Oráculos – O que são?

Consultando o Oráculo de John Waterhouse

A palavra oráculo, na sua origem etimológica, vem do latim oraculum, significando algo como “anúncio divino”. É a resposta do divino, do plano espiritual, de uma divindade ou entidade específica, dada após sua consulta através de ações ritualizadas. O termo, por extensão, também foi utilizado para se referir aos locais onde se realizavam essas consultas, ou as pessoas que tinham a habilidade de fazê-las. Que podiam servir como ponte entre o plano espiritual e o físico.

As civilizações antigas consultavam oráculos para diversas finalidades, desde questões políticas e sociais até filosóficas e religiosas. Na cultura grega, por exemplo, os oráculos constituíam um aspecto fundamental da prática religiosa. As respostas divinas só podiam ser concedidas em ritos e locais rigorosamente estabelecidos, e por pessoas devidamente iniciadas em seus cultos.

As mancias, ou mânticas (do grego: manteia, ”arte do vidente”, a habilidade de prever o futuro de modo extra-racional), não eram realizadas pela pessoa comum. Passar pelo ἐνθουσιασμός – enthousiasmósentusiasmo, isto é, o ter deus em si, era reservado a quem era treinado dentro das tradições, usando a ritualística correta, para fazê-lo. Como, por exemplo, as pitonisas. Sacerdotisas do deus Apolo, que atuavam como pontes entre ele e o plano físico em Delfos.

Sacerdotisa de Delphos de John Collier

Exemplos de oráculos, em suas diversas formas e exercícios, existem em todas culturas ao redor do mundo. Na mitologia escandinava temos em Odin tanto a sua história com as runas quanto ele levando a cabeça do deus Mimir para Asgard para lhe servir de conselheiro. Na tradição chinesa, temos o uso do I Ching. E nas tradições iorubanas temos o sistema de Ifá, presidido por Orunmilá, divindade da profecia e do destino, que rendeu as religiões afro-brasileiras o popular jogo de búzios, ou rìndínlógún, utilizado pelos Babalawos e Ialorixás.

Nos distanciando um pouco dos aspectos religiosos e sacerdotais e entrando nas práticas da magia, e das diversas vertentes da bruxaria, tanto os oráculos como as artes divinatórias sempre foram colocados em posição de destaque. Isso porque, enquanto a  magia por si nos ajuda a fortalecer a influência e o poderio que temos sobre nossas próprias vidas e meio, os oráculos ajudam a intensificar a percepção que temos tanto de um quanto do outro. Podemos através deles saber mais tanto sobre nós mesmos, quanto sobre os possíveis resultados de cada uma das nossas ações e o desenrolar das mais diversas situações. E isso para aqueles que trabalham alterando a si mesmos e as probabilidades ao seu redor pode dar vantagens preciosas.

Capazes de identificar com mais profundidade energias e nos contar suas histórias, os oráculos conseguem nos revelar a essência das coisas. Ajudando com bloqueios mentais, com nossos pontos fracos e fortes, e nos dizendo como melhor aproveitar e transmutar as tendências ao nosso redor. Se usadas com responsabilidade e equilíbrio, as informações que eles podem nos dar se transformam numa fonte de poder.

Circe Oferecendo o Cálice para Ulisses de John Waterhouse

E de fato, nos dias de hoje, conhecemos os oráculos muito mais como os objetos e métodos através do qual suas consultas são feitas, como as cartas do Tarot e os búzios, do que como as figuras ou locais que os disponibilizam. Mas seu papel continua o mesmo, o de nos ajudar na nossa busca por respostas inspiradas, seja pelo divino ou por nosso próprio self, através de arquétipos.

A abordagem arquetípica, aliás, um pouco menos espiritualizada e mais psicológica, foi sugerida pioneiramente pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, que defendia que existiam duas dimensões, a física e a não física, que se moviam em sincronicidade, pois tudo no universo estaria interligado por algum tipo de vibração. E nesta sincronicidade entre o psíquico e o físico as coincidências agiriam como uma maneira de acessarmos, captarmos, o mundo ao nosso redor de uma maneira mais ampla. Refletindo o espaço universal, composto por matéria e também energia.

Através da visão de Jung, a capacidade de captação dessas mensagens é inerente a todos nós, sendo menos sobrenatural e mais intuitiva. Segundo ele, nosso inconsciente é capaz de nos colocar em contato com o todo, bastando que nos atentemos e saibamos entrar em conato com ele.

Até mais!

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Magia e Bruxaria – O que são?

O Sabá das Bruxas de Francisco Goya

Como já diria Aleister Crowley, um dos mais influentes ocultistas britânicos, “A Magia é a Ciência e a Arte de causar mudanças de acordo com a Vontade.”

Desde o caçador primitivo, que desenhava sua caça pelas paredes das cavernas e dançava ao redor das fogueiras, até os primeiros ritos funerários e nosso início na compreensão da realidade complexa que nos cerca, a magia sempre foi, de uma forma ou outra, praticada pela humanidade. O estudo e a procura do que é latente no componente humano e nas forças da natureza sempre nos moveu.

