Missa Negra – Da blasfêmia ao psicodrama

Fonte: Arquivo pessoal

Historicamente, é difícil termos outro ritual tão intrinsecamente ligado ao satanismo quanto a Missa Negra no imaginário popular. As lendas urbanas disseminadas ao seu respeito pela Igreja Católica em sua caçada aos hereges e desviantes misturava em si práticas que fossem consideradas chocantes aos ouvintes da época a narrativas antissemitas clássicas. Entre cruzes invertidas e o uso profano de hóstias temos nelas as clássicas acusações de blood libel, incriminações falsas feitas por cristãos contra judeus que tinham por objetivo os culpar de usar sangue cristão em seus rituais, na ideia de que satanistas roubavam crianças não batizadas para usarem seu sangue e sua gordura em seus ritos. Afinal, nunca faltou, por parte da Igreja, o anseio obsessivo de acusar aqueles que ela colocava no papel do outro os crimes que ela mesma propagava de inversão dos símbolos religiosos de outras culturas contra as quais ela antagonizava e da tortura e do rapto de incontáveis adultos e crianças em suas campanhas genocidas ao redor do mundo sob o falso manto de estar levando uma mensagem de paz e de amor.

Contra ela, até a perca de poder progressivo que ela sofreu ao longo dos anos, muitos movimentos e nomes se ergueram. E, para difamar esse nomes, ela sempre levantou os piores boatos do quais foi capaz. Criando medo para controlar as pessoas através do pânico social no qual ela se especializou através dos séculos. Como já mencionado no texto introdutório Satanismo – Um breve resumo histórico, a demonização de tudo que contra ela se levantasse e a eleição de inimigos contra os quais jogar a opinião pública sempre foram os métodos mais queridinhos de controle e manipulação de massa usados pela Igreja Católica e pelo cristianismo num geral até os dias de hoje. E algumas figuras, de certa forma, souberam usar desse imaginário criado pela Igreja de uma melhor forma que outras. As vezes, até mesmo o capitalizando. Afinal, se contam uma mentira sobre você e sobre pessoas como você, por qual motivo você não a usaria ao seu favor tendo o dinheiro e o capital social certo a sua disposição?

Esse parece ter sido exatamente o caso de Catherine Deshayes, conhecida popularmente como Madame Voisin, ou La Voisin. Tendo sido um dos maiores nomes do Caso dos Venenos, que causou um baita rebuliço dentro da corte francesa entre 1670 e 1682, Catherine soube se manter por anos de forma muito próspera dentro dos altos círculos sociais franceses vendendo de venenos a drogas, além do disponibilizar de serviços que incluíam de abortos a encantamentos para os mais diversos fins. É dela, e do processo do seu julgamento que culminou na sua execução em 1680, que temos os relatos históricos mais confiáveis de Missas Negras reais, performadas para a elite francesa e com a participação de padres amistosos a causa, como expressões de um anti cristianismo herético e socialmente subversivo.

Muito longe das malévolas bruxas campestres que a Igreja gostava de pregar no imaginário popular, o mais próximo que tivemos historicamente das Missas Negras provieram de pessoas de alto status social e de participantes do clero que tinham os acessos e a blindagem social oportuna para realizarem suas fantasias com discrição, liderados por uma figura que sabia pegar as fantasias criadas pela Igreja e as usar astutamente dentro dos círculos que frequentava para seus próprios fins. Mesmo após sua execução, a figura de La Voisin continuou rendendo para seus inquisidores uma verdadeira infinidade de material anti herético onde eles deitaram e rolaram. Afinal, o nome dela colocou de forma mais substancial a existência das Missas Negras no mapa, e a máquina de boatos e medos da Igreja pode funcionar a todo vapor, aumentando mil pontos a cada conto.

Anos depois, durante a década de 60, todo esse repertório cultural e histórico foi reaproveitado de forma igualmente astuta por Anton Szandor LaVey nas fundações da sua Church of Satan. Mesmo que, com o tempo, LaVey tenha deixado de performar sua versão moderna da Missa Negra, ele ainda a inseriu em seu livro The Satanic Rituals para ser executada por aqueles que sentirem que dela precisam para expressarem sua rebelião, e sua oposição a Igreja. Através dela, causando em si mesmos uma quebra definitiva contra os dogmas cristãos. E isso, aqui, é importante de ser frisado. Enquanto o foco das Missas Negras, em seu contexto mais histórico, focava muito mais na blasfêmia, o contexto moderno dado por LaVey a elas é essencialmente o do psicodrama que visa a libertação de seus participantes dos medos, das culpas e do poder que os símbolos cristãos podem infligir mesmo naqueles que já se afastaram de seus domínios.

Tenha em mente que a definição de psicodrama com a qual aqui trabalhamos é a da atividade em grupo na qual seus integrantes desempenham diferentes papéis na dramatização de uma situação com forte carga emocional e a de blasfêmia é a de atos injuriosos contra o nome de um deus ou religião que visam quebrar laços com estes de forma irreversível. No caso da Missa Negra de LaVey, a dramatização é a inversão do ritual da Missa Tridentina, onde a morte de Cristo se dá sem a sua ressureição e com a profanação de sua liturgia, instrumentos e crenças. Ela foi esquematizada para, inicialmente, puxar a carga e as energias cristãs para si para que, logo em seguida, elas sejam alteradas até sua destruição através do sacrilégio. Purgando seus participantes a cada ato e invertendo a dinâmica de poder cristã, tirando-o das mãos do divino e da Igreja e a devolvendo as mãos das pessoas.

Tendo isso em mente, tudo que é performado durante uma Missa Negra moderna visa sempre essa inversão para fins de libertação mental e emocional e elas devem ser performadas apenas para dar vasão a necessidade psicológica dos participantes de renegarem seus prévios laços com o cristianismo através da catarse por ela proporcionada. Sua fantasia deve ser utilizada no único sentido atribuído por LaVey aos verdadeiros ritos satânicos, o de se entrar em um estado subjetivo e livre que facilite aos seus participantes se expressarem e processarem emocionalmente o que preciso for para sua libertação. Para a catalisação da mudança. Sem este foco estabelecido de forma clara, o rito se transforma em apenas uma performance teatral que pode até entreter, mas não terá sua finalidade essencial respeitada ou manifestada.

É importante frisar também que, em The Satanic Rituals, LaVey deixa claro que os papéis ocupados durante a realização das Missas tem como foco a representação do princípio dualista das polaridades ativo/passivo para além dos estereótipos que temos em papéis de gênero. Mulheres podem perfeitamente desempenharem como sacerdotisas na falta de um homem para o papel de padre, desde que elas estejam confortáveis em representar o princípio ativo do rito. Inclusive, é tido como muito mais fluido para o bom andamento deste ter uma mulher forte e de energia projetiva o conduzindo do que um homem tímido e de energia introspectiva. Grupos formados apenas por mulheres ou apenas por homens, incluindo aqui a presença possível de pessoas trans, podem, ainda sim, performarem com sucesso a Missa desde que os papéis sejam executados por pessoas de personalidade e energia adequada a cada um deles.

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Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

Os Nove Pecados Satânicos

Fonte: Arquivo pessoal

Até mesmo a mais focada na liberdade individual de seus adeptos entre todas as religiões tem seus pontos a serem evitados. Como já vimos aqui, os Nove Pecados Satânicos foram formulados pela Church of Satan alguns anos após a publicação da Bíblia Satânica por Anton Szandor LaVey. Eles funcionam como pontos a serem evitados por todo adepto saudável do satanismo, guiando a conduta para o desenvolvimento e auto aperfeiçoamento. E aqui, além de colocar cada um deles como expostos pela Church of Satan, também coloco os meus comentários sobre. Vamos lá?

Os Nove Pecados Satânicos

  • Estupidez Ela está no topo da lista dos pecados satânicos e é o principal pecado do satanismo. É uma pena a estupidez não ser dolorosa. Uma coisa é ignorância, mas nossa sociedade incentiva a estupidez. Isso tem a ver com as pessoas indo onde quer que lhes é dito para ir. A mídia promove a estupidez como uma postura cultivada que não só é aceitável, como é louvável. Os satanistas precisam aprender a enxergar através do que lhes é dito e não concordarem em agirem como estúpidos.

Particularmente, sempre gostei muito dessa lista de pecados começar justamente recriminando a estupidez. Sendo uma das mais tradicionais vertentes da Mão Esquerda, no Satanismo temos muito claro que ou você está dentro da Via Sinistrae ou você é estúpido. Ambas as coisas ao mesmo tempo ninguém pode querer se dar ao luxo de ser. Ser uma pessoa grosseira, sem discernimento, sem inteligência e sem cortesia aqui é o pior e mais rápido tiro no pé que alguém pode se dar. Não é opcional para ninguém aqui saber se conduzir, saber questionar e desenvolver opiniões próprias bem embasadas. A falta de inteligência e a incivilidade são as piores pedras de tropeço em nosso meio. Seja lúcido, procure se educar, seja sensato e bem ponderado.

  • Pretensão — Uma postura vazia pode ser muito irritante e não aplica as principais regras da Magia Menor. Está em pé de igualdade com a estupidez por manter o dinheiro circulando nos dias de hoje. Cada um é levado a se sentir como um fardo pesado, tendo dinheiro ou não.

Outro ponto onde muitos caem e anda juntinho da vaidade desmedida: a pretensão. O querer conquistar as próprias ambições através de se passar por algo que não se é e nem sequer poderia sustentar verdadeiramente. Aqui entram os pedantes, a galerinha esnobe que vive apenas das vantagens que contam da boca pra fora sem ter uma real base que as sustente. Nada é mais patético do que uma pessoa forçada. E, se você quiser estufar o peito e ser arrogante sem de fato ser capaz de peitar a responsabilidade que vem junto ao que você afirma de forma vazia aos quatro cantos, pode ter certeza que a queda é rápida e é feia. Afinal, os impostores sempre se desmascaram. E uma falsa coroa quebra um pescoço com muito mais facilidade do que uma verdadeira. Lide com suas próprias inseguranças de outras formas que não sejam se passar pelo que você não é.

  • Solipsismo — Projetar suas reações, respostas e sensibilidades em alguém é provavelmente o menos responsável que você pode ser, e é algo muito perigoso para os satanistas. É o erro de esperar que as pessoas lhe deem a mesma consideração, cortesia e respeito que você naturalmente as dá. Elas não darão. Ao invés disso, os satanistas precisam concentrar suas energias para aplicar o ditado “faça com os outros o que eles fazem com você”. Dá trabalho para a maioria de nós e requer constante vigilância, mas lhe tira a ilusão confortável de que todos são como você. Como dito, certas utopias seriam ideais em uma nação de filósofos, mas infelizmente (ou talvez felizmente, de um ponto de vista maquiavélico) estamos bem distantes disso.

