Mão Esquerda – Definições iniciais

Fonte: Arquivo Pessoal

Quando falamos sobre Mão Esquerda, falamos exatamente do que?

Em minhas memórias, é sempre muito vago saber onde exatamente eu ouvi o termo ”Mão Esquerda” pela primeira vez. No entanto, eu sempre consigo, se fecho meus olhos, reviver a sensação inebriante dos meus primeiros passos neste caminho, como se tivessem se passado ontem.

Foi durante o ano de 2016. Eu estava tentando morar sozinho pela primeira vez num apartamento simples, tendo acabado de sair de um grupo de magia que desmoronou por conta de abusos internos que eu ajudei a denunciar. Sobreviver ali, durante aquela época, foi uma guerra em diversos níveis. A cada dificuldade eu me tornava mais afiado, mais rápido, mais inteligente, mas também sofria bastante. Tive meus acertos e meus erros, minhas vitórias e minhas derrotas. E foi ali, apanhando muito e aprendendo a bater de volta com o triplo de força que a Mão Esquerda entrou na minha vida. Toda a minha visão sobre ela, então, virá sempre do local pessoal da minha vivência.

Dito isto, num primeiro momento, tenha em mente que os termos Caminho da Mão Esquerda (Via Sinistrae) e Caminho da Mão Direita (Via Dexterae) formam entre si uma dicotomia natural dentro dos movimentos esotéricos ocidentais.

Você terá o início dessa terminologia no trabalho da escritora e ocultista russa Helena Blavatsky que, por sua vez, procurou se inspirar nas linhas do Tantra, Vama Marga e Dakshinachara, para criá-los a partir da sua própria visão. Visão essa que ela trabalhou, no conjunto da sua obra, sincretizando profundamente os conceitos orientais já citados com muitos outros vindos do budismo, do hinduísmo e do zoroatrismo com a adição de conceitos oriundos do hermetismo e da cabala, sofrendo em si também muita influência do Espiritismo.

O que torna importante dizer que, apesar da sua relevância inegável perante a história do ocultismo ocidental, seu trabalho acaba sendo muito mais uma costura dos conceitos dessas diversas fontes e culturas, para os quais muitas vezes ela não deu o devido crédito em seus escritos, do que algo de fato original. Isso não tira o peso da sua herança intelectual para que possamos compreender como todos esses conceitos vieram até nós hoje. Mas é sim um ponto de atenção significativo. Pois, se você for até as fontes que ela usou para criar seus textos, você terá noções mais claras sobre os assuntos que ela procurou desenvolver. Inclusive, portanto, em referência aos próprios conceitos que foram cunhados para a Mão Direita e para a Mão Esquerda como caminhos de Luz e Escuridão.

Dentro do hermetismo e da Astrologia Tradicional Helenística, por exemplo, os conceitos de Luz e Escuridão já são trabalhados nas noções que temos hoje de Direita e Esquerda. Para os helenísticos a luz representa as forças divinas e a própria vida em si. Temos, na luz, o movimento, a lucidez, a transparência, as figuras de poder (incluindo as próprias divindades), a razão, a ordem e tudo que faz a manutenção da vida. Na luz temos a coletividade e a integração.

Na Escuridão, por outro lado, temos tudo que é considerado tabu pelas normas sociais. Temos os marginalizados, os que não são vistos, os que estão fora do controle social. Como conceito oposto a Luz, aqui temos tudo o que está fora dos limites da ordem, o que nos paralisa, o que nos entorpece, as paixões carnais, os bodes expiatórios, os inimigos ocultos e tudo que abate a vida. Forças de entropia, destruição e desintegração são pertencentes a Escuridão. Como externa ao coletivo e ao social, habitando naquilo que é selvagem, nela temos o individualismo.

E é nisto que se encontra a diferença prática entre os dois caminhos. A Via Dexterae, como um caminho que pertence a Luz, é sobre união e a Via Sinistrae, como um caminho que pertence a Escuridão, é sobre individualização. Se você já ouviu em algum momento a noção de que evoluímos para em algum momento voltarmos a nos unir ao Todo, parabéns, você já entrou em contato com a visão básica da Mão Direita. E se você já ouviu em algum momento que somos, em nós mesmos, nossa própria divindade, parabéns, você já entrou em contato com a visão básica da Mão Esquerda também.

Perante a Mão Direita a condição humana é, essencialmente, a condição da queda. Existe, dentro das suas linhas, a noção de que fomos separados de uma fonte criadora divina externa e que a separação dessa fonte é a causa das nossas angústias e sofrimento. Portanto, o caminho espiritual da Mão Direita é o do ascetismo e da procura pela pureza moral, negando o material e o terreno, para que se retome a união a esse princípio divino externo que unificaria em si próprio tudo que existe.

Temos essa visão dentro do cristianismo, onde negamos o material para aperfeiçoar o espiritual e nos unirmos a Deus em estado de graça. Mas também a temos um pouco dentro da própria visão reencarnatória de Blavatsky, extremamente influenciada pelo espiritismo de Kardec, onde ao final de nossas linhas evolutivas nos dissolvemos ao Princípio do Universo e até mesmo na ideia wiccana de que ”da Deusa todos viemos e para ela todos voltaremos”. Se ao final de um caminho espiritual você se entrega, se une ou se dissolve em um grande princípio divino maior de onde tudo originalmente veio este caminho é, por essência, um caminho da Mão Direita. Pois a Via Dexterae é, sempre, sobre comungar se unir ao externo.

A Mão Esquerda, em contrapartida, na maioria das suas linhas, não tem seu principal foco numa pretensa Fonte Universal mas sim no indivíduo. Nela, ao invés de buscarmos ascender para uma entrega a algo externo, nos voltamos para a matéria e para o nosso interior. O terreno, com seus instintos e paixões, não é negado, mas sim abraçado e desenvolvido com responsabilidade.

Na Via Sinistrae saímos daquilo que é considerado seguro e assumimos o risco de andar em meio ao que é selvagem, nos reconciliando com nossas sombras, adentrando naquilo que é considerado sujo, naquilo que é tido como tabu e no que foi marginalizado. Não negamos a matéria, que é onde estamos e o que somos, como na abordagem ascética da Direita, mas sim a usamos para o fortalecimento e para o desabrochamento do divino que já existe em nós. Assim, força não é o que você busca fora mas aquilo que você constrói por dentro.

Sendo uma Via da Escuridão que tem a autonomia como foco principal, é natural a ligação entre os praticantes da Mão Esquerda e as figuras que, ao longo da história, em diversas culturas, foram marginalizadas e tidas como aquelas que se negaram a obedecer alguma força maior e totalitária para carregar sua independência como uma coroa e também como uma arma.

É nisto que a figura de Satã como grande Adversário e a de Lúcifer como o rebelde que colapsa a ordem para trazer a conhecimento são acolhidas e celebradas como fontes inspiração. E o trabalho com demônios como princípios que podem guiar através do caminho de auto deificação é esperado. Qualquer caminho espiritual que, ao invés de conduzir a união com uma fonte criadora externa, se satisfaça na separação e continue a aprofundando ao máximo para que seu adepto alcance a divinação individual é um caminho da Mão Esquerda por excelência.

A Teurgia, por exemplo, pertence a Mão Direita, enquanto grande parte das vertentes da Goécia pertencem a Mão Esquerda.

Ambos os caminhos são úteis em seus propósitos e devem ser trilhados com responsabilidade e comprometimento por aqueles que os seguem. Lembre-se sempre que tanto a Luz quanto a Escuridão são princípios essenciais e complementares dentro do Universo em que habitamos. Um não existe sem o outro, ambos sendo necessários para o fluir da dança e do equilíbrio cósmico.

A Mão Direita, sendo um caminho de submissão, é uma Via excelente para aqueles que precisam desenvolver humildade, piedade, empatia e a capacidade de servir a outros e ao bem comum. A Mão Esquerda, sendo um caminho de independência e auto regência, é uma Via maravilhosa para aqueles que, em contrapartida, precisam desenvolver um sentido mais fortalecido de si próprios e de seu poder pessoal. E foi exatamente nisto que a Via Sinistra me acolheu. Em ser um caminho de soberania e fortalecimento pessoal em primeiro e último lugar.

Seguindo os passos sobre como formar um caminho próprio que coloquei aqui, neste post temos então nossa definição inicial sobre o que a Mão Esquerda é e também, de certa forma, uma ideia sobre o que, dentro dela, pode nos mover para ela. Nos próximos posts teremos um pouco mais sobre as principais vertentes dentro desta Via: o Satanismo e o Luciferianismo.

Até lá!

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Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

Guia prático da Mão Esquerda

Fonte – Arquivo Pessoal

No último post do blog, que você pode conferir aqui, eu dei algumas dicas sobre como podemos começar a pesquisar e a formar um caminho dentro da vasta área que é a bruxaria. Aqui, irei me inspirar no roteiro do post anterior, estabelecendo um pequeno guia em relação a uma área dentro das Artes Ocultas sobre as quais ainda pouco se fala: a Mão Esquerda.

O objetivo deste post é ser um masterpost, ou seja, aqui eu deixarei organizado todos os links dos posts que eu farei sobre a Mão Esquerda, de forma que fique organizado e que seja de fácil acesso. Como ele estará em constante construção e atualização pode salvá-lo e o reconsultar sempre, ok? Vamos lá!

Para começar, iniciaremos pelo básico. Ou seja, pelas definições iniciais. Onde veremos o que é a Mão Esquerda, do que se trata a Corrente do Adversário e um pouco sobre suas principais vertentes:

Mão Esquerda – Definições iniciais

A Corrente do Adversário

Existiria como “equilibrar” as Vias Esquerda e Direita?

A Mão Esquerda é para mim?

Métodos do Tarot – Adentrando a Via Sinistrae

As Ordálias e a Natureza do Caminho

Satanismo – Um breve resumo histórico

As Nove Declarações e as Onze Regras Satânicas

Os Nove Pecados Satânicos

Missa Negra – Da blasfêmia ao psicodrama

Luciferianismo – Um breve resumo histórico

Os 11 Pontos Luciferianos de Poder

A Demonolatria Moderna

Afinal, é tendo clareza sobre em quais águas nos aventuramos quando falamos da Via Sinistrae que conseguimos dar os nossos primeiros passos nesse caminho!

