Quem é Lúcifer

Fonte: Acervo pessoal

A imagem que aprendemos a ter sobre Lúcifer, seja através da cultura pop ou através da influência religiosa cristã ao nosso redor, se constrói através de uma linha sucessiva de erros. E de como a cultura popular tanto absorveu quanto se relacionou com o imaginário do anjo rebelde. Tornando, assim, o desfiar do novelo histórico que o envolve uma tarefa e tanto.

É difícil, principalmente para aqueles que tiveram um berço cristão, nunca terem ouvido ou lido a famosa passagem de Isaías 14:12-14

“¹² Como caíste desde o céu, ó Lúcifer, filho da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações!
¹³ E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte.
¹⁴ Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.”

A figura do mais sublime e alto anjo que, orgulhoso, se rebelou contra o próprio criador e, com isso, causou uma disruptura vital no próprio Universo nos tem um apelo muito particular. Nele temos um herói trágico, a imagem de uma perfeição pervertida, e altamente fascinante justamente por causa disso. Temos a beleza, o poder, a traição, a ira, todas muito exaltadas nessa narrativa. A imagética de uma guerra nos céus, um lugar que supostamente deveria ser habitado apenas pela perfeição e pela paz, captura a imaginação. Nos faz pensar. Refletir.

Mas como Lúcifer, que é um nome oriundo do latim, surgiu em um texto que, em seu original, é em hebraico?

E é neste pequeno detalhe que tudo começa.

Um pouquinho de história

A cronologia de Isaías abrange um período histórico muito específico, englobando em si desde a ocupação assíria até o período pós-exílico, pegando em si também o exílio babilônico. Seu texto nos é passado como a narrativa profética de um só autor mas, hoje em dia, temos evidências o suficiente para sabermos que ele foi um esforço de muitas mãos. E que a passagem sobre a figura que viemos a chamar de Lúcifer é datada como escrita em meados do século VIII AEC, fazendo parte de um contexto altamente político, escrito numa época de guerra, onde Israel perdeu e foi absorvido pelo Império Assírio. É isso que nos dá o tom conservador do autor, e de onde vem sua crítica ao paganismo assírio, ainda que os maiores ataques sejam voltados justamente contra o povo de Israel, que supostamente estavam novamente se afastando de seu Deus e de suas raízes ao aceitar aderir a cultura de seus conquistadores.

Em todos os capítulos iniciais do livro podemos acompanhar uma narrativa extremamente sangrenta. E, na passagem do capítulo 14, a ira profética se volta contra uma figura muito específica. Uma figura que tenta alcançar paridade com o divino. Tendo a Apoteose, a elevação ao status divino, como objetivo. E, contra essa figura, a inversão de seu objetivo é a maldição lançada:

“¹³ E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte.
¹⁴ Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.
¹⁵ E contudo levado serás ao inferno, ao mais profundo do abismo.
¹⁶ Os que te virem te contemplarão, considerar-te-ão, e dirão: É este o homem que fazia estremecer a terra e que fazia tremer os reinos?
¹⁷ Que punha o mundo como o deserto, e assolava as suas cidades? Que não abria a casa de seus cativos?
¹⁸ Todos os reis das nações, todos eles, jazem com honra, cada um na sua morada.
¹⁹ Porém tu és lançado da tua sepultura, como um renovo abominável, como as vestes dos que foram mortos atravessados à espada, como os que descem ao covil de pedras, como um cadáver pisado.
²⁰ Com eles não te reunirás na sepultura; porque destruíste a tua terra e mataste o teu povo; a descendência dos malignos não será jamais nomeada.
²¹ Preparai a matança para os seus filhos por causa da maldade de seus pais, para que não se levantem, e nem possuam a terra, e encham a face do mundo de cidades.”

Aquele que desejou se elevar recebe o castigo da queda. Sendo expulso de seu próprio túmulo, posto para vagar como um fantasma exilado, não recebendo paz ou reconhecimento, e impedido de se juntar aos seus próprios antepassados. O contraste aqui é propositalmente colocado, e impiedosamente estendido aos filhos dessa figura (um tema que retorna quando nos remetemos aos Nefilim). No entanto, não é de Lúcifer que o narrador está falando aqui.

