco) como um símbolo de tudo o que nos é primal. Nosso subconsciente, nossos desejos e necessidades carnais, nosso instinto de sobrevivência, nosso ego, nossos impulsos violentos, nossos desejos animalescos, mas também como nossa força emocional, Pois existe cura e fertilidade nas sombras. Essas coisas, por si só, não são boas ou más. apenas são o que são. E a luz (o angelical) é pensada como o nosso intelecto, o nosso potencial criativo, o nosso pensamento lógico e racional, nossa auto disciplina, nossas habilidades estratégicas e a nossa capacidade de obter sabedoria a partir das nossas experiências e percepções. Ela também não é boa e nem má, ela também apenas é o que é. E diante do equilíbrio que temos na figura de Lúcifer, na Estrela da Manhã que inspira nossa evolução intelectual, e na Estrela Vespertina que nos guia ao poder da escuridão, nos desenvolvemos de forma harmônica e completa.

Lúcifer e Satã seriam o mesmo perante o Luciferianismo?

Tenha sempre em mente que, dentro do Luciferianismo, Lúcifer é a figura do Portador da Luz, representando a sabedoria e a iluminação pessoal. Ele simboliza, em primeiro lugar, os aspectos angélicos ou superiores do Eu, sendo assim um símbolo de poder, evolução e de ascensão. Já a palavra Satã, em sua origem, é um título. Vindo do hebraico שָטָן (significando adversário) e do árabe الشيطان (shaitan) que derivam da raiz semítica šṭn, significando hostil. Podemos ver a utilização deste título para se referir a diversos opositores num sentido geral dentro da Tanakh hebraica, mas nunca sendo usado como nome próprio de uma única figura. Isso só acontece com o advento da Igreja Católica, muitos anos depois, em sua busca por criar o adversário de sua própria crença. Dentro da Mão Esquerda, Lúcifer e Satã se posicionam como faces diferentes da força Adversarial. Cito aqui, novamente, as palavras de Michael W. Ford em sua Bíblia do Adversário, p. 64 e 65:

“A partir de nosso ponto de vista, Lúcifer é um título que significa ‘Portador da Luz’. Satã é o aspecto ígneo que significa inimigo. Nós não reconhecemos a figura de Satã do Antigo Testamento como Lúcifer em qualquer sentido aparente ou absoluto. O Adversário tem muitas formas e Máscaras Deíficas. A Corrente Adversária é a força motivadora que causa mudança, evolução, destruição, criação e pelos desafios que temos diante de nós, um símbolo de força e auto evolução pela vontade. Sob o nome de Satã há um tipo diferente de energia, se comparado a Lúcifer; como uma força essencial da natureza e da humanidade (…) Satã e Lúcifer são formas distintas do Adversário.”

Símbolos de Poder

O Sigilo de Lúcifer do Grimorium Verum (1517)

O sigilo mais famoso e bem reconhecido que temos em utilização dentro do ocultismo e da Mão Esquerda como sigilo de Lúcifer é oriundo do livro Grimorium Verum, de 1517. Nele, Lúcifer é considerado como o Imperador Infernal, tendo sob seu comando os espíritos da Europa e da Ásia (os outros dois principais, abaixo e em conjunto a ele, dentro da narrativa deste grimório, seriam Belzebu, tendo sob o seu comando os espíritos da África e Astaroth, tendo sob o seu comando os espíritos das Américas).

Possuindo quatro partes, o texto original do Grimorium não nos explica muito sobre seus possíveis significados. Em tempos modernos, no entanto, conseguimos encontrar ensaios e diversas formas de os trabalhar dentro da Mão Esquerda, derivando das experiências e do trabalho sério de diversos autores. O que aqui colocarei se refere aos conceitos a eles atribuídos dentro do Caminho Luciferiano. As informações podem ser encontradas no Book of the Witch Moon, das páginas 341 até 344 e na Bíblia do Adversário, das páginas 217 até 222, ambos de Michael W. Ford.

O Sigilo do Espírito – A Chama Negra

Fonte: Acervo pessoal

O símbolo inicial traduz o aspecto principal de Lúcifer como aquele que rege os poderes da mente e do intelecto em relação a Verdadeira Vontade. Representando a Chama Negra coroada, unida e em perfeito domínio das nossas funções conscientes, este sigilo representa o mais alto estado do Espírito dentro do Luciferianismo e ativa os dons da adivinhação, da Alquimia Negra e da auto deificação. Aqui temos o despertar da Articulação Superior da Consciência. O aspecto angélico, que representa a inteligência, a luz, o poder e o equilíbrio.

O Sigilo do Portador da Sabedoria Esquecida – A Espiritualidade Predatória

Fonte: Acervo pessoal

Aqui temos a Marca do Portador da Luz, tanto como encarnação da Iluminação como quanto Príncipe das Trevas. Sendo o sigilo mais conhecido pelo público em geral no que se refere a Lúcifer, temos aqui a representação da nossa razão e de todos nossos cinco sentidos em uso de desejo e foco, através do qual podemos dominar o mundo ao nosso redor. A razão e o intelecto desenvolvidos e bem direcionados, aliados as nossas ações equilibradas e dinâmicas, como a chave para a nossa autoridade e o nosso poder sobre nós mesmos e sobre o que nos cerca. E essa vontade pelo domínio aqui é a Vontade Vampírica, a fome atávica, ponte entre os aspectos angelicais (racionais e elevados) e os bestiais (primitivos e densos). É um símbolo que pode, entre outras coisas, proteger o adepto quando ele se dirige ao devorar do espírito, ao beber da sombra (sombras dos mortos) e ao transmutar da forma dos nossos corpos nos planos astral e onírico.

O Sigilo do Elemento do Ar – O Serafim Caído e a Estrela da Manhã e do Entardecer

Fonte: Acervo pessoal

No Sigilo dos Elementos, ou Sigilo do Elemento Ar, temos a experiência do mundo ao nosso redor. A primavera, o verão, o outono e o inverno, o frio e o calor, a escuridão e a luz, o sol e a chuva, os quatro elementos e o meio ambiente em geral. Neste símbolo, percebemos como o meio nos afeta e como nós o afetamos. O mais voltado ao material dos quatro símbolos, onde temos nossa relação de influência mútua com a natureza, tendo sua utilização voltada aos rituais e meditações onde operamos para influenciar o mundo físico ao nosso redor, ele é um lembrete constante de que podemos moldar os nossos arredores, também agindo como um choque para sairmos das zonas de conforto para testarmos nossas forças continuamente. Os dois símbolos crescentes no topo nos remetem a lua, Senhora da Noite, o triângulo inverso sendo a descida do espírito a matéria, o olho no centro do triângulo sendo o Olho de Satã como Poder do Mundo e os dois olhos abaixo sendo os Olhos do Adepto, nossa máscara de carne neste mundo, com o círculo central sendo o Círculo do Eu, o centro de Evocação em trabalhos cerimoniais por onde se derrama o Espírito.

O Sigilo do Plano Astral e da Viagem Espiritual

Fonte: Acervo pessoal

O último símbolo está relacionado diretamente ao uso dos outros três. Ele representa a Sombra do Adepto, o corpo astral que tem a capacidade de sair de noite para o Sabá dos Feiticeiros. A Sombra Astral é um veículo pelo qual iniciações espirituais são recebidas, podendo ser moldado para quaisquer formas que sejam do nosso agrado, para melhor refletirmos as qualidades do nosso verdadeiro espírito. O olho, aqui, é o vigia flutuante. E seu uso está profundamente ligado a práticas oníricas (incluindo as vampíricas, onde bebemos dos que dormem).

Entendendo o que cada símbolo traz podemos utilizá-los corretamente em nossas práticas e evolução. Cada um deles pode ser absorvido pelo nosso subconsciente, na ativação ritualística, para se converterem então em poder consciente. Afinal, ativados em nosso subconsciente, eles são trazidos de volta ao consciente e a luz como chaves de poder na prática luciferiana.

Experiências Pessoais

Como sou uma luciferiana teísta, o que eu falo aqui parte desta perspectiva. E a minha experiência com Lúcifer é como a divindade patronal do meu caminho. Sendo o meu contato com ele um dos mais leves, naturais e transformadores de toda minha jornada até agora. Estar com ele é fluido, é autêntico, é suave. Sua energia, em seu aspecto luminoso, tem a mesma sensação daquele friozinho revigorante que te desperta em um amanhecer ensolarado. Em seu aspecto denso, é como estar na borda de um precipício, com seus sentidos se aguçando pela adrenalina. Ele é extremamente gentil e educado. No espaço que você abrir para que ele atue em você ele te desenvolverá e, quase que sem notar, quando você se der conta você terá mudado. E não só em um ponto ou dois, mas completamente. A ação dele, mesmo quando pontual, sempre irradia, como a própria luz tem por costume de fazer, e nada mais permanece como era antes do toque dele.

E, justamente pela sua gentileza e por como ele é aberto e caloroso com aqueles que se achegam a ele, as vezes sua rigidez passa quase que desapercebida. Pois sim, ele exige muita disciplina e tem altas expectativas naqueles que estão debaixo das suas asas. Em sua delicadeza e cortesia, ele irá te educar e te retificar sem que você nem note. As coisas vão se alinhar. Você vai se alinhar. E vai ser tão fluido que pode até parecer estranho. Afinal, ele transforma as coisas em uma escala maior do que estamos acostumados. No entanto, nunca confunda sua amabilidade por permissividade. O toque suave pode se transformar em um punho de ferro na mesma velocidade que a luz possui.

Outro ponto bom de não se confundir é a maneira como ele lapida as pessoas sob sua influência e cuidado. Ele é extremamente presente, caloroso, protetor e preocupado com os seus, mas isso não significa que ele não será o professor mais duro e impiedoso da sua jornada ao mesmo tempo. A dualidade entre sua leveza e sua densidade também está nisto. Ele pode te mimar e te dar as provas mais duras que você já viveu na sua vida na mesma semana e sem seu sorriso se alterar por um segundo só. Então esteja pronto para levar as coisas realmente a sério, com comprometimento e dedicação, ao decidir ir até ele. Vale a pena. Vale a pena demais. Para aqueles genuinamente se dedicam.

O Caminho da Estrela da Manhã

Como não pode faltar, o ritual a seguir é para aqueles que querem estabelecer contato com Lúcifer pela primeira vez! Iremos aqui iniciar com seu aspecto luminoso, ligado a Estrela da Manhã.

Para ele, espere a lua estar nas fases nova ou crescente. Então, separe uma manhã para fazê-lo. Dê preferência para as sextas ou para os domingos, mas o importante é que seja um dia em que você possa acordar realmente cedo e ter tempo para ritualizar sem pressa. Localize qual é o Leste em relação a sua casa, ou local onde você realizará o ritual e onde vênus se encontra no céu. Veja também exatamente em qual horário o sol nascerá na sua cidade, pois é antes dele surgir no horizonte que iremos começar a trabalhar, de forma que possamos presenciar a luz nascer durante nossa prática.

