A Demonolatria Moderna

Fonte: Acervo pessoal

Como define S. Connolly em seu The Complete Book of Demonolatry, pág. 17: “Demonolatria é uma religião do Eu. (O que significa que trabalhamos para melhorar a nós mesmos). Trata-se de descobrir o poder divino pessoal dentro cada um de nós, vivendo dentro do equilíbrio natural das energias que nos rodeiam (o Universo). Trata-se também de auto responsabilidade e paz interior. Os demônios, para alguns, são simplesmente pontos focais de uma única e pura energia. Para outros, são entidades reais com personalidades e consciências individuais.”

Quando falamos na Demonolatria Moderna falamos de uma religião nova, ampla, diversa e em pleno desenvolvimento onde o equilíbrio e o desenvolvimento pessoal são o grande foco. Nela, os Daemons são despidos de qualquer visão ou conotação cristã para retornarem aos seus postos originais como figuras pagãs cheias de complexidade e força.

O termo começou a ser usado tímida e clandestinamente em alguns meios nos Estados Unidos em meados de 1950/1960 até que, em 1998, oficialmente foi lançada a Guild of Demonolatry que, apesar de agora extinta, foi a responsável por aos poucos tirar prática do armário. Antes dela, muitos praticantes poderiam simplesmente referir a si mesmos como satanistas teístas ou seguidores de algum Daemon específico, sem entrar em muitos detalhes. Hoje em dia, com a proliferação de informações proporcionada pela internet e pelo trabalho de longa data de autores dedicados ao meio (como a S. Connolly!) a temos cada vez mais desenvolvida e bem definida.

Em suas bases temos a procura e a preocupação em se recuperar práticas e crenças que foram marginalizadas pelo cristianismo, além da prática e da comunhão ritual com figuras tidas como adversariais. O trabalho de Richard Dukante é bastante usado e citado, assim como princípios do Hermetismo e do Ocultismo Ocidental são muito usados nas fundações da parte prática.

Nela, não temos as noções de Céu e nem de Inferno como concebidas pelo cristianismo. Alguns praticantes acreditam em reencarnação, outros não. Sendo algo pessoal dentro da visão e da experiência de cada um. Num geral, a ciência é usada e levada em consideração. Principalmente no que se refere a responder sobre de onde viemos e como nosso universo veio a existir e evoluiu.

Adorar Satã é o ponto focal da Demonolatria Moderna?

Não. Dentro da demonolatria Satã geralmente é visto como o Quinto Elemento, ou seja, a fonte e a personificação de todas as outras energias. O temos na materialidade física do mundo ao nosso redor (a Natureza) assim como em nossos próprios instintos e verdadeira essência. Sendo uma das maiores expressões da Corrente do Adversário e um símbolo do Todo, o respeito a ele não inclui uma adoração a ele unicamente voltada. A maioria dos demonólatras foca sua prática pessoal não nele mas sim no seu patrono ou matrona principal, como já falamos aqui.

Por quê Demonólatras e não Satanistas?

Demonólatras não se consideram pertencentes a tradição satânica de Anton LaVey, e nem de suas derivações. Alguns podem adotar a parte filosófica do satanismo para si, mas como uma escolha pessoal e não como algo que faz parte da demonolatria em si. Satanistas Teístas são os que mais podem se aproximar da demonolatria em princípio e prática, mas sempre depende de como cada indivíduo desenvolve a sua práxis. Mesmo dentro da corrente Teísta muitos satanistas ainda tem um certo receio em se afirmar como demonólatras de fato e preferem não reivindicar essa ligação entre as vertentes. Como movimentos que surgiram e cresceram separadamente, apesar de suas intersecções, devemos sempre respeitar a maneira como cada praticante se coloca e as particularidades de cada um dos caminhos separadamente.

Existem rituais de sacrifício dentro da Demonolatria Moderna?

Não. O sacrifício de qualquer animal ou pessoa não é praticado dentro da demonolatria. Muito justamente para se evitar e se distanciar de estereótipos negativos que ainda pesam em cima daqueles que se apresentam como demonólatras. O que não significa que não exista espaço para a prática de blood magic. Mas nela, obviamente, o praticante usa apenas do seu próprio sangue e não do de terceiros.

O que é ofertado então?

Quando nos relacionamos positivamente com os Daemons uma troca de vitalidade e força é beneficamente criada entre ambas as partes. Para além das ofertas materiais que podem ser feitas, a troca energética que ocorre através da convivência é o maior ponto de enriquecimento entre um Daemon e o seu praticante. É através dessa troca que crescemos em nosso caminho, evoluímos e nos desenvolvemos. Aqui o foco não está na ideia caricata da venda de uma alma ou de se ser nocivo a si mesmo ou a outros mas sim no crescimento e no fortalecimento do praticante perante aqueles com os quais ele espiritualmente se relaciona e se entrega.

Mão Esquerda ou Direita

O termo demonolatria, por si, significa adoração aos Daemons. E, quando falamos em adoração, é geralmente a imagem de subserviência a uma força externa que nos vem a cabeça. No entanto, o termo aqui é sempre empregado no contexto em que o temos na Mão Esquerda. Significando que a prática pessoal dos demonólatras é voltada aos Daemons como manifestações da Corrente do Adversário e que seu culto os tem como forças centrais no auxílio do seu próprio desenvolvimento pessoal e não como divindades que estão acima dos seus praticantes.

Lembre-se sempre que na Mão Esquerda não colocamos o divino como estando acima de nós mas ao nosso lado enquanto nos desenvolvemos conjuntamente a ele. Nesta visão, o divino não está separado de nós para que o alcancemos fora mas sim está dentro de cada um de nós. E o desenvolvimento desta centelha divina interna é o foco principal.

Todos somos uma parte do Todo, por isso, não estamos abaixo das figuras espirituais com as quais nos relacionamos, apenas experimentamos um tipo diferente de estado de existência estando no momento dentro de nossos corpos mortais.

Como diz S. Connolly em The Complete Book of Demonolatry, pag. 27:

“Autoconhecimento, auto responsabilidade e auto adoração são partes
da Demonolatria, assim como a busca pelo conhecimento e a prática da adoração aos Demônios. Não nos humilhamos diante dos Demônios como seres indignos que
dependem da ajuda deles para tudo. Eles não nos controlam. Nós controlamos a
nós mesmos. Trabalhamos com os Demônios e os honramos para descobrir nossos verdadeiros
potenciais como seres imperfeitos, mas divinos, ligados a um plano físico de
existência. Ao honrá-los e adorá-los, estamos honrando e
adorando a nós mesmos porque eles são parte de nós, assim como nós somos parte deles.
Todas as coisas são divinas. Não perdemos nosso tempo tentando olhar dentro dos
olhos dos nossos deuses. Em vez disso, trabalhamos para olhar através dos olhos de nossos
Deuses. Basicamente, somos todos a manifestação física do divino. Definimos adoração como reverência e respeito, manter algo em alta conta.”

Então, se você ver alguém achando que ser um demonólatra é se ajoelhar diante de Satã e dos Daemons como superiores, saiba que essa pessoa só está desinformada e se levando pelos estereótipos que aqueles que não fazem parte da religião podem ter sobre ela. Afinal, na Demonolatria Moderna não existe a visão de que estamos abaixo e a mercê dos Daemons mas sim a de que eles são forças que seus praticantes respeitam, confiam e se relacionam em harmonia.

Fontes e leituras recomendadas: Demonolatria Moderna e The Complete Book of Demonolatry de S. Connolly.

Até mais!

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