Depois de já termos visto aqui no blog quem são as sereias, de termos colocados alguns pontos sobre o contato com elas e de também de termos visto algumas sugestões de como iniciar nossa conexão com elas, se realmente começamos a nos relacionar com estes seres fantásticos e poderosos muitas vezes podemos querer ter um cantinho só para elas e para desenvolver nosso trabalho com elas, não é verdade?
Altares, do latim altare ou ara, na sua concepção clássica eram plataforma elevadas, ou mesas construídas sobre rochas, que eram usadas por sacerdotes ou líderes religiosos, nas mais diversas culturas como a grega e a judaica, para que sobre elas fossem feitas ofertas sacrificiais aos deuses ou a seres espirituais sagrados. E cada religião, até hoje, tem sua própria relação com eles. Na bruxaria natural, caminho que eu trilho, altares são pontos de harmonização entre nós e as forças com as quais trabalhamos e cultuamos. Como pontos de foco, e também de força espiritual, são espaços sagrados. Quando estamos diante deles nos lembramos de quem somos, de quem nos guia, e do que fazemos. Reforçamos nossa fé, nos renovamos e aumentamos nossas forças estando sob influência direta do que nos sustenta.
Quando fui aprofundando cada vez mais meu relacionamento com as sereias e também com Iemanjá, durante a época em que eu estive no axé, logo foi ficando claro para mim que minha conexão com aquelas forças era profunda demais, grande demais, em minha vida para que eu não tivesse um local próprio para o seu desenvolvimento. Eu comecei aos poucos, despretensiosamente, e fui evoluindo um passo por vez. Deixo aqui algumas dicas que foram úteis para mim, e alguns pontos que eu vivenciei. De forma alguma pretendo que você use minhas informações como exclusivas ou me tenha como a única dona da razão. Pesquise outras fontes, estude e, claro, tenha suas próprias experiências.
Primeiramente, escolha um bom local. Não precisa ser muito grande, pode ser uma pequena mesa de canto, uma prateleira, desde que seja um local prático e seguro. Se você pretende ter seu altar como mesa de trabalho espiritual e não apenas como devocional é bom que ele não seja muito alto, de forma que você possa se sentar diante dele para trabalhar. Seja sempre funcional em suas escolhas. Pense que aquele ponto que você escolher, além de precisar ser utilitário para você, também será um ponto onde o véu entre o mundo espiritual e o físico se tornará mais fino, pela energia que será construída dia após dia ali, então escolha com calma e com sabedoria.
Em segundo, limpe muito bem o local escolhido. Fisicamente mesmo. Depois, dependendo se você está montando seu altar numa superfície de vidro, madeira, mármore, granito ou outros, escolha como limpar espiritualmente aquele espaço. Nem todos materiais podem ser limpos com água com sal grosso, por exemplo, sem provocar danos. Então adeque seu método ao que você tem em mãos. Incensos e defumações com ervas costumam ser coringas. Você pode, se optar por defumação, usar ervas que sejam ligadas ao Elemento Água e que também possuam propriedades de limpeza e harmonização como a lavanda, a alfazema, o manjericão e a hortelã. Se você pode aspergir líquidos sobre a superfície que você escolheu, ou mesmo passar um pano molhado sobre ela, você pode usar uma infusão forte destas mesmas ervas. Outras opções são Água da Flórida, perfumes de alfazema, misturas de água potável com rum branco e claro, água do mar. Faça a limpeza, seja pelo método que for, sempre com foco e concentração. Visualize o local se tornando limpo, puro, livre de todas as energias que nele antes estavam.
Em seguida, molhe levemente seus dedos em água fresca (se você está usando água do mar em sua limpeza, pode ser nela). Trace no ar, acima do seu espaço, o símbolo alquímico do Elemento Água (que consiste em um triângulo invertido, com a sua mais alta ponta para baixo). Agora, no mesmo espaço em que você fez o símbolo no ar, coloque suas mãos. Una seus polegares e indicadores para formar o triângulo, com os indicadores apontando para baixo para deixá-lo invertido. Visualize o símbolo brilhando no espaço formado pelos seus dedos com clareza, em uma luz azul forte. Dentro do símbolo, como se ele fosse uma janela, visualize o mar. Não como na praia, da areia. Mas sim como na proa de um navio no meio do oceano. Veja o mar aberto. Sem terra alguma a vista ou por perto, só a imensidão das águas.
Feche os olhos e continue com a visualização. Procure ouvir o barulho das águas, imaginar o perfume salgado delas, sentir o balanço característico do oceano. Tenha esse momento para se conectar com a visão, com as sensações, com a energia do mar. Então, com voz clara e limpa, diga: “Eu convido aqui e agora a força das Águas, o poder de todos os sete mares. Que este espaço que eu abençoo agora seja um portal seguro entre mim e ti. Que aqui eu possa trabalhar com seus mistérios e com suas criaturas. Que haja cura, que haja harmonia, que haja aprendizado, descobertas e sabedoria. Pela benção das Águas e pela força evolutiva que existe em mim, que assim possa ser.” Respire fundo, abra os olhos, e sopre através do espaço entre seus dedos para a superfície do seu novo altar. Imagine por um momento que você sopra não só o seu próprio folego mas também os ventos que agitam os mares, e que a água que você visualizou na janela entre seus dedos agora cai sobre seu altar, o banhando e o consagrando.
Pronto. Agora caberá a você o que será ou não colocado no seu novo altar. Como um espaço consagrado as Águas e aos mares, você poderá colocar conchas, cálices com água, pedras que você recolheu em suas viagens a praia, e o que mais desejar. Este será um bom espaço para que você trabalhe com as ondinas e claro, com as sereias também. Chame-as para este espaço, faça o convite. Coloque estátuas ou pinturas de sereias em sua decoração. Faça tudo com beleza e carinho.
Uma das primeiras organizações que eu fiz no meu altar, no seu comecinho, foi como está na foto deste texto. Eu cobri minha mesa com uma toalha branca, coloquei um castiçal, minha estátua de sereia, meu cálice, algumas pedras, e o potinho com conchas e lascas de água marinha com a japamala que eu já tinha para as ondinas. Você pode ver que eu também coloquei o Diário Mágico que eu uso apenas para a Magia da Água, o livro sobre o tema que eu lia na época, e meus dois oráculos das sereias lá. O potinho com o líquido vermelho escuro é desta receita querida aqui do blog. Eu usava meu espaço também como um local de estudo, além de ser ali onde eu fazia meus rituais e meditações. Se eu oferecia algo as sereias, como flores, deixava-as em um vaso ao lado da minha estátua. E lá as coisas fluíam num tempo e num ritmo completamente únicos. Era como se eu de fato submergisse, e tudo que eu fazia e vivenciava naquele espaço fosse na verdade em outro plano. Com o tempo, como é natural, minha organização mudou várias vezes. Altares dedicados a Água costumam ser muito mutáveis. Fluem, crescem e se transformam. Junto conosco e para além de nós também.
Cuide do seu altar. Procure colocar nele apenas coisas que tenham sentido para você, que se conectem com a sua jornada e com o que você desenvolve espiritualmente. Deixe-o sempre limpo e organizado. Afinal, nossos altares costumam refletir, e serem um reflexo, de nossas próprias vidas. E viva plenamente a sua própria espiritualidade.
Até mais!