Satanismo – Um breve resumo histórico

Fonte: Arquivo Pessoal

A primeira coisa que devemos entender sobre o Satanismo, como a vertente de Mão Esquerda que ele apresenta ser nos dias de hoje, é que ele é um fenômeno moderno construído a partir da obra de Anton Szandor LaVey, que fundou a Igreja de Satã (Church of Satan) em 30 de abril de 1966. De lá até o presente momento a semente de LaVey deu origem a dois grandes braços do Satanismo: o ateísta, onde a doutrina LaVeyana se encontra, e o teísta. Ambos possuindo seus adeptos e suas organizações.

O Satanismo LaVeyano, como já citado, se configura como uma religião ateísta, ou seja, que não possui em si a crença em nenhuma figura divina. Segundo as crenças LaVeyanas o adepto é o centro da sua própria vida e a figura de Satã é tida apenas como um símbolo inspirador ao invés de ser visto como uma entidade que existe de forma literal. Então, se você perguntar a um satanista LaVeyano se ele crê ou adora Satanás de alguma forma, ele provavelmente só irá rir de você. Sendo portadora de uma visão que foca mais em ser racional do que em ser mística, a doutrina de LaVey foca no aqui e no agora, encorajando o hedonismo com responsabilidade e a autopreservação de seus adeptos. A Bíblia Satânica, sendo o principal livro da doutrina, é visto sim como um texto fundamental. Porém, cada adepto pode ter suas próprias opiniões e interpretações sobre ele, já que o pensamento independente é muito mais encorajado do que a obediência cega.

Como LaVey em si era ateu, ele desencorajava profundamente que seus seguidores adorassem ou se relacionassem com Satã como uma divindade, vendo a crença em forças sobrenaturais como uma falta de racionalidade. Para ele, Satã devia apenas ser um símbolo de não conformidade, rebeldia e poder autônomo. Para ele não existia nada além do mundo físico, nem vida além da morte. Sendo o agora tudo que existe, ele defendia que deveríamos o aproveitar ao máximo, com responsabilidade e segurança.

Justamente pela posição marcada que LaVey tinha em relação a crença literal em Satã existe uma inesgotável rixa entre Satanistas LaVeyanos e Satanistas teístas que, por sua vez, são aqueles que de fato o adoram como um ser real, vivo e dinâmico. A Church of Satan, inclusive, alimenta abertamente a rixa tendo a postura de que os únicos ”satanistas de verdade” que existem são os seus membros (ou pelo menos aqueles que se alinham a linha LaVeyana). O que a mantém isolada do desenvolvimento que o Satanismo teve, em suas diversas vertentes, da época de LaVey até hoje.

A primeira divisão formada entre os ateístas e os teístas dentro do Satanismo foi a rebelião de Michael Aquino, ex-integrante de alto escalão da Church of Satan, que dela saiu para fundar o Temple of Set, em 1975, após diversas discordâncias entre ele e LaVey. Aquino levou consigo todos que estavam descontentes com a forma como LaVey se colocava e administrava a Church of Satan e, assim, o Temple of Set já iniciou suas atividades com um bom contingente de participantes. Agrupando todos que sentiam em si a necessidade de dar uma ênfase maior ao lado espiritual e ritualístico de suas crenças.

O Temple of Set foi o primeiro grupo a se distanciar e a criticar as ideias de LaVey propondo novos conceitos sobre como o Satanismo poderia ser para continuar a evoluir ao invés de se tornar um culto a personalidade que LaVey foi. A partir dele inúmeras outras visões, interpretações e grupos surgiram, trazendo mais diversidade e multiplicidade de opiniões ao Satanismo do que ele teria se tivesse ficado engessado debaixo da sombra da sua organização fundadora. O que fez com que ele se tornasse um movimento diversificado, plural, formado por indivíduos de prezam pela individualidade e pela independência acima de dogmas e regras.