E eles começam, claramente, em como estruturar um bom estudo. No artigo inicial dos Primeiros Passos temos como elaborar nossa própria pesquisa. Buscando e verificando fontes, cruzando informações, para navegar com segurança e discernimento por livros e artigos. Além disso, também vemos como começar a meditar e a trabalhar o nosso cuidado pessoal:

Primeiros passos – Estudo, meditação e cuidados pessoais

Também é importante, logo no início enquanto começamos nossos estudos, sabermos como identificar tanto discurso de ódio quanto grupos e pessoas predatórias que se esgueiram sorrateiramente por meios ocultistas para não cairmos por inocência em nenhuma armadilha:

Primeiros passos – Como identificar discurso fascista dentro da Mão Esquerda

Primeiros passos – Como identificar grupos abusivos

Primeiros passos – Sobre Mestres e Sacerdotes

Agora, já estando mais espertos, estudando, nos cuidando e meditando rotineiramente, veremos como nos organizar para dar os próximos passos, estabelecendo práticas simples, mas consistentes, que caberão em nossas rotinas e no nosso dia a dia:

Primeiros passos – Se organize!

E nisso incluímos o RMP, assim como termos uma boa base de cuidado energético:

O Ritual Menor do Pentagrama – RMP

Primeiros passos – Cuidados Espirituais

Primeiros passos – Sobre limpezas e proteções

Primeiros passos – Sobre energização e aterramento

E, claro, sobre como incluir os oráculos em nossa prática inicial:

Primeiros passos – A importância dos oráculos

Primeiros passos – Um exercício oracular

Temos a importância da lua e de suas fases:

Primeiros passos – A lua e suas fases

Bem como. agora que já temos uma prática inicial, um pouco mais sobre instrumentos e altares:

Primeiros passos – Instrumentos

O Espelho Negro

Primeiros passos – O Altar

E, tendo uma estrutura inicial, podemos começar a compor nossos primeiros rituais, onde teremos nossas primeiras experiências:

Primeiros passos – Sobre Círculos

Círculo básico de Mão Esquerda

Uma estrutura básica para rituais

Primeiros passos – Gnose

Primeiros passos – O estado de gnose

E, nelas, falamos um pouco mais sobre as figuras espirituais do caminho:

Primeiros passos – Os Guias do Caminho

Primeiros passos – O Chamado dos Guias

Primeiros passos – Sobre apadrinhamentos

Métodos do Tarot – Descobrindo o Guia

Primeiros passos – Interpretando sinais

Quem são os Daemons?

Quem é Lilith

Quem é Lúcifer

E nos aprofundamos ainda mais com as recomendações de leitura!

Resenha – Apoteose de Michael W. Ford

Resenha – A Bíblia do Adversário de Michael W. Ford

Resenha – Bruxaria Diabólica de Naamah Acharayim

Resenha – Dicionário dos Demônios de M. Belanger

Resenha – Demonolatria Moderna de S. Connolly

Resenha – Atanatize – O Caminho dos Mestres Não-Mortos de Alexander L.M

Sobre figuras em específico:

Resenha – O livro de Lilith de Barbara Black Koltuv

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A arte da Bruxaria – Como começar

Fonte – Acervo pessoal

Quando começamos a nos interessar pela bruxaria sempre vem aquela dúvida: Como começar? O que precisamos ver ou entender primeiro? Como, num ramo tão diverso, podemos escolher por onde iniciar nossas buscas e onde encontrar as respostas para nossas maiores questões sobre o tema?

Primeiramente, é importante entender que o ponto inicial mais fundamental de todos é o estudo. Se você não gosta de imergir por horas e horas na leitura de livros, conhecendo autores e suas obras, bem como estudando diversos movimentos e suas implicações é bom que você saiba de antemão que, caso você queira ter uma prática substancial e profunda, isso será necessário. Você passará muito mais tempo lendo, pesquisando e fazendo anotações do que em qualquer outra atividade. Em segundo, você precisará saber se organizar. Principalmente no âmbito mental. Ter clareza do que você pensa e saber estruturar o que você deseja de forma prática é essencial para que você não se afogue num mar de informações desconexas que você não saberá utilizar e nem sequer te darão qualquer firmeza.

Para isso, comece no mais básico:

O que você acha que a bruxaria é? Onde e como você ouviu a palavra ”bruxaria” pela primeira vez? Quais caminhos você tomou entre essa primeira vez e ideia que você tem dela hoje em dia? Você pensa algo de diferente? Ainda pensa a mesma coisa? Muitas pessoas entram em contato com diversas ideias sobre o que seriam tanto a bruxaria quanto a magia em literatura, filmes, séries, jogos e desenhos bem cedo na vida, por exemplo. Seja qual tiver sido o seu caminho tente o traçar claramente dentro da sua cabeça. Entenda o que e quais histórias e acontecimentos compõe sua visão do que a bruxaria é.

Sabendo o que você pensa que a bruxaria é, defina o segundo princípio mais básico:

O que te move para perto dela agora? Dependendo da sua concepção algo está te movendo até ela. O que te faz querer se aprofundar nela? Entenda qual é a raiz do seu impulso. É apenas simples curiosidade? Você conheceu alguém que pratica e achou essa pessoa legal o suficiente para entender mais do que ela faz? Alguém te inspira? Você está se movendo por alguma necessidade particular? Basicamente, aqui você precisa entender qual é a sua história. Raras pessoas vão ter um contexto familiar prévio para começarem na bruxaria. Mesmo aqueles que tem uma família profundamente espiritual, na maioria das vezes, não terão seus familiares chamando o que fazem de bruxaria, visto que é um termo que ainda carrega sobre si um peso social discriminatório muito forte. Então, primeiramente, entenda o que te move para cá.

Com isto feito é que você poderá definir melhor o que, baseado na sua visão, você quer com a bruxaria. Afinal, algo dentro das suas visões e do que te move desperta seu desejo. Você quer alguma coisa com a bruxaria. É autoconhecimento? É desenvolver sua espiritualidade? Ganhar poder? Ter mais dinheiro? Ser desejável? Você quer se proteger de alguma coisa? Quer se vingar de alguma coisa? As vezes as pessoa começam atrás de amor, as vezes apenas por estética, porque é bonito, porque de alguma forma está na moda, ou porque querem atender alguma demanda pessoal que se falassem em alto poderia soar egoísta ou até mesmo bobo. Identifique o que você pensa e o que você quer sendo sincero com você mesmo. Você tem que saber de onde está partindo antes de começar. Sendo esse ponto qual for.

Agora, em terceiro, é onde sua busca de fato vai começar.

Inicie justamente pesquisando o que a bruxaria é. Isto é a primeira coisa que você de fato deve saber. E a resposta será bem mais complexa do que você poderia imaginar num primeiro momento. Cada cultura ao redor do mundo e cada época da história humana definiu tanto a magia quanto a bruxaria e a feitiçaria de forma diversa e multifacetada. Muitas vezes todos esses termos se encontram como sinônimos e muitas vezes eles se distinguem de formas muito particulares. Esses são os primeiros pontos que você deve desenvolver. Nunca fique com uma definição só. Sempre procure no mínimo três visões diferentes para não começar sua jornada já com uma visão parcial e reducionista.

Você logo verá que, para realmente formular algum conhecimento nesta primeira tarefa, você terá que ter o mínimo de pesquisa cultural e histórica. Procure sim livros de História. Leia-os antes de ler livros de autores do meio esotérico e ocultista. Eu sei que muitas vezes nosso primeiro impulso é procurar autores do meio, mas confie em mim neste ponto, não comece por eles, comece por obras escritas por historiadores. A maioria dos livros do meio ocultista deixa muito a desejar no que se refere a pesquisa histórica porque a maior preocupação de muitos autores do meio é mais defender suas próprias vertentes e visões do que se aterem a veracidade dos fatos. Eles estão apenas vendendo o próprio peixe, e não necessariamente vão te ensinar a pescar. Se você tiver uma boa pesquisa histórica prévia, quando você começar a pegar de fato livros sobre ocultismo, será fácil identificar quais autores são bons e quais não o são. Então inicie tendo uma boa base histórica.

Uma excelente indicação que eu tenho para essa fase inicial é o livro História da Bruxaria de Jeffrey B. Russel e Brooks Alexander. Além de belissimamente ilustrado, sua leitura é fluida e agradável, dando um excelente contexto sobre a diversidade do que é a bruxaria e sobre quem historicamente é a figura da bruxa em diversas culturas e períodos até os dias de hoje, onde temos os movimentos do neo paganismo e o surgimento da Bruxaria Moderna após o fundamento da Wicca na década de 50 pelas mãos de Gerald Gardner.

Depois de terminada esta primeira busca, compare o que você sabe após o seu estudo com o que você pensava antes. Algo te surpreendeu? Foi muito diferente do que você pensava no começo? Alguma coisa mudou em você agora que você sabe melhor do que se trata a bruxaria? Você ainda acha que conseguirá com ela as mesmas coisas que você achava que conseguiria antes? Se algo mudou, tente identificar o que. Você pode querer parar neste momento, vendo que não era nada do que você esperava, e está tudo bem. Você pode querer continuar agora muito mais do que antes, e está tudo bem também. Se você quer continuar, procure escrever sua própria definição do que é tanto a magia quanto a bruxaria para você, agora que você tem bases mais firmes para isso. Eu, por exemplo, coloquei um pouco da minha definição aqui.

Agora, com as coisas um pouco mais claras diante de você, se pergunte se você ainda quer as mesmas coisas que você queria no começo. Talvez você precise ajustar seus desejos agora que você tem mais conhecimento. Descartando alguns e quem sabe até mesmo acrescentando outros. A definição do que para você é a bruxaria e o que você deseja com ela é essencial para estabelecer seu próximo passo que é a escolha da vertente ou da área mais adequada para os seus interesses. Nem todas vertentes terão a mesma visão do que é a bruxaria, então você precisa encontrar aquelas cujo ponto de vista se alinhe ao seu. Assim como nem todas as áreas de desenvolvimento da bruxaria servem para te ajudar com seus objetivos iniciais. Procure aqueles que te ajudarão de forma mais prática no momento. Se você não quer uma abordagem religiosa ou filosófica agora no seu início não faria sentido você entrar de cara na Wicca ou na Thelema, por exemplo. Apesar de serem fascinantes são correntes que te colocarão sua própria visão sobre o divino, com seus próprios dogmas, liturgias e iniciações necessárias.

Se alinhe a você mesmo através das visões e metas que você estabeleceu na sua primeira pesquisa.