Somos impulsionados pela nossa curiosidade em explorar o mundo e seus mecanismos, bem como pela vontade de que, através de alguma forma, possamos os dominar. Essa sensação de conhecimento e controle muitas vezes pode ser alcançada dentro de sistemas religiosos. Mas também existem aqueles que não podem ser limitados por elas, que não se encaixam, que desafiam, e é através deles a magia viveu, se desenvolveu e na bruxaria resistiu.

A Arte dos Indomados, como algumas vezes a magia e a bruxaria foram nomeadas, sempre estiveram a margem das sociedades e de suas religiões. Elas não se resumem as práticas pagãs, mesmo que nas fés anteriores ao advento do cristianismo houvesse uma maior liberdade. A figura da bruxa, do mago e do feiticeiro sempre causou estranheza e muitas vezes, medo. Aliás, o termo ”bruxa/o” nunca foi visto de forma positiva, sendo usado para denunciar aqueles que de alguma forma fossem vistos como perigosos por suas práticas transgressoras. Aqueles que, por algum motivo, ultrapassavam os limites e lidavam com o proibido.

Antes dos movimentos que as tiraram das sombras no século XX tanto a bruxaria quanto a maioria das vertentes da magia eram vistas como algo além do que era seguro. Inclusive tendo sido por muito tempo em sua prática proibidas por lei e perseguidas sob pena de morte. E hoje em dia é muito importante que tenhamos em mente que elas não são produto do atual neopaganismo.

 

O Voo das Bruxas
O Voo das Bruxas de Francisco Goya

Os conhecimentos ocultos de onde a magia e a bruxaria fluem foram construídos as custas de muito sangue, e até hoje exigem de seus praticantes muito. Seus caminhos, tanto internos quanto externos, não causam mudanças facilmente. Pois eles são sobre autocontrole, poder e soberania. Sobre nossa capacidade de governo pessoal e, a partir dele, ter o controle das circunstancias que nos cercam. É a insurgência contra as fraquezas e males sociais, é o domínio do medo e a superação da limitação.

Fluindo pelas veias históricas de todas culturas e sociedades, a magia e a bruxaria sempre floresceram onde menos se esperava, sempre ao lado dos menos favorecidos, dando poder a aqueles que socialmente antes não o possuíam, para influenciar suas próprias vidas. Elas, por si, não são nem boas e nem ruins. Não são nem diabólicas e nem angelicais. Ela são o imprevisível, o incontrolável, provocando inquietação onde se precisa. Mostrando que nunca descobriremos tudo, nunca teremos todas as respostas, nunca dominaremos tudo, é o desafio aberto de que a nossa busca nunca cessará.

Como a arte de provocar mudanças visíveis no mundo interno e externo, através da projeção das nossas intenções no universo, a magia é multifacetada em uma variedade infinita de métodos e técnicas que variam de cultura para cultura. Em suas práticas a característica de se ter o desejo, a vontade, de quem a pratica como central é seu ponto principal. Ela não é e nem nunca poderia ser exclusividade de um só sistema, religião ou cultura, pois faz parte de algo para além de nós. Para além daquilo que é humano. No entanto, nos ajudam a transcender e a evoluir para além dos nossos limites.

O Círculo Mágico de John William Waterhouse 

A bruxaria, muitas vezes dita como um sinônimo da feitiçaria, seria o estudo e a prática de conjuntos de saberes específicos, dependendo da cultura e da região, através do qual podemos aplicar a magia em nossas vidas. Na maioria das vezes a ela se aplicam os saberes e as artes da necromancia, das adivinhações, o contato com diversos tipos de espíritos, o trabalho com ervas, velas, pedras, e elementos da natureza.

Ela não é uma religião, nunca poderia ser, pois está em toda diversidade cultural humana como uma arte, um ofício, aquela prática que muitos tentam nomear, mapear, catalogar, mas de fato nem deveria ser nomeada, pois seus mistérios abarcam muito mais do que temos capacidade para entender. E, consecutivamente, resumir em uma definição só. Mas ela é uma forma do exercício da espiritualidade humana. De como compreendemos e nos relacionamos com a magia, a arte da transformação das probabilidades e dos nossos próprios potenciais interiores.

Sua prática, bem como a prática da magia em si, seja pela vertente que for, sempre será um exercício de intenso estudo, empenho, constante aprimoramento pessoal, superação de limites e de muita prática, análise e riscos. Pois nenhum real aprimoramento vem sem constante esforço. E o extraordinário nunca é alcançado por aqueles que não ousam ir além da segurança de suas zonas de comodidade.

Witches on the Sabbath de Luis Ricardo Falero

Por isso mesmo, a verdadeira beleza e força da Arte sempre veio muito mais dos menos vistos do que daqueles que tinham segurança e conforto. Daqueles que se permitiam e precisavam ousar de verdade. E de fato, transformar as próprias vidas em algo para além de suas realidades. Pelos seus desejos de serem mais, de irem além, e de tocarem aquilo que é verdadeiramente insondável.