Não existindo apenas um único Satanismo, cada satanista é singular em si mesmo. Com total liberdade para criar seu próprio caminho e suas próprias visões. A Bíblia Satânica é considerada um livro de importância histórica e fundamental para o movimento como um todo porém, novamente reforço, ele é mais tido como uma sugestão do que um dever. O estudo, inclusive sobre os processos históricos do Satanismo enquanto movimento espiritual moderno, é muito mais crucial se você se interessa nele do que seguir unicamente um livro ou a obra de um único autor. Inclusive, para entender como ele se divide politicamente. O ONA (Order of Nine Angles), por exemplo, é um grupo satanista conhecido pela sua ideologia abertamente neo-nazi. Então, se aprofunde na história do movimento para não cair, desavisado, em locais dominados pela extrema direita.

Mas satanistas não existem desde a Idade Média?

Da forma como existem hoje em dia, não. O que dá para afirmarmos com certeza é que a Igreja Católica, se tornando a instituição poderosa que ela se tornou entre os séculos V e XV, perseguiu, caluniou e fez o possível para exterminar tudo que dessoasse dela própria ou, em sua visão, ameaçasse o seu poder. Com isso, todos aqueles que recusaram se submeter a ela, ou fossem considerados desviantes por qualquer que fosse o motivo, eram demonizados como diabólicos.

Temos apenas um único caso documentado de uma Missa Negra que, na verdade, foi mais uma expressão de anticristianismo do que de satanismo como hoje o compreendemos. Ele foi feito no século XVII por Catherine Deshayes, conhecida popularmente como Madame Voisin, ou La Voisin. Ela foi uma das maiores figuras do Caso dos Venenos, que agitou a corte francesa entre 1670 e 1682, sendo condenada a morte e queimada em praça pública em Fevereiro de 1680.

Se você se interessa pelo período procure estudar como a Igreja não só criou mas moldou a figura do Diabo para perseguir seus opositores religiosos e políticos, bem como procure estudar sobre a própria história da bruxaria em geral. E no que refere a ela eu sempre indico os livros O Calibã e a Bruxa de Silvia Federici e História da Bruxaria de Jeffrey B. Russell e Brooks como excelentes pontos de partida.

Mas e os casos criminais que eu vejo envolvendo satanistas na mídia?

Aqui entramos não no terreno do satanismo em si, mas sim no terreno do pânico satânico. Tendo origem no termo pânico moral, que foi criado pelo sociólogo e criminologista britânico Stanley Cohen no livro Folk Devils and Moral Panic, aqui nos referimos, novamente, a como pessoas, figuras ou objetos podem ser usados, em campanhas de difamação, como a origem de todos os males de uma sociedade. O pânico satânico é um tipo específico de pânico moral criado a partir da crença, muito infundida pelo cristianismo desde a Idade Média, de que existem pessoas diabólicas que praticam todos os tipos de crimes possíveis em rituais grotescos em honra a uma figura que, para eles, seria em si o mal encarnado. Esse medo joga o ódio do público em cima de bodes expiatórios que são perseguidos e sacrificados no lugar de se discutir as desigualdades e carências sociais que realmente estão acontecendo. Ele é, essencialmente, uma ferramenta de manipulação em massa usado para causar medo e gerar inimigos fictícios para controlar as pessoas moralmente.

E não apenas a Igreja Católica mas diversas vertentes cristãs usam largamente o pânico satânico até hoje para assustar as pessoas, gerar ódio e preconceito contra aqueles que se desviam da norma, e garantir assim uma perseguição moral de tempos em tempos a tudo que tente sair do controle que eles querem exercer sobre a sociedade. O pânico satânico foi fortemente atiçado contra os jogos de RPG nos anos 80 nos Estados Unidos. E, aqui no Brasil, o anime Yu-Gi-Oh já foi muito perseguido dentro desta mesma lógica. Todos nós já ouvimos lendas sobre a Xuxa, sobre animações da Disney e sobre estrelas da música cheias de pactos, rituais macabros e medo. Assim como já vimos casos onde pessoas influenciáveis, em momentos vulneráveis psicologicamente, acreditaram demais nestes contos e cometeram sim crimes, sendo presos por eles e recebendo assistência médica que precisavam em seus estados.