A figura discutida neste capítulo todo é referenciada como הֵילֵל בֶּן-שָׁחַר (Helel ben Shachar, “o brilhante, filho da manhã”, um título hebraico usado para se referir a Vênus como estrela matutina). E é esta expressão que, quando foi traduzida para o grego na Septuaginta se tornou Phosphorus, ou Hèosphóros, nomes divinizados pelos quais os gregos antigos chamavam Vênus, a Estrela da Manhã. E Phosphorus, por sua vez, quando foi traduzido pela primeira vez para o latim na Vulgata, é que foi então traduzido como Lúcifer. Vindo de lux, que significa luz, e ferre, que significa portador, Lúcifer inicialmente constituía um título que significava literalmente O Portador da Luz. E que, assim como seus equivalentes, era usado como referência a Vênus.

Mas o profeta, claramente, não se referia contra um dos planetas do nosso sistema em sua imprecação. Muito menos as figuras divinas ligadas a ele. Ele se referia contra um homem. Um mortal. Que era passível ao falecimento, sendo então suscetível a maldição contra ele e contra seus herdeiros lançada. Com Helel ben Shachar não sendo um nome, como suas traduções também não o são, mas um título, é ao rei da Babilônia que nos referimos, sendo ele o real alvo da ira do narrador em seu período histórico correspondente.

E, apesar da identidade exata deste rei ainda ser um tema de discussão, o contexto torna provável que ele seja o assírio Sargão II, o mesmo mencionado em Isaías 20:1 como aquele que foi até a cidade de Asdode e a subjugou em 711 AEC, o que completou a conquista de Israel. Como um grande rei guerreiro e conquistador de sua época, Sargão II intencionava conquistar o mundo inteiro, e frequentemente usava para si os títulos reais mais pretenciosos da antiga Mesopotâmia para expressar esse desejo, como chamar a si mesmo em diversos registros de “rei do universo” e de “rei dos quatro cantos do mundo”.

Seu amor pelos campos de batalha era, no entanto, arriscado para alguém que tinha suas pretensões. Afinal, se jogar frequentemente em batalhas não costuma ser algo que prolonga naturalmente nossos dias de vida. E sua morte, como não poderia deixar de ser, foi justamente em guerra. E foi tão marcante para o seu próprio povo na época que foi, inclusive, vista como um mau presságio. Pois para ter sido morto da forma que ele foi, ele só poderia ter cometido alguma falta grave contra os deuses, para que esses o abandonassem em campo.

O que fez com que seu herdeiro, assim que assumiu o trono, rapidamente mudasse a capital para outra cidade e procurasse se afastar da memória de seu pai, não conseguindo lidar com o que aconteceu com ele. De certa forma, o impacto e o trauma gerados por sua morte deram alguma concretização as palavras de Isaías. Com seu filho encorajando o povo da Assíria a o esquecer, e até mesmo com sua esposa, Atalia, sendo enterrada as pressas quando morreu. Sem receber as práticas tradicionais de sepultamento e sem menção alguma a Sargão II atrelada a ela em suas inscrições.

É importante, então, deixar claro que o contexto bíblico que sempre fomos levados a crer em relação a Lúcifer, portanto, não existe. Se derivando completamente da retirada do contexto político de Isaías para que um título fosse, então, tido como um nome próprio. Criando assim, artificialmente, um mito que remeteria e se refletiria em outras figuras míticas prévias cujas lendas são marcadas pelos elementos da fuga, do compartilhamento do fogo ou de dons proibidos e a transgressão dos limites impostos pelo divino. Figuras como Aṯtar (ou Astar), Gilgamesh, Ícaro, Prometeu e muitos outros. Contendo, desta forma, uma vasta inspiração pagã, foi fácil criar uma narrativa charmosa e cativante para essa nova figura.

Afinal, diferentemente do judaísmo que não possui a figura de um inimigo central em sua crença, o catolicismo precisava de um bom antagonista. E foi isso que foi criado. Não só na narrativa do anjo caído através de más traduções, como também na figura multifacetada e complexa que o Diabo em si se tornou, absorvendo tudo que o cristianismo procurou demonizar e transformar em tabu perante as culturas que ele dominou e sufocou ao longo dos séculos. Tornando, assim, a figura de seu opositor muito mais intrincada, complexa, vívida e repleta de cores e nuances do que a figura da sua própria divindade.

Mas e na mitologia romana?