Se você nunca ouviu o termo Solipsismo antes, não tem problema. Ele, na verdade, é uma concepção filosófica onde, para além de nós mesmos, só existiriam as nossas próprias experiências. Ele é o extremo de só acreditarmos nas nossas experiências interiores e pessoais mesmo quando não existe qualquer relação entre elas e a realidade objetiva. Um exemplo muito bom disso são as pessoas que ficam tão perdidas na própria gnose pessoal que literalmente descartam qualquer coisa que possa entrar em conflito com elas e começam a viver num universo paralelo onde só o que elas recebem e enxergam é verdade, por mais que existam provas do contrário. De certa forma, é um egoísmo pragmático. Onde se descarta qualquer contexto em prol da subjetividade pessoal até as últimas consequências.

O problema é que, como sabemos, o mundo não se resume a nós e ao nosso umbigo. A realidade do universo não se resume ao eu. E nos fecharmos para o externo ignorando todo o mais não nos leva a lugar algum. Mas aqui, especificamente no terceiro pecado, lidamos com a concepção moral do Solipsismo, onde a moralidade do sujeito também é tida como a moralidade do resto do mundo. No Solipsismo moral existe uma dificuldade real da pessoa entender que os outros não pensam e não agem como ela. Se ela não faria algo, os outros também não fariam. Se ela tem uma concepção de certo e errado, é impensável que os outros não participem dela. Os problemas que isso causa são inúmeros, e devem ser evitados. Não espere que todo mundo seja como você. Não se projete nos outros. Enxergue o mundo objetivamente. Ele, na maioria das vezes, jamais será um perfeito reflexo seu.

  • Auto ilusão — Consta nas “Nove Declarações Satânicas”, mas merece ser repetido aqui. É outro pecado principal. Não podemos nos curvar a quaisquer das vacas sagradas que nos são apresentadas, incluindo os papéis que esperamos desempenhar. A única ocasião onde a auto ilusão é bem-vinda é por diversão, e com cuidado. Mas neste caso, não é auto ilusão!

O quarto pecado flui muito bem como uma continuação lógica dos três anteriores. Se no segundo, a pretensão, somos desaconselhados a sermos a figura pedante que se passa por algo muito maior do que realmente é, aqui somos aconselhados a não acreditar em quem joga esse jogo também. Não acredite fácil em qualquer um, em qualquer coisa, e mantenha os pés no chão tanto sobre si mesmo quanto sobre o mundo ao seu redor. Faz de conta aqui, só proposital e para fins de entretenimento.

  • Conformismo de massa — É óbvio do ponto de vista satanista. Não há problema com os desejos de alguém, desde que eles os beneficie. Mas apenas os tolos seguem o bando, deixando uma entidade impessoal lhe dizer o que fazer. A chave é escolher um mestre sabiamente, ao invés de ser escravizado pelos caprichos de muitos.

Aqui temos um ponto extremamente claro da Mão Esquerda como um todo, mas que sempre é bom destacar: esse caminho não é um caminho conforme. Não é para quem quer ser como todo mundo por preguiça de pensar e por se sentir mais seguro estando perfeitamente integrado a maioria. Aqui temos sim personalidade própria. E a visão de que é melhor ser excluído por ser quem verdadeiramente se é do que ser aceito apenas por reproduzir cegamente padrões sem nenhuma reflexão sobre.

  • Falta de perspectiva — Novamente, esta pode trazer grande dor para o satanista. Você jamais deve perder a visão de quem e o que você é, e que ameaça pode ser, por sua própria existência. Estamos fazendo história agora e a todo momento, todos os dias. Sempre tente manter uma ampla visão histórica e social na mente. Esta é uma importante chave tanto para a Magia Menor quanto para a Magia Maior. Veja os padrões e encaixe as coisas se você quer que as peças fiquem em seus devidos lugares. Não se abale pelas impressões da massa: tenha consciência de que você está trabalhando em um outro nível, além do resto do mundo.

Que é fácil perdermos as coisas de vista é algo que sabemos. No entanto, como adeptos da Via Sinistrae, estamos sim fazendo história a cada dia. A cada instante. A cada momento. Trilhamos um caminho inovador, que vai contra o senso comum, e a caminhada de cada um de nós conta. Alcançar os nossos objetivos conta. Nos tornarmos a melhor versão de nós mesmos conta. Não esqueça o motivo pelo qual você está aqui. Tenha-o sempre em mente.

  • Negligência de ortodoxias do passado — Esteja alerta de que esta é uma das chaves para a lavagem cerebral das pessoas de modo a aceitar algo diferente e novo, quando na realidade é algo que já foi aceito mas agora é apresentado numa nova embalagem. Deliramos com a genialidade do suposto criador e esquecemos do original. Isto forma a sociedade alienada.

O sétimo pecado parece ter previsto em si quantas pessoas em nosso meio iriam querer se passar por visionárias e fodonas por coisas que simplesmente quem lê a bibliografia básica do nosso meio já tem como óbvias. Aqui entramos muito em não se ser estúpido. Em se ser uma pessoa difícil de cair em papinho. Estude, se eduque. Vá ler a merda dos livros. Conheça os autores. Assim fica mais difícil ser iludido por gente pretensiosa. Não vá concordar cegamente com qualquer fulano pomposo só porque você quer ser parte de um grupinho. A maioria esmagadora dessa galera na real vive de absorver a personalidade do líder porque ninguém ali tem uma própria. Seja melhor.

  • Orgulho contraproducente — Esta segunda palavra é importante. Orgulho é bom, até a hora em que você começa a “jogar o bebê fora junto com a água da banheira”. A regra do satanismo é: se funciona para você, ótimo. Quando parar de funcionar para você, quando você está no canto da parede e a única saída é dizer “sinto muito, cometi um erro, desejo que possamos nos ajustar de algum modo”, então o faça.

Aqui temos um ponto que muitas vezes as pessoas gostam de esquecer: ser Satanista, ou ser de Mão Esquerda num geral, não significa ser um egoísta ou ser uma pessoa completamente irascível que não admite as próprias falhas e só pensa em si. O processo de auto aperfeiçoamento consiste também em enxergarmos as nossas falhas e revermos as nossas posturas sempre que preciso. Admitir os próprios erros sempre é algo nobre e torna nossa evolução pessoal mais fluida e fácil.

  • Falta de estética — Esta é a aplicação física do fator de balanceamento. Estética é importante na Magia Menor e deve ser cultivada. É óbvio que ninguém pode ganhar dinheiro fora dos padrões clássicos de beleza e forma na maior parte do tempo, sendo assim desencorajados na sociedade consumista; mas uma atenção para a beleza, para o balanceamento, é uma ferramenta satanista essencial e precisa ser aplicada para a maior eficácia mágica. Não é o que é supostamente prazeroso: é o que realmente é. Estética é algo pessoal, reflete a natureza individual, mas existem configurações universalmente agradáveis e harmoniosas que não devem ser negadas.

O último pecado é o único onde eu tenho algumas discordâncias. Sim, estética é muito importante. Sim, é algo que conta muito no mundo e seríamos muito levianos em dizer que não. E sim, temos que aprender a usar a nossa própria imagem ao nosso favor e sermos conscientes dela. Mas muitas vezes, e inclusive em alguns nichos da Esquerda, uma estética não convencional é adotada e usada inclusive para passar mensagens e posicionamentos de resistência. Estética e moda são linguagens. E, como qualquer linguagem, pode ser usada para comunicar as mais diversas coisas. Inclusive, propositalmente deixando o que seria “universalmente agradável e harmonioso” para trás para questionar e bater de frente contra como certas construções sociais que temos em torno do que é ou não aceitável foram construídas. Acredito que exista bastante pano pra manga nessa questão e ela pode ser desenvolvida com muito mais profundidade. No entanto, definitivamente, não ignore o peso dessa questão na sua vida. E saiba como você quer a usar para seu próprio desenvolvimento e benefício. Seja proposital e premeditado em como você escolhe se apresentar para o mundo.

Até mais!

Fonte: The Nine Satanic Sins [1]

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    As Nove Declarações e as Onze Regras Satânicas

    Fonte: Arquivo Pessoal

    Como aqui no Lunário já pontuamos em nosso texto introdutório Satanismo – Um pequeno resumo histórico, não existe um único Satanismo e cada satanista é, em si mesmo, singular. A Bíblia Satânica de LaVey, apesar da sua importância histórica, é tida mais como uma sugestão do que um livro que deve ser seguido a risca sem considerar as visões e o caminho pessoal de cada adepto. Porém, dentro dela, existem pontos que podemos notar serem bem aceitos e queridos pela comunidade satânica em geral, tanto entre os ateístas quanto entre os teístas. Entre eles estão as Nove Declarações Satânicas e as Onze Regras Satânicas da Terra.

    Vamos vê-las um pouco melhor no texto de hoje? A começar pelas Declarações:

    As Nove Declarações Satânicas

    1. Satanás representa indulgência ao invés de abstinência!
    2. Satanás representa a existência vital ao invés de sonhos espirituais fantasiosos!
    3. Satanás representa sabedoria imaculada ao invés de auto ilusão hipócrita!
    4. Satanás representa bondade para quem a merece ao invés de amor desperdiçado aos ingratos!
    5. Satanás representa vingança ao invés de virar a outra face!
    6. Satanás representa responsabilidade para o responsável ao invés de dar atenção a vampiros psíquicos!
    7. Satanás representa o homem como outro animal, algumas vezes melhor, mas geralmente pior do que aqueles que caminham sobre quatro patas, e que, apesar de todo o “desenvolvimento espiritual e intelectual”, tornou-se o animal mais vicioso de todos!
    8. Satanás representa todos os assim-chamados pecados, pois levam à gratificação física, mental ou emocional!
    9. Satanás tem sido o melhor amigo que a Igreja já teve, pois foi quem a manteve rica durante todos esses anos!

    Resumindo bem todo o apanhado de ideias desenvolvido ao longo da Bíblia Satânica, as Nove Declarações nos dão uma síntese da postura individualista e autoindulgente de LaVey. Temos a figura de Satã como um símbolo, representando os pontos vitais da doutrina, onde colocamos o nosso foco na existência física, material, e no momento presente acima das promessas de recompensas espirituais futuras que nos acostumamos a ouvir desde muito cedo pela cultura predominantemente cristã no qual ainda nos vemos inseridos.

    Temos nelas uma postura muito mais focada no prático, no real, do que no espiritual. Que nos fala para pensar no hoje, não nos negando á toa, tendo o cuidado de valorizar as pessoas que realmente merecem ao nosso redor ao invés de alimentar aqueles que só pensam no próprio proveito. Também não temos o ser humano erguido acima da criação em seu texto mas sim como parte dela. E uma parte que, por muitas vezes, pode ser muito mais cruel do que sábia. Além da alfinetada característica, ao final, de nos lembrar que a Igreja não seria nada do que ela hoje é sem ter se imposto através do medo.

