As Nove Declarações e as Onze Regras Satânicas

Fonte: Arquivo Pessoal

Como aqui no Lunário já pontuamos em nosso texto introdutório Satanismo – Um pequeno resumo histórico, não existe um único Satanismo e cada satanista é, em si mesmo, singular. A Bíblia Satânica de LaVey, apesar da sua importância histórica, é tida mais como uma sugestão do que um livro que deve ser seguido a risca sem considerar as visões e o caminho pessoal de cada adepto. Porém, dentro dela, existem pontos que podemos notar serem bem aceitos e queridos pela comunidade satânica em geral, tanto entre os ateístas quanto entre os teístas. Entre eles estão as Nove Declarações Satânicas e as Onze Regras Satânicas da Terra.

Vamos vê-las um pouco melhor no texto de hoje? A começar pelas Declarações:

As Nove Declarações Satânicas

  1. Satanás representa indulgência ao invés de abstinência!
  2. Satanás representa a existência vital ao invés de sonhos espirituais fantasiosos!
  3. Satanás representa sabedoria imaculada ao invés de auto ilusão hipócrita!
  4. Satanás representa bondade para quem a merece ao invés de amor desperdiçado aos ingratos!
  5. Satanás representa vingança ao invés de virar a outra face!
  6. Satanás representa responsabilidade para o responsável ao invés de dar atenção a vampiros psíquicos!
  7. Satanás representa o homem como outro animal, algumas vezes melhor, mas geralmente pior do que aqueles que caminham sobre quatro patas, e que, apesar de todo o “desenvolvimento espiritual e intelectual”, tornou-se o animal mais vicioso de todos!
  8. Satanás representa todos os assim-chamados pecados, pois levam à gratificação física, mental ou emocional!
  9. Satanás tem sido o melhor amigo que a Igreja já teve, pois foi quem a manteve rica durante todos esses anos!

Resumindo bem todo o apanhado de ideias desenvolvido ao longo da Bíblia Satânica, as Nove Declarações nos dão uma síntese da postura individualista e autoindulgente de LaVey. Temos a figura de Satã como um símbolo, representando os pontos vitais da doutrina, onde colocamos o nosso foco na existência física, material, e no momento presente acima das promessas de recompensas espirituais futuras que nos acostumamos a ouvir desde muito cedo pela cultura predominantemente cristã no qual ainda nos vemos inseridos.

Temos nelas uma postura muito mais focada no prático, no real, do que no espiritual. Que nos fala para pensar no hoje, não nos negando á toa, tendo o cuidado de valorizar as pessoas que realmente merecem ao nosso redor ao invés de alimentar aqueles que só pensam no próprio proveito. Também não temos o ser humano erguido acima da criação em seu texto mas sim como parte dela. E uma parte que, por muitas vezes, pode ser muito mais cruel do que sábia. Além da alfinetada característica, ao final, de nos lembrar que a Igreja não seria nada do que ela hoje é sem ter se imposto através do medo.

Para as completar, também temos as Onze Regras:

As Onze Regras Satânicas da Terra

  1. Não dê opiniões ou conselhos a menos que alguém os peça.
  2. Não conte seus problemas aos outros a menos que você esteja certo de que eles estão dispostos a ouvi-los.
  3. Quando no lar de alguém, demonstre-lhe respeito, caso contrário nunca vá lá.
  4. Se um convidado em seu lar o irrita, trate-o com crueldade e sem piedade.
  5. Não avance sexualmente a menos que lhe seja dado o consentimento.
  6. Não pegue algo que não lhe pertença, a menos que seja um fardo para a outra pessoa ou que ela peça para ser livrada dele.
  7. Esteja ciente do poder da magia se você a empregou com sucesso para obter seus desejos. Se você negar o poder da magia após tê-la utilizado, perderá tudo o que obteve.
  8. Não reclame de nenhuma coisa a qual não precise se sujeitar.
  9. Não faça mal a criancinhas.
  10. Não mate animais não humanos a menos que você seja atacado ou que o animal seja utilizado como alimento.
  11. Ao andar em território aberto, não perturbe ninguém. Se alguém o perturbar, peça para parar. Se ele não parar, destrua-o

Refletindo bem a postura de grande parte dos adeptos da Via Sinistrae como um todo, as Onze Regras são o grande “não mexa com ninguém sem necessidade, seja uma pessoa respeitosa e razoável, mas também não tolere a merda de ninguém” de LaVey. Tendo como pontos claríssimos a proibição de qualquer tipo de abuso sexual e de maldade contra crianças e animais, sendo esses pontos unânimes e cristalinos por toda a Esquerda.