Mais ou menos uma hora antes do sol nascer (sim, cedo assim) prepare um banho com as pétalas de uma rosa branca, boldo, hortelã, tomilho e cravo. Tome seu banho higiênico normalmente e, no final, tome o banho de ervas da cabeça para baixo. Então, já limpo e energizado, prepare o local que você irá usar. Dê preferência para locais abertos, onde você possa ver o céu, mas você pode usar um ambiente interno também caso seja sua única possibilidade. O organize e limpe fisicamente e, para a limpeza energética, você pode usar incenso de sândalo ou sangue de dragão. Tenha consigo:

  • Uma representação de Lúcifer (podendo ser uma arte que você goste, seu sigilo, etc)
  • Uma vela branca, verde ou dourada
  • Uma esmeralda (bruta ou lapidada, vai da sua escolha)
  • Vinho rose
  • Rosas vermelhas

Arrume todos elementos como um pequeno altar a Lúcifer, voltado ao Leste. Então, uns 10 minutinhos antes do sol nascer, faça o Círculo. Acenda a vela. Olhe para o céu, para Vênus, e diga:

”Estrela da Manhã
Anunciadora do Dia
Da Vida
Da Beleza e da Virtude
Derrame seu brilho sobre mim neste momento
Seu discernimento e poder
E me eleve
Até a Iluminação
Até a Sabedoria
E a Libertação
De Lúcifer”

Respire profundamente. Se concentre. Deite-se e deixe a esmeralda repousando no centro da sua testa. Olhe para o céu, para vênus, uma última vez e então, feche os olhos. Se imagine no meio de uma densa floresta, aos pés de uma grande montanha, perto do amanhecer. Você percebe que, em suas mãos, você segura o seu próprio coração, feito da mais pura esmeralda. Segure ele perto do seu peito com cuidado e comece a subir a montanha. Seu caminho é lento, com um ou outro obstáculo, mas você consegue avançar e chegar ao topo.

Lá, você consegue ter uma vista panorâmica de todos os arredores. E, no horizonte, você consegue ver os primeiros raios do sol surgindo aos poucos, tingindo o céu lentamente em seu dourado caloroso. Localize vênus no céu. Então, com toda sinceridade, use suas próprias palavras para chamar Lúcifer até você. Fale com todo o seu coração, afinal, ele está em suas mãos neste momento. Repare que, inclusive, enquanto você fala, seu coração começa a brilhar. E, quanto mais você fala, chamando Lúcifer, mais seu coração brilha. Até que, ao final do seu chamado, ele esteja brilhando como uma pequena estrela entre as suas mãos. Olhe para ele, admire seu brilho. Até que, em algum momento, uma luz a sua frente chame a sua atenção.

Olhando para frente novamente, você verá uma silhueta angelical feita da mais pura luz pousando os pés suavemente no topo da montanha, a sua frente. O céu, atrás do anjo de luz e de suas asas, brilha cada vez mais, se tingindo de dourado e tons alaranjados e rosados. Aos poucos, o anjo se aproximará de você. Com sua luz aos poucos se reduzindo e com você conseguindo enxergá-lo melhor, você reconhecerá Lúcifer. O saúde, agradeça pela sua presença. E explique qual é o motivo do seu contato. Ele te ouvirá atentamente. Quando você terminar, ele se aproximará ainda um pouco mais, beijando suavemente o centro da sua testa e pegando o seu coração entre suas mãos. Em um segundo, quando você olhar, nas mãos de Lúcifer, seu coração terá virado uma brilhante coroa de esmeralda. Neste momento, Lúcifer falará algo para você. Ouça atentamente, e desperte da meditação.

Respire fundo novamente, e levante com calma. Já terá amanhecido ao seu redor. Ofereça a vela, o vinho e as rosas a Lúcifer. Agradeça a ele, agradeça a Vênus também. Anote suas impressões. O que você viu, o que você sentiu, o que você ouviu, e encerre o ritual apropriadamente. Espere a vela queimar até o fim e, então, você pode entregar o vinho e as rosas num parque, aos pés de uma árvore bem bonita. Dê preferencia as floridas, ou frutíferas. A esmeralda poderá ficar com você. A mantenha sempre por perto por pelo menos um mês, afinal, ela estará imantada com a energia do ritual! E fique atento aos sinais e sonhos que você poderá ter pelas próximas semanas.

Correspondências

E agora, para fechar o nosso artigo, vamos a algumas correspondências que podem ser usadas com ele! Você irá notar que a maior parte das correspondências aqui dadas são ligadas a Vênus e não é por acaso, afinal, estamos falando de uma força que é ligada a este planeta. Sinta-se livre para as usar como ponto de partida. Então, com o tempo e com o desenvolvimento dos seus estudos, amplie-a com base nas suas próprias experiências e jornada.

Dias: Sexta e Domingo

Horários: Amanhecer e poente

Planeta: Vênus

Pedras: Esmeralda, jade verde, cianita azul, selenita, quartzo

Metal: Cobre e ouro

Cores: Verde, dourado, branco

Incensos: Sangue de Dragão, sândalo, jasmim, rosas

Animais: Serpentes, dragões, corvos e gatos

Ofertas: Vinho tinto ou rose, flores (principalmente rosas vermelhas), frutas e doces

Enn: Renich Tasa Uberaca Biasa Icar Lucifer

Fontes e leituras indicadas: Para a parte histórica em si, Lúcifer: Princeps de Peter Grey sempre é a minha maior fonte e indicação. Dentro do luciferianismo indico A Bíblia do Adversário e Apoteose de Michael W. Ford e também, pegando a corrente dracônica e explorando as diversas facetas de Lúcifer e de figuras que seguem mitos semelhantes ao seu, temos as obras Ritos de Lúcifer e Lúcifer – O Despertar de Asenath Mason.

Até mais!

Volte ao Guia

Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

Quem é Lilith

Fonte: Arquivo pessoal

Lilith é uma figura complexa. Sendo interpretada tanto quanto como deusa quanto como demônio, suas origens vem até nós desde as antigas Suméria e Mesopotâmia, passando pelas tradições judaicas e islâmicas, até o ocultismo ocidental e seus grimórios. Hoje a temos em diversas interpretações tanto dentro do paganismo e da bruxaria quanto também dentro da Mão Esquerda.

Um pouquinho de história

A primeira referência que temos a ela, até o momento, surge na Epopeia de Gilgamesh, um antigo poema épico mesopotâmico constituído por doze placas de escrita cuneiforme. Sendo uma das primeiras obras conhecidas da literatura humana, escrito por volta de 2700 a.C. (Para você ter uma ideia, os próprios poemas homéricos surgem cerca de 1500 anos depois dela). Em sua narrativa mitológica temos a seguinte passagem na Tábua XII:

“Os anos passaram, a árvore amadureceu e cresceu. Mas Inanna era incapaz de cortá-la. Pois, em sua base, a cobra que ‘não se deixa encantar’ construíra um ninho. Na copa, o pássaro Zu – criatura mitológica que as vezes criava encrencas – deixara os filhotes. E, no meio, Lilith, a donzela da desolação, construíra sua casa. E, assim, a pobre Inanna, donzela de bom coração e perene alegria derramou lágrimas amargas. Ao amanhecer, seu irmão, o deus-sol Utu, despertou de seu sono e ela lhe contou, em prantos, tudo o que acontecera com sua árvore huluppu.”

O nome Lilith aqui derivando da palavra Lilitu, que denotava uma classe demoníaca e noturna de espíritos femininos relacionados ao vento. Sendo Lilith tanto uma figura própria como também parte dessa classe associada aos desertos, locais ermos e as tempestades. Sua iconografia, tanto dentro do que temos da cultura Suméria quanto da cultura Mesopotâmica, muitas vezes se associa e se confunde com as iconografias das deusas irmãs Inanna e Ereshkigal, sendo ela sempre associada a feitiçaria, aos ventos, as fortes tempestades, a sexualidade e ao submundo.

Sua assimilação dentro do misticismo judaico se deu muito tempo depois, sendo mencionada no Talmude hebraico do exílio da Babilônia. Nele, as Lilitu (indo para o plural hebraico, Liloth) continuaram se configurando como uma categoria de seres demoníacos, mas assumindo então as características predatórias contra crianças do qual mais facilmente ouvimos. Incluindo as conotações vampíricas e sexuais das súcubos e dos íncubos. Sua posição como pretensa primeira mulher de Adão, no entanto, só se firmou de fato no folclore popular hebreu no período medieval, onde temos a publicação do lúdico Alfabeto de Ben-Sira. E ele é o único local onde teremos essa narrativa. Sendo neste mesmo período medieval onde a temos inserida na Kabbalah como esposa de Samael. Lembrando que a Kabbalah é um sistema de misticismo judaico que se configurou apenas no século XII, na Espanha, propagado largamente por judeus sefarditas, tendo se espalhado com facilidade através das diásporas.

Para sua presença ir da Kabbalah judaica para a Cabala cristã, também se infiltrando no ocultismo medieval e em seus grimórios, foi um pulo só. E, a cada uma dessas passagens do original mesopotâmico e sumério até o medievo, novas camadas a ela foram adicionadas. De um demônio associado a natureza indomável e aos ventos a temos metamorfoseada em diversas facetas. Por isso falar dela é sempre tão complexo. Em seu caminho através da nossa história ela adquiriu uma multiplicidade que poucas outras figuras conseguiriam adquirir.

Mas, como nosso foco aqui no Guia é a Mão Esquerda em si, são seus significados dentro dela que eu irei explorar neste artigo inicial. Principalmente sob a luz do luciferianismo, que é a minha vertente pessoal. E onde a teremos, assim como na Via Sinistrae como um todo, como uma das principais facetas femininas do Adversário.

No Luciferianismo

O Selo da União Infernal – Fonte: A Bíblia do Adversário de Michael W. Ford

Perante a filosofia Luciferiana o Adversário não se configura como um único ser mas sim com uma corrente de força atemporal e acasual que flui e se manifesta por todo o nosso universo como os impulsos motivadores, inspiradores, desafiadores, destruidores e criativos tanto dentro da natureza como também do ser humano. Ele é a manifestação da pulsão da transformação. O incômodo que nos agita, o grito dentro de nossas gargantas, as adversidades que nos refinam e a revolta que nos faz lutar contra o que nos limita e desafia. O Adversário é o arrepio em nossa nuca, é a resposta violenta do oprimido contra as estruturas que o sentenciam, é a nossa gana de viver. Assim como ele também é a natureza selvagem e indomável que desafia a sobrevivência humana. O brilho no olhar de um predador antes de ceifar sua presa e o veneno mortífero são faces de sua força tanto quanto os tornados, os desertos e o medo mudo que sentimos contra o que certamente pode nos destruir.

E cada cultura, ao longo da história humana, procurou representar essa força de diversas maneiras. Temos essas representações nos antagonistas de cada mitologia, tanto como divindades quanto como figuras mitológicas e folclóricas que representavam forças naturais hostis, perigos, medos e tabus sociais. E, com os processos de dominação cristã, diversas dessas figuras ganharam conotações ainda mais sinistras, junto com a demonização de todas as culturas que o cristianismo procurou sufocar e controlar. Criando-se, assim, tanto a classe que hoje chamamos de Daemons como também a figura do Diabo, o repositório simbólico de todo medo e ódio com o qual o cristianismo adoeceu a consciência humana ao longo de sua existência e que não tem comparativos em qualquer outra cultura.

Se tornando ele tanto a sombra amedrontadora que é usada para exercer o controle sobre as massas quanto, ao mesmo tempo, o instigador e libertador daqueles que se colocaram como resistência.

A complexidade da força que o Adversário é, perante o Caminho Luciferiano, se integra no símbolo do Selo da União Infernal. Onde, para unir todas as facetas e manifestações do Adversário que existem dentro de nós mesmos, é necessário conhecer e integrar a nossa própria complexidade. O feminino e o masculino, o consciente e o inconsciente, a luz e a sombra que habitam dentro do nosso ser. E essa integração é demonstrada na fórmula de Leviatã, Samael e Lilith unidos. Leviatã, as pulsões e o poder dos mares profundos do inconsciente, formando a Ouroboros em volta de Samael, o princípio masculino, e Lilith, o princípio feminino do Adversário. Assim como diz Michael W. Ford em sua Bíblia do Adversário, p.207:

“O pentagrama invertido, um símbolo do anjo caído que traz sabedoria para a humanidade, também significa os cinco elementos e demônios de Ahriman. As letras hebraicas ao redor do círculo significam Leviatã, a serpente, representando a escuridão e o abismo (ou seja, o subconsciente) . Samael e Lilith são o fator equilibrado de duas manifestações da Corrente Adversária na humanidade. O Masculino Daemônico ou matéria, Lilith sendo o Daemônico Feminino ou o fogo instintivo. Juntos, eles representam o domínio da vontade. A cabeça de bode é Baphomet, ou Cabeça Negra da Sabedoria (abufihamat), a Besta, Caim, o Filho de Samael e Lilith.