    Para as completar, também temos as Onze Regras:

    As Onze Regras Satânicas da Terra

    1. Não dê opiniões ou conselhos a menos que alguém os peça.
    2. Não conte seus problemas aos outros a menos que você esteja certo de que eles estão dispostos a ouvi-los.
    3. Quando no lar de alguém, demonstre-lhe respeito, caso contrário nunca vá lá.
    4. Se um convidado em seu lar o irrita, trate-o com crueldade e sem piedade.
    5. Não avance sexualmente a menos que lhe seja dado o consentimento.
    6. Não pegue algo que não lhe pertença, a menos que seja um fardo para a outra pessoa ou que ela peça para ser livrada dele.
    7. Esteja ciente do poder da magia se você a empregou com sucesso para obter seus desejos. Se você negar o poder da magia após tê-la utilizado, perderá tudo o que obteve.
    8. Não reclame de nenhuma coisa a qual não precise se sujeitar.
    9. Não faça mal a criancinhas.
    10. Não mate animais não humanos a menos que você seja atacado ou que o animal seja utilizado como alimento.
    11. Ao andar em território aberto, não perturbe ninguém. Se alguém o perturbar, peça para parar. Se ele não parar, destrua-o

    Refletindo bem a postura de grande parte dos adeptos da Via Sinistrae como um todo, as Onze Regras são o grande “não mexa com ninguém sem necessidade, seja uma pessoa respeitosa e razoável, mas também não tolere a merda de ninguém” de LaVey. Tendo como pontos claríssimos a proibição de qualquer tipo de abuso sexual e de maldade contra crianças e animais, sendo esses pontos unânimes e cristalinos por toda a Esquerda.

    Agora, além destas declarações e regras, existiria algo que o satanismo LaVeyano teria como proibições? Como uma religião tão focada na liberdade de seus adeptos, proibição aqui não seria a palavra certa. Mas, de fato, alguns anos após a publicação da Bíblia Satânica a Church of Satan colocou, para seus membros, algumas contra indicações. Posturas que, para eles, não refletem o que deveria ser a postura de um satanista saudável. Assim surgiram, como vemos a seguir, os Nove Pecados:

    Os Nove Pecados Satânicos

    1. Estupidez — Ela está no topo da lista dos pecados satânicos e é o principal pecado do satanismo. É uma pena a estupidez não ser dolorosa. Uma coisa é ignorância, mas nossa sociedade incentiva a estupidez. Isso tem a ver com as pessoas indo onde quer que lhes é dito para ir. A mídia promove a estupidez como uma postura cultivada que não só é aceitável, como é louvável. Os satanistas precisam aprender a enxergar através do que lhes é dito e não concordarem em agirem como estúpidos.
    2. Pretensão — Uma postura vazia pode ser muito irritante e não aplica as principais regras da Magia Menor. Está em pé de igualdade com a estupidez por manter o dinheiro circulando nos dias de hoje. Cada um é levado a se sentir como um fardo pesado, tendo dinheiro ou não.
    3. Solipsismo — Projetar suas reações, respostas e sensibilidades em alguém é provavelmente o menos responsável que você pode ser, e é algo muito perigoso para os satanistas. É o erro de esperar que as pessoas lhe deem a mesma consideração, cortesia e respeito que você naturalmente as dá. Elas não darão. Ao invés disso, os satanistas precisam concentrar suas energias para aplicar o ditado “faça com os outros o que eles fazem com você”. Dá trabalho para a maioria de nós e requer constante vigilância, mas lhe tira a ilusão confortável de que todos são como você. Como dito, certas utopias seriam ideais em uma nação de filósofos, mas infelizmente (ou talvez felizmente, de um ponto de vista maquiavélico) estamos bem distantes disso.
    4. Auto-ilusão — Consta nas “Nove Declarações Satânicas”, mas merece ser repetido aqui. É outro pecado principal. Não podemos nos curvar a quaisquer das vacas sagradas que nos são apresentadas, incluindo os papéis que esperamos desempenhar. A única ocasião onde a auto-ilusão é bem-vinda é por diversão, e com cuidado. Mas neste caso, não é auto-ilusão!
    5. Conformismo de massa — É óbvio do ponto de vista satanista. Não há problema com os desejos de alguém, desde que eles os beneficie. Mas apenas os tolos seguem o bando, deixando uma entidade impessoal lhe dizer o que fazer. A chave é escolher um mestre sabiamente, ao invés de ser escravizado pelos caprichos de muitos.
    6. Falta de perspectiva — Novamente, esta pode trazer grande dor para o satanista. Você jamais deve perder a visão de quem e o que você é, e que ameaça pode ser, por sua própria existência. Estamos fazendo história agora e a todo momento, todos os dias. Sempre tente manter uma ampla visão histórica e social na mente. Esta é uma importante chave tanto para a Magia Menor quanto para a Magia Maior. Veja os padrões e encaixe as coisas se você quer que as peças fiquem em seus devidos lugares. Não se abale pelas impressões da massa: tenha consciência de que você está trabalhando em um outro nível, além do resto do mundo.
    7. Negligência de ortodoxias do passado — Esteja alerta de que esta é uma das chaves para a lavagem cerebral das pessoas de modo a aceitar algo diferente e novo, quando na realidade é algo que já foi aceito mas agora é apresentado numa nova embalagem. Deliramos com a genialidade do suposto criador e esquecemos do original. Isto forma a sociedade alienada.
    8. Orgulho contraproducente — Esta segunda palavra é importante. Orgulho é bom, até a hora em que você começa a “jogar o bebê fora junto com a água da banheira”. A regra do satanismo é: se funciona para você, ótimo. Quando parar de funcionar para você, quando você está no canto da parede e a única saída é dizer “sinto muito, cometi um erro, desejo que possamos nos ajustar de algum modo”, então o faça.
    9. Falta de estética — Esta é a aplicação física do fator de balanceamento. Estética é importante na Magia Menor e deve ser cultivada. É óbvio que ninguém pode ganhar dinheiro fora dos padrões clássicos de beleza e forma na maior parte do tempo, sendo assim desencorajados na sociedade consumista; mas uma atenção para a beleza, para o balanceamento, é uma ferramenta satanista essencial e precisa ser aplicada para a maior eficácia mágica. Não é o que é supostamente prazeroso: é o que realmente é. Estética é algo pessoal, reflete a natureza individual, mas existem configurações universalmente agradáveis e harmoniosas que não devem ser negadas.

    Apesar do tom de escrita da Church of Satan estar longe de ser um dos meus favoritos em diversos momentos, nos Nove Pecados podemos ver alguns conceitos e ideias muito interessantes como não permitir que o seu orgulho te atrapalhe, ter noções claras através do estudo daquilo que já foi feito para não se deixar levar por pessoas que querem se passar por inovadoras reinventando a roda, sempre saber quem somos e quem queremos ser e termos perspectivas de futuro que se alinhem a isso, não se render ao conformismo, cuidar da própria aparência e não projetar os próprios problemas e faltas nos outros.

    Apesar de não serem regras estritas, tanto as Nove Declarações quanto as Onze Regras e os Nove Pecados trazem reflexões e pontos de vista discutidos e bem integrados as mais diversas vertentes satanistas que temos hoje em dia. Alguns pontos geram mais discordância que outros, mas o foco no indivíduo, a auto preservação e a responsabilidade individual tendem a refletirem na cultura da comunidade satânica como um todo.

    E aí, já tinha ouvido falar delas antes?

    Até mais!

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    Fontes:  The Satanic Bible de Anton Szandor LaVey, The Eleven Satanic Rules of the Earth [1], The Nine Satanic Statements [2], The Nine Satanic Sins [3]

    Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

    A Demonolatria Moderna

    Fonte: Acervo pessoal

    Como define S. Connolly em seu The Complete Book of Demonolatry, pág. 17: “Demonolatria é uma religião do Eu. (O que significa que trabalhamos para melhorar a nós mesmos). Trata-se de descobrir o poder divino pessoal dentro cada um de nós, vivendo dentro do equilíbrio natural das energias que nos rodeiam (o Universo). Trata-se também de auto responsabilidade e paz interior. Os demônios, para alguns, são simplesmente pontos focais de uma única e pura energia. Para outros, são entidades reais com personalidades e consciências individuais.”

    Quando falamos na Demonolatria Moderna falamos de uma religião nova, ampla, diversa e em pleno desenvolvimento onde o equilíbrio e o desenvolvimento pessoal são o grande foco. Nela, os Daemons são despidos de qualquer visão ou conotação cristã para retornarem aos seus postos originais como figuras pagãs cheias de complexidade e força.

    O termo começou a ser usado tímida e clandestinamente em alguns meios nos Estados Unidos em meados de 1950/1960 até que, em 1998, oficialmente foi lançada a Guild of Demonolatry que, apesar de agora extinta, foi a responsável por aos poucos tirar prática do armário. Antes dela, muitos praticantes poderiam simplesmente referir a si mesmos como satanistas teístas ou seguidores de algum Daemon específico, sem entrar em muitos detalhes. Hoje em dia, com a proliferação de informações proporcionada pela internet e pelo trabalho de longa data de autores dedicados ao meio (como a S. Connolly!) a temos cada vez mais desenvolvida e bem definida.

    Em suas bases temos a procura e a preocupação em se recuperar práticas e crenças que foram marginalizadas pelo cristianismo, além da prática e da comunhão ritual com figuras tidas como adversariais. O trabalho de Richard Dukante é bastante usado e citado, assim como princípios do Hermetismo e do Ocultismo Ocidental são muito usados nas fundações da parte prática.

    Nela, não temos as noções de Céu e nem de Inferno como concebidas pelo cristianismo. Alguns praticantes acreditam em reencarnação, outros não. Sendo algo pessoal dentro da visão e da experiência de cada um. Num geral, a ciência é usada e levada em consideração. Principalmente no que se refere a responder sobre de onde viemos e como nosso universo veio a existir e evoluiu.

    Adorar Satã é o ponto focal da Demonolatria Moderna?

    Não. Dentro da demonolatria Satã geralmente é visto como o Quinto Elemento, ou seja, a fonte e a personificação de todas as outras energias. O temos na materialidade física do mundo ao nosso redor (a Natureza) assim como em nossos próprios instintos e verdadeira essência. Sendo uma das maiores expressões da Corrente do Adversário e um símbolo do Todo, o respeito a ele não inclui uma adoração a ele unicamente voltada. A maioria dos demonólatras foca sua prática pessoal não nele mas sim no seu patrono ou matrona principal, como já falamos aqui.

    Por quê Demonólatras e não Satanistas?

    Demonólatras não se consideram pertencentes a tradição satânica de Anton LaVey, e nem de suas derivações. Alguns podem adotar a parte filosófica do satanismo para si, mas como uma escolha pessoal e não como algo que faz parte da demonolatria em si. Satanistas Teístas são os que mais podem se aproximar da demonolatria em princípio e prática, mas sempre depende de como cada indivíduo desenvolve a sua práxis. Mesmo dentro da corrente Teísta muitos satanistas ainda tem um certo receio em se afirmar como demonólatras de fato e preferem não reivindicar essa ligação entre as vertentes. Como movimentos que surgiram e cresceram separadamente, apesar de suas intersecções, devemos sempre respeitar a maneira como cada praticante se coloca e as particularidades de cada um dos caminhos separadamente.

    Existem rituais de sacrifício dentro da Demonolatria Moderna?