É um ponto comum, em meios pagãos, citarem Dianus Lucifero quando falamos de Lúcifer. Principalmente se estamos falando da bruxaria folclórica italiana, a stregheria. Mas é importante dizer que a ideia de Lúcifer como consorte de Diana e pai de Aradia não tem fontes para além do livro do norte-americano Charles G. Leland, lançado no século XIX, Aradia: Evangelho das Bruxas. Este livro teve uma profunda influência em Gardner, que o usaria junto as suas outras inspirações para criar a Wicca na década de 50. Mas, apesar da relevância, ele nunca se configurou como uma fonte histórica confiável. O que realmente se tem de registros sobre Lúcifer em seu berço, que é romano, não o tem como uma divindade mas sim como um título relacionado a Vênus e, quando se difere disso, é em poucas menções mitológicas onde temos uma licença poética de o retratar como filho da Aurora. Sendo Diana, em si, uma deusa virginal que obteve do pai, Júpiter, a permissão para assim permanecer, nunca tendo se casado ou concebido descendentes.

A figura de Lúcifer sempre foi a figura de Vênus. Não se remetendo, originalmente, a uma divindade. Mas tendo uma evolução histórica que o ampliou da sua correspondência original a figura do rebelde angelical, do adversário, e que foi profundamente absorvido pela cultura e pelo folclore de diversas formas por séculos. Todas as tentativas de colocá-lo ou apenas como uma grande figura pagã ou apenas como o anjo caído na verdade limitam a discussão sobre ele. E limitar Lúcifer a um só ponto no tempo, a uma só passagem ou cultura, no momento presente, é desejar limitar a apenas um gole as águas de um rio que corre por toda história humana. Ele é uma figura complexa. E existe muito mais beleza e riqueza na complexidade do que em respostas simples e chapadas como preto no branco.

No Luciferianismo

Dentro do Luciferianismo, Lúcifer é tido como uma das mais elevadas representações da face masculina do Adversário. Ele é entendido como aquele que traz a Luz e a Sabedoria, guiando a Vontade do adepto até a sua libertação e iluminação. Sendo o ponto focal de inspiração que norteia o nosso caminho para explorarmos as profundezas de nossas mentes e almas, trazendo as sombras até a transformação da luz. Para os luciferianos ateístas, ele é o mais alto símbolo inspiração, para os teístas, ele é considerado (e aí sim) como a divindade patronal do Caminho. Sendo uma representação de poder, de ascensão, de maestria pessoal e de inteligência. Assim como diz Michael W. Ford na Bíblia do Adversário, p.59:

“Lúcifer é equilibrado, representante da luz e do intelecto superior e da escuridão, representando os aspectos lascivos ou ocultos do eu. A ‘Luz’ não é meramente uma iluminação ‘acima’, e sim muito mais importante: a Luz interior onde está nossa consciência individual, nosso potencial divino para controlar e comandar nossa vida com base em nossos pensamentos, palavras e ações. A Chama Negra ou a Luz Negra é a referência simbólica a essa consciência divina interior.”

O equilíbrio perfeito entre a luz e a escuridão sendo um traço característico que define o próprio luciferianismo em si. Afinal, nenhuma iluminação pode ser verdadeira se ela não provém, em primeiro lugar, do contato e da maestria das sombras interiores de um indivíduo. Crescemos e nos desenvolvemos quando temos a coragem de explorar e enfrentar nossa própria obscuridade. Lúcifer traz o conhecimento tanto dos nossos traços e desejos destrutivos quanto de nossas maiores qualidades e criatividade e esse conhecimento não deve ser utilizado para que tentemos “anular” as sombras e focar só no que consideramos mais agradável, visto que isso seria um processo auto destrutivo e vão, mas sim o de equilibrar ambas as polaridades, realmente as acolhendo e compreendendo, pois existe tanto propósito quanto aplicabilidade nos dois lados da moeda.

A figura simbólica do anjo rebelde nos inspira a questionar o mundo ao nosso redor, a percebermos que a rebeldia, quando feita com propósito, pode ser uma força de mudança extremamente necessária e libertadora. A figura do Adversário nos motiva em força e em poder para não temermos o processo de “queda” em nossos infernos pessoais. Pois apesar de difíceis, são processos necessários ao nosso crescimento. E existe uma força única naqueles que foram coroados como senhores do próprio submundo. A figura do Senhor deste Mundo nos guia em como podemos nos desenvolver materialmente em nossas vidas. Pois apesar de focarmos no crescimento do nosso espírito ainda estamos encarnados neste mundo e precisamos ter conforto e vitória nele também.