Quando você combina Leviatã, Samael e Lilith para gerar Caim ou Baphomet, este é um símbolo poderoso da Maestria do Luciferiano no Mundo Carnal e Espiritual, o acima e abaixo, a escuridão e a luz.”

Nenhum luciferiano pode dizer que está cultivando poder e maestria em si mesmo e no mundo desenvolvendo apenas as próprias trevas ou apenas a própria luz, apenas o masculino ou apenas o feminino. Ambos precisam ser integrados e aperfeiçoados em uníssono pois é no equilíbrio que a chave do verdadeiro poderio repousa. Sendo Lilith, aqui, não apenas uma figura secundária ou a consorte da figura masculina que detém o verdadeiro destaque, mas o puro fogo instintivo sem o qual jamais podemos acender a Chama Negra dentro de nós mesmos. Ela e Samael representam duas faces da mesma força, em igual importância, e nada sem ela pode ser feito ou alcançado.

E por qual motivo Lilith?

Diversos são os nomes que possuem destaque como representações da face masculina da força adversarial entre as vertentes da Mão Esquerda. Satanás, Lúcifer, Samael e Azazel, junto com muitos outros, são sempre citados como manifestações da energia masculina da Corrente. Porém, entre os nomes femininos, Lilith se destaca muitas vezes quase que solitariamente para representar a manifestação feminina. E, para realmente compreendermos seu destaque, temos que adentrar em suas sombras e compreender de fato o motivo pelo qual ela é o que é.

Desde que foi assimilada pelas culturas judaica e islâmica, até o período medieval, um aspecto dela recebeu mais desenvolvimento do que qualquer outro: o aspecto do feminino impiedoso. Ela foi a figura que, culturalmente, mais recebeu a carga dos medos masculinos a respeito do feminino por onde passou. Virando a própria manifestação viva e pulsante de tudo que mais os apavorava e que as mulheres deviam evitar ser a qualquer custo, inclusive, ao custo das suas próprias vidas.

De uma figura que representava os desertos e as tempestades ela evoluiu para o emblema da mulher que não centra o masculino em nenhum nível de sua existência. Não se colocando no posto materno e nem no posto de figura acolhedora. Indo na direção oposta, ela é retratada como aquela que rejeita. Rejeita os desejos masculinos, rejeita a concepção da sua semente, rejeita os papéis que a ela são oferecidos. E rejeita ao ponto de preferir viver no deserto, ao lado de demônios, e se tornar uma figura permanentemente amaldiçoada do que aceitar todo o conforto do paraíso se para isso ela tiver que aceitar esse desejo masculino por um só momento que o for.

E, por ser aquela que rejeita, ela se torna aquela que recebe tanto o ódio quanto o medo e o desejo cada vez mais intensos das culturas pelas quais ela passou. Suas representações contém tanto uma sexualização extrema, fruto do desejo masculino perante aquilo que lhe impõe um desafio, quanto aspectos monstruosos como uma vagina dentada, representando o medo da castração imposto por aquela que nega os desejos que a ela são direcionados. Lilith usa sua sexualidade como quer, com quem quer e da forma que quer, não permitindo que essa sua camada seja dominada. Ela se nega a interpretar o papel do feminino gerador e receptivo que temos de forma tão idolatrada dentro da Mão Direita. Ela corta o cordão umbilical, ela é uma estranguladora, ela vampiriza e usa os homens sem por eles sentir qualquer tipo de afeto ou conexão. E essa rejeição, essa frieza, doem profundamente.

Como disse Margaret Atwood: “Homens têm medo que as mulheres riam deles. Mulheres têm medo que os homens as matem.” E Lilith sempre representou algo muito mais gélido do que a zombaria, ela representou a indiferença. Uma indiferença que, na ausência de qualquer empatia, a torna cruel. A torna a megera insensível e implacável. A carrasca.

A posição mais adversarial em que o feminino pode se colocar perante o masculino sempre foi a de não se importar com ele. Com seus desejos, com seu conforto e bem estar. Até mesmo com sua mera sobrevivência. Nisto, com os séculos da sua ativa demonização, Lilith nos abre seus braços pálidos e frios. Como a representação adversarial feminina perfeita, ela só se coloca ao lado daqueles que carregam consigo a sua mesma essência indomável e opositória. Representando um único e constante desafio ao masculino: o de se aprender a conviver sem reter protagonismo.

Um desafio que até os dias de hoje muitos homens dentro do ocultismo e do próprio luciferianismo não conseguem transpor. A figura cruel e sangrenta de Lilith ainda estremece Mestres e Sacerdotes que, na mínima visão de uma mulher que não se coloca como eles acham que ela deveria, já começam com seus discursos alarmantes sobre a influência e a possessão da maligna Lilith, a Diaba. O pesadelo que os faz suar frio mas os mantém acordados de noite. A quem eles desprezam por se sentirem desprezados em primeiro lugar.

Homens poderiam se aproximar dela?

Pelo seu contexto histórico, uma das dúvidas mais comuns que eu recebo em relação a Lilith é se ela seria uma figura que permite ou não que homens entrem em contato com ela. Eu não posso falar em nome de todas as culturas e vertentes que a incluem, apenas no que diz o luciferianismo, já que ele é onde eu me insiro. E, da parte dele, como já foi expresso anteriormente, não existe lugar onde podemos chegar sem a sua presença. Ambas polaridades do Adversário devem ser trabalhadas por todos luciferianos. Então, confronte seus medos e se dê a chance de evoluir.

Deusa ou Demônio

Outro ponto de grande discussão seria se ela se configuraria apenas como um demônio ou se seria, de fato, uma deusa. Um debate que, pelo menos dentro da Mão Esquerda e dentro do luciferianismo, não chega a sequer fazer sentido. Pois, para nós, uma coisa jamais anularia a outra.

Daemons são, perante a Via Sinistrae, manifestações do Adversário. A eles nos aliamos, ao lado deles andamos, e por seus caminhos nos desenvolvemos rumo a nossa própria Apoteose. Figuras como Lilith, pelo seu peso e influência, são referenciadas como divinas. Mas não no divino como ele é compreendido tradicionalmente pela Mão Direita e sim pelo que muito tem se chamado de Infernal Divine, o Divino Infernal. Eles se levantam como nossos deuses e nossas deusas sem que para isso eles precisem deixar de serem as forças selvagens e brutas que eles naturalmente são.

A maneira pelo qual nos relacionamos com eles também se destaca, sendo parte da distinção natural entre as abordagens da Mão Direita e da Mão Esquerda na maneira pela qual o componente humano busca se conectar com o que é divino. Se na Direita a posição natural é a servil, com o dobrar de nossos joelhos, na Esquerda permanecemos em pé, com a cabeça erguida, nos colocando ao lado e nunca abaixo, como eu já falei aqui, aqui e aqui.

Experiências Pessoais

Lilith foi, e ainda é, uma das figuras mais mutáveis e intrincadas com as quais eu já cruzei em todos meus anos de caminhada espiritual. Foi ela que, surgindo após diversas figuras infernais que já tinham tentado falar comigo recebendo apenas minha negativa em troca, me conduziu sem que eu sequer pudesse notar para dentro das profundezas da Mão Esquerda. Um processo que durou, ao todo, três anos. E eu só consegui perceber a vastidão da sua ação na minha vida quando eu finalmente me posicionei como luciferiano, conseguindo por fim ver a retrospectiva desses três anos num quadro maior e não apenas em seus pequenos detalhes. Sendo ela a única dentre as divindades da minha vida que explicitamente sempre me prometeu mais contrariedades do que bênçãos.

Através dos seus testes eu compreendi o que era o papel adversarial no mundo e em minha própria vida. Eu fui rasgado, vez após vez, de novo e sempre mais uma vez, até que eu conseguisse acessar a minha própria essência. Nos tempos em que ela se afastava eu podia até me enganar sobre mim mesmo, sobre as coisas ao meu redor, mas nunca em sua presença. Ela sabe como complicar as coisas, ela sabe como te tirar completamente do seu centro. E, em todos esses anos onde eu a tive e tenho como aquela que me testa e me contraria, eu nunca tive alguém que fosse capaz de ser o opositor como ela consegue ser. E, na mesma medita, ninguém que me fizesse avançar tanto. Lapidando o meu poder como um diamante bruto, retirando de mim toda minha impureza com fogo e aço.

A tendo como professora eu consegui acessar e desenvolver lados meus que eu nunca pensei que conseguiria aceitar. Que eu sequer conseguiria olhar. Assim, me dando vida no mesmo ritmo no qual me fazia sangrar. Ela sempre excedeu tudo que eu fosse capaz de pensar sobre ela. Me fazendo ir muito além do que eu jamais pensei que pudesse ir. Não existe absolutamente nada dentro dos seus processos que seja fácil, ou mesmo que seja agradável. E eu os faria todos de novo. Eu a escolheria sempre. Vez após vez. Em todas minhas vidas, a cada encarnação, sem nunca me arrepender.

O Caminho no Deserto

E, como não podia faltar, o pequeno rito a seguir é destinado a aqueles que desejam se aproximar de Lilith pela primeira vez!

Se prepare para este pequeno rito com alguns dias de antecedência. Ele deve ser feito na lua nova, então, comece seus preparativos na lua minguante. Nele, teremos duas defumações e dois banhos de ervas para limpar e proteger tanto a sua casa quanto você mesmo, que ocuparão o espaço de quatro dias.

Em primeiro lugar, limpe sua casa fisicamente, fazendo em seguida uma defumação com café, cascas de alho e folhas de guiné para a purificar energeticamente. No dia seguinte, faça então uma segunda defumação, com cravo, alecrim e arruda, desta vez para conferir proteção. Então, com seu lar purificado e protegido, faça um banho de ervas para si mesmo com boldo, folhas de eucalipto e hortelã para se purificar. E, no dia seguinte, faça um banho bem forte de cravo focando na sua proteção.

Enquanto você cuida da purificação e da proteção de si mesmo e do seu lar, adquira:

  • Uma representação de Lilith, podendo ser uma arte da qual você goste, seu sigilo confeccionado, ou até mesmo um desenho que você mesmo fez
  • Uma vela vermelho escuro
  • Incenso ou resina de Sangue de Dragão
  • Uma obsidiana
  • Vinho tinto
  • Flores e frutas vermelhas da época

Então, na primeira noite de lua nova, prepare com cuidado o espaço onde você irá performar o ritual. O deixe limpo e organizado, arrumando um pequeno altar para Lilith com a representação, a vela, a obsidiana e as ofertas de vinho e frutas.