    Não. O sacrifício de qualquer animal ou pessoa não é praticado dentro da demonolatria. Muito justamente para se evitar e se distanciar de estereótipos negativos que ainda pesam em cima daqueles que se apresentam como demonólatras. O que não significa que não exista espaço para a prática de blood magic. Mas nela, obviamente, o praticante usa apenas do seu próprio sangue e não do de terceiros.

    O que é ofertado então?

    Quando nos relacionamos positivamente com os Daemons uma troca de vitalidade e força é beneficamente criada entre ambas as partes. Para além das ofertas materiais que podem ser feitas, a troca energética que ocorre através da convivência é o maior ponto de enriquecimento entre um Daemon e o seu praticante. É através dessa troca que crescemos em nosso caminho, evoluímos e nos desenvolvemos. Aqui o foco não está na ideia caricata da venda de uma alma ou de se ser nocivo a si mesmo ou a outros mas sim no crescimento e no fortalecimento do praticante perante aqueles com os quais ele espiritualmente se relaciona e se entrega.

    Mão Esquerda ou Direita

    O termo demonolatria, por si, significa adoração aos Daemons. E, quando falamos em adoração, é geralmente a imagem de subserviência a uma força externa que nos vem a cabeça. No entanto, o termo aqui é sempre empregado no contexto em que o temos na Mão Esquerda. Significando que a prática pessoal dos demonólatras é voltada aos Daemons como manifestações da Corrente do Adversário e que seu culto os tem como forças centrais no auxílio do seu próprio desenvolvimento pessoal e não como divindades que estão acima dos seus praticantes.

    Lembre-se sempre que na Mão Esquerda não colocamos o divino como estando acima de nós mas ao nosso lado enquanto nos desenvolvemos conjuntamente a ele. Nesta visão, o divino não está separado de nós para que o alcancemos fora mas sim está dentro de cada um de nós. E o desenvolvimento desta centelha divina interna é o foco principal.

    Todos somos uma parte do Todo, por isso, não estamos abaixo das figuras espirituais com as quais nos relacionamos, apenas experimentamos um tipo diferente de estado de existência estando no momento dentro de nossos corpos mortais.

    Como diz S. Connolly em The Complete Book of Demonolatry, pag. 27:

    “Autoconhecimento, auto responsabilidade e auto adoração são partes
    da Demonolatria, assim como a busca pelo conhecimento e a prática da adoração aos Demônios. Não nos humilhamos diante dos Demônios como seres indignos que
    dependem da ajuda deles para tudo. Eles não nos controlam. Nós controlamos a
    nós mesmos. Trabalhamos com os Demônios e os honramos para descobrir nossos verdadeiros
    potenciais como seres imperfeitos, mas divinos, ligados a um plano físico de
    existência. Ao honrá-los e adorá-los, estamos honrando e
    adorando a nós mesmos porque eles são parte de nós, assim como nós somos parte deles.
    Todas as coisas são divinas. Não perdemos nosso tempo tentando olhar dentro dos
    olhos dos nossos deuses. Em vez disso, trabalhamos para olhar através dos olhos de nossos
    Deuses. Basicamente, somos todos a manifestação física do divino. Definimos adoração como reverência e respeito, manter algo em alta conta.”

    Então, se você ver alguém achando que ser um demonólatra é se ajoelhar diante de Satã e dos Daemons como superiores, saiba que essa pessoa só está desinformada e se levando pelos estereótipos que aqueles que não fazem parte da religião podem ter sobre ela. Afinal, na Demonolatria Moderna não existe a visão de que estamos abaixo e a mercê dos Daemons mas sim a de que eles são forças que seus praticantes respeitam, confiam e se relacionam em harmonia.

    Fontes e leituras recomendadas: Demonolatria Moderna e The Complete Book of Demonolatry de S. Connolly.

    Até mais!

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    Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

    Resenha – Demonolatria Moderna de S. Connolly

    Fonte: Arquivo pessoal

    A resenha de hoje será sobre um pequeno e precioso livrinho, perfeito para todos aqueles que possuem daemons como figuras importantes de suas jornadas espirituais: o Demonolatria Moderna de S. Connolly!

    Ficha Técnica

    Autora: S. Connoly

    Editora: DB Publishing nos EUA e Via Sestra em terras brasileiras

    Idioma: Inglês e Português

    Páginas: 98 na versão em inglês e 152 na versão em português

    Ano: Originalmente de 2005, trazido ao Brasil em 2019

    Resenha

    Como um dos seus mini guias sobre o tema, gratuitos no site oficial demonolatry.org, Demonolatria Moderna resume para iniciantes vários conceitos e práticas da demonolatria como exposta por S. Connolly. Direto ao ponto, ele traz respostas para as principais dúvidas que podemos ter e nos dá também uma base prática funcional e descomplicada. Muito dos pontos dele foram aproveitados e inseridos no The Complete Book of Demonolatry um ano depois, em 2006, onde ela aprofunda e expande os temas iniciados em obras anteriores.

    Pontos Positivos

    Para quem tem curiosidade sobre a área da demonolatria e não sabe por onde começar, temos aqui uma boa pedida. Sendo curtinho, sua leitura é fácil e fluida. Facilmente pode ser lido em poucas horas e já nos faz colocar a mão na massa. Temos definições simples e assertivas, listas úteis de correspondências e nomes, algumas histórias e análises, sobre covens e seitas, sobre práticas solitárias, rituais básicos, ferramentas, altares, trabalhos positivos e negativos, sigilos, orações e devocionais, algumas receitas bem interessantes de óleos para os principais daemons e muito mais!

    Pontos Negativos

    Os pontos negativos que você encontrará neste mini guia são os que você irá encontrar na maior parte do trabalho de S. Connolly num geral: uma parte histórica não muito bem trabalhada. Ela passa com muita superficialidade em vários assuntos onde poderia ter tido mais cuidado, erra abertamente outros e alguns pontos simplesmente não são facilmente verificáveis. O que faz com que você precise, como leitor, fazer sua própria pesquisa para não incorrer em erros. Na parte das receitas, tome cuidado naquelas que envolvem terceiros. Lembre-se que enviar certas coisas pelos Correios para alguém pode incorrer como ameaça supersticiosa, que se enquadra no artigo 147 do nosso Código Penal como crime, podendo incluir ainda outros artigos dependendo do caso.

    Outro ponto pelo qual ela é criticada, com razão, é colocar muitas divindades em suas listas de daemons que simplesmente não deveriam estar ali só pelo fato delas terem aspectos destrutivos ou ligados ao submundo, o que é extremamente inadequado da parte dela (para dizer o mínimo). Então, leia sempre com discernimento.

    Acessibilidade: A versão em português da Via Sestra já não é mais publicada pela editora mas, como aqui já descrito, você pode baixar o PDF em inglês gratuitamente aqui. A página conta com vários outros PDFs muito interessantes e inclusivos então vale a pena a visita! E, se algum link não estiver funcionando, é só dar uma boa pesquisa que você acha. Afinal, eles foram feitos para serem acessíveis ao público.

    Até mais!

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    Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

    Primeiros passos – Sobre Mestres e Sacerdotes

    Fonte: Arquivo pessoal

    Um dos pontos comuns entre a maioria das pessoas recém chegadas nas margens de entrada da Mão Esquerda é a da procura por uma figura que lhes seja referencial. Mais especificamente, por um mestre ou sacerdote/sacerdotisa do qual elas possam aprender e a quem elas possam se referir. É de se perder as contas o número de vezes em que eu, e outras pessoas que conheço do meio, já recebemos pedidos de indicações para isso. E, apesar de não me opor particularmente as pessoas buscarem figuras como essas, sinto que, no contextos extremamente particulares da Mão Esquerda, os recém chegados sempre partem dos pontos errados para isso.

    Em primeiro lugar, tenhamos em mente que quando falamos sobre sacerdócio falamos sobre uma posição que é, por definição, religiosa. Sendo reservada para pessoas que estão ou no topo ou em posições de destaque da hierarquia de religiões específicas. A Mão Esquerda, por si, como vimos no texto que fala um pouco mais de suas definições, não é uma religião. E a vasta maioria das suas vertentes também não são religiosas. Até pela forte conotação de oposição a hierarquias e da subversão as normas que faz parte da postura da Esquerda como um todo.

    Dentro do Satanismo LaVeyano temos tradicionalmente a Church of Satan, mas todo o seu contexto histórico é o de se definir como religião para bater de frente com o cristianismo estadunidense. Então perceba atentamente que mesmo quando se é criado um movimento religioso na Esquerda ele se cria para ser contra cultural. Para ser uma insurreição contra aquilo que é posto como norma social. É um ato de rebelião. Mas a Church of Satan resume o satanismo? Definitivamente não. Existe muito mais dentro do Satanismo do que ela. E eu digo isso como algo positivo. Dentro do Luciferianismo temos menos contexto religioso ainda. A Demonolatria, entre as correntes de Esquerda, é a que mais se coloca como religiosa de fato. Mas você não tem, mesmo nela, uma igreja central.

    Lembre-se sempre que é na Mão Direita que temos desenvolvidos os temas da ordem, da hierarquia, da coletividade e da integração. A Mão Esquerda, como movimento opositor, é um disruptor da ordem. Na Esquerda temos o questionamento e a dissolução das hierarquias, temos a individualidade e o trabalho com o que é segregado e marginalizado. De forma que, por natureza, é um caminho trilhado majoritariamente por indivíduos autônomos e não por aqueles que estão inseridos em instituições. Temos algumas Ordens, claro. Mas eu não diria de forma alguma que elas são para treinar iniciantes e sim para pessoas que já tem uma ótima de uma experiência e querem desenvolver áreas e tópicos específicos onde seria muito interessante o fazer ao lado de outras pessoas com o mesmo objetivo.

    Então, aqui já nos desfazemos da ideia de buscar estruturas religiosas e instituições na Esquerda da mesma forma e com os mesmos propósitos em que elas existem na Direita. Não só não dará certo como você pode acabar em becos muito estranhos e com gente deveras esquisita, como eu já alertei aqui e aqui.

    Em segundo lugar, quando temos sacerdotes existindo fora das estruturas fixas de religiões estabelecidas, eles sempre existem por causa da demanda de alguma comunidade em específico. Sendo eleitos por essa comunidade como os mais indicados, em meio a eles, para o papel de agirem como líderes espirituais, atuando como pontes entre as pessoas e o divino e sendo os responsáveis por liturgias, ritos, cerimoniais e demais serviços de cunho espiritual para os outros integrantes do coletivo. Assim, apesar dessas pessoas não serem necessariamente colocadas em seus postos por uma religião específica elas sempre o são por seu grupo. Afinal, a natureza do ofício destes é essencialmente comunitária.

