Mão Esquerda – Definições iniciais

Fonte: Arquivo Pessoal

Quando falamos sobre Mão Esquerda, falamos exatamente do que?

Em minhas memórias, é sempre muito vago saber onde exatamente eu ouvi o termo ”Mão Esquerda” pela primeira vez. No entanto, eu sempre consigo, se fecho meus olhos, reviver a sensação inebriante dos meus primeiros passos neste caminho, como se tivessem se passado ontem.

Foi durante o ano de 2016. Eu estava tentando morar sozinho pela primeira vez num apartamento simples, tendo acabado de sair de um grupo de magia que desmoronou por conta de abusos internos que eu ajudei a denunciar. Sobreviver ali, durante aquela época, foi uma guerra em diversos níveis. A cada dificuldade eu me tornava mais afiado, mais rápido, mais inteligente, mas também sofria bastante. Tive meus acertos e meus erros, minhas vitórias e minhas derrotas. E foi ali, apanhando muito e aprendendo a bater de volta com o triplo de força que a Mão Esquerda entrou na minha vida. Toda a minha visão sobre ela, então, virá sempre do local pessoal da minha vivência.

Dito isto, num primeiro momento, tenha em mente que os termos Caminho da Mão Esquerda (Via Sinistrae) e Caminho da Mão Direita (Via Dexterae) formam entre si uma dicotomia natural dentro dos movimentos esotéricos ocidentais.

Você terá o início dessa terminologia no trabalho da escritora e ocultista russa Helena Blavatsky que, por sua vez, procurou se inspirar nas linhas do Tantra, Vama Marga e Dakshinachara, para criá-los a partir da sua própria visão. Visão essa que ela trabalhou, no conjunto da sua obra, sincretizando profundamente os conceitos orientais já citados com muitos outros vindos do budismo, do hinduísmo e do zoroatrismo com a adição de conceitos oriundos do hermetismo e da cabala, sofrendo em si também muita influência do Espiritismo.

O que torna importante dizer que, apesar da sua relevância inegável perante a história do ocultismo ocidental, seu trabalho acaba sendo muito mais uma costura dos conceitos dessas diversas fontes e culturas, para os quais muitas vezes ela não deu o devido crédito em seus escritos, do que algo de fato original. Isso não tira o peso da sua herança intelectual para que possamos compreender como todos esses conceitos vieram até nós hoje. Mas é sim um ponto de atenção significativo. Pois, se você for até as fontes que ela usou para criar seus textos, você terá noções mais claras sobre os assuntos que ela procurou desenvolver. Inclusive, portanto, em referência aos próprios conceitos que foram cunhados para a Mão Direita e para a Mão Esquerda como caminhos de Luz e Escuridão.

Dentro do hermetismo e da Astrologia Tradicional Helenística, por exemplo, os conceitos de Luz e Escuridão já são trabalhados nas noções que temos hoje de Direita e Esquerda. Para os helenísticos a luz representa as forças divinas e a própria vida em si. Temos, na luz, o movimento, a lucidez, a transparência, as figuras de poder (incluindo as próprias divindades), a razão, a ordem e tudo que faz a manutenção da vida. Na luz temos a coletividade e a integração.

Na Escuridão, por outro lado, temos tudo que é considerado tabu pelas normas sociais. Temos os marginalizados, os que não são vistos, os que estão fora do controle social. Como conceito oposto a Luz, aqui temos tudo o que está fora dos limites da ordem, o que nos paralisa, o que nos entorpece, as paixões carnais, os bodes expiatórios, os inimigos ocultos e tudo que abate a vida. Forças de entropia, destruição e desintegração são pertencentes a Escuridão. Como externa ao coletivo e ao social, habitando naquilo que é selvagem, nela temos o individualismo.

E é nisto que se encontra a diferença prática entre os dois caminhos. A Via Dexterae, como um caminho que pertence a Luz, é sobre união e a Via Sinistrae, como um caminho que pertence a Escuridão, é sobre individualização. Se você já ouviu em algum momento a noção de que evoluímos para em algum momento voltarmos a nos unir ao Todo, parabéns, você já entrou em contato com a visão básica da Mão Direita. E se você já ouviu em algum momento que somos, em nós mesmos, nossa própria divindade, parabéns, você já entrou em contato com a visão básica da Mão Esquerda também.

Perante a Mão Direita a condição humana é, essencialmente, a condição da queda. Existe, dentro das suas linhas, a noção de que fomos separados de uma fonte criadora divina externa e que a separação dessa fonte é a causa das nossas angústias e sofrimento. Portanto, o caminho espiritual da Mão Direita é o do ascetismo e da procura pela pureza moral, negando o material e o terreno, para que se retome a união a esse princípio divino externo que unificaria em si próprio tudo que existe.

Temos essa visão dentro do cristianismo, onde negamos o material para aperfeiçoar o espiritual e nos unirmos a Deus em estado de graça. Mas também a temos um pouco dentro da própria visão reencarnatória de Blavatsky, extremamente influenciada pelo espiritismo de Kardec, onde ao final de nossas linhas evolutivas nos dissolvemos ao Princípio do Universo e até mesmo na ideia wiccana de que ”da Deusa todos viemos e para ela todos voltaremos”. Se ao final de um caminho espiritual você se entrega, se une ou se dissolve em um grande princípio divino maior de onde tudo originalmente veio este caminho é, por essência, um caminho da Mão Direita. Pois a Via Dexterae é, sempre, sobre comungar se unir ao externo.

A Mão Esquerda, em contrapartida, na maioria das suas linhas, não tem seu principal foco numa pretensa Fonte Universal mas sim no indivíduo. Nela, ao invés de buscarmos ascender para uma entrega a algo externo, nos voltamos para a matéria e para o nosso interior. O terreno, com seus instintos e paixões, não é negado, mas sim abraçado e desenvolvido com responsabilidade.

Na Via Sinistrae saímos daquilo que é considerado seguro e assumimos o risco de andar em meio ao que é selvagem, nos reconciliando com nossas sombras, adentrando naquilo que é considerado sujo, naquilo que é tido como tabu e no que foi marginalizado. Não negamos a matéria, que é onde estamos e o que somos, como na abordagem ascética da Direita, mas sim a usamos para o fortalecimento e para o desabrochamento do divino que já existe em nós. Assim, força não é o que você busca fora mas aquilo que você constrói por dentro.

Sendo uma Via da Escuridão que tem a autonomia como foco principal, é natural a ligação entre os praticantes da Mão Esquerda e as figuras que, ao longo da história, em diversas culturas, foram marginalizadas e tidas como aquelas que se negaram a obedecer alguma força maior e totalitária para carregar sua independência como uma coroa e também como uma arma.

É nisto que a figura de Satã como grande Adversário e a de Lúcifer como o rebelde que colapsa a ordem para trazer a conhecimento são acolhidas e celebradas como fontes inspiração. E o trabalho com demônios como princípios que podem guiar através do caminho de auto deificação é esperado. Qualquer caminho espiritual que, ao invés de conduzir a união com uma fonte criadora externa, se satisfaça na separação e continue a aprofundando ao máximo para que seu adepto alcance a divinação individual é um caminho da Mão Esquerda por excelência.

A Teurgia, por exemplo, pertence a Mão Direita, enquanto grande parte das vertentes da Goécia pertencem a Mão Esquerda.

Ambos os caminhos são úteis em seus propósitos e devem ser trilhados com responsabilidade e comprometimento por aqueles que os seguem. Lembre-se sempre que tanto a Luz quanto a Escuridão são princípios essenciais e complementares dentro do Universo em que habitamos. Um não existe sem o outro, ambos sendo necessários para o fluir da dança e do equilíbrio cósmico.

A Mão Direita, sendo um caminho de submissão, é uma Via excelente para aqueles que precisam desenvolver humildade, piedade, empatia e a capacidade de servir a outros e ao bem comum. A Mão Esquerda, sendo um caminho de independência e auto regência, é uma Via maravilhosa para aqueles que, em contrapartida, precisam desenvolver um sentido mais fortalecido de si próprios e de seu poder pessoal. E foi exatamente nisto que a Via Sinistra me acolheu. Em ser um caminho de soberania e fortalecimento pessoal em primeiro e último lugar.

Seguindo os passos sobre como formar um caminho próprio que coloquei aqui, neste post temos então nossa definição inicial sobre o que a Mão Esquerda é e também, de certa forma, uma ideia sobre o que, dentro dela, pode nos mover para ela. Nos próximos posts teremos um pouco mais sobre as principais vertentes dentro desta Via: o Satanismo e o Luciferianismo.

Até lá!