O Satanismo em si, e a Mão Esquerda como um todo, são caminhos espirituais de desenvolvimento pessoal que não existem para ser a encarnação do medo moral que líderes cristãos usam para controlar e manipular seus fiéis. Estude constantemente, vá além do que te dizem, e questione sempre.

Até mais!

Volte ao Guia

Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

Quem foi Marie Laveau

Fotografia de Marie Laveau – Crédito: Wikimedia Commons

Nova Orleans, no estado da Louisiana, foi uma das cidades norte-americanas que recebeu um grande influxo de navios com tráfico escravo por volta do séc. XIX. Com estes escravos, o Voodoo veio junto. E por mais que, em sua chegada, cada uma dessas pessoas escravizadas fossem batizadas como católicas e fossem retiradas de sua fé original, através de muito sacrifício, e do sincretismo, a sua espiritualidade se adaptou e continuou vivendo.

E uma das figuras mais notáveis, até os dias de hoje, da cultura Voodoo norte-americana foi sem dúvida alguma Marie Laveau. Com sua vida envolta por algumas boas doses de mistério, se crê que ela tenha nascido no Bairro Francês no dia 10 de setembro de 1801, filha de uma crioula liberta, Marguerite Henry D’Arsentel, e do quinto prefeito da cidade, Charles Laveau Trudeau. De sua mãe e avó, praticantes do Voodoo caribenho, ela teria aprendido os segredos da religião. E do seu pai, um político rico dono de fazendas e terras, ela teria tido a oportunidade de ter uma boa educação e uma vida confortável desde cedo.

Seu primeiro casamento teria sido em 1818, com o imigrante haitiano Jacques Paris. Após um ano, ou dois, ele viria a desaparecer, sob circunstâncias desconhecidas. Ficando com os bens que ele deixara para trás, Marie então abriu um salão de cabeleireira, e foi aí que sua carreira começou. Com seu salão sendo frequentado pelas mulheres mais influentes da região, e também atendendo a domicílio, ela não demorou a estar inteirada de todos os segredos da elite da cidade e, com isso, passou também a oferecer aos poucos pequenos serviços espirituais. Curas, leituras de cartas, alguns feitiços, tudo era feito por ela. E não somente as mulheres procuravam seus serviços como feiticeira como homens também, trazendo de pedidos de enriquecimento e destruição de inimigos a ajuda para abortos em casos de gravidez extra conjugal.

Com o tempo, uniu-se então ao Capitão Luis Christopher Duminy de Glapion, com quem viveu até a morte dele, em 1935. Eles teriam tido ao todo 15 filhos, das quais apenas duas chegaram a idade adulta, Marie Euchariste Eloise Laveau e Marie Philomene Glapion. A primeira, após a morte da mãe, assumiria o seu lugar como sacerdotisa de Voodoo na cidade.

Da sua carreira espiritual temos mais mitos hoje em dia do que fatos. Ela teria sido aluna de Dr. Jhon, um senegalês muito conhecido pela sua confecção de gris-gris (um tipo de amuleto para diversos fins no Hoodoo), aprendendo e aprimorando as técnicas do seu professor. Sabe-se também que em sua residência ela mantinha seus altares, numa mistura de crenças católicas com figuras africanas, e semanalmente realizava reuniões e oferendas com aqueles que desejassem participar, tanto negros quanto brancos. Fora seus atendimentos individuais as pessoas mais importantes da cidade, ela também participava e conduzia cerimônias de Voodoo na praça Congo, nos arredores de Nova Orleans. E pessoas de todas as classes a procuravam para os mais diversos fins.