    Fora dessas duas categorias tradicionais, dentro das particularidades do cenário pagão moderno, existem muitos sacerdotes e sacerdotisas autônomos por aí. São pessoas que se dedicam a uma divindade, ou panteão, em particular. E, apesar deles não terem uma comunidade ou fazerem parte de uma religião oficialmente, sua devoção toma esse rumo. E eles são, apesar de solitários, pessoas que você pode procurar para aprender sobre suas divindades, para entrar em contato com elas, ou mesmo para pedir toda a sorte de encargos que se pode pedir de uma figura sacerdotal num geral. Perceba que, mesmo quando falamos de figuras autônomas, o servir ao outro está sempre centralizado no que significa ser um sacerdote ou uma sacerdotisa.

    E esse servir não inclui apenas outras pessoas mas as divindades com as quais existe o comprometimento em si. O sacerdote serve a sua divindade. E se coloca como servo em nome dela não apenas em sua própria vida mas na vida daqueles que o procuram ou precisam dele para isso. E essa posição de servidão, por definição, não é algo que você vai encontrar na Esquerda. Pois na Esquerda não nos colocamos abaixo do divino como servos e não nos dedicamos ao outro como foco principal.

    Encontramos títulos dentro de Ordens, pois elas tem um propósito prático em seu meio, servindo para indicar o desenvolvimento de seus indivíduos ou qual é a posição hierárquica dos seus integrantes. Mas, fora do contexto das Ordens e Templos em si, seus títulos geralmente perdem o sentido. Inclusive o título de Mestre. Sendo usados facilmente por inúmeros charlatães que gostam de se imputarem qualificações apenas pelo peso e pelo brilho que elas proporcionam a eles.

    E, como já temos um texto sobre como identificar grupos abusivos, aqui teremos como notar se a coroa dourada de algum professo líder é mesmo de ouro ou se ela é apenas um artifício para atrair os desavisados:

    1- Quais são as suas credenciais?

    Pesquise os antecedentes de qualquer um que se coloque como Sacerdote ou como Mestre para você. Se a figura se coloca como sacerdotal, de onde veio? Por quais Ordens já passou? Faz parte de algum Templo? Qual foi a sua trajetória? Se temos alguém que se coloca como um mestre, é mestre no que exatamente? Como, em quais lugares e com quais pessoas adquiriu sua maestria? Essa pessoa dá nomes identificáveis que você poderia entrar em contato ou localizar? Jurar juradinho que fez parte das “maiores e mais importantes Ordens” sem citar nomes ou rastro não vale. Qualquer um pode chegar em qualquer lugar e dizer que participou de vários grupos por aí. Isso não quer dizer absolutamente nada. Sem credenciais, sem negócio.

    “Ah mas fulaninho é uma figura autônoma.” Ok, então vamos ao segundo tópico.

    2 – Com qual qualificação?

    Figuras autônomas sérias, assim como quem é filiado a grupos específicos, tem trajetórias públicas reconhecíveis. Você é capaz de achar, e elas mesmo disponibilizam, seu histórico. Onde elas começaram, como foi a jornada, se elas fizeram cursos e quais, se foram treinadas em algum lugar ou por alguém, e suas contribuições para suas comunidades num geral. Se já escreveram livros, participaram de revistas e zines, qual tipo de pesquisa e bibliografia usam como base, se possuem algum site ou rede social e por aí vai. E isso nos leva ao próximo tópico.

    3 – Como contribuem?

    Como já vimos, títulos não são apenas nomes bonitinhos para se ter mas sim posições de responsabilidade. Sacerdotes tem o serviço como principal função. Sendo assim, como eles servem a própria causa que dizem defender e como ajudam e enriquecem seus meios? Eles disponibilizam o conhecimento que eles possuem de qual forma? Eles são autores, tendo livros, contribuindo em revistas ou tendo algum blog ou rede social? Eles tem serviços de auxílio e acolhimento para aqueles que precisam? Eles se preocupam em como suas palavras e ações vão afetar o seu meio e outras pessoas? Eles se portam com respeito e responsabilidade?

    Se for alguém que diz ser Sacerdote de alguma divindade, o que ela dispõe de serviço social em prol dessa divindade? Essa pessoa é uma fonte de informação confiável sobre essa figura divina? Quais recursos ela disponibiliza para as pessoas? Esse Sacerdote ou Sacerdotisa sabe conduzir e ensinar as pessoas em direção a sua divindade de forma correta e reverente? Quais projetos ela possui? O que ela está fazendo de relevante no momento? Se for alguém que se diz Mestre ou Mestra é a mesma coisa. Ela ou ele estão usando sua maestria como? Como provam que realmente são o que dizem ser? Pois isso deve ser feito através de atos, claros e consistentes, e não só através de se encher o peito e falar grosso. Se alguém clama para si uma posição de importância e relevância social deve existir um esforço e um mérito através do qual essa pessoa o conquiste e o mantenha.

    4 – Como são reconhecidos em seu meio?

    Outro bom indicativo para sabermos se uma figura que se coloca como Sacerdotisa, Sacerdote ou Mestre é fidedigna ou não é percebermos como as pessoas do meio que ela clama fazer parte a reconhecem. Fulano falou que é um Mestre ou um Sacerdote luciferiano? Além de verificar os outros tópicos acima observe como outros luciferianos falam dessa pessoa. Ele sequer é conhecido? E o sendo, as pessoas o reconhecem como uma figura de referência ou existem críticas válidas referentes a ele? Ninguém é tão alecrim dourado a ponto de ter todo um meio o criticando e as críticas não virem de um local válido. Onde existe fumaça podemos sim encontrar fogo. Fique de olho.

    5 – Qual é o seu comportamento?

    Ao olharmos para uma figura que se coloca como um ponto de referência também é importante notarmos como ela se porta e se conduz. Se ela transmite firmeza, seriedade, profissionalismo ou não. Alguém que vive de caçar briga e polêmicas demonstra que, se não for causando ira constantemente, não conseguiria ser relevante. Fuja dos sujeitos que só aparecem porque vivem discutindo, vivem gerando polêmica e vivem usando sensacionalismo ao próprio favor. Se essas pessoas tivessem um real conteúdo seriam conhecidas por ele e não por ter apenas a própria inconveniência para compartilhar com o mundo.

    6 – Para além das aparências

    É muito comum, em tempos de redes sociais, que a nossa capacidade de julgamento perceba a aparência que as pessoas projetam muito antes que possamos perceber seus reais discursos. A estética, o número de seguidores e boas estratégias de marketing muitas vezes nos fazem valorizar muito certas figuras antes de conseguirmos notar suas incoerências. E, aqui, todo cuidado é pouco. Aqueles que sabem lidar com os algoritmos das redes sociais em que se inserem facilmente conseguem fazer seus perfis crescerem. O que não significa, no entanto, que essas pessoas tenham de fato o que dizer. Elas só sabem jogar muito bem o jogo. E, muitas vezes, de forma extremamente suja. Usando qualquer pauta que esteja em voga no momento da pior forma, só para ampliar seu próprio engajamento.

    Seja crítico com o que você consome. Preste atenção no que de fato é dito. Em como é dito. Verifique as informações que chegam até você. Não coloque ninguém em pedestais. Veja através das aparências e do status que querem te vender. Lembre-se que, dentro da Mão Esquerda, não estamos para seguir mas sim para guiarmos a nós mesmos a nossa própria Apoteose.

    Até mais!

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    Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

    Primeiros passos – Sobre apadrinhamentos

    Fonte: Arquivo pessoal

    Dando continuidade a nossa conversa sobre Guias dentro da Mão Esquerda, cujos primeiros textos você pode ler aqui e aqui, hoje abordaremos os apadrinhamentos. Tendo em vista qual é a natureza do relacionamento que existe dentro da Via Sinistrae entre nós e as figuras espirituais que fazem parte de sua Corrente, temos nos apadrinhamentos os elos mais duradouros e profundos do Caminho. E, se você transita por meios de Esquerda, muito provavelmente você já ouviu sobre o tema em alguém dizendo algo sobre daemons ocupando o posto de patronos, matronas, guias ou guardiões de certas pessoas.

    O conceito, naturalmente, pode despertar muita curiosidade. Afinal, é uma união interessante de palavras. A maioria de nós cresceu com a visão cristã sobre demônios, e sobre como eles são figuras apenas negativas. Ouvir que outras crenças podem ter visões diferentes sobre seres que antes pensávamos serem apenas nocivos a vida humana, com esses espíritos até mesmo atuando como guardiões e guias de alguém, é naturalmente instigante.

    Em primeiro lugar, é bom separar os termos. Afinal, existe uma diferença entre daemons e demônios cristãos. Daemon é, em si, uma palavra em latim que se origina do grego daímôn, que é de onde temos demônio. Mas, muito longe de se referir aos conceitos cristãos, daemons eram espíritos de índole neutra e flexível que poderiam estar associados a natureza ou a certas facetas do temperamento humano, fazendo a ponte e a intermediação entre nós e o espiritual. Foi apenas com os processos de dominação cristã que a Igreja pegou o termo para dar a ele conotações negativas, transformando todos os espíritos, seres e divindades de quaisquer culturas e religiões externas a si como os demônios da sua própria mitologia. Muitos dos daemons da Goetia, por exemplo, nada mais são do que versões demonizadas de entidades e divindades de culturas pagãs mais antigas.

    Então quando se fala, na Mão Esquerda, sobre esses seres, existe uma preferência natural por se usar o termo daemon como uma forma de demarcar essa diferença e dizer que não trabalhamos dentro da lógica cristã que foi imputada a eles. Muitos podem ainda usar a palavra demônio mesmo, claro, mas mais por vício de linguagem e costume. Aqui, nosso raciocínio é sempre distinto do cristão.

    Em segundo lugar, é bom nos orientarmos sobre o local de onde estão vindo os conceitos que discutimos. E, no caso, aqueles que mais irão falar sobre este tipo de relacionamento com os daemons são satanistas teístas e demonólatras. Não apenas num sentido de que esses espíritos os protegem, mas no sentido de um apadrinhamento espiritual mais profundo para seus desenvolvimentos na Corrente. Em seu livro The Complete Book of Demonolatry, S. Connolly nos fala um pouco mais sobre o tópico (p.19):

    “Each practitioner of Demonolatry chooses what is known as a
    ‘counterpart’ Demon, or a Demon that defines or identifies with the
    attributes of the practitioner. This becomes the individual’s matron or
    patron deity (depending on gender association). All Demons become
    secondary to this particular Demon. For those practitioners who border on
    what might be called theistic Satanism, this Demon may or may not be
    Satan. In Demonolatry, Satan is the “fifth element,” or the source of all
    other energies. In other words, Satan is the Whole and every other Demon
    is simply a part of the whole. Each person, animal, plant, and thing that
    exists in nature is a part of the whole [the divine] as well. Because of this,
    there are no Demons more “powerful” than others.”