Quase que sem notar, a partir de agora, você já começou seu caminho de forma consciente e prática. Você já sabe, ou pelo menos já faz ideia, de para onde ir e o que você quer fazer com mais propriedade. A construção dos seus próximos passos dependerá apenas das suas próprias metas e interesses. Encontre vertente, ou a área, que mais se alinha as suas necessidades e comece pelos seus autores de referência. Construa seu conhecimento aos poucos, sem pressa. Quando sentir que já dominou suficientemente a teoria vá fazendo pequenos experimentos práticos. Anote sempre seus resultados, ou a falta deles. Isso vai te orientar sobre o que dá ou não certo para você. Nem todo mundo é bom com tudo, e você só vai saber quais são seus pontos fortes colocando a mão na massa. Muitos bruxos são incríveis trabalhando com o Fogo, outros são muito melhores com o Ar. Temos entre nós necromantes maravilhosos, outros dominam diversos tipos de divinação com uma precisão quase que assustadora. Você pode descobrir que é muito bom com sigilos, ou com mantras. Assim como pode conhecer bruxos que são dotados de uma verdadeira mão de ouro, que sabem mover prosperidade como ninguém, bem como aqueles que naturalmente tem uma habilidade notável para curar e para amaldiçoar. Se colocando em movimento você naturalmente achará o seu lugar. E, a partir dele, tudo se tornará possível.

Até a próxima!

Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

Estudos do Tarot – Uma breve análise numérica

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Os Arcanos Maiores do Tarot de Rider Waite

Além das cores, símbolos e imagens que temos em cada um dos 78 Arcanos do Tarot é comum que também encontremos, na maioria das lâminas, alguma numeração. Nos Arcanos Maiores geralmente ela irá do 0 ao 21, e nos Arcanos Menores, em cada um dos Quatro Naipes, teremos do Ás (número 01) até o 10. Dentro desta classificação, quando analisamos sob a luz da Numerologia, cada um destes números pode nos dizer muito sobre a natureza do Arcano onde se encontram e sobre as relações que eles constroem entre si.

Como diria Platão ”O número é o próprio conhecimento”, e tanto gnósticos quanto cabalistas e alquimistas se dedicaram, ao longo dos séculos, ao estudo do significado e do simbolismo numérico. Aqui colocarei algumas análises simbólico-divinatórias que espero que ajudem no seus estudos sobre essa ferramente fascinante que é o Tarot!

Número 0 – Simbolizando o conceito do Não-Ser, o numeral 0 é em si extremamente neutro. Tendo sido definido apenas na Idade Média, depois da aceitação dos números indo-arábicos divulgados por Leonardo Fibonacci, ele nos traz o momento anterior ao da criação. Temos sua força no Arcano Maior do Louco, que o recebeu no sistema de Rider Waite, como ponto de partida, ou de final, de todas as jornadas.

Número 1 – Aqui temos o número dos novos começos. O principiador. Cheio de calor, se movendo sempre a ação, ele é aquele que se fragmenta para gerar multiplicidade. Nele temos o centro, o ponto irradiador, as oportunidades e as novas ideias. Sua força se encontra no Arcano Maior do Mago, onde temos toda sua a liderança e pró atividade, como também em todos os Ases dos Quatro Naipes.

Número 2 – Aqui encontramos o princípio binário, a harmonia das parcerias, bem como o choque dos opostos. Reflexo e contraposição. A ligação do mortal com o imortal. A conciliação entre dois pólos. Como sendo aquele que inaugura a separação da unidade inicial pode tanto trazer um equilíbrio coerente e bem posto quanto um tensionado também. Encontraremos sua força no Arcano Maior da Sacerdotisa, fazendo a ponte entre o plano material e o imaterial do qual é guardiã, e nos segundos Arcanos de todos os Quatro Naipes.

Número 3 – Aqui teremos o poder criativo! O três é a resolução harmoniosa do que se iniciou nos conflitos do número dois. No conceito da trindade, ele representa o filho. Temos os primeiros frutos ou os primeiros obstáculos das nossas jornadas. Iniciando ciclos, temos sua força no Arcano Maior da Imperatriz, com todo seu poder gerador e ativo, e também nos terceiros Arcanos de todos os Quatro Naipes.

Número 4 – Sendo um grande propiciador de estabilidade, temos no quatro a binaridade do número 2 sendo levada para se firmar no mundo físico, depois da passagem do três. Temos realizações tangíveis, organização, conservadorismo e controle. No negativo ele pode nos paralisar por medo de agir. Temos sua força no Arcano Maior do Imperador, aquele que governa e executa as leis que cria, e também nos quartos Arcanos de todos os Quatro Naipes.

Número 5 –  No cinco somos tirados da zona de conforto ordenada imposta pelo quatro, sendo por isso um número que pode trazer diversos desafios. Ele pode simbolizar mudanças repentinas, dificuldades, obstáculos, mas também a quintessencia agindo sobre toda a matéria. Temos os quatro pontos cardeais e seu centro, a proporção divina e a união do Céu (número três) com a Terra (número dois). Sendo um número tido como aquele que se opõe a rigidez da morte, temos nele também nossos cinco sentidos. Sua força será encontrada no Arcano Maior do Hierofante, ou Papa, o buscador espiritual, e também nos quintos Arcanos de todos os Quatro Naipes.

Número 6 – Considerado um número perfeito, onde temos os temas dos relacionamentos humanos e do amor ao próximo, no número seis temos um florescer de nossas sexualidades, bem como também muita ambiguidade. Teremos sua força no Arcano Maior dos Enamorados, com todo o fogo de suas paixões e dos dilemas de seus romances, e nos sextos Arcanos de todos os Quatro Naipes.

Número 7 – Unindo o espiritual ao terreno, aqui teremos introspecção e reflexão. Sendo um dos números com a maior quantidade de representações (os sete dias da semana, as notas musicais,  etc) temos no sete um dos números dos quais a análise é a mais complexa. Nele ponderamos sobre tudo o que já fizemos e alcançamos no decorrer de nossas jornadas. Buscamos aperfeiçoar o que vemos que pode ser aperfeiçoado e meditamos a respeito dos conflitos que nos parecem insolúveis. Temos sua força no Arcano Maior do Carro, com sua busca individual pelos seus próprios objetivos, e nos sétimos Arcanos de todos os Quatro Naipes.

Número 8 – Como um número de grande poder e regeneração, temos no oito a sabedoria, a boa administração material, o equilíbrio e a justiça. Sendo ligado aos conceitos do ilimitado, do fluxo sem um início ou final, temos nele a completude e o carácter totalizador. Encontramos sua força no Arcano Maior da Justiça, em sua força de equidade, e nos oitavos Arcanos de todos os Quatro Naipes.

Número 9 – Como um número de conclusão, temos aqui os temas do altruísmo e das nossas ligações com a espiritualidade e também com a fraternidade. Dominando tanto o material quanto o espiritual, chegamos aqui na realização final de todas nossas aspirações. Temos sua força no Arcano Maior do Eremita, no alto da experiência de tudo que conquistou ao longo de sua vida, e nos nonos Arcanos de todos os Quatro Naipes.

Número 10 – Unindo o Ser (número 1) com o Não-Ser (número 0) temos aqui o fim de um ciclo e a possibilidade do início de outro. Temos sua força muito bem exemplificada no Arcano Maior A Roda da Fortuna, que reúne a força ativa com infinitas possibilidades, onde tudo pode acontecer! O destino, nela, é sempre fluído, imprevisível e diverso. Também temos essa energia nos décimos Arcanos de todos os Quatro Naipes.

Número 11 – Quando temos uma repetição de número iguais, perante a numerologia temos um número mestre, onde a força de seus numerais se duplica. No onze nos deparamos com o perfeccionismo, com a colaboração, com a capacidade inventiva para lidar com as mais diversas situações e também com uma certa carga de impaciência. Temos sua força muito bem representada no Arcano Maior da Força, com sua criatividade e pressa.

Número 12 – Neste numeral temos as noções da adaptabilidade, da renúncia e da confiança nos propósitos divinos da alma. São princípios que temos dentro do Arcano Maior do Enforcado. Nos ciclos do número 12 testamos nossas intenções e nos regeneramos. Nos educamos contra velhos hábitos que podem não mais fazer sentido e alcançamos novas aspirações.

Número 13 – Sendo alvo de muitas superstições que o dividem entre um portador ora de sorte e ora de azar, o número 13 contém em si a chance dos recomeços. Com fé, determinação e força, aqui podemos ir longe. Unindo a coragem do numeral um e o poder criativo do três, podemos nos libertar e crescer. Aqui encontramos o Arcano Maior da Morte, uma carta onde encontramos a possibilidade da reconstrução e os nascimentos que sucedem todos os fins.

Número 14 – Sendo a duplicação do número 7, encontramos a perfeição, o equilíbrio e a prudência no número 14. Combinando muito bem com o décimo quarto Arcano Maior, A Temperança, temos neste numeral a unidade justa, a cautela, o foco e a sabedoria.

Número 15 – Na junção do 1, o iniciador de qualquer proposta, com o 5, o que busca se harmonizar através de suas próprias problemáticas, temos no 15 um número onde adquirimos a independência, a criatividade e a libertação das velhas restrições. Temas muito comuns ao Arcanos Maior O Diabo.

Número 16 – Vendo pela junção do número 1, o que inicia atividades, com o número 6, de força terrena e ambígua, podemos ter no 16 atividades em excesso. Podemos cuidar em demasia do próximo, ou nos obcecarmos com nossos próprios ganhos. No seu lado negativo não é raro que, cegos em nossos excessos, percamos muito imprevisivelmente, ou até mesmo tenhamos amores proibidos que não acabam bem. De qualquer forma, aqui temos que refinar nossa força de vontade, para superar todos os obstáculos que a vida nos apresenta, o que combina muito bem com o Arcano Maior A Torre.

Número 17 – Sendo ligado a boa sorte, temos no numeral 17 a intuição, o contato astral, a compaixão e também os dons psíquicos. Assim como no Arcano Maior A Estrela, temos uma vibração profundamente espiritual, que pode trabalhar o amor e a paz em nossas vidas.

Número 18 – Na junção do 1, força de iniciativa e progresso, com o 8 e seus ciclos infinitos, temos no numeral 18 a ativação de muita magia. É aqui onde exercitamos o poder de vontade que possuímos em nossos espíritos para sairmos de muitos círculos viciosos. No Arcano Maior A Lua, com seus mistérios, fazemos o mesmo exercício. Usamos a fagulha divina que temos em nosso interior para quebrarmos vícios, ilusões, e claro, para também sermos pontes de manifestação para o oculto.

Número 19 – Sendo voltado a independência e a individualidade, no número 19 temos o progresso, a ambição e a motivação para avançar e conquistar. Nos levando até a iluminação, sua energia combina perfeitamente com o Arcano Maior do Sol, onde se insere. O sucesso brilha em nós e assim, seguimos vitoriosos.

