Os 11 Pontos Luciferianos de Poder

Fonte: Arquivo pessoal

O Luciferianismo, como vimos em nosso texto introdutório, é um sistema de crença, ou filosofia de vida, que busca se inspirar nas qualidades da figura de Lúcifer como portador de iluminação e conhecimento. Dentro da visão luciferiana, Lúcifer não é visto como o Diabo, mas sim como a representação de uma força libertadora que ilumina a consciência, trazendo discernimento e lucidez. E, dentro desta visão, encontramos os Onze Pontos Luciferianos de Poder. Estabelecidos por Michael W. Ford na fundação da Greater Church of Lucifer em 2014, eles tem a intenção de tanto definir quanto abordar o pensamento e a atitude luciferiana.

Mas longe de serem regras inquestionáveis e imutáveis, os Onze Pontos servem como uma bússola inicial tanto para a compreensão quanto para a aplicação da filosofia luciferiana por parte de seus adeptos, devendo ser interpretados dentro do contexto e da prática de cada um. Afinal, cada luciferiano é único em si mesmo. Tendo, cada qual, liberdade dentro do próprio discernimento e conduta. No texto de hoje do Guia eu discorro e aprofundo a minha compreensão sobre eles. Então bora lá? Vamos a eles:

1 -Lúcifer representa a luz do intelecto, sabedoria e poder somente para o indivíduo com a coragem de ascender a essa responsabilidade

Começamos, no primeiro Ponto, com a concepção de que a visão que possuímos sobre Lúcifer dentro do luciferianismo é tanto original quanto própria e de que ela atenderá apenas aqueles que dele participam e os que se dispõe a ir além dos lugares comuns que temos socialmente sobre a grande Estrela da Manhã. Lúcifer, como o conhecemos, é uma figura historicamente rica e complexa. Dependendo da crença onde a pessoa se encontre ele pode ter diversos atributos, representar valores distintos e ser muitos em si mesmo. O ter como um representante de luz e sabedoria não é uma unanimidade mas sim um demarcador da visão que temos dentro na Mão Esquerda sobre ele, principalmente dentro do luciferianismo em si. O interessante, no entanto, é a forma como o Ponto coloca que essa visão também se trata de uma responsabilidade.

Não bastando, aqui, que o tenhamos como um iluminador apenas conceitualmente mas sim que nos portemos de acordo, o colocando nessa posição ativamente em nossas vidas. Aqui se encontrando a diferença, e a responsabilidade. Tanto pessoal, particular a cada um, mas também para com Lúcifer em si (para aqueles, dentro de nós, que se configuram como teístas). É na práxis que entendemos o que realmente sua luz significa. Como ela se manifesta. E como ela transforma cada adepto em específico. Uma luz que só se torna tangível para aqueles que escolhem se colocar efetivamente sob ela.

2 – O símbolo do Adversário é aquele do auto libertador e do rebelde espiritual que inspira a auto evolução

Assim como discorremos em nosso texto sobre a Corrente do Adversário, a figura adversarial, em si, não fala ou se refere a um ser só em específico mas a uma força anticósmica, acasual, que age e se manifesta como os impulsos motivadores, inspiradores, desafiadores, destruidores e criativos dentro de cada ser humano e na natureza como um todo. Sendo ele a pulsão que flui através de nós como o instinto primal da revolta, para vencermos as adversidades e evoluirmos. Muitas figuras, em diversas mitologias ao longo das eras, possuem atributos adversariais e se colocam nesta posição. Pois, sem esta força, não temos movimento. Mas nenhuma delas é o Adversário em si. Pois ele é uma pulsão que tudo permeia, para muito além das figuras através das quais sua energia flui e é a nós codificada.

3 – Lúcifer representa o portador equilibrado da tocha de Vênus: Aquele que Traz a Luz como a Estrela da Manhã e o Portador da Noite como a Estrela Vespertina

No terceiro Ponto encontramos, num primeiro vislumbre, o que será aprofundado no quinto Ponto: a visão de Lúcifer como um ser dual, que traz em si o equilíbrio entre sua própria luz e sua própria sombra. Este equilíbrio permeia e distingue toda doutrina luciferiana em si. Nenhuma luz é verdadeira se não for nascida do âmago das trevas, e nenhuma escuridão existe sem sua própria luminosidade. Ambas são manifestações opostas do mesmo princípio cósmico que, em sua dança, se move e se equilibra constantemente. Uma não existindo para fora ou na ausência da outra. O portador da tocha de Vênus que traz o amanhecer e o crepúsculo são um e o mesmo. Não sendo possível a nós interagir com um sem também aceitar o outro.