Tome um bom banho antes de começar, para estar limpo e com a cabeça desanuviada. Então, em um pequeno recipiente com água, misture uma colher de sopa de sal grosso, dizendo: “Sal e água, agora os desperto e vivifico. Tornem puro e harmônico onde eu os aspergir, e que assim seja.” Aspirja, então, o local do ritual com esta água salgada, imaginando que ela lava e purifica todo o espaço. Ao final, agradeça e dispense o que sobrar. Em seguida, acenda o incenso, dizendo: “Fogo e ar daqui o mal expulsam, trazendo força e proteção para este momento sagrado.” Passe o incenso por todo o local, o imaginando protegido e em harmonia. Faça o Circulo sem pressa. Acenda a vela, então diga:

“Na escuridão da noite adentro

Portando apenas o meu próprio coração
E tudo que nele habita
Que a Senhora da Desolação o reconheça
E me veja”

Respire profundamente, se concentre. Pegue a obsidiana entre suas mãos e a segure na altura do seu coração. Feche os olhos. Então comece a imaginar que você está andando por um amplo deserto a noite. Em suas mãos, agora é o seu próprio coração que você segura. Negro, feito de obsidiana. Mas, de alguma forma, ainda quente e pulsando. Você o segura com cuidado rente ao peito e segue andando.

O céu escuro, acima de você, resplandece cheio de estrelas. E, alto em meio a elas, o círculo escuro da lua se destaca como um buraco negro no centro do céu. Respire fundo. Continue. Sinta a areia debaixo dos seus pés, o vento seco e quente soprando contra o seu rosto. Continue. Lentamente, alguns animais naturais do local notarão a sua presença. Você poderá os ver ao longe, observando lentamente os seus passos. Eles não tentarão se aproximar. Continue. Aos poucos, enquanto caminha, você começa a notar que a lua lentamente começa a ressurgir no céu, com apenas um fino arco de luz. Voltando sua visão ao deserto, agora você nota uma árvore seca ao longe.

Mesmo sem uma única folha, ela é enorme. Seus galhos se estendem quase até os céus, como se pudessem rasgá-lo. Sem pressa, você se dirige em direção a ela. O som de uma coruja pode ser ouvido ao longe e seu coração, por algum motivo, começa a bater mais forte. Quanto mais próximo você fica da árvore, mais ele se agita. Você começa a notar, então, ossos de diversos animais ao seu redor. Quanto mais próximo da árvore, mais carcaças você consegue ver.

Então, estando perto o suficiente, você nota uma silhueta escura se levantar entre os galhos da árvore, esticando imensas asas e indo até você. Seu coração bate ainda mais forte, mas você o segura com delicadeza. Mais rápido do que seria normal a silhueta pousa perto de você, revelando a mulher coruja que te olha com curiosidade. Seu corpo é coberto por penas, apesar de humano. Suas grandes asas se dobram atrás de suas costas enquanto você nota que suas pernas e pés são como os de uma coruja, assim como as garras de suas mãos. Dois chifres ornamentam sua cabeça, se destacando acima dos longos cabelos negros. Seus olhos de serpente te analisam. Com cuidado, você mostra o seu coração para ela, que se aproxima com cuidado. Ela estende uma de suas mãos com cautela, o tocando. Neste momento, seu coração é tomado por fogo e, enquanto ele queima, você começa a dizer para ela, para Lilith, os motivos que te levaram a entrar em contato com ela.

Demore o tempo que precisar. Ela te escutará. Quando você terminar, peça que ela considere suas palavras e agradeça pela sua escuta. Ela retirará a mão do seu coração, que irá parar de queimar. Olhando de novo para ele, você nota que agora, de fato, ele é de rocha, duro e sem pulsação. Com curiosidade, você nota que em alguns lugares fios de ouro surgiram entre os contornos da pedra lisa. Ao olhar de novo para Lilith, ela aos pouco vai perdendo seu contorno, voltando a ser apenas uma silhueta escura. E a lua no céu, acima da árvore, começa a crescer rápido demais. Antes que ela se torne completamente cheia abra seus olhos e saia do estado meditativo.

Tire alguns minutos para que sua consciência retorne por completo. Agradeça a Lilith em voz alta e erga o vinho, as frutas e flores dizendo que as oferece a ela. Diga que eles ali ficarão até a noite seguinte. Então, com calma, desfaça o Círculo e agradeça a todos que ali estiveram com você, dando a permissão da partida. Se aterre, vá comer algo e descansar. Na noite seguinte, deixe as ofertas aos pés de uma bela árvore, guarde a obsidiana entre os seus pertences, e fique de olho em seus sonhos e ao seu redor até a lua cheia pois, nesse período, Lilith te dará sua resposta.

Correspondências

Fechando nosso artigo inicial com uma boa chave, vamos a algumas correspondências que podem ser usadas com ela! Sinta-se livre para as usar como ponto de partida. Então, com o tempo e com o desenvolvimento dos seus estudos, amplie-a com base nas suas próprias experiências e jornada.

Dias: Segunda, sexta e sábado

Horários: Noturnos

Planeta: Lua

Pedras: Granada, rubi e obsidiana

Cores: Preto e vermelho

Incensos: Sangue de Dragão, rosas e absinto

Animais: Corujas, serpentes e aranhas

Ofertas: Vinho tinto, flores e frutas vermelhas

Enn: Renich viasa avage Lillith lirach

Fontes e leituras indicadas: A Epopeia de Gilgamesh, o Dicionário de Demônios de M. Belanger, a Bíblia do Adversário e Sebitti – Magia e Demonologia Mesopotâmica de Michael W. Ford.

Até mais!

Volte ao Guia

Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

O Espelho Negro

Fonte: Arquivo pessoal

Conhecido como um instrumento de vidência e comunicação espiritual, o espelho negro é comumente usado dentro da Mão Esquerda como um portal para o outro lado. Quando devidamente preparado e utilizado, pode nos auxiliar a atravessar o véu entre o mundano e o espiritual. Sendo uma porta para que nosso espírito possa ir até diversos locais, ou para que espíritos e entidades se mostrem e se manifestem diante de nós.

Enquanto muitos tradicionalmente são feitos sob encomenda, como discos de obsidiana devidamente emoldurados, também é possível que façamos nossos próprios espelhos. E aqui, no texto de hoje, darei alternativas para que você possa fazer o seu próprio espelho negro, assim como um exemplo de consagração e três de utilizações para que você possa desenvolver suas próprias experiências! Vamos lá?

Criando o Espelho

Aqui, o primeiro passo é procurar um bom porta-retratos. Preferencialmente, um que tenha uma boa película de vidro para proteger as fotos. Pois é esse vidro que iremos transformar em um espelho. O tamanho, o formato e o tipo de moldura ficam completamente ao seu gosto. Com ele em mãos, busque também tinta ou fita isolante, ambas pretas.

Pegue a película de vidro e, do lado em que ela estaria em contato com a foto no porta-retratos, a pinte de preto. Ou aplique a fita isolante, para obter o mesmo resultado. Coloque o vidro de volta na moldura, com a parte pintada para dentro. E pronto, você já tem um espelho negro! Se você quiser pintar também a moldura, ou estilizá-la, fique a vontade. Deixe sua criatividade aflorar, afinal, será o seu instrumento personalizado. O da foto que ilustra esse texto, por exemplo, foi pintado de dourado!

Consagrando o Espelho

Indico que essa consagração seja feita durante as luas negra ou nova, de noite. Se você gosta de usar as correspondências planetárias dos dias da semana e horários, você pode fazê-la as segundas, em horários pertencentes a Lua ou a Mercúrio. Então, com o espelho já pronto, escolha a data e o horário em que você fará a consagração de antemão.

No dia e hora escolhidos, faça um chá bem forte de Artemísia e tenha um pano macio e limpo em mãos. Os deixe perto do espelho, no local onde você fará a consagração, e tome um bom banho. Saindo dele, coloque roupas limpas, e comece a ritualística. Faça o Círculo, preferencialmente perto de uma janela ou porta em que você consiga ver o céu noturno. Ou, se você tiver espaço e privacidade para isso, em uma área externa.

Com o Círculo ativado ao seu redor, se sente ao centro dele com o espelho, o chá de Artemísia e o pano a sua frente. Então, chame por Lilith:

“Lilith, neste momento e hora, eu te convido a estar comigo no centro deste Círculo. Guia-me, inspira-me. Que a sua força flua por minhas mãos, por minha mente, através da minha boca. E que aqui eu possa, junto a ti, consagrar este espelho negro como um instrumento poderoso, através do qual um portal se fará entre este mundo e os mundos que estão além.

Que através dele suas grutas sejam acessadas, e que eu viaje sob sua proteção por mundos e dimensões. Que em sua escuridão falem comigo as sombras, espíritos de poderosos mortos, e que aqueles a que eu chamar possam a mim aparecer e se manifestar. Que em sua contemplação eu adquira sabedoria e conhecimento, me desenvolvendo em minha jornada e em meu caminho. Que o abismo eu possa contemplar, e que seus sussurros por mim desvendados possam ser.”

Respire e expire profundamente três vezes, se concentrando no momento presente e no que você está criando. Então, delicadamente, aspirja o chá no espelho, o impregnando com sua energia. Com os dedos indicador e médio da sua mão dominante, então, trace um pentagrama invertido em sua superfície, falando:

“Desperta, venha a vida. Neste momento, te crio. Nesta noite, poder te dou. Que em ti se abram as portas para o incognoscível. Portal para as sombras, ponte entre mim e os planos que estão tanto acima quanto abaixo, entrada para a manifestação de poderosos seres e espíritos. Que através do seu reflexo se mostrem as faces do abismo, sussurrando segredos, desvendando o porvir, e me instruindo em sabedoria e poder.”

Erga-o em direção ao céu noturno e fale:

“Da noite sejas filho, de mim sejas um aliado, e que juntos possamos estar entre mundos, indo de encontro e convidando em comunhão. Pela escuridão que nos cerca, pelo poder que em minhas veias flui e pelas bênçãos de Lilith. Que assim se faça!”

Neste momento, desenhe um símbolo, ou faça um gesto diante dele, que será o código que o ativará e abrirá o portal que ele é. Assim como outro para o fechar. E diga, para ele, que ele só poderá aberto ser quando aquele gesto, ou símbolo, você fizer. Se fechando logo após que você fizer o gesto ou símbolo de bloqueio, depois que terminar seu uso. Limpe e seque-o novamente com o pano limpo e agradeça a ele e presença e o poder de Lilith, encerrando o Círculo devidamente. Se sentir que é adequado, deixe uma oferta a Lilith logo após finalizar seu trabalho. E guarde seu espelho em um local seguro, não deixando que ele pegue sol dali em diante e o usando apenas dentro das suas práticas com cuidado e respeito.

Utilizando o Espelho

O primeiro exercício aqui sugerido será uma forma simples de scrying, ou seja, de divinação usando uma superfície reflexiva. No scrying exercitamos nosso olhar para que possamos olhar através da realidade, e não apenas para ela. Quando olhamos para as coisas normalmente, em nosso dia a dia, olhamos para a vida, mas quando usamos um ponto, como um espelho negro, para olhar através dela, suavizamos nosso olhar para que ele capte outro tipo de conhecimento e acesse outros níveis de existência.

Então, para realizar o exercício aqui sugerido, de noite, preferencialmente de madrugada, pegue seu espelho negro e o coloque em seu altar, ou em um espaço devidamente limpo e separado para isso, entre duas velas. Elas devem estar um pouco atrás do espelho, de forma que sua luz não seja refletida por ele. A cor delas, para este exercício, não é vital, afinal, elas serão usadas apenas como fonte de luz ambiente. Mas você pode usar velas roxas, azul escuro ou mesmo negras se desejar. Deixe a sua disposição também um caderno e uma caneta para anotações.

Faça o Círculo, sente-se confortavelmente diante do espelho, e respire e expire profundamente pelo menos três vezes para se colocar no momento presente. Relaxe os ombros, o maxilar, e se concentre. Faça o símbolo que abre o espelho, dizendo para o que você o abre. Seja obter a resposta de uma pergunta, entender algo, receber um insight ou mesmo se comunicar com algo. Você pode pedir a benção e a proteção de Lilith novamente neste momento, se o desejar.