Agora, além destas declarações e regras, existiria algo que o satanismo LaVeyano teria como proibições? Como uma religião tão focada na liberdade de seus adeptos, proibição aqui não seria a palavra certa. Mas, de fato, alguns anos após a publicação da Bíblia Satânica a Church of Satan colocou, para seus membros, algumas contra indicações. Posturas que, para eles, não refletem o que deveria ser a postura de um satanista saudável. Assim surgiram, como vemos a seguir, os Nove Pecados:

Os Nove Pecados Satânicos

  1. Estupidez — Ela está no topo da lista dos pecados satânicos e é o principal pecado do satanismo. É uma pena a estupidez não ser dolorosa. Uma coisa é ignorância, mas nossa sociedade incentiva a estupidez. Isso tem a ver com as pessoas indo onde quer que lhes é dito para ir. A mídia promove a estupidez como uma postura cultivada que não só é aceitável, como é louvável. Os satanistas precisam aprender a enxergar através do que lhes é dito e não concordarem em agirem como estúpidos.
  2. Pretensão — Uma postura vazia pode ser muito irritante e não aplica as principais regras da Magia Menor. Está em pé de igualdade com a estupidez por manter o dinheiro circulando nos dias de hoje. Cada um é levado a se sentir como um fardo pesado, tendo dinheiro ou não.
  3. Solipsismo — Projetar suas reações, respostas e sensibilidades em alguém é provavelmente o menos responsável que você pode ser, e é algo muito perigoso para os satanistas. É o erro de esperar que as pessoas lhe deem a mesma consideração, cortesia e respeito que você naturalmente as dá. Elas não darão. Ao invés disso, os satanistas precisam concentrar suas energias para aplicar o ditado “faça com os outros o que eles fazem com você”. Dá trabalho para a maioria de nós e requer constante vigilância, mas lhe tira a ilusão confortável de que todos são como você. Como dito, certas utopias seriam ideais em uma nação de filósofos, mas infelizmente (ou talvez felizmente, de um ponto de vista maquiavélico) estamos bem distantes disso.
  4. Auto-ilusão — Consta nas “Nove Declarações Satânicas”, mas merece ser repetido aqui. É outro pecado principal. Não podemos nos curvar a quaisquer das vacas sagradas que nos são apresentadas, incluindo os papéis que esperamos desempenhar. A única ocasião onde a auto-ilusão é bem-vinda é por diversão, e com cuidado. Mas neste caso, não é auto-ilusão!
  5. Conformismo de massa — É óbvio do ponto de vista satanista. Não há problema com os desejos de alguém, desde que eles os beneficie. Mas apenas os tolos seguem o bando, deixando uma entidade impessoal lhe dizer o que fazer. A chave é escolher um mestre sabiamente, ao invés de ser escravizado pelos caprichos de muitos.
  6. Falta de perspectiva — Novamente, esta pode trazer grande dor para o satanista. Você jamais deve perder a visão de quem e o que você é, e que ameaça pode ser, por sua própria existência. Estamos fazendo história agora e a todo momento, todos os dias. Sempre tente manter uma ampla visão histórica e social na mente. Esta é uma importante chave tanto para a Magia Menor quanto para a Magia Maior. Veja os padrões e encaixe as coisas se você quer que as peças fiquem em seus devidos lugares. Não se abale pelas impressões da massa: tenha consciência de que você está trabalhando em um outro nível, além do resto do mundo.
  7. Negligência de ortodoxias do passado — Esteja alerta de que esta é uma das chaves para a lavagem cerebral das pessoas de modo a aceitar algo diferente e novo, quando na realidade é algo que já foi aceito mas agora é apresentado numa nova embalagem. Deliramos com a genialidade do suposto criador e esquecemos do original. Isto forma a sociedade alienada.
  8. Orgulho contraproducente — Esta segunda palavra é importante. Orgulho é bom, até a hora em que você começa a “jogar o bebê fora junto com a água da banheira”. A regra do satanismo é: se funciona para você, ótimo. Quando parar de funcionar para você, quando você está no canto da parede e a única saída é dizer “sinto muito, cometi um erro, desejo que possamos nos ajustar de algum modo”, então o faça.
  9. Falta de estética — Esta é a aplicação física do fator de balanceamento. Estética é importante na Magia Menor e deve ser cultivada. É óbvio que ninguém pode ganhar dinheiro fora dos padrões clássicos de beleza e forma na maior parte do tempo, sendo assim desencorajados na sociedade consumista; mas uma atenção para a beleza, para o balanceamento, é uma ferramenta satanista essencial e precisa ser aplicada para a maior eficácia mágica. Não é o que é supostamente prazeroso: é o que realmente é. Estética é algo pessoal, reflete a natureza individual, mas existem configurações universalmente agradáveis e harmoniosas que não devem ser negadas.

Apesar do tom de escrita da Church of Satan estar longe de ser um dos meus favoritos em diversos momentos, nos Nove Pecados podemos ver alguns conceitos e ideias muito interessantes como não permitir que o seu orgulho te atrapalhe, ter noções claras através do estudo daquilo que já foi feito para não se deixar levar por pessoas que querem se passar por inovadoras reinventando a roda, sempre saber quem somos e quem queremos ser e termos perspectivas de futuro que se alinhem a isso, não se render ao conformismo, cuidar da própria aparência e não projetar os próprios problemas e faltas nos outros.

Apesar de não serem regras estritas, tanto as Nove Declarações quanto as Onze Regras e os Nove Pecados trazem reflexões e pontos de vista discutidos e bem integrados as mais diversas vertentes satanistas que temos hoje em dia. Alguns pontos geram mais discordância que outros, mas o foco no indivíduo, a auto preservação e a responsabilidade individual tendem a refletirem na cultura da comunidade satânica como um todo.

E aí, já tinha ouvido falar delas antes?

Até mais!

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Fontes:  The Satanic Bible de Anton Szandor LaVey, The Eleven Satanic Rules of the Earth [1], The Nine Satanic Statements [2], The Nine Satanic Sins [3]

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