O Ritual Menor do Pentagrama – RmP

Fonte: Arquivo pessoal

Sendo um dos rituais mais tradicionais dentro do ocultismo ocidental, o Ritual Menor do Pentagrama (RmP) foi criado pela Hermetic Order of the Golden Dawn (GD) como um dos seus rituais básicos, ensinado a todos os seus neófitos (grau 0=0) ainda não iniciados. Tendo sido uma das mais famosas Ordens do final do século XIX ao começo do século XX, sua inspiração maçônica, bem como sua dedicação ao estudo da Qabalah Hermética, se faz notar no simbolismo desenhado na estrutura do RmP.

Nele, começamos com a Cruz Cabalística, desenhamos pentagramas específicos no ar, invocamos certos anjos e terminamos novamente com a Cruz Cabalística.

Vamos ao passo a passo?

Para a Cruz Cabalística, se coloque no centro do seu espaço, voltando-se ao leste. Visualize um feixe de luz branca e suave vindo de cima até seu corpo. Quando a luz estiver na altura da sua cabeça, descendo e te iluminando, toque sua testa e vibre a palavra ATEH. Na sequência, toque seu peito ou púbis vibrando MALKUT. Visualize a luz descendo até o chão, sendo você agora atravessado por um pilar luminoso. Então, toque seu ombro direito e vibre VE-GEDULLAH, visualizando a luz te acompanhar. Toque seu ombro esquerdo e vibre VE-GEBURAH, com a luz agora formando um pilar de luz horizontal através de você. Por fim, junte suas mãos em cima do seu peito e vibre LE-OLAM, AMEN. Pronto, a Cruz Cabalística está feita!

Para os pentagramas, ainda ao leste, dê um passo a frente e estenda os dedos indicador e médio da sua mão direita (o chamado “gesto da espada”) e com eles desenhe uma estrela de cinco pontas no ar, num azul brilhante, começando do canto inferior esquerdo e indo até a ponta mais alta. Ao terminar, coloque seus dedos no centro do pentagrama vibre o nome YHWH (pronuncia-se yod he vav he). Na sequência, se vire ao Sul e faça o mesmo, vibrando ADONAI, ao Oeste vibrando EHYEH e ao Norte vibrando AGLA (QUE pode se pronunciar “agla” mesmo ou “a-guê-lá”). Enquanto você estiver indo de um ponto ao outro, trace uma linha de um pentagrama ao outro enquanto os faz. Por fim, feche o círculo retornando ao centro do primeiro pentagrama que você fez ao leste pronunciando a seguinte fórmula (e vibrando os nomes destacados):

À minha frente, RAFAEL
Atrás de mim, GABRIEL

À minha direita, MICHAEL (o CH aqui tem som de H aspirado, puxando para o gutural)
À minha esquerda, URIEL
Pois á minha volta flamejam os pentagramas
E na coluna do meio está a Estrela de Seis Raios.

Visualize os arcanjos ao seu redor. Rafael com uma espada, Gabriel com um cálice, Michael com um bastão e Uriel com um pentáculo, todos juntos aos pentagramas nas quatro direções, que estarão brilhando. Enquanto um hexagrama brilha acima da sua cabeça e outro brilha abaixo dos seus pés. Repita a Cruz Cabalística e pronto! Você acabou de performar o RmP.

Simbologia

Dentro da Cruz Cabalística, os dizeres Ateh malkut ve-gedullah ve-geburah le-olam significam “Teu é o reino, a glória e o poder para sempre”, um verso da doxologia presente na versão anglicana do Pai Nosso. E a invocação dos arcanjos deriva diretamente de uma prece judaica feita para ser recitada antes de se ir dormir, existindo apenas uma pequena alteração na sua ordem, que pode ter sido feita para conformar a regência elemental de cada arcanjo (Rafael=ar, Gabriel=água, Miguel=fogo, Uriel=terra) à distribuição dos elementos nas quatro direções.

Os nomes divinos são nomes cabalísticos clássicos. YHWH é o tetragrama, sendo o sagrado nome divino impronunciável (tanto que você nunca o pronuncia e sim o soletra). Adonai quer dizer “Senhor”. Ehyeh pode ser traduzido como “eu sou”, sendo a primeira palavra da frase que Deus diz a Moisés em Êxodo 3:14 (ehyeh asher ehyeh, “eu sou o que sou”). E A.G.L.A., por sua vez, é um notariqon (acrônimo místico) para Atah Gibor Le-olam Adonai, “Tu és poderoso para sempre, Senhor”, um verso de uma prece tradicional judaica, a Amidá. Não existindo, dentro do material deixado pela GD, explicações conclusivas do porquê esses nomes são distribuídos da forma como o são nos quatro cantos. O pentagrama, no entanto, é um forte símbolo de proteção. Simbolizando também, em si, o microcosmo, com cada uma das suas pontas representando um elemento + o éter, que seria o espírito ou a quintessência, em sua ponta mais alta. Sendo o macrocosmo, no sistema da GD, representado pelo hexagrama, que é a estrela de seis pontas citada ao final do ritual.