Volte ao Guia

Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

Guia prático da Mão Esquerda

Fonte – Arquivo Pessoal

No último post do blog, que você pode conferir aqui, eu dei algumas dicas sobre como podemos começar a pesquisar e a formar um caminho dentro da vasta área que é a bruxaria. Aqui, irei me inspirar no roteiro do post anterior, estabelecendo um pequeno guia em relação a uma área dentro das Artes Ocultas sobre as quais ainda pouco se fala: a Mão Esquerda.

O objetivo deste post é ser um masterpost, ou seja, aqui eu deixarei organizado todos os links dos posts que eu farei sobre a Mão Esquerda, de forma que fique organizado e que seja de fácil acesso. Como ele estará em constante construção e atualização pode salvá-lo e o reconsultar sempre, ok? Vamos lá!

Para começar, iniciaremos pelo básico. Ou seja, pelas definições iniciais. Onde veremos o que é a Mão Esquerda, do que se trata a Corrente do Adversário e um pouco sobre suas principais vertentes:

Mão Esquerda – Definições iniciais

A Corrente do Adversário

Existiria como “equilibrar” as Vias Esquerda e Direita?

A Mão Esquerda é para mim?

Métodos do Tarot – Adentrando a Via Sinistrae

As Ordálias e a Natureza do Caminho

Satanismo – Um breve resumo histórico

As Nove Declarações e as Onze Regras Satânicas

Os Nove Pecados Satânicos

Missa Negra – Da blasfêmia ao psicodrama

Luciferianismo – Um breve resumo histórico

Os 11 Pontos Luciferianos de Poder

A Demonolatria Moderna

Afinal, é tendo clareza sobre em quais águas nos aventuramos quando falamos da Via Sinistrae que conseguimos dar os nossos primeiros passos nesse caminho!

E eles começam, claramente, em como estruturar um bom estudo. No artigo inicial dos Primeiros Passos temos como elaborar nossa própria pesquisa. Buscando e verificando fontes, cruzando informações, para navegar com segurança e discernimento por livros e artigos. Além disso, também vemos como começar a meditar e a trabalhar o nosso cuidado pessoal:

Primeiros passos – Estudo, meditação e cuidados pessoais

Também é importante, logo no início enquanto começamos nossos estudos, sabermos como identificar tanto discurso de ódio quanto grupos e pessoas predatórias que se esgueiram sorrateiramente por meios ocultistas para não cairmos por inocência em nenhuma armadilha:

Primeiros passos – Como identificar discurso fascista dentro da Mão Esquerda

Primeiros passos – Como identificar grupos abusivos

Primeiros passos – Sobre Mestres e Sacerdotes

Agora, já estando mais espertos, estudando, nos cuidando e meditando rotineiramente, veremos como nos organizar para dar os próximos passos, estabelecendo práticas simples, mas consistentes, que caberão em nossas rotinas e no nosso dia a dia:

Primeiros passos – Se organize!

E nisso incluímos o RMP, assim como termos uma boa base de cuidado energético:

O Ritual Menor do Pentagrama – RMP

Primeiros passos – Cuidados Espirituais

Primeiros passos – Sobre limpezas e proteções

Primeiros passos – Sobre energização e aterramento

E, claro, sobre como incluir os oráculos em nossa prática inicial:

Primeiros passos – A importância dos oráculos

Primeiros passos – Um exercício oracular

Temos a importância da lua e de suas fases:

Primeiros passos – A lua e suas fases

Bem como. agora que já temos uma prática inicial, um pouco mais sobre instrumentos e altares:

Primeiros passos – Instrumentos

O Espelho Negro

Primeiros passos – O Altar

E, tendo uma estrutura inicial, podemos começar a compor nossos primeiros rituais, onde teremos nossas primeiras experiências:

Primeiros passos – Sobre Círculos

Círculo básico de Mão Esquerda

Uma estrutura básica para rituais

Primeiros passos – Gnose

Primeiros passos – O estado de gnose

E, nelas, falamos um pouco mais sobre as figuras espirituais do caminho:

Primeiros passos – Os Guias do Caminho

Primeiros passos – O Chamado dos Guias

Primeiros passos – Sobre apadrinhamentos

Métodos do Tarot – Descobrindo o Guia

Primeiros passos – Interpretando sinais

Quem são os Daemons?

Quem é Lilith

Quem é Lúcifer

E nos aprofundamos ainda mais com as recomendações de leitura!

Resenha – Apoteose de Michael W. Ford

Resenha – A Bíblia do Adversário de Michael W. Ford

Resenha – Bruxaria Diabólica de Naamah Acharayim

Resenha – Dicionário dos Demônios de M. Belanger

Resenha – Demonolatria Moderna de S. Connolly

Resenha – Atanatize – O Caminho dos Mestres Não-Mortos de Alexander L.M

Sobre figuras em específico:

Resenha – O livro de Lilith de Barbara Black Koltuv

Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

A arte da Bruxaria – Como começar

Fonte – Acervo pessoal

Quando começamos a nos interessar pela bruxaria sempre vem aquela dúvida: Como começar? O que precisamos ver ou entender primeiro? Como, num ramo tão diverso, podemos escolher por onde iniciar nossas buscas e onde encontrar as respostas para nossas maiores questões sobre o tema?

Primeiramente, é importante entender que o ponto inicial mais fundamental de todos é o estudo. Se você não gosta de imergir por horas e horas na leitura de livros, conhecendo autores e suas obras, bem como estudando diversos movimentos e suas implicações é bom que você saiba de antemão que, caso você queira ter uma prática substancial e profunda, isso será necessário. Você passará muito mais tempo lendo, pesquisando e fazendo anotações do que em qualquer outra atividade. Em segundo, você precisará saber se organizar. Principalmente no âmbito mental. Ter clareza do que você pensa e saber estruturar o que você deseja de forma prática é essencial para que você não se afogue num mar de informações desconexas que você não saberá utilizar e nem sequer te darão qualquer firmeza.

Para isso, comece no mais básico:

O que você acha que a bruxaria é? Onde e como você ouviu a palavra ”bruxaria” pela primeira vez? Quais caminhos você tomou entre essa primeira vez e ideia que você tem dela hoje em dia? Você pensa algo de diferente? Ainda pensa a mesma coisa? Muitas pessoas entram em contato com diversas ideias sobre o que seriam tanto a bruxaria quanto a magia em literatura, filmes, séries, jogos e desenhos bem cedo na vida, por exemplo. Seja qual tiver sido o seu caminho tente o traçar claramente dentro da sua cabeça. Entenda o que e quais histórias e acontecimentos compõe sua visão do que a bruxaria é.

Sabendo o que você pensa que a bruxaria é, defina o segundo princípio mais básico:

O que te move para perto dela agora? Dependendo da sua concepção algo está te movendo até ela. O que te faz querer se aprofundar nela? Entenda qual é a raiz do seu impulso. É apenas simples curiosidade? Você conheceu alguém que pratica e achou essa pessoa legal o suficiente para entender mais do que ela faz? Alguém te inspira? Você está se movendo por alguma necessidade particular? Basicamente, aqui você precisa entender qual é a sua história. Raras pessoas vão ter um contexto familiar prévio para começarem na bruxaria. Mesmo aqueles que tem uma família profundamente espiritual, na maioria das vezes, não terão seus familiares chamando o que fazem de bruxaria, visto que é um termo que ainda carrega sobre si um peso social discriminatório muito forte. Então, primeiramente, entenda o que te move para cá.

Com isto feito é que você poderá definir melhor o que, baseado na sua visão, você quer com a bruxaria. Afinal, algo dentro das suas visões e do que te move desperta seu desejo. Você quer alguma coisa com a bruxaria. É autoconhecimento? É desenvolver sua espiritualidade? Ganhar poder? Ter mais dinheiro? Ser desejável? Você quer se proteger de alguma coisa? Quer se vingar de alguma coisa? As vezes as pessoa começam atrás de amor, as vezes apenas por estética, porque é bonito, porque de alguma forma está na moda, ou porque querem atender alguma demanda pessoal que se falassem em alto poderia soar egoísta ou até mesmo bobo. Identifique o que você pensa e o que você quer sendo sincero com você mesmo. Você tem que saber de onde está partindo antes de começar. Sendo esse ponto qual for.

Agora, em terceiro, é onde sua busca de fato vai começar.

Inicie justamente pesquisando o que a bruxaria é. Isto é a primeira coisa que você de fato deve saber. E a resposta será bem mais complexa do que você poderia imaginar num primeiro momento. Cada cultura ao redor do mundo e cada época da história humana definiu tanto a magia quanto a bruxaria e a feitiçaria de forma diversa e multifacetada. Muitas vezes todos esses termos se encontram como sinônimos e muitas vezes eles se distinguem de formas muito particulares. Esses são os primeiros pontos que você deve desenvolver. Nunca fique com uma definição só. Sempre procure no mínimo três visões diferentes para não começar sua jornada já com uma visão parcial e reducionista.