O que se pode afirmar é a influência inegável que ela teve social e politicamente em sua época, graças a rede de informações ao qual tinha acesso e manipulava, através do seu trabalho dentro das casas mais abastadas da cidade. Usando todos os segredos aos quais tinha acesso para ganhar mais poder e influência.

attachment-image-100b36cb-bc6a-4994-a6d5-adb04db9c578.jpg
Túmulo de Marie Laveau no Cemitério St. Louis em Nova Orleans

Já em sua velhice, na década de 1860, ela aos poucos foi deixando de lado suas práticas públicas para ter uma vida mais recolhida e tranquila. Nunca deixando, no entanto, de fazer parte dos movimentos mais fundamentais da cidade. Segundo historiadores, ela morreu pacificamente, dormindo em casa, no dia 15 de junho de 1881. Seu grande funeral contou com a presença de toda elite da Louisiana, além de uma multidão de pessoas, e os jornais da época a retrataram como uma “mulher de grande beleza, intelecto e carisma, que também era piedosa, caridosa e uma hábil curandeira de ervas”.

O local da sua real sepultura não é muito conhecido, mas a localização mais famosa é no cemitério St. Louis, número 1, na cripta da família Glapion, onde as pessoas ainda costumam ir para lhe levar oferendas, esperando que seus desejos possam ser concedidos. Alcançada a graça, deve-se voltar ao túmulo para, em agradecimento, marcar três XXX em sua lápide.

Se você deseja saber mais sobre sua história pode conferir nos livros The Magic of Marie Laveau: Embracing the Spiritual Legacy of the Voodoo Queen of New Orleans de Denise Alvarado e A New Orleans Voudou Priestess: The Legend and Reality of Marie Laveau de Carolyn Morrow Long.

Conjures, Rootworkers e a Justificativa

Voodoo Authentica
Foto do Museu Voodoo de New Orleans 

Quando se fala dos praticantes do Hoodoo é normal ouvirmos sobre duas categorias, a dos Conjures e a dos Rootworkers. Também ouvimos muito que o que os rege seria a Lei da Justificativa. Vamos falar um pouco sobre o significado de cada um desses termos?

O Conjure

Conjurar é o ato de despertar a vida, a consciência, das coisas. Um conjurador é, antes de tudo, um bom invocador e um bom comunicador espiritual. Ele sabe como tocar a essência de todas as coisas, falar sua linguagem, e despertar seus segredos e energia vital. No ato da conjuração se despertam as virtudes de diversos elementos, e são chamados a manifestação espíritos e seres. Cada feitiço ganha uma vida própria. E tudo aquilo que é trabalhado tem em si a ativação da pulsação divina.

O Rootworker

Aqui encontramos os famosos raizeiros. Aqueles que trabalham na manipulação das plantas, de seus espíritos e energias, para o uso de suas medicinas. Aqui encontramos a fabricação de remédios naturais, de xaropes, métodos de cura e benzimentos. Não a toa muitos Rootworkers também são chamados de Root Doctors, médicos naturais, que desenvolvem os poderes da terra e seus segredos.

Em sua prática, Rootworkers também usam da conjuração para despertar cada erva que trabalham. Assim como Conjures também usam muito a sabedoria das medicinas naturais. Existe muito diálogo e intercâmbio entre as duas práticas, muitas vezes sendo realizadas em correlação. O que as diferencia é o foco de seus praticantes. Se ele está mais no trabalho da prática mágica ou na exploração do potencial oculto do reino vegetal. Em tudo isso, ambas categorias guiam seu trabalho pela Lei da Justificativa.

A Justificativa

Dentro do Hoodoo cada praticante é livre para ter sua própria fé. Com suas crenças, paradigmas e maneiras de compreender o divino únicas e particulares. Cada praticante tem sua própria forma de entender Deus. E é isto que o guia dentro da prática no Hoodoo em questões de caráter, moral e limites. É na conversa, no diálogo e na dinâmica, entre o praticante e sua divindade, guias e guardiões que tudo é feito e decidido. Nesta dinâmica é que encontramos a Justificativa.

Ela é o ato do praticante de se colocar perante o divino e explicar os motivos de estar fazendo o que faz, da maneira que faz. A exposição do motivo das suas ações perante aquilo que o guia. Se aquilo pelo qual o praticante pleiteia for justo perante sua fé ele prosseguirá, se não for ele mudará sua tática. Afinal, se aquilo que você está prestes a fazer não é considerado válido pelo seu Deus, é melhor que não seja feito.