    “Cada praticante da Demonolatria escolhe o que é conhecido como sua
    ‘contraparte’ demoníaca, um demônio que o define ou um demônio que se identifica com os
    atributos do praticante. Este demônio se torna a matrona do indivíduo, ou sua
    divindade padroeira (dependendo da associação de gênero). Todos os demônios se tornam
    secundários a este demônio em particular. Para aqueles praticantes que são próximos com
    o que pode ser chamado de satanismo teísta, este demônio pode ou não ser
    Satã. Na Demonolatria, Satã é o “quinto elemento”, ou a fonte de todas as
    outras energias. Em outras palavras, Satã é o Todo e todos os outros demônios
    são simplesmente uma parte deste todo. Cada pessoa, animal, planta e coisa que
    existe na natureza é uma parte do todo [o divino] também. Devido a isto,
    não há demônios mais “poderosos” do que outros.”

    Em seu texto, S. Connolly aborda como, ao longo da trajetória espiritual dos demonólatras, o apadrinhamento entre seres humanos e daemons acontece. E estes espíritos, se colocando como padrinhos de seus escolhidos, são seus maiores guias e professores ao longo de suas jornadas. A relação se pauta em muito respeito, garantindo ao apadrinhado auto conhecimento, crescimento pessoal, proteção e força em sua jornada rumo ao desenvolvimento da sua própria natureza divina interna. Afinal, como a autora deixa claro, a demonolatria defende o auto empoderamento e a liberdade pessoal, assim como o crescimento espiritual de seus praticantes. Com cada um deles descobrindo o próprio propósito, e sua própria natureza divina dentro da Corrente do Adversário.

    E como um processo, parte do desenvolvimento espiritual dentro da religião que a demonolatria é, o apadrinhamento não é algo que nasce com o praticante. É algo que é elaborado passo a passo, conforme o praticante se aprofunda em seu caminho. Existe todo um processo de pesquisa, estudo e treinamento envolvidos até que se ache o padrinho ou madrinha de alguém. O demonólatra se apresentará e trabalhará com diversos daemons até que o relacionamento com um deles se firme mais do que com os outros. E isso é algo importante de se ressaltar aqui, é um relacionamento. E, como em qualquer relacionamento, as coisas não se desenvolvem do dia para a noite mas sim com o tempo. O seu melhor amigo não virou o seu melhor amigo do nada, não foi? Vocês tiveram uma história juntos. Da mesma exata forma, se você é casado, você não se casou em cinco minutos. Você não chegou para o seu marido, ou esposa, no dia em que vocês se conheceram e já se apresentou num “oi, meu nome é fulano e eu quero casar com você”. Presume-se que primeiro vocês se conheceram, ficaram amigos, depois começaram a namorar e por aí vai.

    Qualquer relacionamento entre seres humanos e figuras espirituais segue o mesmo princípio. Se você escuta falar de um daemon e se interessa por ele a primeira coisa que você fará será pesquisar sobre ele. Você estudará todas as fontes que puder achar e se preparará, através do estudo, para tentar um primeiro contato. Então, é como conhecer uma nova pessoa. Vocês podem se dar bem logo de cara, podem precisar de um tempo até se entenderem perfeitamente ou podem não se dar bem de forma alguma. É o andar da carruagem que vai dizer.

    E estes relacionamentos se firmam para o desenvolvimento espiritual do praticante. Para que ele aprenda e se desenvolva através das provas, testes e do trabalho do seu próprio caminho. Tendo, ao seu lado, um guia no qual confiar. Que o equilibrará, o ajudará, o ensinará, o protegerá e também o instigará através de provações a estar sempre em movimento, sempre avançando, nunca ficando por tempo demais na zona de conforto. Afinal, como já falamos, a atuação de um Guia na Via Sinistrae se dá através da sua natureza adversarial.

    Dentro da demonolatria, o processo de achar o daemon certo para esse papel pode levar anos e não é algo para ser feito levianamente, existindo um ritual apropriado de dedicação a se fazer para firmar o apadrinhamento de forma correta. Isso não impedirá que o praticante tenha outros mentores ao longo da sua jornada, mas colocará seu patrono como seu principal professor e disciplinador ao longo da vida.

    Dentro do satanismo teísta, ou tradicional, se vê a mesma coisa. Já ouvi de praticantes específicos que Satã, como figura principal, que os designou seu patrono/guardião. Não mudando, nisso, todo processo de estudo, esforço e dedicação envolvidos no processo. Afinal, não é como ganhar uma vantagem mas sim como receber uma responsabilidade. Consigo mesmo, com sua própria evolução e desenvolvimento em seu caminho espiritual, e com o daemon em si.

    Afinal, como continuamente ressalto, os guias espirituais que possuímos dentro da Mão Esquerda não são como os que temos na Mão Direita. Ainda mais se falamos de daemons, que não são figuras espirituais que são simples ou fáceis de se lidar. Cada daemon é um universo a ser explorado. Eles são complexos, intensos, e desafiadores. Definitivamente não são todas as pessoas que se dão bem com eles. Com suas contrariedades, com suas provocações, e com os confrontos que eles invariavelmente colocam na vida daqueles que lidam com eles. Estes seres sabem jogar como poucos sabem. São forças selvagens e indomáveis que existem muito antes da humanidade pensar em se formar. Eles são manifestações brutas de uma energia que nunca será domesticada. São faces do Adversário. Assim como devem se tornar aqueles que com eles se alinham.

    Agora, respondendo duas dúvidas que eu já ouvi muito:

    Eu ouvi sobre descobrir meu daemon patrono/guardião através da minha data de nascimento. Isso existe?

    Dentro dos estudos da Kabbalah nos deparamos com o Shemhamphorasch, o conjunto dos 72 nomes de Deus. Tendo três letras cada, eles se formam a partir dos desdobramentos do Tetragrammaton (YHVH) em 72 partes. Estes nomes se derivam dos versículos 19, 20 e 21 do Capítulo 14 do Êxodo. E, em sua original escrita hebraica, cada um destes versículos possui 72 letras. Se originando destes nomes possuímos 72 anjos e, posteriormente, a eles foram associados cada um dos 72 daemons da Goetia como suas contrapartes. Existe sim a aplicação destes anjos, e de suas contrapartes, aos dias do ano. Assim como existe esta aplicação de regência aos signos do zodíaco, as estações do ano e por aí vai. Isso significa especificamente que o anjo ou daemon do dia do seu nascimento é o seu anjo/daemon da guarda ou um patrono seu? Não. O máximo que podemos falar aqui é que, pela afinidade energética do dia, talvez você tenha uma facilidade maior para se aproximar dessas entidades. Mas o fato de um anjo/daemon reger o dia no qual você nasceu não naturalmente os relaciona a você de nenhuma forma específica. Você pode tentar uma aproximação com eles se desejar e se tiver o estudo adequado para tal. Mas não é uma obrigação de forma alguma.

    Eu ouvi que todos nós nascemos com um daemon guardião. Isso é verdade?”

    Quando falamos daquilo com o qual nascemos falamos de hereditariedade e de heranças espirituais. Você sabe de onde vieram os seus antepassados? Quem eles foram, quais são seus países e culturas de origem e o que praticavam? Todos dons, habilidades, afinidades e características com as quais você nasceu vieram deles. Se você não veio de uma família que se relaciona ou se relacionava com este tipo de espíritos é muito difícil que você tenha um deles atrelado a você desde o seu nascimento. Nós só nascemos com aquilo que a nós é passado através dos nossos laços de sangue. Se você, ao longo da sua vida, se dedicar a Mão Esquerda quem sabe você não possa passar a sabedoria que você acumular ao longo dos anos aos seus filhos e netos? Você pode não ter recebido essa herança, mas nada te impede de ser o começo dela para as próximas gerações que virão.

    Pense nisso e até mais!

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    Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

    Primeiros passos – Gnose

    Carta A Sacerdotisa do Goetia – Tarot in Darkness de Fabio Listrani – Fonte: Acervo Pessoal

    Se você já colocou suas mãos em algum livro relacionado ao ocultismo é quase certo que você já tenha lido o termo gnose. Sendo um substantivo grego feminino, gnose (γνῶσις, gnōsis)  significa literalmente conhecimento. Também podendo ser traduzido como consciência. Apesar de seu início originalmente ligado a religiões e filosofias helenísticas, ele é vasta e amplamente usado no ocultismo ocidental, por este sempre ter bebido muito da cultura e da sabedoria dos cultos de mistérios gregos antigos em geral. Sua utilização tem em voga o conhecimento, ou percepção, pessoal do espiritual e do divino, em comparação com o conhecimento apenas intelectual. Ele denota o conhecimento interno que nos é dado através da experiência prática com o espiritual.

    Pense na gnose como a sabedoria que você alcança através da ação. Quando iniciamos as nossas jornadas espirituais nosso conhecimento sempre é muito mais intelectual do que prático. Estando na fase de conhecer algo novo, começamos por ler a literatura básica e estudá-la para entender racionalmente onde estamos nos inserindo. Lemos, relemos, procuramos tirar dúvidas, fazemos anotações. Até estarmos prontos para começar com as práticas básicas. Com o avanço e a consistência dessa parte prática inicial é que começamos a entender não só a teoria daquilo que estamos fazendo mas também os resultados que temos com sua aplicação em nossas vidas. E é quando vivemos nossas primeiras experiências espirituais que o nosso caminho, a partir disso, começa a realmente caminhar e a ganhar contornos próprios. Com o tempo, e com a prática aplicada de forma madura, consistente e bem dirigida, alcançamos a gnose. O conhecimento, além do racional, que só a experiência ativa em nós.

    Nisso que é muito comum você ouvir pessoas falando que gnose é algo que apenas pessoas que se iniciam em seus respectivos caminhos espirituais recebem. Todas religiões, práticas e vertentes espirituais possuem, para seus novatos, um período de estudos e treinos básicos antes que essa pessoa possa ser iniciada. Para que ela compreenda a teoria, para que ela veja se concorda racionalmente e intelectualmente com aquele caminho primeiro. Existindo essa concordância e a pessoa tendo recebido os treinamentos adequados ela então pode passar pelos ritos de cada caminho. Que dão entrada a não apenas a teoria, mas a experiência. Cada iniciação transmite o saber de sua corrente através de diversos tipos de experiências que farão com que o iniciado tenha sua primeira vivência. E a vivência do espiritual gera o conhecimento interno que chamamos de gnose.

    Mas isso não significa que um praticante solitário não possa a ter. Existindo seriedade no trato e na aplicação da sua jornada espiritual gnose é algo que te alcançará conforme você caminha. Pois ela é fruto das experiências que temos pessoal e internamente com o espiritual, estando ou não entre outras pessoas de igual crença.

    Geralmente quem tenta mistificar demais o que a gnose é não a tem. E isso é algo com o qual você deve ficar muito atento. Principalmente se você for iniciante. Existem muitas figuras por aí com anos e anos de profundo conhecimento teórico que adoram se colocar acima dos outros pela quantidade exaustiva de anos que estudaram milhares de livros ultra complexos e que vão querer se crescer principalmente pra cima daqueles que estão começando agora. Nunca caia na dessas pessoas pois se você cair, provavelmente se tornará como elas, estudando por anos sem fim e tendo uma prática completamente morta. Cheia de teorias e sem nenhuma vivência.

    Espiritualidade não é o que você só escuta no banco de uma igreja ou templo. Espiritualidade é o que você vive.