Número 20 – Aqui comumente temos alertas, pois tudo que é feito e decidido com pressa pode levar até péssimas consequências. A dualidade do 2 e a neutralidade do 0 se combinam para nos dizer que, antes de concluirmos qualquer coisa, temos que pesar muito bem todos os lados. É  a mensagem que temos com força no exercício do Arcano Maior O Julgamento, sendo a revisão que temos antes da plenitude encontrada no Arcano do Mundo. Tudo o que precede uma grande conclusão precisa ser revisto com esmero e cautela.

Número 21 – Sendo a união da duplicidade do 2 e do pioneirismo do 1, podendo resultar na força de criação do 3, o número 21 nos traz as energias do otimismo, do entusiasmo, da comunicação, e da energia necessária para alcançarmos o sucesso e a maestria em tudo que fazemos. Um número que cai muito bem no Arcano Maior do Mundo. Novas oportunidades surgem, o novo passo, a nova jornada, a nova criação, nos coroando com diversas possibilidades. O equilíbrio é alcançado e as possibilidades podem ser infinitas.

Quando analisamos pelo viés da cabala, os Arcanos que se regem por numerais unitários são tidos como forças ativas, enquanto aqueles que se regem pelas dezenas são tidos como forças receptivas, se correlacionando assim, sempre, com os primeiros.

Podemos dizer, então, que:

A Roda da Fortuna (Arcano 10) é um receptivo interdependente do Arcano 1, O Mago. Volátil como ele é, é ele que percorre os círculos da Roda. E como regente de ciclos contínuos, na Roda da Fortuna corremos o perigo de nos prendermos em círculos viciosos, precisando da habilidade prodigiosa do Mago para nos libertarmos deles.

A Força (Arcano 11) pode ser vista em relação interdependente com o Arcano 2, A Sacerdotisa. Através da análise interna que exercitamos na Sacerdotisa é que domamos de forma harmoniosa os nossos impulsos, representados na carta da Força. Em sua sabedoria, a Sacerdotisa armazena em si os segredos da aplicação bem sucedida da Força. Ela guarda o poder, como uma grande bruxa, e detém suas aplicações.

O Enforcado (Arcano 12) pode ser analisado interdependentemente ao Arcano 3, A Imperatriz. Quando temos o poder gerador da Imperatriz mal aplicado podemos perder nosso direito a exerce-lo, entrando na situação atada do Enforcado. Bem como podemos, muitas vezes, abrir mão de nossa própria força de ação para atingirmos um nível de sabedoria muito maior, nos elevando a outros níveis e possibilidade para o seu investimento.

A Morte (Arcano 13) pode ser analisado em co-dependência ao Arcano 4, O Imperador. Qual seria a única força capaz de destronar um antigo Imperador, e coroar um novo, além da morte? Para que nos retiremos de nossos tronos, e da estagnação que neles podemos atingir, todas nossas estruturas precisam nos ser retiradas. A morte não liga para nossa riqueza, nossa influência, para o poder que adquirimos ou não, ela nos tira de nossas bases, e muitas vezes apenas longe delas podemos aprender algo de fato novo. Em um sentido mágico, apenas mediante a energia bem estabelecida do Imperador podemos, de alguma forma, vencer a letargia da morte, colocando nossa verdadeira vontade e nosso Eu acima da desintegração de nossa própria personalidade.

A Temperança (Arcano 14) pode ser analisada em interdependência ao Arcano 5, O Hierofante. Para uma figura sacerdotal tão alta quanto é o Hierofante, o equilíbrio emocional da Temperança é muito precioso. A alquimia que temos nas mãos do anjo na lâmina 14 é, em si, o que ele busca desenvolver. Apenas através deste processo ele se transmuta do chumbo ao ouro. E apenas alguém da envergadura dele pode a alcançar, através da maestria que ele já desenvolveu, nos diversos graus de suas iniciações.

O Diabo (Arcano 15) pode ser visto em uma relação mútua com o Arcano 6, Os Enamorados. Ele é a tentação que se esconde no paraíso retratado na lâmina dos Enamorados, dando ao casal a possibilidade da escolha. Mas a mesma força que pode conceder alternativas pode também atormentar, através do medo e das inseguranças, deixando difícil para o casal que eles de fato optem por algum dentre os tantos caminhos que lhes são ofertados. A saída, e o antídoto para as prisões do Diabo, sempre será o uso saudável que fazemos do nosso próprio livre-arbítrio.

A Torre (Arcano 16) pode ser vista em uma relação de causa e consequência com o Arcano 7, O Carro. Quando não mantemos o controle da carruagem invariavelmente sofremos algum acidente, não é mesmo? Aqui temos, como o que pode parar os impulsos do Carro, as próprias más consequências do seu desgoverno. Bem como, para sairmos da destruição da Torre, o que precisamos é do impulso determinado do Carro para seguirmos, uma vez mais, a uma nova jornada.

A Estrela (Arcano 17) pode ser vista em uma relação harmônica com o Arcano 8, A Justiça. O que é perfeitamente equilibrado, simétrico, é justo, e também, por conseguinte, belo. A justiça é um ideal de racionalidade perfeita que temos, enquanto humanos. Assim como a beleza, como aquilo onde encontramos uma proporcionalidade integra. Só sendo justos e racionais podemos aplicar a bondade e a compaixão da Estrela na sua reta medida. Assim como, para nunca corrermos o risco de aplicarmos a racionalidade de forma desumana, precisamos da empatia encontradas da lâmina 17.

A Lua (Arcano 18) pode ser vista em uma relação de aprendizagem com o Arcano 9, O Eremita. O desafio do Eremita, em sua jornada, é saber lidar consigo mesmo, com os oceanos emocionais que ele tem dentro de si. A sua jornada de auto descobrimento é em essência, o exercício de navegar pelos mares internos da Lua. Temos no Arcano da Lua a experiência intuitiva que nenhum livro poderia nos proporcionar. É atrás desse conhecimento que excede, e muito, o escrito, que o Eremita busca tanto conhecer quanto poder em algum momento dominar.

O Sol (Arcano 19) pode ser visto como consequência da maestria do Mago sobre a Roda da Fortuna, respectivamente os Arcanos 10 e 1. Quando ele vence os ciclos da Roda, com todos seus obstáculos e voltas, ele chega a plenitude do Sol. Temos aqui a expressão do nosso Eu Superior na culminação da sua glória.

O Julgamento (Arcano 20) pode ser tido como o desdobramento da energia da  Sacerdotisa (Arcano 2) em sua potencia máxima, depurando, separando, o que é válido e o que não é. Detendo o poder da Força (Arcano 11), ela alia a plena potência a sua capacidade de análise, onde temos por resultado o julgamento daquilo que é real e do que não se é, do que se quer e do que não se quer. Aqui, toda matéria ressurge para receber a verdadeira forma que deve ter.

O Mundo (Arcano 21) pode ser tido como o objetivo máximo da Imperatriz, Arcano 3. Sendo vista como a própria Magia per se em seu viés cabalístico, pelo poder de manifestação que contém em si e em seu corpo, a Imperatriz pode facilmente se distrair com as benesses e com o luxo da vida material, parando assim o prosseguimento do seu caminho. Quando passamos pelo sacrifício da matéria no Enforcado, Arcano que lhe é interdependente, conseguimos a evolução necessária para galgarmos o estágio de plenitude e perfeição daqueles que possuem a maestria de ambos o espiritual e o material do Mundo.

E aí, já tinha analisado o Tarot sob essa perspectiva? Pode contar pra gente o que achou!

 

 

Estudos do Tarot – O Mundo

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A carta O Mundo no Tarot de Rider Waite

Também podendo ser chamado de O Universo ou A Terra, no Arcano O Mundo temos a colheita e a conclusão de nossas jornadas e esforços. Aqui temos a integração, a realização, e a conclusão bem sucedida dos objetivos pelos quais duramente já trabalhamos.

Nas diversas formas que temos de representar esse Arcano nos dias de hoje, nos mais diversos tipos de baralho, sempre encontramos alguns pontos em comum como, por exemplo:

  • A presença de uma serpente mordendo a própria cauda ou circulando a representação do nosso planeta.
  • Animais, seres ou símbolos representando os Quatro Elementos nos cantos da paisagem da carta.
  • Nuvens ou uma visão do céu aberto.
  • É comum ter uma figura nua, com uma das pernas dobradas, ao centro.
  • Sempre é colocado como o Arcano de número 21.

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Diferentes representações da carta O Mundo no Tarot dos Orixás de Zolrak, no Tarot de Rider Waite e no Tarot Mitológico (na figura mítica de Hermafrodito)

No movimento circular do Ouroboros, o símbolo da serpente sempre mordendo a própria cauda, encontramos o princípio cíclico da eternidade. A mobilidade, a continuidade, a auto fecundação e a integração. No fim de cada uma das nossas peregrinações encontramos a semente e o potencial que irá alimentar e fecundar nossas próximas jornadas. Nossos círculos se fecham e se alimentam uns nos outros, num processo espiral de evolução e reconstrução constante. Hen to Pan, o Todo está no Um e o Um está no Todo.

Nas figuras nos quatro cantos do Arcano encontramos diversos símbolos, podendo indicar e simbolizar a maestria dos Quatro Elementos e da natureza em si. Graça, inteligência, amor, riqueza e força, todas estão aqui. A figura humana no centro, quando surge, nunca é completamente feminina e nem sequer completamente masculina pois é uma representação neutra de toda a humanidade. Ela representa a todos nós, independente de nossos gêneros, orientações ou diferenças. Aqui estamos em nosso potencial máximo, ilimitado, pois encontramos o perfeito equilíbrio entre nossa anima e o nosso animus, integrando de forma plena e satisfatória todos os níveis de nossos espíritos.

O bastão que a figura segura é um condutor de energias, demonstrando poder e comando sobre tudo aquilo que se conquistou. A capacidade que temos quando, chegando no topo, escolhermos o que fazer com o que está em nossas mãos. A perna, estando dobrada, demonstra que a figura, dotada de todo poder e sabedoria que possui, está pronta para dar seu próximo passo. Para onde ela irá? Para onde iríamos se estivéssemos em seu lugar? Se em cada fim se encontra um novo começo agora saltamos até o verdadeiramente extraordinário. Nos tornando partes conscientes, enfim, do mistério insondável do Todo.

O lado negativo

Sim, como cada Arcano do Tarot, até mesmo o poderoso Mundo pode ter seu lado negativo. Dependendo da configuração onde essa carta aparece, pode denunciar alguém que espera uma solução milagrosa para seus problemas cair ”do céu”. Bem como pode indicar aquelas pessoas que querem contar apenas com a gentileza constante da sorte para que tudo sempre se desenrole bem para elas. Em más configurações este Arcano pode nos alertar que seremos vítimas da ingratidão dos outros, sofrendo por seus erros e pela falta da aceitação social de quem verdadeiramente somos.