Você logo verá que, para realmente formular algum conhecimento nesta primeira tarefa, você terá que ter o mínimo de pesquisa cultural e histórica. Procure sim livros de História. Leia-os antes de ler livros de autores do meio esotérico e ocultista. Eu sei que muitas vezes nosso primeiro impulso é procurar autores do meio, mas confie em mim neste ponto, não comece por eles, comece por obras escritas por historiadores. A maioria dos livros do meio ocultista deixa muito a desejar no que se refere a pesquisa histórica porque a maior preocupação de muitos autores do meio é mais defender suas próprias vertentes e visões do que se aterem a veracidade dos fatos. Eles estão apenas vendendo o próprio peixe, e não necessariamente vão te ensinar a pescar. Se você tiver uma boa pesquisa histórica prévia, quando você começar a pegar de fato livros sobre ocultismo, será fácil identificar quais autores são bons e quais não o são. Então inicie tendo uma boa base histórica.

Uma excelente indicação que eu tenho para essa fase inicial é o livro História da Bruxaria de Jeffrey B. Russel e Brooks Alexander. Além de belissimamente ilustrado, sua leitura é fluida e agradável, dando um excelente contexto sobre a diversidade do que é a bruxaria e sobre quem historicamente é a figura da bruxa em diversas culturas e períodos até os dias de hoje, onde temos os movimentos do neo paganismo e o surgimento da Bruxaria Moderna após o fundamento da Wicca na década de 50 pelas mãos de Gerald Gardner.

Depois de terminada esta primeira busca, compare o que você sabe após o seu estudo com o que você pensava antes. Algo te surpreendeu? Foi muito diferente do que você pensava no começo? Alguma coisa mudou em você agora que você sabe melhor do que se trata a bruxaria? Você ainda acha que conseguirá com ela as mesmas coisas que você achava que conseguiria antes? Se algo mudou, tente identificar o que. Você pode querer parar neste momento, vendo que não era nada do que você esperava, e está tudo bem. Você pode querer continuar agora muito mais do que antes, e está tudo bem também. Se você quer continuar, procure escrever sua própria definição do que é tanto a magia quanto a bruxaria para você, agora que você tem bases mais firmes para isso. Eu, por exemplo, coloquei um pouco da minha definição aqui.

Agora, com as coisas um pouco mais claras diante de você, se pergunte se você ainda quer as mesmas coisas que você queria no começo. Talvez você precise ajustar seus desejos agora que você tem mais conhecimento. Descartando alguns e quem sabe até mesmo acrescentando outros. A definição do que para você é a bruxaria e o que você deseja com ela é essencial para estabelecer seu próximo passo que é a escolha da vertente ou da área mais adequada para os seus interesses. Nem todas vertentes terão a mesma visão do que é a bruxaria, então você precisa encontrar aquelas cujo ponto de vista se alinhe ao seu. Assim como nem todas as áreas de desenvolvimento da bruxaria servem para te ajudar com seus objetivos iniciais. Procure aqueles que te ajudarão de forma mais prática no momento. Se você não quer uma abordagem religiosa ou filosófica agora no seu início não faria sentido você entrar de cara na Wicca ou na Thelema, por exemplo. Apesar de serem fascinantes são correntes que te colocarão sua própria visão sobre o divino, com seus próprios dogmas, liturgias e iniciações necessárias.

Se alinhe a você mesmo através das visões e metas que você estabeleceu na sua primeira pesquisa.

Quase que sem notar, a partir de agora, você já começou seu caminho de forma consciente e prática. Você já sabe, ou pelo menos já faz ideia, de para onde ir e o que você quer fazer com mais propriedade. A construção dos seus próximos passos dependerá apenas das suas próprias metas e interesses. Encontre vertente, ou a área, que mais se alinha as suas necessidades e comece pelos seus autores de referência. Construa seu conhecimento aos poucos, sem pressa. Quando sentir que já dominou suficientemente a teoria vá fazendo pequenos experimentos práticos. Anote sempre seus resultados, ou a falta deles. Isso vai te orientar sobre o que dá ou não certo para você. Nem todo mundo é bom com tudo, e você só vai saber quais são seus pontos fortes colocando a mão na massa. Muitos bruxos são incríveis trabalhando com o Fogo, outros são muito melhores com o Ar. Temos entre nós necromantes maravilhosos, outros dominam diversos tipos de divinação com uma precisão quase que assustadora. Você pode descobrir que é muito bom com sigilos, ou com mantras. Assim como pode conhecer bruxos que são dotados de uma verdadeira mão de ouro, que sabem mover prosperidade como ninguém, bem como aqueles que naturalmente tem uma habilidade notável para curar e para amaldiçoar. Se colocando em movimento você naturalmente achará o seu lugar. E, a partir dele, tudo se tornará possível.

Até a próxima!

Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

Espiritualidade & Política

8FE5337C-A3D5-4191-AB87-E4E73D1179B5
Fonte: Arquivo pessoal

Existe um grande mito nos dias atuais de que aqueles que trabalham de alguma forma com a espiritualidade não podem colocar em seus discursos suas posturas políticas. Dentro deste mito a espiritualidade e a política não devem se misturar. E colocar em pauta lutas sociais conjuntamente ao exercício da espiritualidade seria, ou desvirtua-la, ou até mesmo cooperar para “trazer baixas energias” a sua prática. Algumas pessoas preferem de fato se manterem neutras, e conduzirem seu trabalho em suas plataformas sociais como se nunca nada acontecesse, para não prejudicar seu próprio engajamento ou perder público. Outras, usando suas vozes, optam por se posicionarem diante do mundo, independente daqueles que irão lhe seguir ou não.

Eu estou aqui como parte do segundo grupo.

Acredito firmemente que se me disponho a desenvolver minha espiritualidade ela não deva ser algo que me capture e me distancie do mundo ao meu redor. Somos seres políticos, vivemos em uma sociedade política, e dar as costas a isso não nos ajuda a sermos mais espiritualizados, apenas contribui a nossa alienação ao nosso meio. Se me coloco no mundo como cartomante e oraculista, disposta a exercer uma escuta ativa do outro e o ajudar em seus dilemas, quem seria eu se ignorasse que as pessoas que me procuram tem contexto e classe social? Quem seria eu se me recusasse a ouvir, de fato, as narrativas dessas pessoas inseridas nas condições sociais em que elas se enquadram? Que curadora seria eu se focasse só nas ditas boas energias quando eu sei que tem muito mais acontecendo?

Quem pode ter, no momento atual, a postura de não consumir más notícias sobre o cenário mundial para não “abaixar a própria energia” já se encontra numa posição de privilégio social muito grande, pois para muitas pessoas isso não é uma possibilidade. Para muitas pessoas as más notícias recheiam suas vidas, elas sendo consumidoras ativas de portais de notícias ou não. A realidade bate na porta de muita gente, não tendo retiro de paz e luz que as regate. Como uma espiritualidade que não quer sujar as mãos com as causas sociais pode ser vivida pelas minorias? Pelas pessoas na periferia? Elas não teriam direito a espiritualidade então?

Como já coloquei neste texto, onde explico um pouco mais da minha visão sobre o que é a magia e sobre o que é a bruxaria, não consigo ter nem sequer bases históricas para dizer que ambas não sejam aliadas a política e também as classes marginalizadas historicamente. A figura histórica da bruxa sempre foi temida por ser aquela que se vivia as margens, e que era perigosa por ser transgressiva, jamais por ser uma aliada conveniente do status quo. E o que temos hoje, no neopaganismo, é um resgate direto desta figura, dessas pessoas. Resgatamos esta posição de resistência, de questionamento, de luta, de forma que busque ser coerente com o mundo atual no qual vivemos. Com seus novos desafios, com suas novas dinâmicas, importâncias e potenciais. Quando deixamos este meio sem a representatividade e o peso político que ele devia ter o matamos em sua essência.

A bruxaria se coloca no mundo atual como um ponto de resistência tanto político como espiritual, onde podemos ter acesso ao conhecimento para criarmos nossa própria autonomia, para dar poder as nossas vozes, para construirmos um mundo melhor. É impossível a conciliarmos com uma postura passiva mediante a opressão, seja ela da forma e no nível que seja. Até porque, como diz a belíssima citação de Desmond Tutu, bispo sul-africano: “Se você é neutro em situações de injustiça, você escolhe o lado do opressor.”

Sejamos contra estruturas espirituais alienantes, nos levantemos contra todo tipo de preconceito. Sejamos antirracistas muito mais do que em nossos discursos, mas também em nossas ações perante nossa sociedade. Apoiemos os movimentos que lutam por igualdade de gênero, sejamos participativos em prol da causa LGBTQIA+ e a favor da liberdade de crença religiosa. Sejamos quem luta contra governos fascistas. Pois como bem se diz nos meios de matriz africana: O melhor ebó pra Orí é ter caráter.