Então, relaxe seu olhar enquanto observa o espelho, deixando que a experiência flua por si só. O scrying é um exercício contemplativo por natureza. Sendo necessários tanto o relaxamento quanto que você se abra ao processo.

Se você não tem certeza se conseguiu suavizar seu olhar da forma correta a prática experimente colocar um dos seus dedos entre o seu olhar e a tela onde você está lendo esse texto agora. Troque seu foco do dedo para o texto e perceba a sensação produzida. Então, abaixe o dedo e tente olhar para onde ele estava, sem focar no texto. Foque seu olhar neste ponto vazio. Essa é a mesma sensação visual necessária para o scrying. Você terá seu olhar voltado ao espelho, mas, ao mesmo tempo, para um ponto vazio nele, o que te permitirá penetrar na sua escuridão com seu olhar sem dificuldades. Deixando que seus olhos descansem, relaxem, e que a mente se acalme, entrando em transe. É neste estado que as percepções e visões ocorrem.

A maestria vem com a prática, então não se cobre demais no começo. Apenas relaxe e se permita. Ao final, anote suas impressões, sentimentos e percepções. Agradeça, faça o gesto de bloqueio para fechar o espelho, e encerre o Círculo devidamente.

Contatando um daemon

O segundo exercício será para aqueles que desejam um método mais simples e fluido de estabelecer um primeiro contato com um daemon. Sua estrutura é a mesma do primeiro, coloque o espelho negro entre as velas, faça o Círculo, sente-se confortavelmente diante dele e relaxe. A diferença é que, aqui, você colocará o sigilo do daemon entre você e o espelho. Você pode o desenhar, o imprimir, ou o ter confeccionado de outras formas. Só garanta que ele seja de um tamanho apropriado para que você consiga olhar para ele sem esforço e vê-lo bem definido a meia luz das velas.

Procure se concentrar apenas em sua própria respiração por alguns minutos, acalmando sua mente. Então, relaxe seu olhar e observe o sigilo. Tente o observar pelo máximo de tempo possível sem piscar. Com a baixa iluminação, conforme você descansa os olhos e a mente, as linhas do sigilo começarão a sumir e a voltar na sua visão como uma ilusão ótica. Neste ponto, diga suavemente o nome do daemon e peça para que ele venha ao Círculo, junto a você, através do espelho. Então, assim como você fez com o sigilo, olhe para o espelho com o olhar relaxado. Diga o nome do daemon novamente e peça para que você possa o vê-lo e com ele se comunicar. Se acalme uma vez mais, e repita o processo caso seja necessário. Indo da contemplação do sigilo a contemplação do espelho, chamando gentilmente pelo daemon.

Neste processo, você entrará facilmente num transe que dará a sensação de que você está sonhando acordado. Você pode começar a sentir uma presença perto de você, ver ou ouvir algo. Assim que isso acontecer, se apresente educadamente ao daemon e diga o motivo de estar o chamando. A partir deste ponto, procure aguçar seus sentidos para receber quaisquer respostas ou sinais da parte do daemon e estabelecer seu contato com ele. Ao final, agradeça a presença do daemon e peça que ele parta amistosamente, e que exista paz entre você e ele. Faça o sinal de bloqueio para fechar o espelho e abra o Círculo da forma devida. Anote todo e quaisquer sonhos que você tiver nesta noite.

Se aparentemente nada acontecer, mesmo assim agradeça o daemon, peça que ele parta em paz, e feche tanto o espelho quanto o Círculo adequadamente. Não é incomum que, se trabalhar com espelhos for uma novidade para você, seja necessário repetir o ritual algumas vezes até ter resultados satisfatórios. Seja paciente consigo mesmo e vá com calma.

Dê um intervalo de, pelo menos, três dias entre um exercício e outro para não se sobrecarregar. Observe seus sonhos, fique atento a possíveis sinais e, caso você não se sinta seguro em algum ponto, não insista demais. Este não é um método feito para que você obtenha contato por imposição. Então, seja educado e se resguarde.

Na Goetia

A base do primeiro exercício pode também ser usada dentro da Goetia, após o primeiro contato com o daemon ser firmado. Tanto dentro da Goetia Salomônica quanto da Luciferiana, após o primeiro contato ser formalizado entre o praticante e o espírito e ele for ligado ao vaso, ou urna, é através do espelho negro que a comunicação entre ambas as partes continua.

Então, para a prática goetica, faça devidamente o primeiro rito no Círculo, ligue o daemon ao vaso e, após este processo estar feito, utilize o espelho negro para contata-lo, como foi passado no primeiro exercício acima. Neste caso, ao fazer o gesto para abrir o espelho, especifique que está o fazendo para se comunicar com o daemon com o qual você está lidando. Peça para que ele venha até você através do espelho, e que você possa vê-lo e se comunicar com ele apropriadamente.

Aqui, prefira fazer isso sempre um pouco antes de ir dormir. Já que, além do espelho, os sonhos são muito usados pelos daemons para se comunicar com os seus praticantes e podem trazer informações para além do que você conseguiu captar durante o exercício.

Até mais!

Volte ao Guia

Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

Primeiros passos – Interpretando sinais

Fonte: Acervo pessoal

Quando falamos sobre espíritos, é muito comum que o primeiro foco esteja em como nós podemos entrar em contato com eles. Existe uma vasta literatura e um mar de conteúdos sobre diversas abordagens, rituais, correspondências e técnicas que podemos aplicar para entrar em contato com o plano espiritual e seus seres. Mas, na via oposta, você saberia identificar quando um ser espiritual está tentando se comunicar com você? Você sabe identificar os indicadores de que as forças que você está chamando realmente estão respondendo a você? Afinal, comunicação é uma via de mão dupla. Precisamos ser ouvidos e entendidos na mesma medida que precisamos saber ouvir e compreender.

Como estamos no Guia, o foco aqui será para a maneira como os guias e seres alinhados a Corrente do Adversário se comunicam. Em principal, os daemons. E eu gostaria de iniciar essa conversa trazendo a consciência de que nenhum de nós evoca ou invoca seres tão específicos quanto os daemons “acidentalmente” vendo filmes de terror, ouvindo certos tipos de música ou até mesmo através de pensamentos intrusivos de nossas mentes. Daemons não surgem com tanta facilidade quanto a cultura pop ou algumas figuras religiosas gostam de fazer parecer e, se um deles de fato se encontra em algum lugar, pode acreditar que é porque foi devidamente e propositalmente chamado para estar ali.

Nos casos onde, de fato, parte deles o primeiro movimento em iniciar contato com alguém é porque, de alguma forma ou por alguma circunstância muito específica, existe alguma ligação entre essa pessoa e o daemon em questão. O que sempre merece a devida atenção e investigação sobre. Como discorremos no último texto, que você pode ler aqui, sobre os motivos pelos quais tanto nós quanto figuras de Esquerda podemos estabelecer contato uns com os outros. Então, comecemos sabendo que estes contatos não acontecem nem sequer por acaso e nem sequer sem motivo algum.

Agora que estes esclarecimentos foram devidamente feitos, comecemos pelo tipo de contato mais comum: o que nós iniciamos através das estruturas ritualísticas de nossa escolha. Aqui, o interesse parte de nós. Pesquisamos, escolhemos um daemon, a abordagem que iremos usar, preparamos nossos materiais, escolhemos uma data, preparamos a nós mesmos e o local e tentamos estabelecer o contato. Quais sinais podemos ter de que o daemon realmente nos ouviu e se aproximou de nós?

Em primeiro lugar, olhemos sempre para os sinais físicos. Daemons possuem uma assinatura energética muito particular e impossível de ser ignorada tanto pela sua densidade quanto pela sua força. Como seres densos, eles facilmente podem afetar tanto os nossos corpos quanto a matéria ao nosso redor. Nisto, manifestações podem ser vistas e sentidas. Em relação aos nossos sentidos e ao nosso corpo físico podemos experienciar um peso atmosférico anormal no recinto quando um deles se faz presente. Como se a gravidade tivesse ficado cinco vezes mais forte, como se o ar tivesse se tornado rarefeito como no topo de uma montanha. Ondas de calor, ou frio, também são normais. Tanto em nossos corpos quanto no recinto em que estamos, com súbitas e inexplicáveis quedas ou subidas de temperatura. Podemos também ter os nossos sentidos mais sensibilizados, tendo arrepios em nossas espinhas e nossos pelos corporais eriçados como se estivessem sob o efeito de eletricidade estática.

No meio podemos ter viradas súbitas do clima com ventanias e tempestades. A agitação notável e sonora de animais pela vizinhança, com a presença específica de uivos, assim como o surgimento de animais ligados ao daemon. Barulhos pela casa, o escurecimento repentino do local onde estamos, o aumento anormal das chamas das velas que usamos e figuras surgindo através da fumaça dos incensos também são possíveis. Podemos sentir dores físicas específicas, em nossa fronte ou coluna, e podemos experimentar sudorese, arritmia, tonturas e enjoos. Para os praticantes que possuem algum nível de mediunidade também é possível ouvir a voz do daemon surgir no ambiente ou vê-lo através do uso de espelhos negros e similares.

Enquanto é verdade que é raro termos todos esses sintomas e sinais ao mesmo tempo desde a nossa primeira tentativa, todos eles são possíveis. É importante termos de antemão o método pelo qual nos comunicaremos com o daemon durante o ritual para estabelecermos o contato com sucesso e, na ausência de qualquer tipo de sinal, sabermos se fomos realmente ouvidos e seremos atendidos ou não.

Nos dias seguintes ao rito também é possível que o daemon entre em contato conosco através de sonhos. Assim como é comum que notemos pequenas sincronicidades agindo em relação ao que pedimos. A presença ou o aparecimento de animais ou insetos correlacionados ao daemon em questão também pode ser notada por semanas. Outro ponto comum é termos ressaltado em nós a própria energia do daemon.

Nisto, podemos notar um interesse súbito em áreas que são de domínio do daemon, seja o estudo por alguma área específica ou até mesmo por transitar em determinados locais. Se o contato foi feito com um daemon que rege assuntos relacionados a sexualidade, iremos notar um acréscimo ao nosso magnetismo, bem como um aumento da nossa libido. Se o contato foi feito com um que rege a ira e a violência é possível que nossa energia e disposição gerais melhorem bastante mas, ao mesmo tempo, podemos nos tornar mais facilmente e mais intensamente irritáveis, por exemplo. Aqui é importante prestarmos atenção aos detalhes e, claro, anotar todas as facetas das nossas experiências.

O segundo tipo de contato, raro para a população em geral mas provável para aqueles que são alinhados a Esquerda, é aquele onde temos o movimento contrário. Nele, é o daemon que busca nos alcançar através de algum meio, e não o oposto. Então, quais sinais podemos ter de que um daemon está tentando se aproximar de nós?

Aqui temos muito mais variáveis. Cada daemon possui padrões de comportamento muito próprios e a maneira como eles podem entrar em contato com alguém pode variar bastante de um para outro. Mas, invariavelmente, algumas semelhanças podem ser notadas, por estarmos falando de uma classe de seres em comum. E, para nós, o mais óbvio e facilmente identificável continua sempre sendo o peso e a densidade característica que eles carregam em si.

Mesmo se você não tiver naturalmente a capacidade de sentir energias ao seu redor, se você entrar em um cômodo onde um deles está, você sentirá uma pressão e uma força que te dirão que alguma coisa está acontecendo ali fora do comum. Sensações de peso, dores pelo corpo com foco na cabeça, ombros e coluna podem acontecer. Assim como zumbidos nos ouvidos e, novamente, enjoos e tonturas, como já relatamos aqui. São sintomas que podem acontecer pois o nosso organismo não é naturalmente preparado para lidarmos com energias do porte das deles.