O luciferianismo pensa a escuridão (o demoníaco) como um símbolo de tudo o que nos é primal. Nosso subconsciente, nossos desejos e necessidades carnais, nosso instinto de sobrevivência, nosso ego, nossos impulsos violentos, nossos desejos animalescos, mas também como nossa força emocional, Pois existe cura e fertilidade nas sombras. Essas coisas, por si só, não são boas ou más. apenas são o que são. E a luz (o angelical) é pensada como o nosso intelecto, o nosso potencial criativo, o nosso pensamento lógico e racional, nossa auto disciplina, nossas habilidades estratégicas e a nossa capacidade de obter sabedoria a partir das nossas experiências e percepções. Ela também não é boa e nem má, ela também apenas é o que é. E diante do equilíbrio que temos na figura de Lúcifer, na Estrela da Manhã que inspira nossa evolução intelectual, e na Estrela Vespertina que nos guia ao poder da escuridão, nos desenvolvemos de forma harmônica e completa.

Lúcifer e Satã seriam o mesmo perante o Luciferianismo?

Tenha sempre em mente que, dentro do Luciferianismo, Lúcifer é a figura do Portador da Luz, representando a sabedoria e a iluminação pessoal. Ele simboliza, em primeiro lugar, os aspectos angélicos ou superiores do Eu, sendo assim um símbolo de poder, evolução e de ascensão. Já a palavra Satã, em sua origem, é um título. Vindo do hebraico שָטָן (significando adversário) e do árabe الشيطان (shaitan) que derivam da raiz semítica šṭn, significando hostil. Podemos ver a utilização deste título para se referir a diversos opositores num sentido geral dentro da Tanakh hebraica, mas nunca sendo usado como nome próprio de uma única figura. Isso só acontece com o advento da Igreja Católica, muitos anos depois, em sua busca por criar o adversário de sua própria crença. Dentro da Mão Esquerda, Lúcifer e Satã se posicionam como faces diferentes da força Adversarial. Cito aqui, novamente, as palavras de Michael W. Ford em sua Bíblia do Adversário, p. 64 e 65:

“A partir de nosso ponto de vista, Lúcifer é um título que significa ‘Portador da Luz’. Satã é o aspecto ígneo que significa inimigo. Nós não reconhecemos a figura de Satã do Antigo Testamento como Lúcifer em qualquer sentido aparente ou absoluto. O Adversário tem muitas formas e Máscaras Deíficas. A Corrente Adversária é a força motivadora que causa mudança, evolução, destruição, criação e pelos desafios que temos diante de nós, um símbolo de força e auto evolução pela vontade. Sob o nome de Satã há um tipo diferente de energia, se comparado a Lúcifer; como uma força essencial da natureza e da humanidade (…) Satã e Lúcifer são formas distintas do Adversário.”

Símbolos de Poder

O Sigilo de Lúcifer do Grimorium Verum (1517)

O sigilo mais famoso e bem reconhecido que temos em utilização dentro do ocultismo e da Mão Esquerda como sigilo de Lúcifer é oriundo do livro Grimorium Verum, de 1517. Nele, Lúcifer é considerado como o Imperador Infernal, tendo sob seu comando os espíritos da Europa e da Ásia (os outros dois principais, abaixo e em conjunto a ele, dentro da narrativa deste grimório, seriam Belzebu, tendo sob o seu comando os espíritos da África e Astaroth, tendo sob o seu comando os espíritos das Américas).

Possuindo quatro partes, o texto original do Grimorium não nos explica muito sobre seus possíveis significados. Em tempos modernos, no entanto, conseguimos encontrar ensaios e diversas formas de os trabalhar dentro da Mão Esquerda, derivando das experiências e do trabalho sério de diversos autores. O que aqui colocarei se refere aos conceitos a eles atribuídos dentro do Caminho Luciferiano. As informações podem ser encontradas no Book of the Witch Moon, das páginas 341 até 344 e na Bíblia do Adversário, das páginas 217 até 222, ambos de Michael W. Ford.