Herbário – Alecrim

Processed with VSCO with f2 preset
Ramos de alecrim – Acervo pessoal

Sendo uma das ervas aromáticas mais versáteis e úteis tanto da culinária quanto na medicina, o alecrim tem seu nome herdado dos romanos, que o chamavam de rosmarinus, significando, em latim, orvalho que vem do mar, já que ele costumava crescer nos arredores das praias do mediterrâneo espontaneamente. Seu perfume forte e agradável também o faz ser muito apreciado na perfumaria e na cosmetologia pois contém tanino, pineno e cânfora, entre outros princípios ativos, que lhe conferem propriedades excitantes, tônicas e estimulantes da nossa memória. Quer saber mais sobre ele? Vamos lá!

Nome científico: Conhecido desde 1753 como Rosmarinus officinalis, seu nome científico passou por uma recente mudança por causa dos estudos da Royal Horticultural Society (RHS). Não considerando mais a diferença nos estames das flores do alecrim e da sálvia o suficiente para considerá-las plantas de espécies distintas, perante a ciência mais recente, agora temos nosso querido alecrim como Salvia rosmarinus, sendo considerado então uma variedade da sálvia.

Uso medicinal: Além das suas propriedades digestivas, diuréticas (reduzindo a produção de gases e aliviando problemas como azia, diarreia e constipação), e antidepressivas (ajudando também em casos de ansiosidade), o alecrim é largamente utilizado na aromaterapia pela sua habilidade de melhorar nosso sistema nervoso, fortalecendo nossa memória, nossa capacidade de concentração e clareza de raciocínio. Rico em ácidos antioxidantes como ácido rosmarínico, ele também pode ajudar a melhorar nosso sistema imunológico, prevenir infecções e melhorar a saúde da nossa pele.

Uso na magia: Com sua energia protetora e tônica, o alecrim nos equilibra, nos purifica, nos concedendo clareza e foco, tudo isso com uma alegria e um ânimo só dele! A força do alecrim nos traz ao momento presente, nos ajudando a agir, a nos colocarmos em movimento positivamente. Podemos contar com sua força para nos defender contra energias deletérias, para nos despoluir daquilo que nos prejudica, para equilibrar e fortalecer nossos ânimos quando estamos desanimados e apáticos, e para afiarmos nossas capacidades mentais.

Ideias de usos simples

  • Na Idade Média era parte da crença popular que colocar alguns ramos de alecrim dentro do travesseiro afastava maus espíritos. Se você tem problemas na hora de dormir, que tal tentar?
  • Na Antiguidade, alunos colocavam alguns de seus ramos atrás das orelhas para auxiliar durante exames. Já pensou em usar seu óleo essencial enquanto estuda e depois, durante suas provas? Afie sua memória e estimule seu raciocínio!
  • Sendo útil também na área amor, o alecrim pode conceder a energia da fidelidade nos encantamentos que fazemos em prol dos nossos relacionamentos. Dê uma chance a ele em seus próximos feitiços!
  • Anda sem vontade de fazer nada, se sentindo sem energia? Experimente segurar alguns ramos de alecrim entre suas mãos, inspirando seu perfume profundamente. Se concentre apenas no ritmo da sua respiração, nas batidas do seu coração e no aroma do alecrim. Tome o tempo que for necessário. Peça que o alecrim possa te equilibrar, te fortalecer, e sinta a energia calorosa e alegre do alecrim te confortando. Agradeça e, com carinho, o devolva a terra.

Banho de alecrim

Aqui trabalharemos ao mesmo tempo com limpeza, proteção e energização. Com uma erva só? Sim! Ferva em média um litro de água e, assim que o líquido estiver em ebulição, coloque três ramos de alecrim fresco ou 5 colheres de alecrim seco na água. Diga:

”Que de mim todo o mal seja eliminado, através do poder destas águas. Um escudo se ergue ao meu redor, pelo poder do alecrim. Eu me ergo, me rejuvenesço e me refaço. A luz, o poder e a felicidade fluem em meus caminhos, e o crescimento de tudo que me beneficia segue meus passos. Sou forte, sou feliz, pela virtude do alecrim, sou abençoado.”

Apague o fogo, tampe a panela, e deixe esfriar por pelo menos meia hora, ou até que o líquido esteja numa temperatura agradável para a sua pele. Coe, devolvendo as ervas a terra, e leve a água para o seu banheiro. Tome sua ducha higiênica como de costume e, depois, jogue o banho de alecrim da sua cabeça para baixo, se imaginando ficar maior, mais vigoroso e resplandecente enquanto a água desce pelo seu corpo.

Um pequeno feitiço de proteção

Aqui usaremos apenas uma vela palito de cor branca e um punhado de alecrim, seja fresco ou seco. Coloque a vela em um suporte seguro e, ao redor dela, faça um pequeno círculo com o alecrim. Acenda a vela e, com ambas as mãos espalmadas em direção a chama, de forma que você sinta seu calor, diga:

“Aqui se ergue uma barreira de fogo cujo poder nada pode desafiar. Alecrim, forte e corajoso, através desta chama te desperto e convoco. Que seu escudo seja uma labareda a consumir tudo que procurar me prejudicar. E que a sua força seja meu archote na escuridão. Neste calor afio meus sentidos e desperto meu poder. Pelas flamas abençoado estou, e por elas protegido sempre estarei.”

Visualize a si mesmo dentro de uma bolha de fogo vivo e dinâmico, cada vez mais forte, cada vez mais intenso. Quando suas mãos estiverem suficientemente aquecidas, as coloque sobre seu coração, absorvendo o calor e selando a absorção da magia em seu próprio corpo. Agradeça, deixe a vela se consumir até o fim e o que sobrar das ervas, deposite na terra agradecendo.

E aí? Conhece outros usos do alecrim? Conta pra mim!

Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

Herbário – Louro

Processed with VSCO with c1 preset
Ramo de louro – Acervo pessoal

Sim, aquele mesmo que usamos tanto em nossas cozinhas! Seja no feijão, em alguns molhos, na carne ou em sopas, o louro é uma das ervas mais versáteis e poderosas que temos em nossas casas. Vamos ver um pouco mais sobre ele?

Nome científico: Laurus nobilis lauraceae

Uso medicinal: Rico em potássio, magnésio, e nas vitaminas A, C, B6 e B9, ele é muito conhecido pela sua ação digestiva, diurética, antifúngica e anti-inflamatória.  Medicinalmente ele é largamente usado no tratamento de diversos problemas digestivos. Contendo um composto chamado eugenol, muito usado em medicamentos anti-inflamatórios, ele também pode ter efeitos analgésicos, usado não só em inflamações como também contra cólicas. Seus usos vão até mesmo para auxiliar no tratamento de casos de estresse e ansiedade.

Uso na magia: Sendo uma das ervas mais usadas para prosperidade, o louro carrega, na verdade, a energia da boa sorte. Sabe aquele empurrãozinho que a gente precisa para conseguir realizar alguma meta, algum desejo? Aquele toque de sorte que garante que nossos pedidos se concretizem? É disso que falamos aqui. Tanto para chamarmos a fartura para nossas vidas quanto para termos sucesso, é o louro que pode nos abençoar. Quem nunca ouviu a expressão ”os louros da vitória”, não é mesmo? Sua energia pode fazer toda diferença entre a conquista, a vitória, e a falta dela. Mas seu poder vai muito além disso. Sendo também uma erva de purificação, o louro pode remover de nós energias que nos atrapalham, bem como desfazer magias lançadas contra nós. Seu perfume, quando queimado no fogo ou em carvões, além de purificar ambientes e conceder proteção pode também fortalecer nossa vidência e clarividência, trazendo tanto sabedoria quanto clareza mental. Tornando assim o que captamos e vemos menos nebuloso e incerto. Aliás, seu uso como auxiliar das videntes vem desde a Grécia Antiga.

Mitologia: Na mitologia grega temos sua origem dentro do mito da ninfa Dafne, filha do rei Peneu. Conta a história que Apolo, deus do Sol, da Luz, da Cura, da Poesia, da Música, da Profecia e da Beleza, desdenhou de Eros, filho de Afrodite, dizendo que sua habilidade com o arco e a flecha eram muito melhores do que as do jovem deus da paixão e do amor erótico. Como retaliação, Eros atingiu Apolo com uma das suas flechas cheias de desejo, o induzindo a se apaixonar perdidamente pela ninfa. Enquanto a paixão atingia Apolo, Eros voltou suas flechas de chumbo contra Dafne, a fazendo o rejeitar determinantemente. Fugindo das investidas do deus, Dafne pede auxílio ao seu pai, que a transforma no loureiro. Apolo, ao descobrir o que acontecera, decide então, já que nunca poderia a ter como mulher, a transformar em sua árvore sagrada, a abençoando com diversos dons, e passando a sempre carregar suas folhas e ramos consigo. Era mascando folhas de louro e bebendo a água de uma fonte sagrada que as pitonisas, sacerdotisas de Apolo, proferiam suas profecias no famoso Oráculo de Delfos.