No amor 

Como uma carta de plenitude e de satisfação, O Mundo costuma ser um excelente presságio para assuntos amorosos. Para os solteiros este Arcano traz um momento de muita felicidade, plenitude e satisfação, onde não é raro que se possa encontrar um par. Para os comprometidos esta carta também indica uma ótima fase. Como uma carta que também possui em si conotações de se dar ”o próximo passo” pense se deseja tornar as coisas mais sérias ou não.

Na sexualidade

Todas as experiências físicas e todo mundo sensorial se apresentam no Arcano do Mundo no máximo de suas glórias. O perfil que temos aqui é, literalmente, o de uma pessoa plena em si. Sendo divertidos, sensuais, inteligentes e entusiasmados sobre a vida, aqueles que se guiam por esse Arcano tem todo o mundo na palma de suas habilidosas mãos. Todo prazer é bem vivido, reluzindo em luxo e deleite.

No trabalho

Aqui também somos agraciados por muita felicidade. Encontramos uma nova oportunidade e vaga se por ela procurávamos, galgamos novos postos e novos patamares se por isso vinhamos trabalhando. Pense no seu crescimento, na sua evolução. Do ponto onde você está agora, para onde você quer ir? Que novos horizontes deseja explorar? Trabalhe para estar sempre em constante movimento e crescimento.

Na saúde 

Aqui será simples, pois o recado do Mundo na saúde é que nos encontramos em perfeito estado. Tudo vai bem. Basta apenas que continuemos cuidando de nós mesmos com o zelo e a consciência que sabemos que devemos ter.

Na espiritualidade

Quando alcançamos O Mundo atingimos a maestria. Esta carta indica que nossa espiritualidade está forte, bem desenvolvida e bem estruturada. Estamos exatamente onde devíamos estar, a sorte nos sorri diariamente, e vivemos em equilíbrio. Mesmo se algo tentasse nos atingir, aqui nos encontramos tão acima de todas nossas dificuldades, tão maiores que nossos sofrimentos, que eles não podem mais nos derrubar. Se preocupe consigo mesmo, com sua própria jornada e com seu desenvolvimento. Pense no próximo passo que você pode dar, no próximo campo que você gostaria de estudar, no que mais você gostaria de desenvolver em sua jornada espiritual. Seja o que for que você escolher, saiba que você possui habilidade e força suficiente para dar início a jornadas cada vez maiores.

E você, o que seria a plenitude na sua visão?

Carta anterior: O Julgamento

Estudos do Tarot – O Julgamento

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A carta O Julgamento no Tarot de Rider Waite

Também podendo ser conhecido como O Juízo, A Ressurreição ou O Aeon, no Arcano do Julgamento temos os temas do renascimento, do despertar e dos testes da consciência e das grandes mudanças.

Nas diversas formas que temos de representar esse Arcano nos dias de hoje, nos mais diversos tipos de baralho, sempre encontramos alguns pontos em comum como, por exemplo:

  • Existirão pessoas despertando de tumbas, em dupla ou trios.
  • Algum mensageiro divino desperta aqueles que estavam no sono da morte.
  • Geralmente esse mensageiro usa uma trombeta ou algum outro elemento.
  • É comum também ter uma dualidade de cores, em bandeiras, colunas ou semelhantes.
  • Sempre será o Arcano de número 20.

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Diferentes representações da carta O Julgamento no Tarot Egípcio, no Tarot de Rider Waite e no Tarot Mitológico (na figura do deus Hermes)

No som das trombetas angelicais, neste Arcano, somos chamados a um despertar. Tudo que adormecia dentro de nós é chamado novamente a vida, e os pontos mais fundos e escondidos de nossas consciências são reveladas a luz. Sabe o tirar os esqueletos antigos do armário? Em nenhum outro Arcano fazemos esse exercício com a mesma força com o qual fazemos no Julgamento. Nos vendo obrigados a lidar com os cadáveres que podem por anos terem ficado escondidos e silenciosos dentro de nós temos a oportunidade de rever os assuntos que eles nos trazem. Pode ser difícil no começo mas, depois da reflexão e das mudanças certas, nos livramos do excesso de peso que arrastávamos podendo assim, nós mesmos, voltarmos a vida.

No Tarot Mitológico temos o deus Hermes em sua face de Condutor das Almas. Como emissário de Hades, Rei do Submundo, ele usa o poder de seu caduceu para despertar a alma daqueles que faleceram, as conduzindo para o julgamento e, posteriormente, a possibilidade de uma nova vida. No Tarot Egípcio temos o deus Anúbis, o Guia das Almas, igualmente no processo de conduzir aquele que morreu a sala onde acontecerá seu julgamento, pesando seu coração contra a pena de Ma’at.

Neste Arcano revisitamos tudo que precisamos, tudo que ainda nos prende, para termos a chance da mudança. De fazermos diferente, de sermos melhores. De mudar os quadros de lugar. Reexaminamos nossa consciência, reunimos experiências passadas para finalmente, sob uma nova luz, podermos as resolver e seguir em frente. Somos produto de tudo que vivemos e colecionamos ao longo das nossas jornadas e aqui temos a chance de integrarmos todos os pontos do percurso de nossas vidas para dar início a uma versão muito mais completa, saudável e livre de nós mesmos.

O lado negativo

Como todas as cartas do Tarot, O Julgamento também tem sua face negativa. Como uma carta que revela o que deixamos escondido no passado, ela pode revelar nossos erros, e muitas vezes podemos tentar negar, tirar o corpo fora, ou até mesmo nos rebelar contra as consequências ruins do que nós mesmos atraímos as nossas vidas. Dependendo do quadro, O Julgamento também pode falar da depressão e da ansiosidade de quando somos forçados a recomeçar as coisas do zero e do peso negativo que podemos arrastar dentro de nós por culpas referentes a erros passados dos quais não conseguimos nos livrar.

No amor 

Como uma carta de mudanças e transformações, é comum que na área dos relacionamentos muita coisa venha a tona para que possamos dar um fim naquilo que anteriormente não ficou bem acabado. Pontas soltas voltam a incomodar para que possamos enfim as amarrar numa resolução satisfatória. Pessoas e figuras podem voltar a dar as caras. Assuntos podem ressurgir. Tudo para que, com uma nova compreensão, possamos colocar tudo em uma nova estruturação. Tenha o diálogo como o ponto principal dos seus processos e, com paciência, coloque a casa em ordem novamente.

Na sexualidade

Geralmente significando libertação e início de novas fases depois de períodos conturbados, temos uma energia muito ambígua no Julgamento. É uma carta que pode indicar o despertar para uma sexualidade que passou muito tempo adormecida mas também pode mostrar que está na hora da pessoa reavaliar seus gostos e a forma como vem agindo com os outros. Se lidamos com um perfil aberto a esta reavaliação e a mudanças geralmente tudo transcorre muito bem. Se, por outro lado, nos deparamos com um perfil mais teimoso e enrijecido, apenas as penas da vida poderão, talvez, fazer alguma melhoria acontecer.

No trabalho

Aqui colhemos o fruto dos nossos esforços passados. É comum que aqueles que vinham se esforçando aqui consigam atingir promoções e melhorias e que aqueles que estão apenas empurrando a vida com a barriga tenham suas orelhas puxadas para despertarem. Coloque seu talento a frente, se esforce, demonstre o quanto você é bom no que faz e lute pelo que você deseja.

Na saúde 

Em questões de saúde O Julgamento costuma ser uma carta positiva, que marca melhoras de quadros quando nos tratamos da forma correta. Aqui os pontos de atenção vão para as nossas coxas, e para que nos precavamos contra pancadas e/ou contusões. É uma carta muito boa para fazermos aqueles check-up gerais, exames e análises mais profundas para deixarmos tudo em dia.

Na espiritualidade

No Arcano do Julgamento paramos um pouco de dar um peso excessivo aos juízos de valor da parte de terceiros sobre nossos caminhos e nos preocupamos mais com nossos próprios processos internos. Não é incomum que aqui passemos por provas, por testes, para que possamos ver na prática se realmente aprendemos tudo aquilo que tanto gostamos de falar que já sabemos na teoria. Antigas cobranças podem vir como forma de resgatarmos nosso valor e, quando nos deparamos com elas, temos que ser diferentes daquilo que fomos no ontem. Abandonando os velhos hábitos e culpas do passado, mudando nossas atitudes, é que provamos que podemos deixar o que é antigo para trás pois somos de fato novos homens e novas mulheres. É desta forma que superamos o que já se foi e conseguimos verdadeiramente seguir em frente, com mudanças reais e significativas. Nisto é que a vida, após todas suas provas e resgates, pode nos agraciar com nossa transformação para um futuro completamente novo e muito mais brilhante.

E você, o que precisa mudar hoje?

Carta anterior: O Sol

Próxima carta: O Mundo

Estudos do Tarot – O Sol

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A carta O Sol no Tarot de Rider Waite

Chegamos agora a Iluminação. Sendo a maior fonte de luz e calor que conhecemos, no Arcano do Sol termos o brilho, a glória, a boa sorte, o sucesso e a felicidade em seus estados mais bem-aventurados.

Sendo profundamente necessário a existência da vida em nosso planeta como a conhecemos, o sol é uma fonte de energia, poder e vitalidade. Sem ele, provavelmente teríamos um ambiente tão frio, escuro e hostil que nem estaríamos aqui. Nossas vidas acontecem e se desenrolam, todas, debaixo das bençãos do nosso astro rei.

Em todas formas que temos de representar esse Arcano hoje em dia, nos diversos tipos de baralhos, encontramos alguns pontos em comum, como:

  • Um sol grande e pleno, em posição de destaque.
  • Crianças, sendo uma ou duas, brincando e expressando felicidade.
  • É comum termos um muro dourado ou claro na paisagem.
  • Flores, em especial o girassol, são muito retratadas.
  • É sempre uma carta que expressa um cenário feliz, com cores claras, focando no amarelo ou dourado, com pessoas joviais e alegres.
  • Sempre aparece como o Arcano de número 19.

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Diferentes representações da carta O Sol no Tarot Egípcio, no Tarot de Rider Waite e no Tarot Mitológico (na figura do deus Apolo)

Como uma carta de benção, onde a graça divina nos atinge com todo seu esplendor, neste Arcano recebemos proteção, dádivas e dons. O muro que muitas vezes se apresenta nesta carta não é nem alto e nem baixo demais, não nos prende numa fortaleza claustrofóbica e nem nos deixa totalmente expostos, simbolizando a salvaguarda divina na medida certa e justa. Os girassóis e flores também denotam as bendições solares. A natureza, se alimentando da força e do calor solar para desabrochar em toda sua beleza.