O surgimento e a presença constante de certos animais e insetos seguem sendo sinais tradicionais. Como os pássaros escuros e as corujas para Stolas, os cavalos para Orobas e as moscas varejeiras para Belzebu, por exemplo. Sonhos e sincronicidades são meios usados por quase todos. Você pode, do nada, começar a ter mais sorte e magnetismo ou, na via oposta, passar por uma verdadeira onda de desventuras em série, com acidentes acionando seus alertas internos. O foco aqui é quebrar nossas rotinas e nos fazer notar que algo fora dela está tentando chamar nossa atenção. Podemos sentir impulsos básicos e instintos sendo desproporcionalmente ativados em nós, fora do que seria o nosso natural, como temos através do aumento da libido, da ira, da gula e até mesmo da indisposição proporcionados por daemons que regem essas características. Quando um daemon deseja chamar a nossa atenção ele irá. Através dos meios que ele sabe que mais se destacarão para cada um de nós.

Existem daemons mais diretos, sem rodeios, que se apresentam de cara e com todo peso de suas energias, como é comum vermos nos relatos sobre Asmodeus e Belial. Outros, principalmente aqueles que são djinns, tem por costume colocarem mais enigmas e pistas para serem desvendadas, como Paimon, por exemplo. Mas todos nos puxam de nossas vidas habituais, quebrando nossas rotinas e nos tirando daquilo ao qual estamos acostumados.

Essas quebras podem, por vezes, serem caóticas e desorientadoras. Podem vir acompanhadas de pesadelos, paralisias do sono, atividades paranormais ao seu redor. Mas, por outras vezes, podem ser instigantes. Trazendo novos interesses, realizações súbitas sobre assuntos que antes fugiam ao seu entendimento e mudanças emocionais. De qualquer forma, é no oferecer de testes e provocações que eles analisam qual é a índole tanto de quem está batendo a porta deles quanto de quem eles procuram, nos dando uma prévia das suas próprias naturezas e jeitos de agir. O esforço e a dedicação do praticante em os entender e juntar todas as peças, então, se tornando parte importante tanto do processo quanto para o entendimento das suas mensagens como um todo.

Afinal, esforço é algo que faz parte intrínseca do caminho com eles. Sem que, no entanto, nos seja oferecido algo impossível de ser lidado ou decifrado. Conscientes dos recursos que cada pessoa que os buscam tem, eles fazem com que nos esforcemos, mas nunca nos dão algo para além das nossas próprias capacidades. Alguns exigem mais do que outros, é verdade, mas as coisas sempre se adaptam a cada caso. E não, eles não irão pedir sua alma, seu primogênito e nem recursos materiais além da sua realidade. O que é exigido é comprometimento pessoal, e que isso fique bem claro.

Oráculos, como já citado, são os nossos faróis em meio ao caos. E sempre manter anotadas todas as nossas experiências nos ajuda a formar uma consciência mais detalhada e precisa sobre o que acontece ao nosso redor. Então, nunca descuide das suas anotações e tenha consigo métodos oraculares para conseguir te ajudar em sua jornada, como este aqui.

Até mais!

Volte ao Guia

Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

Resenha – Bruxaria Diabólica de Naamah Acharayim

Bruxaria Diabólica – Um Grimório de Feitiçaria Antinomiana de Naamah Acharayim – Fonte: Arquivo pessoal

Hoje a resenha será sobre uma das mais belas pérolas que temos no cenário da Mão Esquerda nacional, a Bruxaria Diabólica – Um Grimório de Feitiçaria Antinomiana de Naamah Acharayim. Um livro para todos aqueles que desejam se aventurar pelas veredas escuras da bruxaria como ela realmente é em sua essência: livre, selvagem e indomável.

Ficha Técnica

Autora: Naamah Acharayim

Editora: Manus Gloriae Editora

Idioma: Português

Páginas: 226

Ano: 2021

Sinopse do livro

A bruxaria em seu caráter mais visceral e transgressor, na qual o Diabo toma seu assento no centro do Sabá como o agente iniciador. A bruxaria como sendo a Arte Sem Nome, cujo ofício se manifesta na forma de feitiçaria. Adentre nos meandros mais primordiais e obscuros da feitiçaria, totalmente isento de designação moral, a bruxaria como uma árvore de muitas ramificações, cujas raízes se nutrem na escuridão inaudita. Ao longo de suas 226 páginas, são abordados temas como o uso de objetos diversos na feitiçaria, herbologia mística incluindo, além de uma introdução de caráter histórico, as artes dos venenos, iniciações, uso de sangue, necromancia, mundo onírico, a bruxaria como arte transgressora e diabólica, e muito mais! Os três últimos capítulos dão receitas prontas de feitiços, ainda que o intuito da obra seja deixar o leitor apto a caminhar com as próprias pernas, sendo assim, é um livro cujo conteúdo, lido com sabedoria e astúcia, fornecerá as bases para qualquer feitiço que se deseje realizar.

Resenha

Esse é um daqueles livros que você conhece de ouvir outras pessoas falarem sobre e, ao dar uma chance, não se arrepende. Foi o meu caso e, se você gostar do tema, será seu caso também. A escrita de Naamah nos faz sentir como se estivéssemos conversando com uma velha amiga que, página a página, nos ensina e nos guia através do caminho tortuoso da bruxaria. Inclusive, na introdução, ela já nos avisa desse viés dizendo de antemão que podemos ter uma sensação de “colcha de retalhos” ao lê-lo pelo fato do livro ser fruto do compilado de seus estudos e experiências ao longo de suas duas décadas de jornada. Entendi o motivo desta pontuação dela ao longo da obra, mas não acho que isso o desmereça de forma alguma ou o deixe tão colchinha de retalhos assim. É no sentir desse compartilhamento de anotações e vivências que sentimos proximidade com a autora e nos identificamos com ela, que não perde o caráter didático e objetivo, enquanto nos introduz num novo mundo pronto a ser explorado. A obra é muito gostosa de ler, super completa, e dá as bases ao qual se propõe.

Pontos Positivos

Eu indico esse livro de olhos fechados aos novatos e também aos mais experientes, visto que se lembrar das bases é algo essencial a todos, independente de onde estamos em nossas jornadas. Ele nos introduz tanto na parte histórica da prática quanto também ao que precisamos para dar nossas primeiros passos. Como montar um altar e um espaço ritualístico, como trabalhar com velas e diversos instrumentos assim como com óleos, tinturas, pós e ervas é ensinado tanto quanto o que precisamos para nos aventurar pelas veredas do mundo onírico e da necromancia. É um livro que possui sim algumas receitas, mas foca mais em ensinar você a construir as suas próprias, o que para mim é sempre um ponto extremamente positivo. Aqui não é sobre seguir, mas sobre construir seu próprio caminho, como deve ser.

Pontos Negativos

Vou dizer que os únicos pontos que eu posso citar de negativos ao longo da obra é ter desejado ter ainda mais dentro de alguns tópicos. Por exemplo, quando terminei o capítulo sobre feitiçaria verde e o ars veneficium fiquei com um claro gosto de querer ainda mais. Espero que a autora lance outros livros que mostrem mais do seu trabalho!

Acessibilidade: Ele está a venda tanto pela própria editora quanto pela Amazon. Para comprar diretamente com a Manus Gloriae é só entrar em contato com eles pelo ig @manusgloriaeeditora. Como se trata de uma editora nacional e independente eu reforço aqui o quanto é importante que, se tivermos a oportunidade, realmente incentivemos o excelente trabalho deles pagando justamente pela obra!

Até mais!

Volte ao Guia

Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

Uma estrutura básica para rituais

Fonte: Arquivo pessoal

Ricos em simbologia e diversos em seus propósitos, os rituais são parte viva e integrante da prática das mais diversas vertentes, ordens, tradições e religiões. Neste contexto, eles são cerimônias onde se atribuem significados específicos a gestos, atos, fórmulas e símbolos com a intenção de se produzir determinados efeitos e resultados, ligando o seu praticante a expressão de espiritualidade que este professa.

Como sistemas de atividades organizadas, rituais tem sempre uma estrutura certa a ser seguida. Envolvendo ritos, etiquetas, regras, normas, costumes e estilos distintos dependendo da vertente e da cultura onde eles se encontram. Aqui no Guia darei uma estrutura básica e neutra que pode ser usada por praticantes da Mão Esquerda. A veja como um esqueleto, onde você poderá a ter como base para a organização da sua prática pessoal. Vamos lá?

1 – O estabelecimento do propósito

Todo ritual tem uma função específica. Seja celebrar alguma data ou período, entrar em contato com espíritos ou mesmo atrair ou repelir certas energias ou situações da vida daquele que o pratica, a finalidade é a primeira coisa a ser estabelecida. Saiba o que você deseja fazer e o por quê.

2 – A escolha do momento adequado

Sabendo o que exatamente você deseja fazer e por quais motivos, o próximo passo é escolher o melhor momento. Escolha sempre o período do ano, a fase da lua, o dia da semana e o horário mais adequados ao que você deseja fazer. Deseja fazer um ritual para atrair mais prosperidade a sua vida? Que tal uma noite de lua crescente num horário de Júpiter? Ou em um dia de domingo, em um horário de Mercúrio? Deseja causar prejuízos e doenças na vida de alguém? Você pode tentar a noite de uma terça, numa lua minguante, em um horário de Saturno. Deseja manipular uma situação ou alguém? Tente em um dia da Lua, em um horário de Mercúrio. Quer comungar com seus ancestrais? O Dia de Finados pode ser uma excelente data. Solstícios e equinócios tem, cada um deles, suas possibilidades. Assim como momentos astrológicos específicos. Se programe com antecedência e com intencionalidade.

4 – A organização

Na data escolhida, algumas horas antes, comece a organizar o espaço onde o ritual será realizado. O limpe fisicamente, dispondo nele todos os utensílios que serão utilizados. Vai usar ervas, velas, óleos, pantáculos? Já os separe. Vai vestir alguma túnica específica? Já deixe ela pronta. Todos os materiais e instrumentos do ritual devem ser adquiridos ou feitos com antecedência, estando separados e prontos a sua disposição.

3 – A purificação

Com tudo já devidamente arranjado, faça a purificação do local e de si mesmo. Faça a defumação adequada no ambiente, tome um banho simples ou um com as ervas mais apropriadas ao seu propósito. Se for usar alguma vestimenta específica, a coloque após seu banho.

5 – O Círculo

Com tudo devidamente pronto, no horário escolhido, comece então a fazer o Círculo adequado a sua operação. Pode, inclusive, ser o Círculo básico de Mão Esquerda disponibilizado aqui no Guia.

6 – O cerne do trabalho

Aqui é onde o trabalho de fato será feito. Comungue com as forças que você escolheu. Faça a sua magia viver. Lance as suas intenções e decrete os seus desígnios.

7- A despedida e o encerramento

Ao final do trabalho, agradeça e despeça as energias e seres convidados adequadamente. Desfaça o Círculo e encerre sua ritualística.

9 – O aterramento

Um ritual performado de forma adequada ergue e manipula uma grande soma de energias. É importante que, ao final de cada um, possamos nos desconectar de forma saudável deles, voltando nossa consciência ao mundano novamente. Para isso, o aterramento é essencial. Na estrutura do Círculo básico já temos bons exemplos a serem feitos então não deixe de os fazer.

8 – A limpeza

No final de uma ritualística, além do aterramento, é importante purificar o ambiente energeticamente mais uma vez e, em seguida, organizar novamente as coisas. Guarde o que precisar ser guardado, limpe fisicamente o que precisar o ser e arrume novamente as coisas.