Feitiço Simples

Uma das formas de magia mais simples e eficazes que podemos fazer com o louro é escrever o que desejamos com palavras chave em suas folhas (por ex. amor, saúde, prosperidade, proteção, etc) e queimá-las na chama de uma vela branca enquanto visualizamos nosso sucesso. Podemos tanto pedir a benção e a ajuda das nossas divindades e guias neste momento quanto apenas usar a pura energia do louro, apenas por ela mesma. Se você não tiver velas, pode queimar algumas folhas dentro do seu caldeirão ou de uma panela antiga. Só nunca se esqueça de firmar bem suas intenções e ser claro na sua visualização da conquista daquilo que você está pedindo.

Defumação

Como já citado, quando jogamos as folhas secas do louro sobre carvão em brasa, sua fumaça pode trazer purificação, proteção, benção espiritual e clareza mental, nos ajudando a fluir melhor em nosso contato com o plano espiritual e com nossa própria vidência. É comum que a limpeza feita pelo louro deixe uma sensação boa no ambiente, trazendo aquela sensação de calma, segurança e conforto.

Amuleto para Sonhos

Aqui a dica também é muito simples. Pegue pelo menos três folhas grandes de louro em suas mãos e, com calma, sentindo o aroma delas, peça, com suas próprias palavras, que o poder do louro possa proteger sua consciência e seu espírito enquanto você dorme. Pode as colocar num saquinho, ou mesmo dentro da fronha do seu travesseiro, antes de se deitar. Se, além de proteção, você desejar ter alguma visão em seus sonhos, também é só pedir ao espírito do louro, antes de o colocar sob o travesseiro. Relaxe, e durma bem.

Chá de Louro

Aqui podemos nos beneficiar tanto de suas propriedades medicinais quanto espirituais. Para auxiliar na digestão, agir contra gases e reduzir inflamações no fígado podemos tomar duas xícaras por dia, sendo de 3 a 4 folhas por 200ml de água fervida. A mesma proporção de água e de folhas pode ser utilizado para criarmos chás pré rituais, aumentando nossa sensibilidade para sentir e compreender com mais clareza o que recebemos do espiritual.

Se o uso for mágico, evite adoçar. Espere a água ferver, jogue as folhas, desligue o fogo e abafe até estar numa temperatura no qual você possa o consumir. Pode tomá-lo meia hora antes dos seus rituais, e também das suas práticas divinatórias para aguçar sua percepção extra sensorial, segurando a xícara entre suas mãos e consagrando o chá ao dizer: ”Que a força e a benção do Louro possam agora brilhar em mim, me trazendo clareza, fortalecendo minha intuição e meus dons espirituais. Que eu veja, que eu sinta, que eu compreenda.”

Contra indicativos: Temos que ter cautela com o louro, principalmente em forma de chá, quando nos referimos a gestantes ou lactantes. Apesar de seus efeitos medicinais anti-sépticos e digestivos, não abuse. Em excesso o louro pode provocar sonolência e, dependendo da dosagem, intoxicação. Como sempre, a diferença entre o veneno e o remédio está sutilmente escondida na forma como o utilizamos, seja prudente.

E aí? Conhece outros usos do louro? Conta pra mim!

Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

A Magia das Sereias – Uma receita para incitar desejo

Processed with VSCO with c1 preset
Carta Divine Sensuality do Oracle of the Mermaids de Lucy Cavendish

Quando falamos das sereias, belas e encantadoras criaturas mitológicas metade peixe e metade humanas, a sedução costuma ser uma das primeiras coisas ao qual nossa mente nos remete. Afinal, associadas fortemente a beleza e ao fascínio, não faltam mitos onde o poder de atração delas, tão poderoso e hipnótico que chega a ser inebriador, é razão tanto de felicidade como também de ruína.

Foi vasta a utilização de sua imagética, ao longo das épocas, como símbolo da tentadora. E como alerta contra os perigos de se ceder aos próprios desejos e impulsos sexuais. Nossa relação com elas refletiu, durante muitos anos, como própria sexualidade humana foi, durante muito tempo, suprimida e tida como perigosa pelas normas e cultura de diversas sociedades. Os resultados dos tabus criados respingam em nós até hoje na forma de culpa, medo e preconceitos.

Felizmente sendo invulneráveis as morais e limitações humanas, livres e selvagens dentro de seus potenciais magnéticos e encantadores, as sereias ainda hoje podem nos ajudar muito tanto em nossa auto estima, nos auxiliando em nossa relação com nossos próprios corpos, com nossa noção de eu, e com nossas dificuldades em dar e receber prazer, como também podem ser grandes professoras, nos ensinando as artes do prazer e da sensualidade. As diversas possibilidades sensoriais que possuímos em nossos corpos para sermos estimulados jamais deveriam ser tolhidas. Bem como a liberdade que temos em amar quem desejamos, da forma como desejamos e quando desejamos. Tanto o amor quanto a sexualidade são sagrados, fontes de vida e de felicidade. E devem assim ser vistos e explorados por todos nós.

A receita a seguir foi formulada para estimular e aquecer a dinâmica entre duas pessoas, independentemente da orientação sexual de ambas. Se você deseja trabalhar mais sua sexualidade junto com seu par, indo até novos patamares, siga sem medo e aproveite.

Atenção: Esta receita de forma alguma atuará como uma amarração. Ela é destinada a intensificar a química e o prazer de um casal já existente e estabelecido. Para conquistar novos interesses e pretendentes haverão outras receitas aqui no blog.

Vamos lá?

O Mel da Luxúria

Ingredientes: 

  • Uma vela cor de rosa
  • Um cálice com água potável
  • Um pilão
  • Mel puro
  • Seis rosas vermelhas (Rosa spp)
  • Hibisco (Hibiscus sabdariffa)
  • Damiana (Turnera ulmifolia L.)
  • Canela (Cinnamomum)
  • Gengibre (Zingiber officinale)
  • Algum recipiente de vidro que você tenha para guardar o mel já preparado
  • Opcional: Um bom vinho tinto

Modo de preparo:

Em uma noite de lua crescente se recolha em um espaço onde você tenha paz e privacidade e organize todos os ingredientes ao seu redor de forma prática e esteticamente agradável. Se você possuir alguma representação das sereias pode a incluir perto das flores. Se não tiver, tudo bem. Respire fundo, procure se centrar e então, com calma, acenda a vela em um suporte seguro. Perto dela, segure o cálice e, com os dedos indicador e médio da mão com o qual você escreve, trace suavemente círculos na superfície da água enquanto diz:

“Sereias, navegantes e regentes da força e dos mistérios de todos os oceanos. Chamo, nesta noite, aquelas dentre vocês que, vindas de paradisíacas paisagens, possam me ajudar. Intento, com amor e sinceridade, trabalhar com mais intensidade a paixão e a libido dentro do meu relacionamento, pois nosso amor é sincero e verdadeiro. Que aqui eu possa despertar os anseios, a sede e a lascívia. E que eu possa fazer fluir, de forma livre e arrebatadora, o desejo e a volúpia. Que as Senhoras da Sedução possam me abençoar e guiar neste momento.”

A partir de agora, deixe o cálice perto da vela e diga a elas, com mais clareza, qual é o calor você deseja despertar. O que você de fato quer que aconteça entre você e seu par. E como você quer que aconteça. Não precisa sentir vergonha, a sinceridade aqui é essencial. A receita estimulará exatamente o que você pedir então seja uma pessoa esperta. Se você é alguém muito inibido, pode pedir a ajuda das sereias para pensar e se expressar.  Seja honesto sobre como você gostaria que as coisas passassem a fluir entre você e a pessoa com o qual você se relaciona.

Pegue o pirão e dentro dele coloque de seis a doze colheres de mel. Diga em voz alta e clara, onde você deseja a doçura melíflua dele atue. Acrescente três pitadas de damiana, falando como você quer que a paixão se aprofunde e se manifeste. Coloque uma colher de hibisco descrevendo o prazer sensorial que você quer que aconteça. Acrescente apenas três pétalas de rosas, para que o afeto seja ardente. Coloque, se você tem canela em pó, três pitadas, se a tem em paus, três pedaços pequenos, falando do calor, do movimento, da ação dinâmica que você deseja. Com o gengibre, o mesmo. Três pitadas se for em pó, um pequeno pedaço se for em raiz, falando de como você deseja agir e de como você deseja a iniciativa do outro. Afinal, não adianta apenas ambos sentirem desejo, é necessário que aja o impulso inegável para concretizar o que se quer e o que se sente, e a canela, trazendo calor, e o gengibre, inspirando o ânimo, agem impulsionando essa ação e essa iniciativa. Enquanto a damiana, o hibisco e as pétalas de rosa vermelha trazem o furor da excitação, dentro da doçura e do prazer proporcionado pelo mel.