4 – O Adversário simboliza a centelha da consciência que questiona todas as coisas, manifestando o caminho individualista com responsabilidade apenas consigo mesmo

Como já mencionado, o Adversário, perante a visão da Mão Esquerda, simboliza uma Corrente energética específica que permeia e percorre tudo que existe. Se alinhar a ele exige consciência, constante aprimoramento pessoal e auto responsabilidade. Neste caminho você não é responsável por ninguém além de si mesmo. Você pode ser extremamente social em outras camadas da sua vida, mas tenha em mente que, espiritualmente, este caminho faz parte da Via Sinistrae e ela, por definição, como aqui vimos, é um caminho de separação e auto regência.

5- A queda de Lúcifer simboliza a libertação da mente da mentalidade escrava e a coragem para explorar e dominar a escuridão interior. Não se pode oferecer a iluminação da Estrela Matutina sem a sabedoria da escuridão interior

Em um aprofundamento da dualidade apresentada no terceiro ponto aqui temos a função evolutiva das adversidades (das sombras) da Corrente sendo demonstrada no mito da queda. Apenas a centelha da rebeldia pode nos fazer desejar algo para além daquilo que fomos condicionados incialmente. Questionando, desacreditando, percebendo as discrepâncias. Todos que começam a ver além das aparências iniciais de um local dele são expulsos para não perturbar a ordem dos que lá ainda permanecem. E exige coragem se dispor a isso.

Não só por se perder a proteção e o acolhimento do grupo, mas por termos que, após a expulsão, nos encararmos e nos definirmos para além do que somos em relação ao outro. Como os seres sociais que somos, evoluímos enquanto espécie dentro de estratégias que focam o coletivo. Desta forma a maioria de nós, por natureza, descobre e formula quem se é e tem seu senso de identidade baseado nas estruturas e hierarquias sociais disponíveis a si, não enxergando ou se expandindo para além delas. Sendo este exercício desorientador no início, mas recompensador em seu final. Onde passamos a não nos basear em nada externo para sabermos quem somos mas sim em um senso de identidade, e de luz, de fato auto regente e soberano em si próprio.

O caminho, por sua própria natureza, irá nos fazer entrar em discrepância com nosso meio. Irá nos fazer “cair”, perder as certezas que antes tínhamos, sair do conforto que antes conhecíamos e enfrentar em isolamento nossas próprias trevas. Mas é apenas através delas que podemos criar nossa verdadeira luz. Nosso verdadeiro poder, potencial e força. Onde não se encaixar deixa de ser um lamento para ser uma fonte de autoconhecimento e poderio.

6 – O Adversário representa rebelião com propósito: sabedoria, força e poder

Como já citado aqui, a rebeldia do Adversário não existe apenas por existir. Ela é o motor das mudanças e do movimento do mundo. Afinal, sem oposição nada muda. É o grito dos inconformistas que muda as leis, que desafia o status quo, que nos faz avançar enquanto sociedade. São os rebeldes que trazem novas ideias, que apontam onde estão as falhas, que cospem na cara do que está velho para que algo novo surja. Todo movimento precisa ter um propósito por trás de si. Um propósito que se guie pelo avanço, pelo fortalecimento e pela melhora.

7 – Lúcifer representa a coragem e a firmeza para adquirir amor próprio saudável, levando á responsabilidade de honrar seu templo da mente, corpo e espírito

No sétimo Ponto temos um tópico que o Ford gosta muito de valorizar e nem todos autores ocultistas colocam em destaque, apesar de ser essencial: o cuidado que devemos ter conosco como um todo. Não apenas espiritualmente, mas principalmente fisicamente. Você não irá evoluir espiritualmente, seja qual for sua interpretação sobre o que quer que isso seja se, ao mesmo tempo, você não cuidar da sua existência material e física.

Nesta terra, no momento, ninguém existe apenas como espírito. Temos mentes e corpos dos quais é igualmente sagrado e essencial cuidar. E, sendo Lúcifer uma manifestação de Vênus, ele é popularmente conhecido por colocar seus adeptos em dia com os cuidados com seus próprios corpos e saúde tanto quanto em disciplina com suas jornadas espirituais. O que, na prática, é sempre mais trabalhoso do que no discurso. E aprender a se amar, se respeitar, se cuidar e se nutrir como um todo faz parte do caminho com tanta ou mais importância do que performar rituais intrincados e ter grandes experiências espirituais.