O Sigilo do Espírito – A Chama Negra

Fonte: Acervo pessoal

O símbolo inicial traduz o aspecto principal de Lúcifer como aquele que rege os poderes da mente e do intelecto em relação a Verdadeira Vontade. Representando a Chama Negra coroada, unida e em perfeito domínio das nossas funções conscientes, este sigilo representa o mais alto estado do Espírito dentro do Luciferianismo e ativa os dons da adivinhação, da Alquimia Negra e da auto deificação. Aqui temos o despertar da Articulação Superior da Consciência. O aspecto angélico, que representa a inteligência, a luz, o poder e o equilíbrio.

O Sigilo do Portador da Sabedoria Esquecida – A Espiritualidade Predatória

Fonte: Acervo pessoal

Aqui temos a Marca do Portador da Luz, tanto como encarnação da Iluminação como quanto Príncipe das Trevas. Sendo o sigilo mais conhecido pelo público em geral no que se refere a Lúcifer, temos aqui a representação da nossa razão e de todos nossos cinco sentidos em uso de desejo e foco, através do qual podemos dominar o mundo ao nosso redor. A razão e o intelecto desenvolvidos e bem direcionados, aliados as nossas ações equilibradas e dinâmicas, como a chave para a nossa autoridade e o nosso poder sobre nós mesmos e sobre o que nos cerca. E essa vontade pelo domínio aqui é a Vontade Vampírica, a fome atávica, ponte entre os aspectos angelicais (racionais e elevados) e os bestiais (primitivos e densos). É um símbolo que pode, entre outras coisas, proteger o adepto quando ele se dirige ao devorar do espírito, ao beber da sombra (sombras dos mortos) e ao transmutar da forma dos nossos corpos nos planos astral e onírico.

O Sigilo do Elemento do Ar – O Serafim Caído e a Estrela da Manhã e do Entardecer

Fonte: Acervo pessoal

No Sigilo dos Elementos, ou Sigilo do Elemento Ar, temos a experiência do mundo ao nosso redor. A primavera, o verão, o outono e o inverno, o frio e o calor, a escuridão e a luz, o sol e a chuva, os quatro elementos e o meio ambiente em geral. Neste símbolo, percebemos como o meio nos afeta e como nós o afetamos. O mais voltado ao material dos quatro símbolos, onde temos nossa relação de influência mútua com a natureza, tendo sua utilização voltada aos rituais e meditações onde operamos para influenciar o mundo físico ao nosso redor, ele é um lembrete constante de que podemos moldar os nossos arredores, também agindo como um choque para sairmos das zonas de conforto para testarmos nossas forças continuamente. Os dois símbolos crescentes no topo nos remetem a lua, Senhora da Noite, o triângulo inverso sendo a descida do espírito a matéria, o olho no centro do triângulo sendo o Olho de Satã como Poder do Mundo e os dois olhos abaixo sendo os Olhos do Adepto, nossa máscara de carne neste mundo, com o círculo central sendo o Círculo do Eu, o centro de Evocação em trabalhos cerimoniais por onde se derrama o Espírito.

O Sigilo do Plano Astral e da Viagem Espiritual

Fonte: Acervo pessoal

O último símbolo está relacionado diretamente ao uso dos outros três. Ele representa a Sombra do Adepto, o corpo astral que tem a capacidade de sair de noite para o Sabá dos Feiticeiros. A Sombra Astral é um veículo pelo qual iniciações espirituais são recebidas, podendo ser moldado para quaisquer formas que sejam do nosso agrado, para melhor refletirmos as qualidades do nosso verdadeiro espírito. O olho, aqui, é o vigia flutuante. E seu uso está profundamente ligado a práticas oníricas (incluindo as vampíricas, onde bebemos dos que dormem).

Entendendo o que cada símbolo traz podemos utilizá-los corretamente em nossas práticas e evolução. Cada um deles pode ser absorvido pelo nosso subconsciente, na ativação ritualística, para se converterem então em poder consciente. Afinal, ativados em nosso subconsciente, eles são trazidos de volta ao consciente e a luz como chaves de poder na prática luciferiana.