Comece a trabalhar os elementos no pilão, sempre pensando e firmando sua intenção de forma clara e direta. O hibisco naturalmente desprende uma coloração avermelhada quando manipulado, pile até que o mel esteja bem vermelho. Se você optar por incluir o vinho na receita, o coloque no final. Apenas três colheres. Intencione nele que sua energia deixe você e seu par inebriados, bêbados, no prazer e no êxtase que podem proporcionar um ao outro.

Coloque o conteúdo do pilão no frasco de vidro que você reservou. A partir de agora, por mais sete dias, todos os dias você irá ir até o frasco e irá mexer a mistura pensando nos momentos maravilhosos que você quer acontecendo. No sétimo dia, após a mexer pela última vez, pode coar a mistura e reservar no frasco apenas o mel temperado. Você pode usá-lo para adoçar bebidas, dentro da receita de doces, que você e seu par consumirão, pode passá-lo nos lábios, ou pelo corpo, para ser consumido pelo seu amor. Use a imaginação e desfrute cada bom momento possível e imaginável.

Oferte as rosas restantes como um presente de agradecimento as sereias. Se despeça delas com carinho e educação. Guarde o que restou do que você usou, despejando com gratidão a água da taça na terra de alguma planta que você possua. Você pode deixar as rosas no seu quarto, ou no quarto do casal e, quando estiverem para murchar, pode deixá-las, sempre agradecendo, aos pés de uma bela árvore, ou perto de rios limpos e nascentes de água. Se isso não for possível a você peça a elas que sussurrem em sua intuição o que fazer. Boa sorte!

Obs: Sendo uma receita para consumo, se certifique de conseguir cada item de fontes idôneas e que garantam uma boa qualidade em seus produtos. Muita vezes o que é vendido nos mercados comuns não se trata de mel puro mas sim de um melaço vendido como mel. Fique atento. Canela e gengibre são mais fáceis de se encontrar, hibisco e damiana não são raros em casas de produtos naturais como ervas usadas em chás medicinais (ambas muito conhecidas na medicina alternativa por seus efeitos estimulantes e afrodisíacos). Apenas nas rosas, tenha o cuidado de procurar por fornecedores que não utilizem agrotóxicos em seu cultivo, para não arriscar sua saúde consumindo as toxinas que podem se impregnar nas pétalas. Apesar de todas rosas serem comestíveis, quando nos atentamos a sua segurança alimentar, as mais indicadas para o consumo são as que exalam mais odor, como as selvagens Rosa rugosa, Rosa damascena, Rosa canina e Rosa centifolia.

 

 

A Magia das Sereias – Rituais para o primeiro contato

Processed with VSCO with t1 preset
Fonte: Arquivo Pessoal

Após vermos um pouco mais sobre quem seriam as sereias neste texto, vamos aqui colocar nossas mãos na água e ir para a parte prática! Aqui se encontrarão pequenos rituais, bastante intuitivos, para que você possa iniciar seu contato com estes seres espirituais tão incríveis e poderosos.

Como criaturas do Elemento Água, assim como as Ondinas, as sereias são geralmente muito sensíveis. Ressabiadas, podem demorar um pouco para surgir e para construir confiança com aqueles que elas ainda não conhecem. Vá com calma, seja gentil, prudente, e sincero. Mais temperamentais do que as próprias Ondinas, elas são o tipo de ser com o qual não é recomendado que você seja desrespeitoso ou desonesto de forma alguma. Se você for até elas, vá com seriedade. Com fé. E, principalmente, com muito carinho.

Nosso primeiro ritual exigirá poucos ingredientes. Numa noite de lua nova separe:

  • Uma vela azul clara
  • Um recipiente de vidro transparente grande o suficiente para que você possa imergir ambas suas duas mãos nele
  • Flores frescas diversas (dê preferência para aquelas de tons mais claros, ou até mesmo para as brancas)
  • Água potável
  • Um copo de vidro
  • Sal grosso

Comece colocando água e três colheres de sal grosso no copo. O segure entre as suas mãos e visualize uma luz azul intensa e brilhante tomando conta do seu conteúdo, irradiando através de suas palmas e dedos. Trace, com os dedos indicador e médio da mão com a qual você escreve, um pentagrama na superfície da água e diga: “Que se desperte aqui pureza e proteção, capazes de colocar uma boa guarda em ação. Espírito da água, me guie em benção e sustentação.” 

Com os dedos ainda molhados, forme um círculo ao redor da área que você usará para fazer o ritual. Pode ser um cantinho aconchegante que você montou no chão ou mesmo uma mesa. Apenas garanta que a visualização do círculo formado, na luz azul da água, esteja claro em sua mente antes que você comece. Coloque o copo próximo ao recipiente de vidro escolhido para o ritual, organize as flores, e acenda a vela próxima. Diga: ”Que a luz possa através das águas e de todos seus reinos brilhar, atraindo a este espaço sagrado apenas as energias que possam aqui hoje amigáveis a mim estar.”

Agora, volte sua atenção ao recipiente de vidro. Com cuidado, mova seus dedos sobre a superfície da água como se abrisse uma cortina. Respire profundamente no mínimo três vezes, então diga: “De longe, da terra seca, canto a aquelas cujo poder estremece e comanda os mares. Cuja beleza assombra e seduz. Volto meu espírito as sereias, guardiãs e detentoras dos segredos dos sete oceanos. Ouçam minha voz, atendam o meu chamado, e que a partir desta noite eu possa, aos poucos, aberta a suas energias e contato ser.” 

Gradualmente vá colocando as flores na água, como uma oferta sua as sereias. Pode as colocar inteiras ou apenas as pétalas. Converse com as sereias, cante, tente sentir as energias a sua volta e esteja receptivo. Pode demorar o tempo que for necessário, sem pressa. Mesmo que você não consiga sentir muito, quando tiver terminado, sussurre a água, entre as flores, que agora você confia seu pedido as Águas, e que seguro seu contato e energia estão.

Agradeça, se levante e, novamente com os dedos indicador e médio da mão com a qual você escreve molhados na água do copo com sal grosso, desfaça o círculo que você traçou ao seu redor no começo do ritual. Pode dispensar essa água salgada, sempre agradecendo pela proteção que te foi garantida. Pode deixar a vela queimar até o fim e a água da vasilha com as flores você pode dispensar próximo a uma nascente de água ou rio limpo. Se isso não for possível para você, pode fazer sua dispensa na terra, num vaso bonito que você tenha ou nos pés de uma árvore sem espinhos.

Fique de olho nos seus sonhos pelo menos pelos próximos sete dias já que, como seres astrais, as sereias costumam nos dar respostas e sinais através das ondas imaginativas do nosso subconsciente dormente.

O segundo ritual é uma indicação que vocês podem encontrar no livro Water Witchcraft: Magic and Lore from the Celtic Tradition de Annwyn Avalon, no capítulo 8, Mermaids and Finfolk. Mais voltado aos costumes e a mitologia europeia, aqui temos um exercício muito interessante, que se utiliza da magia dos pentes para chamar a atenção das sereias. Como é realizado ao ar livre, é o ritual perfeito para aqueles que tem acesso ao mar ou a algum rio limpo, perto de suas casas.

Primeiramente, encontre um pente, ou escova, que você deseje separar apenas para trabalhos mágicos. Você pode o abençoar com água de rosas ou mesmo com um perfume que você goste. O importante é que ele esteja limpo e seja de um material resistente a água. Com ele em mãos, vá até o mar. Rios e lagos limpos também podem servir. Sente-se na água, respire fundo, e comece a “pentear” as águas suavemente. Cantarole, ou murmure, alguma melodia agradável enquanto o faz, até que você se sinta entrando em um estado meditativo.

Quando você já estiver em um estado de consciência calmo e profundo, diga: ”Sereias do mar, que por tanto tempo se ocultaram de mim, sereias da maré, venham até mim, e não se escondam mais. Sereias do oceano, no acariciar das mais delicadas ondas, conceda-me esta bênção” 

Se afaste um pouco da água e sente-se agora no chão seco, ainda delicadamente cantarolando, e feche os olhos. Se imagine no fundo do oceano, sentado, chamando as serias para mais perto em seu coração. Neste primeiro contato, pode ser que elas receiem em chegar muito perto, afinal, você é uma presença desconhecida para elas. Vá com calma, apenas observe. Se alguma delas se aproximar, seja muito educado e polido. Não vá em nenhum passeio com elas ainda, mesmo se sentir o desejo. Se despeça apropriadamente após um tempo e volte outros dias para repetir o processo. Aos poucos, dia após dia, você estabelecerá um contato mais firme com elas.