8 – Para se tornar seu próprio deus, você deve ter a sabedoria e a força para governar e guiar sua vida, como se sua mente fosse sobreviver além do corpo mortal

A questão da auto deificação é complexa dentro da Mão Esquerda. Nem todas vertentes, autores e praticantes tem a mesma exata visão sobre ela. Mas a que o Ford aqui trás é a do indivíduo soberano em relação a si próprio. A independência que é marcada dentro da Via Sinistrae, onde não aceitamos mestre ou autoridade sobre nós além da nossa própria. O adepto da Esquerda é essencialmente anárquico em sua natureza, negando toda autoridade que tente lhe comandar. E, ao final, também temos a visão costumeira de Ford de que não podemos de fato provar que algo para além vida existe, mas não faz mal nos guiarmos tendo em mente que também não podemos provar que esse algo não existe. Afinal, só chegando lá descobriremos.

9 – Indulgência com moderação, amor pelo merecimento e desdém para com os indignos

O nono e o décimo Ponto carregam em si bastante da moral que temos dentro da literatura satanista de LaVey. O que não é de todo estranho, visto que ambos o satanismo e o luciferianismo modernos tem histórias entrelaçadas e se carregam e avançam como crenças irmãs dentro da Mão Esquerda. Aqui, a diferença geralmente se encontrará na maneira como o luciferianismo reforça a moderação e o equilíbrio em sua indulgência. Mas o ponto de não se desperdiçar afeto indiscriminadamente permanece inalterado. Ambas crenças colocam como anti natural a postura de se amar todas as coisas, dizendo que não devemos desperdiçar esse sentimento naqueles que demonstram que irão apenas nos desgastar através dele. Como dizem, faz parte de uma boa higiene emocional que nem todos tenham acesso a você. Reserve sua doçura para quem realmente a celebrará junto a você e não para aqueles que te usarão por ela. Aprenda a dizer não, estabeleça limites não negociáveis, e se preserve.

10 – Lúcifer representa a percepção de que cada ato, não importa se percebido como altruísta, é um ato egoísta. Mesmo se ajudar os outros é a sua paixão, o cérebro ainda recebe uma recompensa química desencadeada pelo ato. Portanto, muitos consideram que fazer boas ações na sociedade pode aproximar você de “deus”. Reconheça que você é egoísta, então veja esse fato em todos os outros enquanto observa. Aceite isso e depois, com esse conhecimento, faça escolhas que beneficiem não só a você, mas seus entes queridos também, quando possível.

O décimo Ponto coloca a natureza da intencionalidade que devemos ter em nossos atos em foco. Pois tudo o que fazemos é, essencialmente, aquilo que julgamos bom ou correto para nós mesmos dentro dos nossos valores pessoais e julgamento interno. O bem e o mal que fazemos, em igual forma, é feito dentro do que achamos justo dentro da nossa própria lógica. Buscamos aquilo que desejamos e tem para nós apelo, seja o que for. E não existe absolutamente nada de errado nisso.

De forma que sempre é extremamente insidioso colocar a armadilha do que é moralmente mais ou menos nobre dentro desta dinâmica. Somos, assim como tudo neste Universo, neutros em natureza. Dependendo de diversos contextos e circunstâncias para calibrar nossas ações e julgamento ao que mais se alinha ao nossos ideais e a nossa preservação. Quem mais tenta se dizer moralmente irrepreensível e nobre é quem mais percebe em si mesmo falhas a compensar. Todos santos em campanha tem demônios bem alimentados a esconder. Não seja como eles, reluzindo um brilho apenas performático. Faça o que for, sendo positivo ou negativo, tendo em mente o seu bem estar e o conforto daqueles que somam com você sem prender seus pés na arapuca de querer colocar um halo em sua própria cabeça.

Afinal, não existe nada de mais verdadeiramente egoísta, no sentido pejorativo da palavra, do que se colocar como um eterno e perfeito bonzinho que se sacrifica numa cruz por todos apenas para deixá-los com um sentimento de dívida para com você, que deve ser paga em retorno com adoração e aplausos. Chame isso pelo que realmente é: manipulação.

11 – Se tornar um deus é entender completamente que você possui o poder de criar e sustentar seu caminho na vida e inflamar a luz do potencial de autodeterminação

No décimo primeiro e final Ponto Ford volta a sua definição da auto deificação como um processo de soberania pessoal. A decisão de sairmos de onde estamos e começarmos um longo processo pelo nosso próprio desenvolvimento, em todas as instâncias, não pode partir de nenhuma força que não seja a nossa própria, internamente. Nós devemos ser os maiores e únicos interessados aqui. E devemos fazer isso por motivos verdadeiramente próprios. Afinal, a Via Sinistrae separa de nós tudo que é externo para que, desta forma, possamos conhecer profundamente quem verdadeiramente somos. Podendo então, nos dirigirmos sem distrações a luz da nossa Verdadeira Vontade.

Até mais!

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