As crianças, simbolizando a pureza, a alegria em seu estado mais autêntico, e a continuação da vida, também trazem a mesma conotação. A vida, aqui, flui em toda sua abundância, sempre vitoriosa, sempre renascendo e frutificando. Demonstrando a perfeita expressão da beleza e da harmonia, nos movemos aqui com dinamismo e confiança. Nossas ideias são claras, nossa comunicação é acertada e encontramos a boa sorte no decorrer de todos nossos esforços.

O lado negativo 

Como em todas cartas do Tarot, também podemos ter facetas não tão agradáveis assim no Arcano do Sol. Como fonte da mais resplandecente luz, quanto temos sua energia em excesso podemos ficar orgulhosos demais, caindo nas armadilhas do nosso próprio ego. Como tudo que é colocado numa posição de grande destaque, dependendo da configuração, é uma carta que pode indicar que brilhamos tanto que atraímos inveja, então é bom nos cuidarmos. Por mais que nossas intenções sejam boas, temos sempre que nos precaver contra a fé cega naqueles que nos cercam, um otimismo exagerado pode nos fazer não perceber que nem todos elogios vem realmente do amor e da admiração genuína.

No amor

Inteligência emocional, esclarecimentos, e bem estar. Quando falamos do Sol as trevas naturalmente se dissipam, nos dando a possibilidade de ver as coisas como elas realmente são. Com a nitidez que ele traz podemos então guiar nossas atitudes da melhor forma. Para os solteiros, ele pode facilmente clarear o caminho para novos amores, para os comprometidos ele concede harmonia e leveza. É uma carta muito boa para os casais que pretendem começar a se preparar para ter filhos, garantindo fertilidade e sucesso na formação do novo núcleo familiar.

Na sexualidade 

O perfil que temos no Arcano do Sol são os famosos homens com coração de menino, ou mulheres com coração de eternas meninas. Não são exatamente inocentes ou ingênuos, pois esta carta traz muita consciência ao plano mental daqueles que abençoa, mas são pessoas autênticas, puras e genuínas. Com sua simplicidade, são pessoas de uma sorte inabalável. Calorosos e cheios de qualidades, levam alegria e beleza a tudo que tocam. Ao lado deles não sofremos de nenhum tipo de joguinho emocional. Claros como são, suas paixões são cristalinas de tão evidentes. Fogosos só eles conseguem ser, sempre viverão tudo que tiverem para viver com prazer e felicidade.

No trabalho

Como um Arcano onde podemos concretizar nossos planos e sonhos, o Sol nos chama a ação. Se nos esforçamos, conseguimos o que queremos. Quem estava desempregado arranja um novo emprego, quem ansiava por uma promoção a alcança. O Sol nos eleva e nos concede força para conquistarmos tudo que nos propomos a fazer. Tome cuidado, no entanto, com a atenção indesejada que o seu sucesso pode provocar. Não se gabe demais antes da hora, e nem seja descuidado, deixando o sucesso subir a cabeça.

Na saúde

Como uma das melhores cartas para a área da saúde, no Arcano do Sol a temos em seu melhor estado. Regendo nosso coração, se temos alguma propensão a problemas relacionados a ele basta que nos cuidemos como já sabemos que devemos.

Na espiritualidade 

Ao raiar de todo novo dia somos impulsionados a uma nova consciência. O poder do Sol se apresenta sempre como a parte indomável dos nossos próprios espíritos que despontam para o crescimento e para a evolução. Neste Arcano deixamos para trás as trevas da ignorância, do preconceito, do desespero e do medo instintivo e nos voltamos ao melhor que podemos ser. Nos renovamos, renascemos melhores a cada oportunidade, a cada chance. Nele, temos a culminação de nossos dons. A melhor expressão das nossas qualidades. Deixamos o ódio para trás, crescendo em fé e em amor. Vencemos nossas provações e testes, nos tornando mais sábios e lúcidos. Seja qual for a ordália que enfrentávamos, agora ela se encerra, nos concedendo o tempo necessário de paz após a tormenta. Com a benesse espiritual sobre nós prosperamos em um ritmo natural e suave. Na magia podemos facilmente associar este Arcano a rituais solares, diurnos, onde nos ligamos aos aspectos mais benéficos da sua força e vigor.

E você, quais bençãos tem vivido ultimamente?

Carta anterior: A Lua 

Próxima carta: O Julgamento

A Magia das Sereias – Tabela de Correspondência

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Foto: Acervo pessoal

Como criaturas mitológicas dotadas de poderes e de uma magia única, trabalhar com as sereias é uma experiência rica, vasta e fascinante. Como já discorrido no meu primeiro artigo sobre elas, que você pode ler aqui, diversas mitologias ao redor do mundo nos contam da capacidade desses seres encantados de controlar e manipular diversos tipos de forças, concedendo bençãos ou a perdição a quem cruza seus caminhos. Dentro das diversas linhas da bruxaria e do ocultismo teremos o trabalho com as sereias sempre vinculado ao trabalho com o Elemento Água. De forma que, lidando com elas, podemos trabalhar profundamente com nossa própria camada emocional.

Elas beneficiam e abençoam rituais voltados ao autoconhecimento, ao fortalecimento do nosso poder interno, bem como destacam nossa beleza, magnetismo e senso de valor pessoal. Sendo grandes sedutoras, elas podem nos ajudar muito com a nossa própria sexualidade e com nossos relacionamentos. Podemos aprender com elas como atrair, como envolver, mas também como nos curarmos das feridas que temos nestas áreas, sejam elas derivadas de relacionamentos passados, traumas, ou crenças limitantes que nos foram imputadas.

Como ferozes predadoras e guerreiras, podemos trabalhar em seus domínios também nossas proteções e defesas. Na força descarregadora dos mares, ao lado delas podemos nos purificar e desfazer trabalhos negativos contra nós direcionados. Podemos manipular, destruir, e retaliar. Imersas no grande espelho natural que são os oceanos, onde podemos ter acesso a tudo que já foi, ao que está sendo, e a todas as possibilidades do que pode vir a ser, temos com as sereias as mais aguçadas professoras que podíamos achar para nos guiar em todas as artes divinatórias. Ligadas a magia lunar, ao poder das águas mais profundas e selvagens, elas são as grandes feiticeiras dos mares.

Neste texto coloco apenas um resumo das diversas possibilidades que temos, dentro da bruxaria, para se usar com as sereias. Você pode e deve expandir esta lista conforme for desenvolvendo tanto sua magia quanto o seu relacionamento com elas.

Vamos lá?

Objetos – Dos diversos objetos com os quais podemos trabalhar com a magia das sereias teremos sempre um grande destaque para os espelhos.

  • Sendo grandes portais, eles podem ser usados tanto para divinação quanto para estabelecermos contato com outras dimensões e mundos. Podemos também os trabalhar em magias de glamour, de manipulação, de proteção e até mesmo de destruição.
  • Outro objeto muito usado são os pentes, que podem ser usados tanto como instrumentos de limpeza e purificação quanto de imantação de nossas intenções.
  • Temo os cálices, como símbolos do elemento água e portadores de seus dons.
  • As conchas, em todas vastidão de suas utilidades.
  • E os perfumes, que podem ser usados para atração, prosperidade, benção, purificação e proteção.
  • Claramente, terminamos as indicações com os oráculos, como a fonte que são tanto de magia quanto de divinação.

Cores – Dentro de todas cores que trabalhamos na magia das sereias, e do Elemento Água, a mais utilizada é sempre o azul, em todas suas diversas tonalidades.

  • Como a cor mais ligada a água, podemos trabalhar com o azul não só para trazer sua energia para mais perto de nós mas também para proporcionar tranquilidade e harmonia. Sendo uma cor associada a realeza, podemos usar velas azuis também para proporcionar felicidade, estimular a criatividade e para combater nossos medos.
  • No branco teremos a cor coringa. Velas brancas podem ser usadas para todos os fins e propósitos. Sendo a união de todas as outras cores, o branco favorece trabalhos voltados a paz, a pureza, a sinceridade e a verdade. Combinada ao azul trará a energia fria e úmida, característica da água.
  • Os verdes claros e suaves como o verde água trazem, além da energia aquática, a saúde, o frescor e a juventude. Velas dessa cor podem ser usadas para trabalhos de cura, de harmonia, de vigor e de energização. Tons de verde mais escuros podem ser usados com os tritões, por trazerem a tona energias mais viris, ligadas ao mar aberto e indomado, trazendo a noção de grandeza e a proteção.
  • Com o rosa podemos trabalhar a beleza, a feminilidade, a afeição, e a sedução. Podemos usar velas desta cor em trabalhos ligados ao feminino, ao glamour, a auto estima, ao amor e a conquista.
  • O lilás e o violeta trazem consigo os mistérios da alquimia da magia. Sendo cores de transmutação, podemos usar velas nestes tons em trabalhos ligados a intuição e ao fortalecimento da nossa própria espiritualidade a capacidade de transformação.
  • O prateado, como uma cor fria muito ligada a lua e aos seus mistérios, pode ser usada tanto em magias lunares como também em trabalhos relacionados ao nosso brilho pessoal, ao sucesso, a distinção e a elegância.

Ervas – Aqui entrarão todas as ervas de natureza aquática, sendo mornas ou frias.

  • A alfazema tem um destaque todo especial. Ela pode ser usada para promover tanto a felicidade quanto a fidelidade conjugal. Também podemos usá-la para purificações, para promover a harmonia, para manipular pensamentos, para fortalecer nossa intuição e o nosso contato espiritual, e para transmutação.
  • A angélica, principalmente em sua raiz, também é forte quando nos referimos a purificação. Ela pode ser usada para banir energias e espíritos malignos, nos livrar de maldições e nos proteger.
  • O anis estrelado é muito ligado tanto com a boa sorte quanto com a intuição. Podemos com ele nos harmonizar e ampliar nossa conexão e percepção espiritual.
  • O boldo, muito famoso como erva de limpeza, proteção e harmonia, foca nossos pensamentos e tira de nós o efeito da influência e das energias de outras pessoas da nossa mente e corpo.
  • A hortelã tem a habilidade especial de cortar o efeito de feitiços de amor cujos efeitos contrariam nossa vontade e liberdade pessoal. Como uma erva multiuso, ela pode ser usada para limpeza, cura, comunicação, proteção, amor e prosperidade.
  • O capim limão, ou capim cidreira, pode ser usado tanto para intuição quanto para nos proporcionar clareza mental. Afastando pesadelos e retirando de nosso caminho bloqueios, ele nos ajuda a lidar com nossas emoções mais contidas.
  • O manjericão, sendo uma erva de múltiplas funcionalidades, pode ser utilizado para nos trazer prosperidade, sorte, amor, beleza, sinceridade e também proteção e purificação.