10 – O registro

Fez o aterramento, limpou e organizou as coisas novamente? Descanse um pouco e faça o registro do seu ritual. Escreva todos os detalhes dele, o que você sentiu e a experiência que você teve. Anote também os efeitos e resultados que você sentir ou não nos próximos dias. Isso será muito importante para que você possa, aos poucos, saber com qual tipo de operação você consegue ter mais sucesso e aquelas que não dão tão certo assim para você. Com o tempo, através da observação e dos registros dos nossos erros e acertos é que refinamos as nossas práticas.

Nestes dez passos temos uma base simples, organizada e funcional para realizarmos uma verdadeira infinidade de ritualísticas. Podemos a usar para realizar desde rituais com objetivos mais básicos até para a adaptação de cerimoniais mais complexos como os da Goetia, por exemplo.

Em seu esqueleto operatório, a Goetia também inicia com o estabelecimento do propósito. O que você deseja e por qual motivo você deseja? Tendo seu intento claro em sua mente você então consultará, entre os 72 daemons, qual seria o mais indicado ao seu objetivo. Após a escolha entra o período de pesquisa mais aprofundada sobre o daemon em questão. Onde pesquisamos sua história, de qual cultura ele se origina, quais são suas correspondências (hierarquia, elemento, metal, cor, incenso, planeta, direção e etc), o que cada uma delas significa e o que elas dizem sobre sua natureza, em quais livros e obras ele aparece, vemos relatos de outras pessoas que já lidaram com este daemon antes e todo o mais possível. Isso ajudará não só na preparação mas a termos certeza de que o daemon escolhido é, de fato, o mais adequado para o que temos em mente.

Depois desse período de pesquisa o estabelecimento do momento adequado também é importante. As fases da lua, por exemplo, são destacadas como essenciais para o sucesso de uma operação goetica. Após a escolha do dia e da hora, entramos na preparação dos materiais, que são diversos. Com todos eles feitos (preferencialmente) ou adquiridos, entramos na organização e na purificação de nossos corpos e do ambiente como preparações para o rito. Então temos o estabelecimento do Circulo e o convite ao daemon escolhido. O cerne do trabalho aqui será o próprio contato com o daemon em si. Onde ele pode aceitar, negar ou negociar com você a realização do objetivo que você tem em mente. Com isso feito, temos a despedida do espírito e o encerramento do ritual. Onde o aterramento, a limpeza e o registro da sua experiência também são essenciais.

Então estude bastante e seja sempre criativo! Até mais.

Volte ao Guia

Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

Círculo básico de Mão Esquerda

Fonte: Arquivo pessoal

Continuando o post anterior sobre Círculos, aqui coloco uma estrutura básica que pode ser facilmente usada por aqueles que estão no começo de suas práticas na Mão Esquerda. Sua composição é inspirada tanto na Cruz Cabalística do RmP quanto no Rito Menor Luciferiano, então, não deixe de ver também o post sobre eles aqui para se orientar melhor! Inicie a realização deste Círculo, assim como nos outros dois do post anterior, começando com a purificação ambiente.

Purificação

Inicie limpando e organizando o seu espaço fisicamente. Você pode varrer o chão, mudar um pouco os móveis de lugar para criar espaço, e arrumar quaisquer coisas que você precise para a sua ritualística. Feito isso, a purificação espiritual pode ser feita tanto através de defumação quanto através de sons ou da aspersão de líquidos. Se você escolher a defumação, escolha ervas apropriadas para a limpeza do seu ambiente e passe a fumaça delas com cuidado por todo a área falando que quaisquer energias e seres não convidados ou não alinhados ao propósito do ritual que você fará estão, naquele momento, sendo retirados do local.

O mesmo vale se você escolher fazer o purificação por som, onde você pode usar mantras, o som de um sino ou etc decretando o mesmo propósito. A aspersão, geralmente, é feita com um pouco de água com sal. Da mesma forma da defumação, você aspergirá gotas da água salgada por todo ambiente falando e visualizando que qualquer coisa não convidada ou alinhada sairá do ambiente, ficando ele limpo e puro. Após a organização e limpeza do seu espaço, se concentre, trazendo sua consciência para o momento presente, e comece pela Cruz Luciferiana:

Se coloque no centro de onde o Círculo será feito e, voltado para o Oeste, visualize uma esfera branca e brilhante acima da sua cabeça. Sua energia é fria, mas poderosa. Toque o centro da sua testa com seus dedos indicador e médio e, assim que sua visualização sobre ela estiver firme, vibre: Yaltabaoth-Samael!

Agora, a esfera de luz seguirá os seus dedos. Toque a região a frente dos seus genitais e vibre: Aeshma-Taromati!

Toque seu ombro direito e vibre: Do-Mar!

Toque seu ombro esquerdo e vibre: Dehak!

Então, visualize a esfera de energia indo até o centro do seu peitoral, se tornando um brilhante pentagrama reverso vermelho, te energizando, enquanto você cruza seus braços sobre a região e vibra: Andar!

Agora, com sua adaga ritual ou com seus dedos indicador e médio, comece a traçar o Círculo. Em cada quadrante você visualizará uma chama colorida diferente, representando as direções e forças que serão convidadas. Enquanto faz a visualização e chama pelos nomes, faça com a ponta da sua adaga, ou dos seus dedos, o traçado de um pentagrama de invocação no ar, da mesma cor de cada chama que você visualizar.

Traçado do Círculo

Se volte para o Oeste e visualize uma chama azul, de centro escuro, a sua frente. Trace o pentagrama de invocação com calma diante da chama, e o visualize no mesmo azul que ela. Inspire profundamente e diga: Que das profundezas abissais venha Leviatã! Que pelo seu corpo este Círculo seja circundado e que pela intensidade feroz dos seus negros mares ele seja inundado, para que daqui a minha Vontade flua penetrante pelas correntes do Universo sem o que lhe resista!

Se volte para o Sul e visualize uma chama vermelho escuro a sua frente. Trace o pentagrama de invocação diante da chama, e o visualize no mesmo vermelho que ela. Inspire novamente e diga: Que de escaldantes desertos venha Azazel! Que o fogo da sua divina inspiração resplandeça no meu espírito e em meus atos para que deste Círculo o meu Poder incendeie mundos!

Se volte para o Leste e visualize uma chama amarelo clara, quase branca, a sua frente. Trace o pentagrama de invocação diante da chama, e o visualize no mesmo amarelo que ela. Inspire profundamente e diga: Que da mais cálida luz celeste venha Lúcifer! Que seu brilho ilumine minha mente e os meus pensamentos para que deste Círculo Sabedoria se professe e livre se cumpra!

Se volte para o Norte e visualize um chama de fogo negro a sua frente. Trace o pentagrama de invocação diante da chama e o visualize no mesmo negror que ela. Inspire e diga: Que do selvagem e desolado venha Lilith! Que sua pulsão conduza meus sentidos e instintos para a manifestação perfeita dos anseios do meu Desejo!

De volta ao Oeste, com os olhos fechados, visualize cada uma das energias que você invocou. Veja as entidades personificadas, cada uma delas, ao seu redor, em cada quadrante. Abra os braços, sentindo a energia ao seu redor, e diga: Me circulam o poder de Leviatã e Azazel e me cercam as essências de Lúcifer e Lilith. Anuncio o meu intento sagrado como essência divina encarnada enquanto ascendo sobre os céus e me firmo sob a terra. Assim acima como abaixo!

O Círculo está formado. Faça sua ritualística sem pressa e, quando terminar, novamente se coloque no centro do espaço, dizendo: Encerro aqui o meu trabalho e agradeço aos poderes de Leviatã e Azazel, assim como as essências de Lúcifer e Lilith, por terem me auxiliado. Anunciei meu intento sagrado e, a partir de agora, ele se cumpre. Pois acima dos céus alcancei e abaixo da terra me firmei. Assim como é acima, é abaixo!

Com sua adaga, ou com a ponta dos seus dedos indicador e médio, agora volte aos quadrantes. Faça o pentagrama de banimento em cada um deles, imaginando suas chamas se dissolvendo lentamente enquanto diz

ao Oeste: A Leviatã agradeço pela presença e pelo poder. Vá em paz!

ao Norte: A Lilith agradeço pela presença e pelo poder. Vá em paz!

ao Leste: A Lúcifer agradeço pela presença e pelo poder. Vá em paz!

e ao Sul: A Azazel agradeço pela presença e pelo poder. Vá em paz!

Se colocando de novo ao Oeste, repita a Cruz Luciferiana para te centrar mais uma vez, realinhando e harmonizando as energias que ainda estão em você e ao seu redor. Caso sinta necessidade, repita também a purificação espiritual do ambiente, organizando o local de volta, e está feito!

Aterramento

Durante esse passo a passo você limpou o ambiente, retirando tudo o que não era adequado, se alinhou, chamou pelos nomes de poder e fez sua ritualística erguendo uma boa quantidade de energia. Depois de repetir o banimento é importante que você se desconecte do ritual que você acabou de performar de forma saudável, voltando sua consciência ao mundano novamente. Para isso, temos o aterramento. Sem ele, você pode ficar sobrecarregado psicologicamente pelo excesso de emoções que você trabalhou ou pelas experiências que você teve durante a sua ritualística. Meu método favorito de aterramento é simplesmente tomar um banho relaxante e ir comer alguma coisa.

No banho, foque nas sensações físicas. Respire devagar. Solte qualquer tensão que possa ainda estar em você. Imagine qualquer excesso, ou impureza que seja, indo pelo ralo junto com a água enquanto você relaxa e volta a si mesmo. Coma algo que você goste, que reponha suas energias caso você precise, e não esqueça de beber algo para se hidratar. Depois disso, descanse! Você fez um bom trabalho.

Observação: Dependendo da linha e do autor, não será incomum você ver os nomes associados as direções mudarem. Tanto Samael quanto Satã algumas vezes são colocado ao Sul como Senhores do Fogo, assim como Belial ou Naamah podem ser colocados ao Norte como Senhores da Terra. Sendo um ponto em comum entre diversas tradições sempre colocar Lúcifer ao Leste, pela sua simbologia como Estrela da Manhã e Senhor do Ar, e Leviatã a Oeste, por ser ele o Senhor dos Mares Abissais. Então estude sempre, estando atento as diferenças e ao significado que é dado a cada detalhe.

Até mais!

Volte ao Guia

Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

Primeiros passos – O Altar

Fonte: Arquivo pessoal

Nossos altares sempre são os maiores pontos de foco dentro das nossas práticas espirituais. Como já coloquei aqui, neles nos lembramos de quem realmente somos, do que nos guia, professamos nossas crenças, e projetamos nossa Vontade sobre o Universo.

Como elementos vivos, eles se moldam e se desenvolvem junto conosco, refletindo nosso caminho e nossa jornada espiritual. Se estamos dentro de religiões, ordens ou templos específicos, geralmente seguimos as diretrizes que nos são passadas sobre como montá-los e sobre como cuidar deles como Adeptos das vertentes específicas onde estamos inseridos. Sendo praticantes solitários, no entanto, desfrutamos de mais liberdade em nossas escolhas e atos. E aqui irei colocar algumas ideias para guiar aqueles que, como eu, são lobos solitários da Mão Esquerda. Me baseando nos meus estudos e nas minhas experiências particulares como luciferiana. Então, não trate nada aqui como o único jeito de se fazer nada nem como uma verdade absoluta, mas como uma sugestão!

Em primeiro lugar, escolha um local prático e seguro para montá-lo. Pode ser uma mesa num quarto que você separou apenas para suas práticas espirituais, pode ser uma boa prateleira em alguma parte segura da sua casa. Pode até mesmo ser uma maleta, como o altar itinerante que eu sugeri aqui. O importante é que seja um local funcional e adaptado a você, afinal, você vai tê-lo como seu local de desenvolvimento pessoal e, conforme você progredir, ele progredirá com você, se tornando um ponto onde o véu entre o mundano e o espiritual se tornará mais fino.