Seja qual for o método que você tentar, tenha a gentileza e a paciência como constantes. Apesar de fascinantes, as sereias não são seres com os quais podemos brincar levianamente. Seja cuidadoso e respeitoso sempre.

Quer saber de mais algumas coisas que você pode usar para trabalhar com elas? Só clicar aqui.

Até mais!

Elementais da Natureza – Os Tritões

Processed with VSCO with c1 preset
Cartas do Tarot of the Mermaids de Lo Scarabeo

Quando pensamos nos habitantes dos mares, meio peixe e meio humanos, normalmente a imagem mental a qual nos remetemos é a das sereias. Lindas e deslumbrantes, hipnóticas, como são. Raramente vamos pensar em figuras masculinas. Se o fazemos, na maioria das vezes, nos remetemos ao deus grego Poseidon, ou em figuras similares. O Elemento Água, tido como muito feminino e sensível, não parece num primeiro momento também possuir em si outras faces. E esta é uma impressão que precisamos remover de nós mesmos.

Assim como os outros Elementos e forças que regem nosso Universo, a Água possui em si energias arquetípicas diversas. E todas são importantes para seu mantimento e para a sua natural pluralidade. A Água possui, nas facetas masculinas que vemos nela, fluidez, fertilidade e ferocidade, muito além dos estereótipos de gênero aos quais, enquanto sociedade, nos prendemos. Suas criaturas e seres possuem muito para nos ensinar, se estivermos dispostos a nos abrir para o seu contato. Dentre toda a diversidade dos habitantes dos mares, falaremos hoje dos tritões.

O nome Tritão vem da mitologia grega antiga, onde temos sua figura mítica como o filho de Poseidon com sua esposa Anfitrite. Meio peixe e meio homem, ele é tido como um rei dos mares, sendo comumente mensageiro de seus pais, acalmando as ondas para que a carruagem de Poseidon possa passar sem causar nenhuma calamidade. Muito ligado a música, usaria diversos tipos de conchas, como os búzios, para produzir suas melodias. Enquanto seu pai é muito famoso por causar tempestades e terremotos terríveis, Tritão acalma as águas, não sendo raro que ele seja descrito salvando navios juntamente com as Nereidas. Temos sua presença também no mito dos Argonautas, onde ele indica aos heróis a melhor rota para atingirem o Mediterrâneo. Podendo também ter facetas mais bravias, contam alguns mitos que, em meio a uma celebração em honra a Dionísio, grupos de mulheres teriam sido atacados por ele em um lago. Ouvindo os pedidos de socorro femininos, Dionísio teria então surgido para salvá-las dos avanços de Tritão.

Após suas lendas, alguns seres também foram nomeados homônimos a ele, tendo sido tidos como seus filhos e descendentes. Sendo muito famosos por, assim como as próprias sereias, assombrarem marinheiros. Com suas trompas de conchas podiam tanto produzir sons medonhos e assustadores quanto também melodias de uma beleza inigualável. Sua presença no imaginário popular se consagrou com tal força que costumamos, como falantes de línguas latinas, ter seu nome como o que designa todo gênero masculino da espécie das sereias. Diferentemente do inglês, por exemplo, onde teremos para os designar merman (homem do mar) e mermaid (dama do mar).

Muito longe de nos limitarmos apenas a mitologia grega, temos os vetehinen na mitologia finlandesa, seres meio homens e meio peixes que poderiam amaldiçoar ou abençoar aqueles que pediam seu auxílio. Na Ilha de Man, entre a Grã Bretanha e a Irlanda, temos relatos de seres parecidos sob a nomenclatura de dinny-mara, e na Dinamarca termos os  havman ou havmand (havstrambe na Groenlândia) que são descritos como belos homens com longas caudas de peixe, às vezes tendo também pele azul e cabelo e barba negros ou verdes. Em terras brasileiras temos diversas lendas sobre o Boto, principalmente na região amazônica, sendo um encantado, famoso por seduzir mulheres em festas ribeirinhas.

Ao lado dos tritões, predadores e feiticeiros do alto mar e das águas, podemos entrar em contato com uma noção de masculinidade tanto feroz quanto e sedutora. Eles podem, se assim o desejarem, nos ajudar em nossas proteções, nos ensinar nas artes dos diversos tipos de combates energéticos, e nos guiar através do potencial ilimitado da magia oceânica. Como seres diversos e plurais, eles podem ampliar nossa percepção e entendimento sobre a própria noção do que é a masculinidade em si. Equilibrando essa energia, o animus, nas mulheres, guiando pessoas trans não binárias para diversos exercícios de exploração pessoal e auxiliando os homens a entrarem em contato consigo mesmos num nível muito mais profundo. O exercício a seguir é apenas um ponto de partida daquilo que pode ser trabalhado e compreendido ao lado deles. Siga, se assim desejar, e boa sorte!

Processed with VSCO with g3 preset
Fonte: Arquivo pessoal

Honrando o masculino

Em uma noite de lua negra ou nova, separe os seguintes ingredientes:

  • Um cálice com vinho tinto.
  • Uma vela azul escuro, ou verde escuro.
  • Um recipiente de vidro com água do mar ou água potável.
  • Sal marinho ou grosso.
  • Uma pedra de Quartzo Fume.

Coloque três colheres de sopa do sal escolhido em um copo com água. Com a ponta dos dedos indicador e médio, suavemente, trace um pentagrama em sua superfície, dizendo: ”Água, fonte de vida, sal, alimento e sustento, despertem agora. Unam seus poderes e concedam ao local onde me estabelecerei a purificação e a proteção na medida exata que for necessária para o meu ritual esta noite.” Se conduza ao local onde você fará o rito e, com a ponta dos dedos, aspirja o líquido por toda a área. Enquanto o faz, imagine que as gotas de água se iluminam por uma suave luz branca, purificando e trazendo paz, harmonia, e segurança por todo o ambiente.

Quando você sentir que a energia já está bem balanceada e segura, coloque os ingredientes organizados ou no chão, de forma que você possa se sentar diante deles, ou numa mesa que você possa usar. Se você for fazer o ritual no chão, é bom cobri-lo com alguma manta, para que você fique mais confortável. Apague as luzes e, com o copo de água salgada ainda em mãos, coloque os dedos indicador e médio da mão com o qual você escreve nela. Respire fundo, e imagine que seus dedos captam o brilho claro e poderoso da água. Quando a visualização estiver forte e nítida, retire seus dedos do líquido e, com eles, trace um círculo ao seu redor. Imagine ele sendo traçado na mesma luz que seus dedos absorveram da água. Diga: ”Um círculo de proteção agora eu traço ao meu redor, de forma que nada que não for convidado ou benéfico a mim possa aqui me ver ou me alcançar.” Visualize o círculo formando uma bolha levemente luminosa ao seu redor, e que ali dentro você está seguro.

Sente-se, coloque o copo por perto, e acenda a vela próxima a vasilha de água. Usar água do mar nela é o mais ideal, no entanto, se você não possui essa possibilidade, pode usar água potável tranquilamente. Novamente com a ponta dos dedos, comece a traçar círculos na superfície da água. Respire fundo, procure relaxar, e quando estiver centrado, diga: ”A água corre e desliza por rios e prados, passa por riachos e lagos, segue por dentro e por fora da terra, até chegar no mar. Em suas diversas trilhas, por seus diversos caminhos, eu envio minhas ondulações, até que encontrem, que cheguem, em quem possa me guiar. Tritões, sábios e misteriosos senhores, se guiem pelo farol da luz, e me sussurrem o que eu busco saber.” 

Agora, com a ponta dos dedos de ambas as mãos, faça um movimento nas águas como se abrisse uma cortina. Com o portal nas águas agora aberto, procure falar o que você deseja saber e entender sobre a energia masculina em si. Quais são as crenças que você tem sobre o que é a energia masculina? Quais são as referencias de homens que você tem? Qual foi a primeira delas? Se ainda vive, como é a sua relação com essa pessoa nos dias de hoje? O que você aprendeu com ela? Quais são suas últimas referências masculinas, atualmente? São diferentes ou parecidas com as primeiras?