Flores – Vastamente usadas como símbolos de beleza, poder e sedução, aqui temos destaque para as flores aquáticas e de tons frios, como as brancas e lilases, por exemplo.

  • A lavanda, com seu arbusto acinzentados e flores arroxeadas, pode nos conceder paz, equilíbrio, harmonização, purificação e resiliência. Na magia podemos a trabalhar tanto em suas conotações mais conhecidas, e aqui já mencionadas, como também em trabalhos de poder, transmutação de energias, ocultação e manipulação.
  • A jasmim, muito conhecida pela sua nobreza e realeza, pode ser usada em trabalhos voltados a beleza, ao poder pessoal, a proteção, a harmonização de nossas emoções e energias e ao fortalecimento de nossos poderes psíquicos. Podemos a usar em magias ligadas aos sonhos premonitórios com bastante sucesso.
  • A margarida, vindo do latim margarita, que significa pérola, é uma flor ligada a juventude, a jovialidade e a alegria. Ela pode ser utilizada tanto em rituais com finalidades ligadas a esses temas como também, em banho, pode nos ajudar a repelir pessoas más intencionadas e a negatividade das nossas vidas.
  • A Palma de Santa Rita, em seu formato de espada, pode ser usada para trazer vitórias, principalmente no campo amoroso.
  • A angélica é muito ligada a pureza e a inocência, Ela pode ser usada em rituais voltados para a purificação e a harmonização emocional.
  • A magnólia mexe muito com nossos afetos, trazendo lealdade e fidelidade aos nossos relacionamentos, além de trabalhar nossa beleza e poder de atração.
  • A peônia é ligada principalmente a felicidade conjugal. Podendo trazer riqueza, boa sorte e nobreza, ela também pode ser usada para fins de cura e para afastar influências negativas.
  • O poder das rosas também é muito usado. Com as brancas trabalhamos a purificação, o perdão, o amor e o cuidado próprios. Ela nos auxilia a não nos cobrarmos tanto e a sermos mais suaves, tanto com os outros quanto, principalmente, com nós mesmos. Com as vermelhas trabalhamos nossa sedução, proporcionando amor e paixão. Com as cor de rosa podemos trabalhar nossa auto estima, o afeto e a beleza. E com as champanhe podemos pedir por luxo, elegância e sucesso.
  • Por fim, o hibisco é uma das ervas mais usadas, juntamente com as rosas, em rituais de beleza e de amor. Mais voltada a sensualidade e a luxúria, ela pode ser usada para ampliar nosso poder de sedução e provocar a paixão.

Frutas – Trabalharemos na magia das sereias com frutas mais aquosas, com destaque as de coloração branca e vermelha, como o melão, o morango e o mamão, por exemplo.

  • O melão e a melancia tem, ambos, fortes ligações com o amor e com a fertilidade, sendo muito usados quando desejamos engravidar.
  • O coco, sendo uma fruta que consegue nos suprir em quase todas as nossas necessidades, pode ser utilizado em todas as suas partes. Trabalhamos com ele em magias de purificação, amor e nutrição.
  • O abacaxi pode ser usado em magias de prosperidade e juventude.
  • O mamão trabalha muito com o afeto, a fertilidade e a generosidade.
  • A ameixa nos ajuda a nos organizarmos melhor na vida. Além de ser uma fruta ótima para trabalharmos a energia do amor matrimonial.
  • O figo, muito ligado ao órgão sexual feminino, pode ser trabalhado para beneficiar nossa sexualidade, fertilidade e criatividade.
  • E por fim, o morango trabalha sim principalmente o amor. Mas nele temos um tipo de amor muito específico que é o dos primeiros meses de uma paixão recém descoberta. Ele nos traz as borboletas no estômago e a sensação da primeira vez.

Cristais – Entram em destaque na magia das sereias os cristais transparentes, brancos, azuis, verdes, lilases e violetas.

  • Um dos cristais mais usados é a Água Marinha. Com sua tonalidade verde clara, remetendo aos tons das águas, é um dos cristais mais usados pelos marinheiros em diversos folclores, como forma de se proteção tanto contra os ataques das sereias como também contra tempestades em alto mar.
  • A Lápis Lazúli, tida como sagrada por diversas culturas antigas, também pode ser trabalhada. Trazendo proteção a quem a porta, pode ser utilizada em magias de calma, regeneração, intuição, amizade, e poder pessoal.
  • A Pedra da Lua, como seu próprio nome denota, pode ser usada para conexão com a energia feminina e com a magia da lua. Ela amplia nossa intuição, nos auxilia em nossa vidência, e também pode ser usada em trabalhos de cura, magnetismo e beleza.
  • Os Cristais de Quartzo tanto azuis quanto brancos, verdes e transparentes, aqui também são muito usados. Sendo capazes de manipular, depurar e ampliar diversos tipos de energias, podemos usar os transparentes em trabalhos de purificação e direcionamento energético. Os brancos em problemas de auto estima, insônia, e na proteção dos nossos lares. Os azuis para organizarmos melhor nossas mentes, nos auxiliando a termos mais disciplina, além de fortalecerem nossa auto confiança, criatividade e capacidade de expressão. E os verdes para trazer para nossas vidas saúde e vitalidade. Trabalhando com rejuvenescimento, aumentando nossa energia, podemos os utilizar em trabalhos de fortalecimento, prosperidade e frescor.
  • O Larimar, também conhecido como mármore de Atlântida, pode ser usado para acalmar emoções acaloradas como raiva, ódio e frustração. Nos ajudando a nos abrirmos para outras dimensões e favorecendo nossas evoluções pessoais, com ele podemos trabalhar traumas ligados a relacionamentos passados e também ao cultivo de nosso verdadeiro poder interno.
  • A Ametista, sendo uma pedra especialmente ligada a transmutação e a proteção, pode ser usada para salvaguardar nosso espírito, afastando de nós influencias sombrias e dissipando energias deletérias. Elevando nossa intuição e fortalecendo nossos dons espirituais, ela também pode ser usada para melhorar a qualidade do nosso sono.
  • A Madrepérola não é exatamente uma pedra, ela é uma substância dura, rica em calcário, que alguns tipos de molusco produzem no interior de suas conchas. Na magia das sereias podemos usar sua energia em trabalhos ligados a beleza, a energia feminina, a proteção e nutrição materna. Sendo, por causa disso, poderosa para a cura das feridas emocionais causadas pelo abandono e pela solidão.
  • A Abalone, sendo um tipo de concha orgânica derivada de moluscos de água fria muito usada na joalheria, pode ser usada em trabalhos que favorecem a nossa beleza e magnetismo pessoal. Podendo ser usada para nos conectar profundamente com as energias do oceano, também podemos com ela nos purificar e nos proteger.
  • E, por fim, temos as Pérolas. Também sendo feitas de substâncias calcificadas produzidas por certos tipos de moluscos, tanto de água salgada quanto doce, elas podem ser trabalhadas, dentro da magia das sereias, como fontes de beleza, elegância e cura. Sendo muito sintonizadas com os poderes lunares e ao feminino, especialmente a gravidez, elas podem conceder fertilidade, graça, boa sorte e sucesso.

Metais – Os metais que podemos trabalhar na magia das sereias são, basicamente, aqueles que trabalhamos com o Elemento Água e com as energias do feminino.

  • A prata tem o maior destaque. Sendo um metal ligado as energias aquáticas, lunares, e aos aspecto escuros do feminino. Como um espelho da alma, ela pode ser usada para trabalhos que envolvam nossas habilidades psíquicas, bem como também traz cura, fertilidade, comunicação, purificação e proteção.
  • O cobre, em segundo lugar, muito relacionado energicamente a prata e ao ouro, também pode ser utilizado. Maleável e bom condutor energético, foi provavelmente o primeiro metal trabalhado pela humanidade. Capaz de transformar energias negativas em positivas, ele é largamente utilizado em trabalhos relacionados a força e aos mistérios do feminino. Podendo ser usado para a beleza, cura, prosperidade e para aumentar nossa própria capacidade de canalizar energias em nossos rituais.

Oferendas – Um ponto muito importante que deve ser frisado aqui, antes de mais nada, é que uma das maiores oferendas que podemos fazer tanto as sereias quanto a própria natureza é sermos conscientes ecologicamente. Ao comprarmos conchas, pérolas e outros tipos de artefatos ligados ao mares e aos seus seres devemos sempre verificar se estamos adquirindo o que desejamos de fornecedores éticos e conscientes, que se preocupam com a preservação da vida marinha. Ao irmos as praias e rios, é importante que tenhamos o cuidado de não poluir estes espaços sagrados, procurando nos reeducar, em nossos hábitos e consumo, para termos posturas cada vez mais saudáveis para nós mesmos e para o nosso meio ambiente. Contribuir com associações e ONGs que dedicam um trabalho limpo e esforçado para a preservação e proteção da vida marinha também pode ser tido como um ato de oferta não só as águas mas a todos seus seres.

Dito isso, assim como as Ondinas, as sereias são muito ligadas as artes num geral. Elas aceitam de bom grado que você cante para elas, com delicadeza e suavidade. Como também podem aceitar que você declame a elas poesias que você mesmo escreveu. Se as palavras não são seu forte você pode tentar, por exemplo, fazer algum desenho ou pintura dedicada a elas. Todas as expressões artísticas, sendo feitas e entregues com amor, são bem recebidas pelos seres das águas. Você também pode dedicar as sereias momentos de auto cuidado seus, como um banho bem relaxante, com todas hidratações possíveis. Se desejar, pode ofertar as flores e frutas aqui descritas. Mas novamente, jamais polua a natureza. Nossa melhor oferta sempre será nosso próprio compromisso com a preservação da vida.

E você, tem algo que costuma usar no seu trabalho com as sereias que não está nesta lista? Conta pra gente!

Estudos do Tarot – A Lua

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A carta A Lua no Tarot de Rider Waite

Aqui entramos em águas mais profundas e nos permitimos tocar o que é insondável. No Arcano A Lua temos todo o poder da nossa intuição, dos mistérios, e daquilo que é oculto. Em seu delicado luar lidamos com nossa imaginação, com nossas fantasias, sonhos e também temores.