Em segundo, realize a limpeza do local escolhido. Inicie com a limpeza física mesmo e, logo após, faça uma limpeza energética. Para isso, como se fosse fazer um chá, coloque 150ml de água para ferver. Assim que começar a ebulição, desligue o fogo e coloque de duas a três colheres de sopa de folhas de eucalipto na água, dizendo: “Que o espírito das águas e do eucalipto aqui possam despertar e se unir, criando uma infusão única, capaz de purificar tudo aquilo que, com ela, limpo for.” Tampe a panela, ou chaleira, que você estiver usando e espere esfriar. Quando já estiver frio, coe, e passe essa infusão com a ajuda de um pano limpo no seu altar em formação. Você não precisa molhar demais o pano, apenas o umedeça e o passe. Faça isso com concentração, imaginando que o local está sendo limpo de todas as energias que nele estavam até o momento. Logo após, faça a energização.

Para isso, coloque um pequeno disco de carvão em brasa dentro de um suporte seguro e apropriado. Em cima dele, queime um pouco de resina de sangue de dragão. Quando a fumaça começar a subir, a passe por todos cantos do seu futuro altar, visualizando força e proteção sendo nele imbuídos. Quando terminar a defumação, coloque o suporte em cima do altar e, queimando um pouco mais de resina, com os dedos indicador e médio da mão com o qual você escreve acima da fumaça, desenhe um pentagrama invertido no ar. Feche os olhos. Inspire e expire profundamente três vezes enquanto visualiza o pentagrama no ar, em meio a fumaça, brilhando em fogo negro. Se concentre. Então diga:

“Pelo poder evolutivo que em mim se ergue e pela força da rebelião que meus atos perpetuam eu consagro este espaço como meu altar sagrado. Ponte física entre mim e os mistérios que se escondem além das minhas crenças, além dos meus desejos, além daquilo que atualmente sou. Ao Adversário que se ergue acima, portanto a Luz, reinando abaixo do Abismo. Que haja curiosidade, que haja questionamento, que venha a subversão, a bravura, o crescimento, a sabedoria e o poder. Que minha Arte aqui flua em indomável corrente. Me consumindo, me transformando, me erguendo e me forjando em negra chama. Pois em sabedoria, consciente e constantemente, me batizo.”

Erga sua mão direita para cima, enquanto estende a esquerda para baixo, com os dedos indicativo e médio estendidos e os dedos anular e mindinho dobrados enquanto finaliza:

“Pois assim é acima como abaixo. Está feito!”

Pronto. Agora caberá a você o que colocar ou não no seu novo altar. Por regra, ele deve ser adornado e construído como um reflexo da sua prática, do seu trabalho e de quem você realmente é. Refletindo a sua personalidade e a sua jornada. Pense nele como um símbolo, no microcosmo, do que você desenvolve no macrocosmo. Uma representação simbólica, no físico, dos poderes que estão além.

Eu sempre indico ter, em primeiro lugar, uma toalha de bom tecido para cobri-lo. Pode ser uma toalha preta com um pentagrama simples, como a da foto que ilustra esse texto. Castiçais ou suportes seguros onde acender velas também são importantes. As cores das velas que você vai usar dependerão bastante da sua prática e da intenção dos rituais que você for performar. Rotineiramente, você pode ter duas velas negras, uma de cada lado do altar, representando a sabedoria oculta e a Chama Negra. Ou duas brancas, representando a Luz do Espírito e os aspectos elevados da mente.

Incensários ou suportes para defumação também são importantes. Afinal, assim como as velas trazem o calor e a iluminação do Fogo, os incensos trazem a qualidade sutil e ativa do Ar. Dependendo das suas propriedades, eles trazem energia e movimento para o que fazemos, definindo o ânimo e a energia de nossos trabalhos. A Água pode estar presente em um cálice, trocada todos os dias para estar sempre limpa e fresca, trazendo fluidez para o seu espaço. A Terra pode ser representada pelo próprio pentagrama invertido, trazendo a materialização e a valorização saudável da nossa existência física.

Fora os Elementos, você pode colocar todos os instrumentos da sua prática em seu altar. As adagas, punhais e espadas, carregando a simbologia do Fogo ou do Ar, podem ser símbolos ativos e consagrados de Azazel, aquele que ensinou a humanidade a como forjá-los. Varas e bastões, trazendo a força do Fogo e da energia projetiva, podem trazer a força ígnea do próprio participante ou serem representações de Satã, caso estejam ali como o Forcado do Diabo. Espelhos, principalmente os negros, podem ser consagrados como portais para o contato com o plano espiritual, mitologicamente associados a Lilith por serem tidos como passagens para suas cavernas. Além dos incensos, para o Ar, elemento tradicional de Lúcifer, sinos também podem ser usados, Iniciando e fechando rituais, chamando ou despedindo forças e espíritos. Ainda no domínio do Ar e do intelecto, você pode reservar um espaço para o seu Diário Mágico e para os livros que você está estudando no momento. Para as forças das Águas, domínio de Leviatã, além do cálice você pode ter conchas e simbologias ligadas as serpentes e aos oceanos.

Os símbolos e sigilos relacionados ao que você desenvolve podem sempre estarem decorando tanto o altar quanto a parede atrás dele também. Você pode comprar bandeiras ou toalhas com eles para pendurar ou até mesmo os desenhar ou imprimir. Ativados, eles sempre estarão emanando sua energia tanto para você quanto para o espaço. Essas energias podem ser protetoras, defensivas, podem conferir bênçãos ou etc. Os mistérios daquilo que você faz estarão sempre com você.

Sugestões: Apesar da resina de Sangue de Dragão ser a mais indicada para esse pequeno ritual eu sei que ela não é uma resina fácil de se achar em muitos lugares aqui no nosso país então, se você não tiver acesso a ela, é possível queimar alecrim seco como substituição. Mas atenção, só faça essa substituição se realmente não tiver como usar a resina de Sangue de Dragão, ok? Além disso, outra sugestão é que você pode, ao invés de apenas desenhar o pentagrama invertido no ar com os dedos, criá-lo com as suas mãos. Para isso, posicione os dedos indicativo e mindinho de cada uma das suas mãos para cima enquanto abaixa os dedos médio e anelar, deixando os polegares retos. Aponte os dedos indicativo e mindinho para baixo e, para unir as mãos, junte ambos os dedos mindinhos. Você verá que os seus polegares formarão as duas pontas de cima do pentagrama, os indicadores serão as pontas direita e esquerda e os mindinhos, unidos, a ponta de baixo. Faça isso acima da fumaça, se concentrando e proferindo os dizeres da consagração da mesma forma.

Até mais!

Volte ao Guia

Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

Primeiros passos – A lua e suas fases

Fonte: Arquivo pessoal

A lua, em toda sua mutabilidade, é o corpo celeste mais próximo da Terra. Sendo a primeira esfera sideral acima de nós, na astrologia clássica, todo o nosso mundo é tido como sublunar. Sendo ela, em suas transformações, que atua como o portal para a descida ou subida de todas as outras energias até o nosso plano, sendo crucial para as suas manifestações ou desmaterializações.

Sendo ela a intermediadora entre os mundos inferiores e superiores, é ela que distribui as forças de cima e de baixo em nosso plano, recebendo e partilhando as influências dos fluxos do nosso Universo conosco, aqui onde estamos. Sendo sutil, mas mais próxima do material, temos em seu ciclo o respirar do mundo, ditando o ritmo das marés e de tudo que é limítrofe, sendo espiritual mas também podendo afetar o físico, como poltergeists e outros fenômenos semelhantes.

Desta forma, o sobrenatural a ela se associa, assim como a clarividência e o plano dos sonhos. Tudo que não é apenas matéria mas tem a capacidade de a tocar tem em si a benção e a regência lunar. E é nisto que entendemos por qual motivo o estudo sobre a sua complexidade sempre foi tão importante dentro da magia. Afinal, nela estudamos e aprendemos com os fluxos do mundo para poder manifestar mudanças materiais através daquilo que não é só matéria.

Na magia astrológica clássica, por exemplo, a magia com constelações e estrelas fixas deve sempre ser feita observando as condições lunares. Além, é claro, da análise das demais conjunções, como algum trígono ou sextil, que pode existir no momento entre a lua e os demais corpos celestes. Tendo-se em consideração também o signo onde, no momento, ela se apresentar. Nisto, temos que os períodos onde a lua se encontra fora de curso, ou seja, quando ela está nos últimos graus de um signo, isolada, não fazendo nenhum aspecto com outros corpos celestes, sejam ruins para se começar qualquer coisa que você deseje que vingue. Assim como temos, dentro da grande maioria dos grimórios clássicos, recomendações de quando fazer ou evitar certos tipos de operações.

Não é necessário que você domine todos os saberes da Astrologia, principalmente da Tradicional, para que a sua magia tenha resultados satisfatórios. No entanto, é muito interessante que você tenha uma base básica de conhecimento sobre para fundamentar e aprimorar ainda mais suas técnicas. Principalmente para entender que a lua, como um lumiar, é interpretada pelo movimento da sua luz. Sendo a luz significadora da vida, do movimento e da força divina, temos sua ausência como paralisação, seu crescimento como progresso, seu ápice como poder e seu minguar como perecimento.

Assim, conforme a lua se esvazia e se enche da luz solar, temos o ritmo pelo qual vitalidade é doada ou retirada do mundo.

Sendo assim, quando ela se encontra em sua fase nova, ela está ausente de luz. E como ausência de luz é ausência de força e vida, paralização, não temos então sua influência de forma pronunciada. Estando o mundo no escuro, não somos vistos. Portanto, trabalhos que você não deseja que sejam notados ou detectados aqui podem surtir um ótimo efeito. Limpezas e descarregos podem ser beneficiados no sentido de se livrar de tudo aquilo que você não quer que siga com você por mais um ciclo lunar. Então coloque o lixo pra fora e trabalhe ausências. Se você desejar agir no escuro ou mesmo trabalhar com as sombras, o faça com cuidado.

Na fase crescente, coma a sua luz está em aumentando, podemos trabalhar naquilo que igualmente desejamos que progrida ou aumente em força e potência. Tudo que desejamos que avance ou que queremos que experimente ampliação e crescimento é favorecido. Sua palavra chave é o desenvolvimento.

Na fase cheia encontramos o ápice da luz e, assim como ela está em sua maior potencia, tudo que desejamos potencializar se beneficia. Repare que aqui não falamos de crescimento e nem de diminuição, mas de potência. O fortalecimento é sua palavra chave. E você pode fortalecer tanto trabalhos positivos quanto trabalhos negativos. Tudo depende de como você direciona o que você faz.

E na fase minguante, assim como a lua se esvazia de luz, podemos tirar a força antes outorgada as coisas, as fazendo minguar até sua morte. Aqui finalizamos trabalhos, e damos término aos mais diversos tipos de situações. Feitiços de reversão ganham uma força especial nessa fase. Assim como maldições que tenham por intuito minar, diminuir e decrescer as forças rivais. O enfraquecimento é a chave dessa fase.

Sabendo trabalhar na lógica da movimentação da luz, na sua ausência, no seu crescimento, na sua potência e no seu enfraquecimento podemos realizar nossos movimentos de acordo com o movimento dos fluxos do mundo. Não é obrigatório, claro, mas acrescenta e enriquece. Então, saiba como deseja agir.

Sobre a questão dos eclipses, em particular, veja aqui.

Até mais!

Volte ao Guia

Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.