Nesta conversa entre o plano espiritual e o praticante é onde cada passo é alinhado. Tanto para trabalhos de benção com também de maldição. Afinal, se o que é feito tem o aval e a permissão daquilo que fortalece o praticante ele nada tem nem a recear e nem a temer. E nisto se encontra a chave do equilíbrio dentro do Hoodoo.

 

O que é o Hoodoo?

Foto de Madame Omi Kongo, conjure e rootworker norte-americana, cedida para a Vice 

Numa definição básica, o Hoodoo é uma forma de se praticar magia. É um sistema sincrético de feitiçaria e magia popular afro-americana praticada nas Américas, especialmente nos Estados Unidos, onde nasceu. E aqueles que o praticam podem ser chamados de Conjures (conjuradores) ou Rootworkers (raizeiros).

A maioria de seus adeptos, historicamente, sempre foram afro-americanos, apesar de termos alguns brancos que foram considerados root doctors famosos. Hoje, ele vem ganhando cada vez mais destaque tanto pelas Américas quanto ao redor do mundo, tendo em cada local que se instala seu toque particular, sem com isso perder suas raízes.

E quando falamos de raízes falamos dos três principais pontos convergentes de onde o Hoodoo adquiriu a maior parte de seu corpo de tradições: O Voodoo haitiano trazido pelos negros no séc 18 para os EUA, a sabedoria de cura dos índios nativos americanos e o uso de alguns grimórios medievais como As Clavículas de Salomão e os Livros de Moisés.

Foto de Khi Armand, autor de Deliverence, pelo fotógrafo Jonathan M. Lewis 

Seu berço no Voodoo, religião africana fortemente estabelecida no Haiti, começou com as próprias Grandes Revoltas que, após 10 anos de guerra entre colonos e negros, foi vencida em 01 de janeiro de 1884, tornando o Haiti uma República. Muitos daqueles que procuraram fugir da guerra, ou foram expulsos ou traficados do país durante as convulsões populares desembarcaram na costa oeste e no sudeste norte-americano, com destaque para Nova Orleans, Louisiana, Mississípi, Flórida, Tenessi, Alabama e Virgínia.

Já no Novo Mundo, o contato com os povos indígenas foi aos poucos se estabelecendo com esses imigrantes e escravos negros, acrescentando a sabedoria e as técnicas de medicina com ervas e raízes a eles. Afinal, as condições para se ter atendimento médico de qualidade não eram abertas a todos, e a maioria podia apenas recorrer a sabedoria natural em busca de auxílio. Após alguns anos, quando os filhos já livres dessas pessoas começaram a ter acesso a educação, conseguindo aprender a ler, entraram em cena os folhetos e livros europeus sobre magia cerimonial que se podiam achar em lojas. Eles absorveram de forma simpática e simples o pouco que dali podiam realmente usar, como os pantáculos, e descartaram o que seria inviável de ser praticar. E é nesse movimento que o Hoodoo se estabelece como o conhecemos hoje em dia, tendo já por volta de 300 anos de existência.

Creepy-Magic-New-Orleans-New-Orleans-Historic-Voodoo-Musuem-1
Foto por Jennifer Boyer

Como um sistema de trabalho o Hoodoo não pode ser confundido com religião. Ele não possui em si hierarquias, teologia ou clérigos. Como uma técnica de magia, pode ter e tem praticantes de todo cunho religioso em si. Ele só pede que você tenha alguma fé, afinal, o que se faz em suas técnicas sempre será feito perante os deuses e forças maiores da fé daquele que o pratica. E isto é que guiará o praticante, formando seu ”caráter”, limites e morais, dentro da sua prática.

 

Como escolher seu primeiro baralho

Fonte: Pinterest

Uma das maiores dúvidas de quem está começando a se interessar por oráculos de cartas, principalmente em relação ao Tarot e ao Petit Lenormand, é como escolher um primeiro baralho. Afinal, existem tantas centenas de edições, temas e tipos diferentes por aí que podemos ficar perdidos. Pensando nisto, deixarei aqui algumas informações que podem ajudar tanto os novatos como até mesmo os mais experientes com as cartas.