De todas as diversas formas que temos de a representar hoje em dia, nos mais diversos tipos de baralhos, alguns pontos em comum tendem a permanecer. Como, por exemplo:

  • A lua, no alto da carta, sempre terá um destaque todo especial.
  • Existirão cães e também escorpiões (em algumas variações termos também caranguejos e lagostas).
  • A presença do Elemento Água será muito marcante, sendo na figura de lagos, rios ou até mesmo mares.
  • Sempre será o Arcano de número 18.
  • O cenário noturno será belo e claro, com forte presença de tons azuis e amarelados.
  • Muitas vezes teremos duas torres ao fundo (ou pirâmides, como no Tarot Egípcio).

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Diferentes representações da carta A Lua no Tarot Egípcio, no Tarot de Rider Waite e no Tarot Mitológico (na figura da deusa Hécate)

Na Lua entramos nos reinos da noite. Cães e lobos, guardiões desse mundo noturno, aparecem como que enfeitiçados pelo magnetismo lunar. Os escorpiões, caranguejos e lagostas, por suas conotações de ligação com a Água e seus mistérios também emergem de seus esconderijos. Na carta do Tarot Mitológico temos a deusa Hécate, senhora e mestra de toda magia, guardiã das encruzilhadas e do entre mundo, ao lado de Cérberus, o cão de três cabeças que guarda os portais do submundo grego.

Nas camadas mais profundas dos mistérios lunares, aquáticos, temos tanto o potencial latente de nosso subconsciente quanto também nossas fobias, paranoias, traumas e maiores temores. Imersos em nosso emocional mais primal e instintivo encontramos tanto a cura quanto o veneno. As soluções e os problemas. Os fantasmas cujo uivo nos paralisa de medo e também a alquimia necessária para transmutar nossa própria realidade. Magia? Sim, muita. E nem todos sabem lidar com ela, não é mesmo?

O lado negativo

Sendo um portal para muitos mistérios, a carta da Lua também pode trazer pesadelos e terrores. Aqui, no escuro da noite, nem sempre enxergamos bem o que está diante de nós e as sombras podem brincar com a nossa percepção. É muito comum A Lua nos contar quando estamos tendo uma visão distorcida dos fatos, nos enganando ou até mesmo sendo enganados. Algo sempre pode se esconder nos cantos escuros sem que nos demos conta, é preciso se ter muito cuidado. Trapaças e traições não são incomuns aqui. Da mesma forma que não é difícil que estejamos apenas sendo paranoicos, dando poder a medos infundados. Precisamos sempre analisar muito a conjuntura no qual a luz da Lua aparece, para que possamos a interpretar da melhor forma.

No amor 

Segredos escondidos, romantismo, paixões obsessivas, fantasias e ilusões. Na carta da Lua, por ser a carta onde temos o Elemento Água por excelência, temos nossas próprias emoções a flor da pele. Os poderes lunares podem despertar o nosso melhor ou demonstrar o nosso pior. Para os comprometidos ela é um alerta muito claro para que não se mantenha nada as escondidas. Por mais que possa não ser nada grave, a pessoa pode descobrir do pior jeito, e isso pode dar espaço para muita dor. Na Lua precisamos urgentemente melhorarmos nossa comunicação, para não dar chance para nenhuma pulga atrás da orelha. Para os solteiros é hora de usar um pouco mais a própria astúcia. Cuidado para não ser enganado ou mesmo manipulado pelos seus próprios sentimentos.

Na sexualidade 

Aqui temos um jogo de inocência e perversidade muito peculiar. Quando a Lua sai alertando que podemos estar nos iludindo, não raro podemos ter uma pessoa ingenua sendo seduzida por um perfil perverso, sem se dar conta do perigo que  corre. Podendo ser alguém muito tímido, travado, quando o que está em jogo é a própria sexualidade, não raro pessoas mais experientes, e má intencionadas, podem surgir para esse perfil. Mas a Lua, regente do nosso subconsciente, também fala de todas fantasias e fetiches que possuímos, mesmo sem admitir. As vezes, quando alertamos esse perfil, percebemos que ele pode desejar ser vitimizado. É comum que lidemos com dinâmicas entre sádicos e masoquistas aqui. E pode ser muito difícil para a pessoa, por alguma insegurança, admitir qual é o seu caso. Sempre devemos ter muito tato quando A Lua brilha sobre nós.

No trabalho

Para todos aqueles que trabalham com artes e processos criativos A Lua sempre se demonstra uma benção, aflorando a sensibilidade e concedendo inspiração. Mas, num geral, ela pede que você acorde pra vida. Pode ser que no seu meio nem todas pessoas sejam suas amigas, e você não perceba isso. Confie sua vida íntima apenas com quem realmente for de confiança, se deixando ser mais misterioso com as pessoas de fora do seu círculo interno. Se você está em busca de um emprego, cuidado com propostas boas demais e fáceis demais. Seja mais esperto, para não ser facilmente iludido.

Na saúde 

Como a própria lua, aqui tendemos a ser cíclicos. Nas mulheres, este Arcano costuma se referir aos ciclos hormonais, ao útero e aos ovários. Cólicas, retenções de líquido e instabilidades emocionais podem ser facilmente encontradas aqui. Sendo uma carta com uma conotação psicológica muito intensa, A Lua também pode falar de problemas mentais, indo da ansiedade até ao mais crítico caso de esquizofrenia, aqui temos os lunáticos. Cuide do seu corpo, mas nunca esqueça do seu emocional.

Na espiritualidade

Como o Arcano da magia, principalmente a lunar, as indicações espirituais da Lua são facilmente deduzíveis. O oceano do grande inconsciente coletivo nos chama e, ao ouvir seus sussurros, iniciamos um processo transformador. Em nossas profundezas pessoais, atravessando a noite escura da alma, nunca permanecemos os mesmos. Em seu caos temos a loucura e o delírio, o poder e o fracasso. Pode ser libertador para alguns enquanto é apavorante para outros. Os primeiros flutuarão, alçando o voo da alma pelas noite enluaradas, enquanto os segundos se afogarão nos abismos das próprias ilusões. A verdadeira magia, afinal, sempre foi para os selvagens e para os indomados.

Carta anterior: A Estrela

Próxima carta: O Sol

A Magia das Sereias – O ritual dos sonhos

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Carta Dreams do Oracle of the Mermaids de Lucy Cavendish

Conectados como são com nosso subconsciente, através dos sonhos podemos explorar nossos simbolismos internos. E, através da magia das águas, podemos com eles também desvelar mundos e dons espirituais. Quantas vezes, através deles, não recebemos mensagens do nosso próprio espírito? Quantos relatos não existem deles sendo usados como ponte para contatos astrais e trabalhos psíquicos? A magia dos sonhos contém um grande potencial. Sendo muito delicada e sutil, com ela temos efeitos profundos, surpreendentes e transformadores.

Fluindo através deste tênue estado de nossas consciências atingimos os pontos mais fundos dos nossos corações. Ali encontramos infinitas possibilidades e passamos por diversas provas, saboreando o gosto de outros tipos de existência. Nossos limites racionais se dissolvem, ampliando nossas perspectivas e nos abrindo para diversas novas possibilidades.

Sendo mestras na navegação dos oceanos dos sonhos, as sereias podem facilmente nos alcançar através deles, nos ensinando como explorá-los e nos conduzindo aos poderes que podemos despertar e refinar em seus domínios. O ritual a seguir pode ser feito em qualquer fase lunar, bastando apenas que nos entreguemos com comprometimento ao seu processo.

O Ritual dos Sonhos 

Para esse ritual não serão necessários muitos ingredientes, só devemos ter uma boa disciplina. De noite, separe um pequeno espaço no seu quarto para trabalhar com as sereias. Se você possuir uma mesinha de cabeceira ou prateleira que puder, da sua cama mesmo, alcançar, melhor ainda. No espaço separado coloque:

  • Um pequeno prato ou recipiente branco, azul ou transparente de vidro ou de porcelana.
  • Uma vela branca ou azul clara.
  • Água potável.
  • Um caderno e uma caneta separados apenas para este processo.

Com cuidado, fixe a vela no prato ou recipiente que você escolheu. Quando ela estiver firme, coloque água até cobrir um ou dois dedos da base da vela. Se você tiver conchas ou alguma outra representação das sereias, ou do mar em si, pode colocar perto da vela. Respire fundo, procure se centrar, e acenda a vela. Com as mãos perto da chama, de forma que você consiga sentir seu calor, diga:

”Que a luz do meu espírito seja conduzida em segurança pelas águas dos sonhos. Sereias, navegantes e regentes dos infinitos oceanos espirituais, eu as chamo através do escuro e fluido líquido da noite. Que esta chama seja o farol que ilumine seus caminhos até mim. E que, pela graça de seus poderes, esta noite eu possa ______”

Neste final, diga o que deseja. Se é entender algum ponto em você mesmo. Se é obter alguma resposta, conseguir alguma informação, ou até mesmo compreender e desenvolver algum dom. Seja claro e sincero sobre o que você pretende. Quando terminar, agradeça e vá para a sua cozinha. Coloque em média uma xícara de água para ferver e, assim que ela começar a ebulir, acrescente uma colher de jasmim ou de artemísia a ela. Apague o fogo e vá tomar o banho mais calmo e relaxante que você puder. Deixe a água quente te acalmar. Vá aos poucos se desligando de todas as preocupações e de todo o estresse do dia. Se desejar chamar as sereias durante o processo para que elas te ajudem, ou mesmo apenas para conversar, fique a vontade. Terminado o banho, se enxugue, vista uma roupa limpa e confortável, e coe seu chá num copo ou caneca. Não adoce. Vá novamente para seu quarto e, com o chá em mãos, diante da vela, diga:

”Pelo poder das Águas e das ervas aqui contidas eu aguço em mim minha intuição e minha sensibilidade espiritual. Que pela guia das sereias, devagar e suavemente, eu mergulhe e navegue por onde esta noite preciso for.” 

Beba o chá com calma e, quando terminar, se deite. Procure se visualizar nadando no mar aberto, em um estado de paz. Durma, e deixe que as sereias cantem o que você pediu para ver dentro dos seus sonhos.

Quando acordar, pegue o caderno e a caneta que você separou e anote tudo do qual você conseguir se lembrar. Algumas pessoas terão mais facilidade para se lembrar do que viram ao acordar, outras terão menos. Não se cobre se na primeira vez que tentar você estiver no segundo grupo. Todos possuímos a capacidade de trabalharmos nossos sonhos vividamente, só precisamos de constância para desenvolvermos essa habilidade natural. Pode repetir o ritual se desejar, conforme preciso for. E que as sereias possam te abençoar em todos os seus processos interiores.

Até a próxima!