Primeiros passos – Gnose

Carta A Sacerdotisa do Goetia – Tarot in Darkness de Fabio Listrani – Fonte: Acervo Pessoal

Se você já colocou suas mãos em algum livro relacionado ao ocultismo é quase certo que você já tenha lido o termo gnose. Sendo um substantivo grego feminino, gnose (γνῶσις, gnōsis)  significa literalmente conhecimento. Também podendo ser traduzido como consciência. Apesar de seu início originalmente ligado a religiões e filosofias helenísticas, ele é vasta e amplamente usado no ocultismo ocidental, por este sempre ter bebido muito da cultura e da sabedoria dos cultos de mistérios gregos antigos em geral. Sua utilização tem em voga o conhecimento, ou percepção, pessoal do espiritual e do divino, em comparação com o conhecimento apenas intelectual. Ele denota o conhecimento interno que nos é dado através da experiência prática com o espiritual.

Pense na gnose como a sabedoria que você alcança através da ação. Quando iniciamos as nossas jornadas espirituais nosso conhecimento sempre é muito mais intelectual do que prático. Estando na fase de conhecer algo novo, começamos por ler a literatura básica e estudá-la para entender racionalmente onde estamos nos inserindo. Lemos, relemos, procuramos tirar dúvidas, fazemos anotações. Até estarmos prontos para começar com as práticas básicas. Com o avanço e a consistência dessa parte prática inicial é que começamos a entender não só a teoria daquilo que estamos fazendo mas também os resultados que temos com sua aplicação em nossas vidas. E é quando vivemos nossas primeiras experiências espirituais que o nosso caminho, a partir disso, começa a realmente caminhar e a ganhar contornos próprios. Com o tempo, e com a prática aplicada de forma madura, consistente e bem dirigida, alcançamos a gnose. O conhecimento, além do racional, que só a experiência ativa em nós.

Nisso que é muito comum você ouvir pessoas falando que gnose é algo que apenas pessoas que se iniciam em seus respectivos caminhos espirituais recebem. Todas religiões, práticas e vertentes espirituais possuem, para seus novatos, um período de estudos e treinos básicos antes que essa pessoa possa ser iniciada. Para que ela compreenda a teoria, para que ela veja se concorda racionalmente e intelectualmente com aquele caminho primeiro. Existindo essa concordância e a pessoa tendo recebido os treinamentos adequados ela então pode passar pelos ritos de cada caminho. Que dão entrada a não apenas a teoria, mas a experiência. Cada iniciação transmite o saber de sua corrente através de diversos tipos de experiências que farão com que o iniciado tenha sua primeira vivência. E a vivência do espiritual gera o conhecimento interno que chamamos de gnose.

Mas isso não significa que um praticante solitário não possa a ter. Existindo seriedade no trato e na aplicação da sua jornada espiritual gnose é algo que te alcançará conforme você caminha. Pois ela é fruto das experiências que temos pessoal e internamente com o espiritual, estando ou não entre outras pessoas de igual crença.

Geralmente quem tenta mistificar demais o que a gnose é não a tem. E isso é algo com o qual você deve ficar muito atento. Principalmente se você for iniciante. Existem muitas figuras por aí com anos e anos de profundo conhecimento teórico que adoram se colocar acima dos outros pela quantidade exaustiva de anos que estudaram milhares de livros ultra complexos e que vão querer se crescer principalmente pra cima daqueles que estão começando agora. Nunca caia na dessas pessoas pois se você cair, provavelmente se tornará como elas, estudando por anos sem fim e tendo uma prática completamente morta. Cheia de teorias e sem nenhuma vivência.

Espiritualidade não é o que você só escuta no banco de uma igreja ou templo. Espiritualidade é o que você vive.

E eu te digo isso com a mesma consideração que o meu pai me disse, anos atrás, numa conversa após participarmos de um culto evangélico cheio de testemunhos inflamados. Na época, ele me disse para não me deslumbrar demais com nada daquilo mas sim para colocar sempre tudo que era dito a prova. Pois de nada adianta você estar num lugar, numa religião, pelo que os outros vivem. É você que deve ter as experiências. As coisas precisam acontecer na sua vida, e não apenas na vida dos outros. Por mais que possamos escutar relatos incríveis da vida espiritual de outras pessoas sempre devemos procurar ter as nossas próprias experiências. Nosso foco deve estar em nós, naquilo que se prova dentro das nossas vidas de forma real e positiva, e não apenas na dos outros. Pois é assim que encontramos o caminho do nosso coração, onde andaremos não só através da vontade de crer em algo mas da sua experiência ativa.

Assim como os antigos gnósticos sabiam, a parte mais essencial das nossas jornadas é a vivência presente dela. Estude para amadurecer o seu conhecimento, e desse estudo construa a prática que te levará a sabedoria produzida através de um experiencial direto, do que você viverá na sua própria pele.

E, com o tempo, você verá que todo esse processo na verdade é absurdamente orgânico e que não precisa ser forçado ou apressado de forma alguma, apenas vivido. É o fruto do ousar que vem depois do saber na fórmula saber, ousar, querer e calar. Nossos estudos não são apenas para acumularmos conhecimento, para só sabermos racionalmente, mas para podermos ter a ousadia de o aplicar. Transformando verbo em ação, em nossa própria carne. O saber aplicado, a gnose.

Então, agora você já sabe, quando falamos da obtenção da gnose oriunda de um determinado caminho espiritual, falamos da prática daquele caminho que leva a compreensão mais profunda, vivida, dele. Entrar em estado de gnose é entrar em estados alterados de consciência que te permitam acessar e ter experiências próprias com o espiritual. Termos como gnose luciferiana, por exemplo, se referem a prática aplicada e dinâmica deste caminho espiritual em específico que nos levam a conhecê-lo de forma mais firme e imersiva. E quando você lê ou escuta as pessoas falarem da gnose de figuras espirituais específicas como a gnose de Lilith, de Lúcifer, de Belial ou etc o que está sendo dito é sobre o conhecimento que essas figuras dão para aqueles que ativamente se comprometem a trilhar com seriedade os caminhos delas. A vivê-los.

Sendo bastante comum também, num uso mais corriqueiro e superficial do termo, quando alguém vai falar sobre suas próprias experiências espirituais, se dizer que algo foi verificado ou não dentro da sua gnose pessoal. Significando aquilo que aquela pessoa confirmou ou não em sua própria vida através da sua prática espiritual. Você vai ver bastante esse uso de termos principalmente entre praticantes modernos de bruxaria. É um uso mais genérico, mas serve para demarcar aquilo que as pessoas verificaram ou não através das suas experiências ativas. Afinal, nem tudo vai ser vivido da mesma forma por todos e a bruxaria, assim como o ocultismo, segue a sabedoria experimentalista do meu pai de se colocar as coisas a prova e ficar naquilo que se faz real através da experiência viva de cada praticante.

Então ouse e não procure apenas conhecer o verbo, mas sim, o fazê-lo vivo em sua própria carne.

Até mais!

Volte ao Guia

Atenção: A reprodução total ou parcial deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.

2 comentários em “Primeiros passos – Gnose

Deixe um comentário