Experiências Pessoais

Como sou uma luciferiana teísta, o que eu falo aqui parte desta perspectiva. E a minha experiência com Lúcifer é como a divindade patronal do meu caminho. Sendo o meu contato com ele um dos mais leves, naturais e transformadores de toda minha jornada até agora. Estar com ele é fluido, é autêntico, é suave. Sua energia, em seu aspecto luminoso, tem a mesma sensação daquele friozinho revigorante que te desperta em um amanhecer ensolarado. Em seu aspecto denso, é como estar na borda de um precipício, com seus sentidos se aguçando pela adrenalina. Ele é extremamente gentil e educado. No espaço que você abrir para que ele atue em você ele te desenvolverá e, quase que sem notar, quando você se der conta você terá mudado. E não só em um ponto ou dois, mas completamente. A ação dele, mesmo quando pontual, sempre irradia, como a própria luz tem por costume de fazer, e nada mais permanece como era antes do toque dele.

E, justamente pela sua gentileza e por como ele é aberto e caloroso com aqueles que se achegam a ele, as vezes sua rigidez passa quase que desapercebida. Pois sim, ele exige muita disciplina e tem altas expectativas naqueles que estão debaixo das suas asas. Em sua delicadeza e cortesia, ele irá te educar e te retificar sem que você nem note. As coisas vão se alinhar. Você vai se alinhar. E vai ser tão fluido que pode até parecer estranho. Afinal, ele transforma as coisas em uma escala maior do que estamos acostumados. No entanto, nunca confunda sua amabilidade por permissividade. O toque suave pode se transformar em um punho de ferro na mesma velocidade que a luz possui.

Outro ponto bom de não se confundir é a maneira como ele lapida as pessoas sob sua influência e cuidado. Ele é extremamente presente, caloroso, protetor e preocupado com os seus, mas isso não significa que ele não será o professor mais duro e impiedoso da sua jornada ao mesmo tempo. A dualidade entre sua leveza e sua densidade também está nisto. Ele pode te mimar e te dar as provas mais duras que você já viveu na sua vida na mesma semana e sem seu sorriso se alterar por um segundo só. Então esteja pronto para levar as coisas realmente a sério, com comprometimento e dedicação, ao decidir ir até ele. Vale a pena. Vale a pena demais. Para aqueles genuinamente se dedicam.

O Caminho da Estrela da Manhã

Como não pode faltar, o ritual a seguir é para aqueles que querem estabelecer contato com Lúcifer pela primeira vez! Iremos aqui iniciar com seu aspecto luminoso, ligado a Estrela da Manhã.

Para ele, espere a lua estar nas fases nova ou crescente. Então, separe uma manhã para fazê-lo. Dê preferência para as sextas ou para os domingos, mas o importante é que seja um dia em que você possa acordar realmente cedo e ter tempo para ritualizar sem pressa. Localize qual é o Leste em relação a sua casa, ou local onde você realizará o ritual e onde vênus se encontra no céu. Veja também exatamente em qual horário o sol nascerá na sua cidade, pois é antes dele surgir no horizonte que iremos começar a trabalhar, de forma que possamos presenciar a luz nascer durante nossa prática.

Mais ou menos uma hora antes do sol nascer (sim, cedo assim) prepare um banho com as pétalas de uma rosa branca, boldo, hortelã, tomilho e cravo. Tome seu banho higiênico normalmente e, no final, tome o banho de ervas da cabeça para baixo. Então, já limpo e energizado, prepare o local que você irá usar. Dê preferência para locais abertos, onde você possa ver o céu, mas você pode usar um ambiente interno também caso seja sua única possibilidade. O organize e limpe fisicamente e, para a limpeza energética, você pode usar incenso de sândalo ou sangue de dragão. Tenha consigo:

  • Uma representação de Lúcifer (podendo ser uma arte que você goste, seu sigilo, etc)
  • Uma vela branca, verde ou dourada
  • Uma esmeralda (bruta ou lapidada, vai da sua escolha)
  • Vinho rose
  • Rosas vermelhas

Arrume todos elementos como um pequeno altar a Lúcifer, voltado ao Leste. Então, uns 10 minutinhos antes do sol nascer, faça o Círculo. Acenda a vela. Olhe para o céu, para Vênus, e diga:

”Estrela da Manhã
Anunciadora do Dia
Da Vida
Da Beleza e da Virtude
Derrame seu brilho sobre mim neste momento
Seu discernimento e poder
E me eleve
Até a Iluminação
Até a Sabedoria
E a Libertação
De Lúcifer”

Respire profundamente. Se concentre. Deite-se e deixe a esmeralda repousando no centro da sua testa. Olhe para o céu, para vênus, uma última vez e então, feche os olhos. Se imagine no meio de uma densa floresta, aos pés de uma grande montanha, perto do amanhecer. Você percebe que, em suas mãos, você segura o seu próprio coração, feito da mais pura esmeralda. Segure ele perto do seu peito com cuidado e comece a subir a montanha. Seu caminho é lento, com um ou outro obstáculo, mas você consegue avançar e chegar ao topo.