    E eu te digo isso com a mesma consideração que o meu pai me disse, anos atrás, numa conversa após participarmos de um culto evangélico cheio de testemunhos inflamados. Na época, ele me disse para não me deslumbrar demais com nada daquilo mas sim para colocar sempre tudo que era dito a prova. Pois de nada adianta você estar num lugar, numa religião, pelo que os outros vivem. É você que deve ter as experiências. As coisas precisam acontecer na sua vida, e não apenas na vida dos outros. Por mais que possamos escutar relatos incríveis da vida espiritual de outras pessoas sempre devemos procurar ter as nossas próprias experiências. Nosso foco deve estar em nós, naquilo que se prova dentro das nossas vidas de forma real e positiva, e não apenas na dos outros. Pois é assim que encontramos o caminho do nosso coração, onde andaremos não só através da vontade de crer em algo mas da sua experiência ativa.

    Assim como os antigos gnósticos sabiam, a parte mais essencial das nossas jornadas é a vivência presente dela. Estude para amadurecer o seu conhecimento, e desse estudo construa a prática que te levará a sabedoria produzida através de um experiencial direto, do que você viverá na sua própria pele.

    E, com o tempo, você verá que todo esse processo na verdade é absurdamente orgânico e que não precisa ser forçado ou apressado de forma alguma, apenas vivido. É o fruto do ousar que vem depois do saber na fórmula saber, ousar, querer e calar. Nossos estudos não são apenas para acumularmos conhecimento, para só sabermos racionalmente, mas para podermos ter a ousadia de o aplicar. Transformando verbo em ação, em nossa própria carne. O saber aplicado, a gnose.

    Então, agora você já sabe, quando falamos da obtenção da gnose oriunda de um determinado caminho espiritual, falamos da prática daquele caminho que leva a compreensão mais profunda, vivida, dele. Entrar em estado de gnose é entrar em estados alterados de consciência que te permitam acessar e ter experiências próprias com o espiritual. Termos como gnose luciferiana, por exemplo, se referem a prática aplicada e dinâmica deste caminho espiritual em específico que nos levam a conhecê-lo de forma mais firme e imersiva. E quando você lê ou escuta as pessoas falarem da gnose de figuras espirituais específicas como a gnose de Lilith, de Lúcifer, de Belial ou etc o que está sendo dito é sobre o conhecimento que essas figuras dão para aqueles que ativamente se comprometem a trilhar com seriedade os caminhos delas. A vivê-los.

    Sendo bastante comum também, num uso mais corriqueiro e superficial do termo, quando alguém vai falar sobre suas próprias experiências espirituais, se dizer que algo foi verificado ou não dentro da sua gnose pessoal. Significando aquilo que aquela pessoa confirmou ou não em sua própria vida através da sua prática espiritual. Você vai ver bastante esse uso de termos principalmente entre praticantes modernos de bruxaria. É um uso mais genérico, mas serve para demarcar aquilo que as pessoas verificaram ou não através das suas experiências ativas. Afinal, nem tudo vai ser vivido da mesma forma por todos e a bruxaria, assim como o ocultismo, segue a sabedoria experimentalista do meu pai de se colocar as coisas a prova e ficar naquilo que se faz real através da experiência viva de cada praticante.

    Então ouse e não procure apenas conhecer o verbo, mas sim, o fazê-lo vivo em sua própria carne.

    Até mais!

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    Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

    Primeiros passos – Um exercício oracular

    Fonte: Arquivo pessoal

    Como vimos no post sobre organização pessoal, pequenas coisas feitas com regularidade e o estabelecimento de rituais diários trazem mais estrutura e resultados no início do nosso caminho do que nos sobrecarregarmos com coisas demais. E uma dessas pequenas coisas, que eu gostaria de indicar para aqueles que puderem se comprometer a fazê-lo com assiduidade, é este exercício oracular.

    Ele é ideal tanto para quem está começando como para quem está focando em um caminho específico dentro da Mão Esquerda e/ou já possui um guia ou patrono em sua jornada. Você pode fazê-lo diariamente, o que eu aconselho mais, mas também pode fazê-lo uma vez por semana. De preferência no início dela. Escolha um momento em que você terá pelo menos 15 minutos para o fazer com calma e sem ser interrompido, num local calmo e privado. Se você tiver um altar pessoal, faça nele. Se não tiver, garanta apenas que seja um local seguro e particular.

    O exercício

    Sente-se no local escolhido confortavelmente e se concentre inspirando e expirando profundamente. Acenda uma vela simples pedindo proteção e orientação, e peça para que os guias do seu caminho estejam com você, para que eles te mostrem o que for necessário no momento. Então pegue algum oráculo que você tenha e tire um conselho. Se for um oráculo de cartas, você pode fazer uma tiragem simples de três cartas. E este será o seu conselho do dia, ou para a sua semana.

    Reflita sobre o que sair. Você pode anotar e manter registro dessas tiragens a cada semana no mesmo caderno que você usa para fazer as anotações e estudos da sua jornada espiritual, se assim você o quiser. Ao final, agradeça. Guarde seu oráculo. E apague a vela. Você pode a guardar junto ao oráculo e a acender só para a realização deste pequeno exercício. E está feito.

    Simples, não é mesmo? É algo que não gastará muito do seu tempo e trará, se feito com regularidade e consistência, uma excelente conexão entre você e o seu próprio caminho. Bem como também com seus guias.

    Se você for um satanista teísta, você pode ter esse momento como seu momento diário ou semanal de conexão e contato com Satã. Assim como, se você for um luciferiano teísta, você pode ter esse mesmo exercício como seu momento diário, ou semanal, para conversar com Lúcifer. O mesmo pode ser dito a respeito de outros caminhos, com outros guias ou figuras patronais que você tiver. Se você quiser acrescentar algo, você pode recitar alguma oração ou algum pequeno texto devocional relacionado ao seu caminho antes de tirar o seu conselho. É o seu momento de conexão, você pode personalizá-lo conforme a sua crença e prática.

    Eu aconselho que, se estiver dentro das suas possibilidades, você tenha esse exercício, seu momento de meditação e um tempo para seus estudos todos os dias. O trio momento de conexão, meditação e estudo, se feitos todos os dias, irão te garantir uma boa estrutura e avanços naturais em sua jornada. Se você não dispor de tempo para este trio diariamente eu indico que, no mínimo, você tenha um dia marcado em sua agenda para fazê-lo uma vez por semana, todas as semanas. Lembre-se sempre que é a regularidade que nos fundamenta.

    Observação específica para aqueles que trabalham com Infernais: Se você possui entidades infernais no seu caminho você sabe que a energia deles é extremamente particular, densa e única. Quando eu comecei a fazer esse exercício oracular todos os dias eu percebi que seria melhor, no meu caso, reservar um baralho só para ele e para a minha comunicação com os infernais ao invés de usar com eles baralhos que eu usava também para outras coisas. Foi por isso que eu comprei o Goetia -Tarot in Darkness da Lo Scarabeo, que ilustra a maioria dos meus post aqui no blog sobre a Mão Esquerda. Por causa da necessidade de ter um oráculo reservado apenas para eles. E você pode sentir que será conveniente fazer a mesma coisa. Afinal, aquilo que usamos com Infernais, é bom que seja usado apenas com eles. Você não precisa comprar o mesmo deck que eu comprei, você pode reservar um que você já tenha só para isso. Mas se você sentir a necessidade de reservar algo só para eles, se ouça e reserve.

    Até mais!

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    Primeiros passos – Como identificar grupos abusivos

    Fonte: Acervo pessoal

    Você sabe quais cuidados tomar e no que ficar atento se quiser fazer parte de um grupo ou de alguma organização de Mão Esquerda? Se não sabe, esse texto é para você. Apesar do foco na Via Sinistra, os cuidados aqui listados podem ser aplicados em qualquer vertente esotérica, abarcando como identificar técnicas de manipulação e controle que podem ser usados para além do disfarce do discurso espiritual, então: vamos lá!

    1 – Love Bombing inicial

    Também conhecido como bombardeio amoroso, em tradução livre, o love bombing é quando alguém, ou um grupo de pessoas, demonstram afeto e admiração excessivos por um alvo no início de uma relação. É uma tática comum utilizada por narcisistas e cultos para que aquele que está na mira do bombardeio se sinta bem-vindo, amado, valorizado e seguro. É aquela pessoa que parece perfeita demais quando a conhecemos e aquele grupo em que todo mundo nos adora quando entramos nele.

    O objetivo do love bombing é criar confiança e subordinação. Ele te faz acreditar que você finalmente encontrou o seu lugar, onde você é acolhido e nutrido, sem que você possa ver nenhum defeito nas pessoas ou na organização ao seu redor. Assim, ele cria três efeitos principais que são a cegueira (”eu conheço fulano, ele nunca faria tal coisa/falaria tal coisa/agiria de tal jeito…”), a obrigação em retribuir (”poxa, ficaria super chato se eu não fizesse tal coisa pelo fulano, afinal, ele me trata tão bem e já fez x e y por mim…”) e a dependência emocional.

    O love bombing termina assim que você não é mais uma novidade ou assim que sentirem que você já está completamente envolvido. A partir de então o afeto começará a ser cada vez mais controlado e circunstancial. Inconscientemente, você começará a atender as demandas do indivíduo ou do grupo para voltar a ter aquele nível inicial de amor e carinho, nunca o conseguindo por completo e ficando vulnerável a outras táticas de manipulação.

    2 – Dissimulação

    Por definição, dissimular é fingir ou disfarçar reais intenções e propósitos. Sujeitos ou organizações abusivas nunca contarão exatamente o que querem. Se você encontrar qualquer pessoa, coven ou grupo que nunca conta exatamente quais são suas origens, nunca dizem claramente o que praticam e no que realmente acreditam, fique de olho. É claro que muitas coisas, quando se trata de conhecimento oculto, só são passadas aos poucos e para aqueles que estão dentro do treinamento interno de determinadas ordens e tradições. Mas se você olhar para um grupo e não der para saber quem são seus líderes, de onde eles vieram, qual vertente seguem, o que praticam e nem o que acreditam alguma coisa está profundamente errada ali.

    Grupos abusivos sabem que se você tivesse boas informações sobre eles você nunca se aproximaria, então tudo é feito com muita cautela e com muito sigilo. Isso vale em especial para grupos, dentro da Mão Esquerda, que escondem que são, na verdade, alinhados ao neofascismo ou ao neonazismo. Eles precisam ir te condicionando aos poucos. Aumentando o seu nível de tolerância a ideias extremistas lentamente. Geralmente enquanto também usam táticas de love bombing. Ninguém é radicalizado da noite para o dia. A dissimulação é um pré-requisito essencial do controle emocional e mental.

    3 – Exclusivismo

    Se alguém chegar em você e te vender a ideia de que ”só aqui você terá o único caminho”, desconfie. Existem muitos grupos e organizações que dirão que só eles tem a verdade, só eles levam ao verdadeiro caminho e a verdadeira iluminação. Nesta linha de pensamento fica implícito a postura de nós versus eles, que já foi citada aqui, no artigo sobre como identificar discurso fascista em meios de Mão Esquerda. Qualquer pessoa, grupo ou local que quiser te alienar usará o esquema nós versus eles para distorcer sua percepção de mundo. E nisso entramos também no próximo item.