Primeiramente, ouça sua intuição! 

O meu primeiro contato com um oráculo foi totalmente não planejado. Eu tinha saído para comprar alguns incensos e pedras numa loja que eu gostava muito e quando eu entrei nela meus olhos bateram instantaneamente numa prateleira cheia de diversos tipos de baralhos. Aquela loja nunca vendera oráculos antes, era algo novo. E uma caixinha vermelha fisgou minha atenção. Como a prateleira era no alto e eu não conseguia ver o que estava escrito nela, pedi a ajuda de um funcionário para pegá-la. Era um pequeno Petit Lenormand. Com autorização, abri a caixinha e dei uma olhada em cada uma das cartas. Algo naqueles desenhos me fascinou, me prendeu. Com um frio de felicidade na barriga saí da loja com aquele baralho na bolsa, indo tão logo quando pude para casa estudar o livreto que veio junto com ele, e buscar mais informações sobre como aquele oráculo funcionava.

Foi uma paixão a primeira vista que me introduziu ao mundo dos oráculos pela primeira vez. Tenho esse baralho até hoje e, apesar de hoje em dia minha coleção pessoal contar com muito mais tipos e exemplares diferentes de oráculos, ele continua sendo meu queridinho. E a ligação que eu tenho com ele continua sendo única.

A escolha de um baralho sempre será muito pessoal. O que chama a atenção de uma pessoa pode ser completamente ignorado por outra. Quando você pensa em ter um oráculo, do que você gosta? Quais são os tipos que mais te atraem, que mais chamam sua atenção? Você gosta dos tradicionais ou aqueles modernos com temas criativos tem um apelo mais forte para você? Quais temas de agradam, quais tem relação com as suas crenças? Tem algum em específico que chama muito a sua atenção? Já teve algum que só de você olhar imediatamente te cativou? Aprenda a ouvir o que você sente. Afinal, será muito importante que você goste da arte do baralho, dos desenhos, de como ele funciona, dele em si para que as interpretações venham de forma fluida e natural para você. Se atente a sua preferência e sensações.

Qual seu objetivo em querer um baralho?

O que você deseja fazer com ele? É apenas um interesse de estudo pessoal ou mais para frente você gostaria de atender pessoas? Você deseja usar as cartas para exercícios de meditação e propósitos criativos? Você quer algo mais sofisticado para usar em suas práticas com magia ou algo mais simples só para alguns exercícios privados? As respostas de todas essas perguntas podem te dar indicações de quais características práticas seria melhor buscar, como o tipo de arte, qualidade, tamanho, temas e durabilidade para achar o baralho que melhor se encaixaria naquilo que você pretende fazer.

Visite lojas e sites

Se possível, procure lojas e livrarias que tenham baralhos disponíveis. Procure endereços e vá até esses lugares. Se a loja permitir que você examine e manipule alguns baralhos de amostra melhor ainda. Quando você fica cara a cara com as cartas pode notar muito mais detalhes. Pode perceber que aquele baralho de que você tanto ouvir falar não é tudo isso pra você, e pode acabar tendo uma conexão muito forte com outros tipos que você antes nem sequer conhecia, como foi o meu caso.

Mesmo que de cara você não ache o seu baralho ideal, vai poder sair do lugar com muito mais informações, e mais perto de saber o que funcionaria muito bem com você e o que não.

Para quem não tem em sua cidade nenhuma loja ou livraria com oráculos disponíveis, o site Aecletic Tarot  permite dar uma olhada em diversos baralhos existentes e até ter uma pré-visualização das cartas de cada um então visite e pesquise!

Orçamento

Sim, essa parte é importantíssima. Existem muitos oráculos em conta, e o baralho cigano em muitas edições é um deles. Mas existem outros que vão pesar bem mais no seu bolso. Principalmente se for uma edição importada. Saiba o quanto você pode gastar e compare os preços entre as lojas antes de levar qualquer oráculo para casa.

Agora, para você que tem dúvidas em específico em relação ao Tarot: 

  • Como diferenciar o que é um Tarot de outros oráculos de cartas?