Lá, você consegue ter uma vista panorâmica de todos os arredores. E, no horizonte, você consegue ver os primeiros raios do sol surgindo aos poucos, tingindo o céu lentamente em seu dourado caloroso. Localize vênus no céu. Então, com toda sinceridade, use suas próprias palavras para chamar Lúcifer até você. Fale com todo o seu coração, afinal, ele está em suas mãos neste momento. Repare que, inclusive, enquanto você fala, seu coração começa a brilhar. E, quanto mais você fala, chamando Lúcifer, mais seu coração brilha. Até que, ao final do seu chamado, ele esteja brilhando como uma pequena estrela entre as suas mãos. Olhe para ele, admire seu brilho. Até que, em algum momento, uma luz a sua frente chame a sua atenção.

Olhando para frente novamente, você verá uma silhueta angelical feita da mais pura luz pousando os pés suavemente no topo da montanha, a sua frente. O céu, atrás do anjo de luz e de suas asas, brilha cada vez mais, se tingindo de dourado e tons alaranjados e rosados. Aos poucos, o anjo se aproximará de você. Com sua luz aos poucos se reduzindo e com você conseguindo enxergá-lo melhor, você reconhecerá Lúcifer. O saúde, agradeça pela sua presença. E explique qual é o motivo do seu contato. Ele te ouvirá atentamente. Quando você terminar, ele se aproximará ainda um pouco mais, beijando suavemente o centro da sua testa e pegando o seu coração entre suas mãos. Em um segundo, quando você olhar, nas mãos de Lúcifer, seu coração terá virado uma brilhante coroa de esmeralda. Neste momento, Lúcifer falará algo para você. Ouça atentamente, e desperte da meditação.

Respire fundo novamente, e levante com calma. Já terá amanhecido ao seu redor. Ofereça a vela, o vinho e as rosas a Lúcifer. Agradeça a ele, agradeça a Vênus também. Anote suas impressões. O que você viu, o que você sentiu, o que você ouviu, e encerre o ritual apropriadamente. Espere a vela queimar até o fim e, então, você pode entregar o vinho e as rosas num parque, aos pés de uma árvore bem bonita. Dê preferencia as floridas, ou frutíferas. A esmeralda poderá ficar com você. A mantenha sempre por perto por pelo menos um mês, afinal, ela estará imantada com a energia do ritual! E fique atento aos sinais e sonhos que você poderá ter pelas próximas semanas.

Correspondências

E agora, para fechar o nosso artigo, vamos a algumas correspondências que podem ser usadas com ele! Você irá notar que a maior parte das correspondências aqui dadas são ligadas a Vênus e não é por acaso, afinal, estamos falando de uma força que é ligada a este planeta. Sinta-se livre para as usar como ponto de partida. Então, com o tempo e com o desenvolvimento dos seus estudos, amplie-a com base nas suas próprias experiências e jornada.

Dias: Sexta e Domingo

Horários: Amanhecer e poente

Planeta: Vênus

Pedras: Esmeralda, jade verde, cianita azul, selenita, quartzo

Metal: Cobre e ouro

Cores: Verde, dourado, branco

Incensos: Sangue de Dragão, sândalo, jasmim, rosas

Animais: Serpentes, dragões, corvos e gatos

Ofertas: Vinho tinto ou rose, flores (principalmente rosas vermelhas), frutas e doces

Enn: Renich Tasa Uberaca Biasa Icar Lucifer

Fontes e leituras indicadas: Para a parte histórica em si, Lúcifer: Princeps de Peter Grey sempre é a minha maior fonte e indicação. Dentro do luciferianismo indico A Bíblia do Adversário e Apoteose de Michael W. Ford e também, pegando a corrente dracônica e explorando as diversas facetas de Lúcifer e de figuras que seguem mitos semelhantes ao seu, temos as obras Ritos de Lúcifer e Lúcifer – O Despertar de Asenath Mason.

Até mais!

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