    4- Controle de informação

    É através das informações que possuímos e que são disponibilizadas para nós que tanto a nossa percepção de mundo quanto a nossa opinião sobre os mais diversos tópicos é construída. Controlar informação, por isso, é uma das formas mais fáceis e eficientes de controlar pessoas. Em dinâmicas de controle em cultos qualquer informação vinda do exterior e que possa ir contra o que é passado internamente é considerada como má. Dentro do controle mental não pode existir nada que quebre a visão central que é passada e reforçada, então podar ou cercear opiniões ou fontes de informação externa e dissonantes são comuns.

    5 – Comunicação triangular

    Incluso no controle e na manipulação de informação existe a comunicação triangular, ou triangulação narcisista. Enquanto o controle de informação por si só muitas vezes tem o seu maior foco em controlar o que vem de fora, a triangulação manipula geralmente de forma mais interna.

    Nela temos a criação de uma falsa percepção entre as pessoas de um mesmo grupo com o objetivo de as dividir ou de fazê-las estar umas contra as outras. Ela é geralmente feita por um único manipulador, mas em determinados grupos figuras de liderança unidas podem usar essa tática para enfraquecer as relações de confiança entre as pessoas, tornando assim todo o grupo dependente apenas deles. Esses líderes irão espalhar boatos e mentiras entre as pessoas de forma que elas desconfiem umas das outras, se reportando apenas a eles e não conversando entre si.

    Desta forma, com os participantes do grupo isolados uns dos outros, se torna mais fácil abusar de cada indivíduo separadamente. Afinal, se as pessoas não conversam entre si, é improvável que conectem pontos, entendam o que realmente está acontecendo, desmascarem mentiras e denunciem os abusadores. Um grupo desunido é muito mais fácil de explorar do que um grupo unido. A triangulação também é usada para desviar focos de tensão para outros lugares em momentos de crise, criar novos conflitos que tirem a atenção de um problema original e esconder culpados com a eleição de bodes expiatórios, utilizando aqui novamente a abordagem do nós versus eles.

    6 – Controle de relações pessoais

    Enquanto a triangulação controla e manipula as relações internas de um grupo, o controle de relações externas também é encontrado em diversos tipos de culto. Se você está com alguém, ou em algum grupo, que aos poucos vai minando seu contato com pessoas externas, tome muito cuidado. Te isolar e fazer com que sua rede de apoio conte apenas com uma única figura ou com o grupo em questão te coloca em uma posição vulnerável. Principalmente se, aos poucos, forem te passando a ideia de esquecer a pessoa que você foi antes para se tornar uma nova pessoa dentro do grupo.

    7- Intimidação

    Preste atenção se, dentro de um grupo ou perto de alguma pessoa, existe a sensação de temor contra consequências ou conflitos caso algo seja questionado. Caso você seja isolado, ridicularizado, pressionado ou acusado por fazer perguntas ou se opor a algo você está sendo intimidado a se submeter.

    8- Estruturas de delação

    Dentro de cultos é comum que se as pessoas sejam encorajadas a vigiar umas as outras. Assim, caso algum comportamento de resistência seja identificado, os próprios integrantes do grupo denunciarão uns aos outros para as lideranças, geralmente de forma confidencial. Isto cria um sentimento constante de medo que inibe qualquer pensamento dissonante e triangula as relações, fazendo com que toda informação e poder se concentre nos poucos indivíduos que de fato controlam o grupo.

    9 – Controle do tempo

    Muitas técnicas de controle mental incluem manter seus alvos ocupados de tal forma que não possam perceber ou questionar o ambiente ao seu redor. Se você ficar perdido demais em reuniões e atividades até se sentir exausto, sem conseguir pensar ou analisar nada, cuidado. Se você sempre tem que pular de atividade em atividade, sempre com algum drama novo para distrair seu foco, nunca conseguindo falar direito com outras pessoas, ou mesmo com os líderes, porque ninguém nunca tem tempo, você está em uma dinâmica de controle de tempo. Você ficará correndo em círculos e mais círculos até conseguir se afastar do grupo, onde perceberá o contraste claro entre a vida normal e a dinâmica do grupo, que parecerá ter se passado em uma completa outra realidade, destacada do tempo e do espaço.

    10 – Linguagem com excesso de jargões

    Cultos e grupos extremistas geralmente tem suas próprias linguagens, com palavras chave e jargões que só são compreendidos plenamente por seus integrantes. Isso evita que ”ouvidos comuns” entendam o que realmente está sendo dito e produz uma sensação de seletividade e exclusividade entre seus participantes. Através deste controle da linguagem também é possível ameaçar indivíduos de forma sutil, onde o ameaçado saberá o que está acontecendo, mas as pessoas ao redor não.

    Aqui entra a política de dog whistle, ou apitos de cachorro, muito usados pela extrema direita, onde determinadas palavras e signos visuais são usados como forma de intimidar grupos específicos sem que as pessoas que não fazem parte daqueles grupos entendam o que realmente está acontecendo. E caso alguém do grupo afetado tente denunciar, ou reaja contra, possa se dizer que aquela pessoa está ”vendo coisas onde não existe” ou ”fazendo caso”. É uma forma velada de intimidação e coação psicológica.

    11 – Criação de inimigos em comum

    Nunca é demais alertar contra a tática do nós versus eles. Cultos geralmente elegem inimigos para unir as pessoas contra um alvo em comum. Isso pode ser feito para distorcer a percepção de seus integrantes contra pessoas externas, que seriam colocadas como o outro, mas também para criar um novo ponto de foco durante uma crise e para criar bodes expiatórios que sejam acusados no lugar dos verdadeiros abusadores.

    Cuidado com aquele grupo, ou coven, cujos líderes dizem, a cada problema interno que surge, que o grupo está sob o ataque espiritual de uma figura externa. O hábito de constantemente jogar o peso da culpa em um alvo externo a cada adversidade indica que o foco está sendo desviado do real problema. Não entre na narrativa de guerras mágicas ou espirituais entre grupos e indivíduos. Sempre investigue quais agendas e interesses individuais estão sendo servidos ou beneficiados através do incentivo ao conflito e a paranoia.

    12- Líderes que enfatizam demais que ”nunca fariam isso”

    Com extrema frequência as pessoas que mais insistem que nunca teriam uma determinada atitude são aquelas que com mais assiduidade a praticam. Fique atento quando alguém, ou alguma figura de liderança em um grupo, repete um pouco demais que nunca faria uma determinada coisa ou teria um determinado comportamento que é claramente errado. Se a pessoa se defende em excesso de um crime não cometido pode se tratar de uma atitude compensatória para algo em que ela na verdade possui culpa. Ouça cada ”mas eu nunca te trairia/te manipularia” como uma abertura para aquela possibilidade.

    13 – Autoengano

    Acreditar que só pessoas ignorantes ou fracas psicologicamente poderiam ser vítimas de manipulações, relacionamentos abusivos e cultos beneficia apenas abusadores. Apesar dos estereótipos que temos sobre o assunto, narcisistas e manipuladores estudam muito bem as pessoas com as quais entram em contato e fazem seu trabalho de maneira lenta e cuidadosa, de forma que nunca se levantem suspeitas. Quando você notar, já estará envolvido demais. E a própria vergonha que socialmente se imputa a vítimas de abuso muitas vezes impede que essas vítimas consigam assumir para si mesmas o que está acontecendo, dificultando tanto suas recuperações quanto a denúncia de seus abusadores.

    Controle e manipulações psicológicas são crimes silenciosos que florescem pela crença social de que o culpado é quem sofreu o abuso, não o abusador em si. Antes de dizer que ”isso nunca aconteceria comigo” e que ”apenas um idiota cairia nisso” saiba que nenhuma situação começa pelo seu extremo e que todos nós, começando por um discurso inicialmente amoroso e razoável, podemos nos enganar. Afinal, a pessoa mais fácil de se manipular é aquela se julga imune ao tema.

    E agora?

    Se você é um iniciante, não tenha pressa para encontrar um grupo. Procure estudar por conta própria antes. Com cuidado, com calma. Pesquise a história das principais ordens e organizações dentro da Mão Esquerda com seus líderes e principais figuras antes de pensar em qualquer tipo de afiliação. Visite seus sites e canais de comunicação, fique de olho em seus materiais e leia os livros lançados por seus integrantes antes de se aproximar para ter uma ideia do que você poderá encontrar.

    Vá em reuniões abertas como um observador. Escute muito mais do que fale. Se eduque em como reconhecer ideologias extremistas, táticas de manipulação e dog whistles em discursos e textos. Fique atento a transparência e a idoneidade daqueles que se apresentarem a você. Quanto mais conhecimento prévio você tiver, menos vulnerável você será.

    Vale também ressaltar que nenhuma ordem responsável admite menores de idade em seu corpo de integrantes por questões obvias de segurança. Se você ainda é muito jovem, seu maior compromisso deve ser com a sua educação e desenvolvimentos pessoais. Isso te dará mais base e consciência sobre o que procurar, se você o quiser, futuramente. Mas saiba que, por motivos legais, nenhuma ordem deve te admitir até que você seja no mínimo civicamente responsável por si próprio.

    As mesmas recomendações valem para Sacerdotes que atuam por conta própria. Desconfie, se você for menor de idade, de quaisquer Sacerdotes que se aproximem de você com muitas promessas e muito interesse. Propostas para que você ceda fotos do seu corpo devem ser descartadas, assim como iniciações que contenham quaisquer atos sexuais. Trabalhos espirituais que prometam grande fama, fortuna e amor imediatos por altas quantias de dinheiro são estelionato. E se você receber qualquer tentativa de assédio, assim como intimidações com base em trabalhos destrutivos, denuncie a polícia. A ameaça supersticiosa se enquadra no artigo 147 do nosso Código Penal como crime, podendo incluir ainda outros artigos se esta for meio para realização de constrangimento ilegal, roubo, extorsão ou estupro.

    Outro ponto importante de se observar, principalmente em redes sociais, são as figuras que vivem com base em criar drama e conflito constantes com outros. Muitos Sacerdotes, bruxos e magos diversos surgem e se mantém em relevância dependendo dos conflitos que eles criam com outras pessoas. Se você vir algum drama entre grandes perfis nas redes sociais repare sempre se uma das partes, ou ambas, estão no momento vendendo cursos. Ou se são pessoas que andavam meio esquecidas e agora, por causa da briga, estão voltando a ter algum destaque. Não é incomum inimizades se criarem só por ibope ou para a divulgação do curso caro de alguém depois. Seja seletivo com o conteúdo que você consome e com quais figurinhas você segue. Nunca coloque ninguém em um pedestal. Lembre-se que Lúcifer simboliza aquele que quebra estruturas de manipulação e de poder totalitários

    e nunca se curve diante de ninguém

    Até mais!

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