Quando você pensa no masculino, quais são as três primeiras palavras que vem a sua mente? Por quê são justamente essas? Você se guia por estereótipos quando pensa no que um homem é ou deveria ser? Se você for homem, consegue se lembrar de quem você era antes que a sociedade ao seu redor te ensinasse como você deveria ser? Quando você se olha no espelho, quem é você? Por qual motivo você age e se coloca no mundo da maneira com o qual o faz? Gostaria que fosse diferente? Se absolutamente nada fosse esperado de você de agora em diante, quem você escolheria ser? Como se comportaria, como se vestiria, como amaria, como levaria sua própria vida?

Tenha tempo para pensar com calma em cada uma dessas questões. Não tenha pressa. Segure a pedra de quartzo fume entre suas mãos, perto do seu coração, e feche os olhos. Se imagine no meio do oceano, entre uma vegetação vívida de algas, e chame pela força dos tritões. Peça que eles te ajudem a meditar sobre todas essas questões. Pode ser que algum deles venha conversar, pode ser que você só sinta a energia deles por perto, guiando seus pensamentos. De qualquer forma, abra os olhos depois de um tempo e, colocando a pedra dentro da água da vasilha, diga: ”Que se purifiquem minhas antigas ideias, dando espaço a um novo foco e uma nova sabedoria. Tritões, pelos próximos sete dias, me guiem pelo o que a energia masculina que vocês possuem pode me ensinar.” Agradeça, ofereça a taça de vinho como uma demonstração da sua gratidão, e medite por pelo menos mais uns dez minutos. Tenha esse tempo tanto para que eles possam estabelecer contato com você como também para que você analise um pouco mais todos os pontos que foram vistos.

Quando terminar, recolha a pedra. A mantenha sempre próxima ao seu corpo pelos próximos sete dias, já que ela será o foco irradiador da energia dos tritões perto de você. Com suavidade, faça movimentos como se fechasse, com a ponta dos dedos, o portal na água que antes foi aberto, sempre agradecendo, dizendo que agora encerra suas atividades. Pegando novamente o copo de água salgada, faça a mesma visualização dos seus dedos indicador e médio captando a energia pura que ali está. Se erga e, na direção contrária a aquela no qual você traçou o círculo pela primeira vez, gire seus dedos novamente no ar, imaginando que a bolha de energia ao seu redor se desfaz, dizendo: ”Que o circulo possa esvanecer, mas que sua proteção sempre esteja comigo. Agradeço a todos que aqui comigo estiveram e me ajudaram e que assim seja.”

Pode descartar, sempre agradecendo, tanto a água salgada do copo quanto a da vasilha. A vela, se ainda estiver acesa, pode ser apagada para ser utilizada com os tritões em outras ocasiões. O vinho pode ser libado perto de uma nascente ou rio não poluídos ou na terra. Anote os insights que teve, se puder, e descanse. É comum que, após um primeiro contato ter sido estabelecido, os tritões ou apareçam ou mandem mensagens através de nossos sonhos para nossas análises. Fiquem atentos, e bom ritual a todos.

Estudos do Tarot – O Mundo

Processed with VSCO with t1 preset
A carta O Mundo no Tarot de Rider Waite

Também podendo ser chamado de O Universo ou A Terra, no Arcano O Mundo temos a colheita e a conclusão de nossas jornadas e esforços. Aqui temos a integração, a realização, e a conclusão bem sucedida dos objetivos pelos quais duramente já trabalhamos.

Nas diversas formas que temos de representar esse Arcano nos dias de hoje, nos mais diversos tipos de baralho, sempre encontramos alguns pontos em comum como, por exemplo:

  • A presença de uma serpente mordendo a própria cauda ou circulando a representação do nosso planeta.
  • Animais, seres ou símbolos representando os Quatro Elementos nos cantos da paisagem da carta.
  • Nuvens ou uma visão do céu aberto.
  • É comum ter uma figura nua, com uma das pernas dobradas, ao centro.
  • Sempre é colocado como o Arcano de número 21.

Processed with VSCO with t1 preset
Diferentes representações da carta O Mundo no Tarot dos Orixás de Zolrak, no Tarot de Rider Waite e no Tarot Mitológico (na figura mítica de Hermafrodito)

No movimento circular do Ouroboros, o símbolo da serpente sempre mordendo a própria cauda, encontramos o princípio cíclico da eternidade. A mobilidade, a continuidade, a auto fecundação e a integração. No fim de cada uma das nossas peregrinações encontramos a semente e o potencial que irá alimentar e fecundar nossas próximas jornadas. Nossos círculos se fecham e se alimentam uns nos outros, num processo espiral de evolução e reconstrução constante. Hen to Pan, o Todo está no Um e o Um está no Todo.

Nas figuras nos quatro cantos do Arcano encontramos diversos símbolos, podendo indicar e simbolizar a maestria dos Quatro Elementos e da natureza em si. Graça, inteligência, amor, riqueza e força, todas estão aqui. A figura humana no centro, quando surge, nunca é completamente feminina e nem sequer completamente masculina pois é uma representação neutra de toda a humanidade. Ela representa a todos nós, independente de nossos gêneros, orientações ou diferenças. Aqui estamos em nosso potencial máximo, ilimitado, pois encontramos o perfeito equilíbrio entre nossa anima e o nosso animus, integrando de forma plena e satisfatória todos os níveis de nossos espíritos.

O bastão que a figura segura é um condutor de energias, demonstrando poder e comando sobre tudo aquilo que se conquistou. A capacidade que temos quando, chegando no topo, escolhermos o que fazer com o que está em nossas mãos. A perna, estando dobrada, demonstra que a figura, dotada de todo poder e sabedoria que possui, está pronta para dar seu próximo passo. Para onde ela irá? Para onde iríamos se estivéssemos em seu lugar? Se em cada fim se encontra um novo começo agora saltamos até o verdadeiramente extraordinário. Nos tornando partes conscientes, enfim, do mistério insondável do Todo.

O lado negativo

Sim, como cada Arcano do Tarot, até mesmo o poderoso Mundo pode ter seu lado negativo. Dependendo da configuração onde essa carta aparece, pode denunciar alguém que espera uma solução milagrosa para seus problemas cair ”do céu”. Bem como pode indicar aquelas pessoas que querem contar apenas com a gentileza constante da sorte para que tudo sempre se desenrole bem para elas. Em más configurações este Arcano pode nos alertar que seremos vítimas da ingratidão dos outros, sofrendo por seus erros e pela falta da aceitação social de quem verdadeiramente somos.

No amor 

Como uma carta de plenitude e de satisfação, O Mundo costuma ser um excelente presságio para assuntos amorosos. Para os solteiros este Arcano traz um momento de muita felicidade, plenitude e satisfação, onde não é raro que se possa encontrar um par. Para os comprometidos esta carta também indica uma ótima fase. Como uma carta que também possui em si conotações de se dar ”o próximo passo” pense se deseja tornar as coisas mais sérias ou não.

Na sexualidade

Todas as experiências físicas e todo mundo sensorial se apresentam no Arcano do Mundo no máximo de suas glórias. O perfil que temos aqui é, literalmente, o de uma pessoa plena em si. Sendo divertidos, sensuais, inteligentes e entusiasmados sobre a vida, aqueles que se guiam por esse Arcano tem todo o mundo na palma de suas habilidosas mãos. Todo prazer é bem vivido, reluzindo em luxo e deleite.

No trabalho

Aqui também somos agraciados por muita felicidade. Encontramos uma nova oportunidade e vaga se por ela procurávamos, galgamos novos postos e novos patamares se por isso vinhamos trabalhando. Pense no seu crescimento, na sua evolução. Do ponto onde você está agora, para onde você quer ir? Que novos horizontes deseja explorar? Trabalhe para estar sempre em constante movimento e crescimento.

Na saúde 

Aqui será simples, pois o recado do Mundo na saúde é que nos encontramos em perfeito estado. Tudo vai bem. Basta apenas que continuemos cuidando de nós mesmos com o zelo e a consciência que sabemos que devemos ter.

Na espiritualidade

Quando alcançamos O Mundo atingimos a maestria. Esta carta indica que nossa espiritualidade está forte, bem desenvolvida e bem estruturada. Estamos exatamente onde devíamos estar, a sorte nos sorri diariamente, e vivemos em equilíbrio. Mesmo se algo tentasse nos atingir, aqui nos encontramos tão acima de todas nossas dificuldades, tão maiores que nossos sofrimentos, que eles não podem mais nos derrubar. Se preocupe consigo mesmo, com sua própria jornada e com seu desenvolvimento. Pense no próximo passo que você pode dar, no próximo campo que você gostaria de estudar, no que mais você gostaria de desenvolver em sua jornada espiritual. Seja o que for que você escolher, saiba que você possui habilidade e força suficiente para dar início a jornadas cada vez maiores.

E você, o que seria a plenitude na sua visão?

Carta anterior: O Julgamento