É importante que você tenha de forma clara em mente que existem muitos tipos de baralhos, e o que os diferencia são os seus formatos. O Tarot, sendo apenas um dentre os vários oráculos de cartas que existem no mundo, se diferencia dos demais pela sua estrutura específica.

Para que um conjunto de cartas seja um Tarot ele deve ter 78 cartas divididas em dois grupos: 22 Arcanos Maiores e 56 Arcanos Menores. Os Arcanos Menores devem conter em si quatro naipes: Paus, Copas, Espadas e Ouros. Estes naipes terão 40 cartas numeradas de 1 (o Ás) ao 10 e 16 delas serão as cartas da corte de cada naipe,  sendo Pajem (ou Princesa), Cavaleiro (ou Príncipe), Rainha e Rei.

Se um baralho não tem esta estrutura ele não é um Tarot, ele é um outro tipo de oráculo.

  • Tarot de Marselha e Tarot Rider-Waite, quais as principais diferenças? 

O Tarot de Marselha é um dos mais antigos que temos ainda sendo produzidos atualmente. É ótimo para quem gosta de cartas mais tradicionais. Os seus Arcanos Menores focam em ter apenas o símbolo de seus naipes, em diferentes quantidades e cores, ao invés de desenhos com uma perspectiva mais narrativa, e isso na maioria das vezes é o que mais o difere dos modelos modernos. Mas ainda é dele que se deriva a estrutura básica da maioria dos baralhos de Tarot que temos atualmente.

Algumas cartas do Tarot de Marselha. Fonte: Pinterest 

O Tarot de Rider-Waite, lançado em 1930 pelo ocultista Arthur Eduard Waite, junto a também ocultista e artista Pamela Colman Smith foi, depois do de Marselha, o grande marco na história do Tarot. Nele temos ilustrações nos Arcanos Menores pela primeira vez. O Louco, que era o Arcano sem número ganhou o numeral zero, o Arcano 8 “A Justiça” e o Arcano 11 ”A Força” trocaram de posição entre si e a relação entre cada lâmina com os conhecimentos da alquimia, do hermetismo e da cabala ficou mais intensificada. E a maioria dos baralhos modernos de Tarot usam largamente essas inovações de Waite.

Algumas cartas do Tarot de Rider-Waite. Fonte: Pinterest

  • Existe um Tarot mais fácil para iniciantes? 

Olha, cada tarólogo ou cartomante vai ter uma opinião diferente a respeito desse tema. Isso porque cada pessoa tem um método e uma facilidade de assimilação diferentes. Muitos colocam o Tarot Mitológico (desenvolvido pela astróloga americana Liz Greene em parceria com a taróloga Juliette Sharman-Burke e concebido pela artista plástica Tricia Newell, em 1986) como um bom ponto de partida para iniciantes num geral.

Ele de fato é um dos baralhos mais traduzidos e vendidos atualmente, misturando a simbologia do Tarot aos mitos e figuras da mitologia grega. Para alguns, entender as cartas, principalmente os Arcanos Menores, com a ajuda das histórias mitológicas fica realmente mais fácil. Mas em algumas lâminas o ter se atrelado a uma narrativa mítica pode reduzir os significados tanto do oráculo quanto da narrativa grega.

Algumas cartas do Tarot Mitológico. Fonte: Pinterest

Eu procuro sempre dizer que o melhor Tarot para o seu início é aquele que fala mais alto ao seu coração. Cuja arte e simbolismos são atraentes e fazem sentido para você. No entanto, uma boa dica é procurar por edições que venham com livros explicativos junto. Assim, você adquire junto com o baralho um material de base para o início do seu estudo.

Em resumo: 

Cada baralho vai trazer consigo sua própria energia, método, estrutura, conceitos e arte próprias. Saiba seus objetivos, e pesquise muito! Tanto para saber os melhores preços e formatos quanto para encontrar qual vai ser aquele baralho especial que vai aguçar seus sentidos e te ajudar a desenvolver sua intuição!

Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

Fonte: Pinterest