Utilidade

Ok, mas por qual motivo o RmP se tornou tão importante, afinal? Bom, além de ser o ritual básico de uma Ordem que foi muito importante para o desenvolvimento do ocultismo ocidental como o conhecemos, ele não era o ritual mais básico a toa. A função primordial do RmP é realizar a purificação e o fortalecimento diários da aura, ou do corpo sutil, de seus praticantes. Bem como também garantir a purificação e a proteção do seu espaço. E, quando começamos qualquer prática ou caminho espiritual, esses são pontos fundamentais para garantirmos nosso desenvolvimento e a nossa segurança espiritual.

Secundariamente, como bem colocou Damien Echols aqui, o RmP treina habilidades básicas como visualização, geração e direcionamento de energia e invocação. Enquanto a visualização está presente em todo o processo, na Cruz Cabalística atraímos (puxando de cima, dos planos mais sutis, até nós) e geramos energia (formando a linha horizontal de luz), unindo o espiritual e o manifesto (a coluna vertical e a horizontal) em nossos corações, quando unimos as mãos. Direcionamos essa energia, após sua geração, a utilizando para formar os pentagramas ao nosso redor e terminamos o processo com a invocação dos arcanjos, no rico simbolismo que é apresentado em cada um deles. Fazendo com que trabalhar o RmP não seja só um bom meio de limpeza, fortalecimento e proteção mas também o exercício das habilidades básicas que precisamos ter para performar nossa magia de forma bem sucedida.

Como eu o insiro na minha prática?

O RmP foi formulado para ser feito diariamente pelo praticante, como parte de uma rotina espiritual diária e saudável. Nele, como citado anteriormente, treinamos todos os dias habilidades essenciais para o nosso caminho, nos mantendo limpos, alinhados, energizados e protegidos. A descrição do passo a passo que foi colocada para o traçado dos pentagramas no ar foi feita na forma tradicional de banimento onde começamos pelo canto inferior esquerdo do pentagrama indo até ou terminando em sua ponta mais alta.

O traçado do pentagrama de invocação faz o caminho contrário, começa na ponta mais alta do pentagrama e termina em seu canto inferior esquerdo. Para a prática diária, você verá muitos lugares recomendando que você faça o RmP duas vezes, no início do seu dia o realizando com o traçado de invocação, para te energizar e fortalecer, e ao final do seu dia com o traçado de banimento, para alinhamento e purificação. Caso você for o fazer uma vez só por dia, opte sempre por fazer o de banimento.

De qualquer forma, com sua prática constante, seus benefícios de harmonização e proteção são notáveis. E, se você o fizer todos os dias no mesmo local, este local também passará a, com o tempo, ser um local protegido e consagrado.

Variações e o Rito Menor Luciferiano

Sendo um ritual tão completo e rico para seus praticantes, variações do RmP foram feitas e usadas em muitas outras ordens e em muitas outras vertentes para além da GD ao longo dos anos. Afinal, como sua estrutura original invoca arcanjos e se remete tanto ao Pai Nosso quanto a preces judaicas (tenha em mente que é em um contexto muito cristão que a Qabalah Hermética surge na Renascença e a GD não altera isso), nem todo mundo se sente confortável em usá-lo tal qual ele foi concebido.

Duas variações interessantes que eu coloco aqui são a proposta pela Black Goat Cabal, O Ritual de Banimento do Senhor das Trevas, que você pode ver aqui, e a proposta por Tommie Kelly em seu Ritual Romano do Pentagrama que você pode checar aqui.

A terceira variação notável, dentro da Mão Esquerda, é a de Michael W. Ford: O Rito Menor Luciferiano. Que alinha seu praticante não a Luz acima, mas ás energias da Corrente do Adversário. Para realizá-lo:

1 – Volte-se para qualquer direção preferida. Visualize uma esfera branca brilhante acima da cabeça e vibre Yaltabaoth-Samael

2 – Mova o feixe de luz ígnea até os genitais e vibre Aeshma-Taromati

3 – Na altura do peito, em direção do ombro direito, vibre Do-Mar

4 – Para o ombro esquerdo vibre Dehak

5 – Aperte as mãos no peito, visualizando um brilhante pentagrama reverso vermelho em seu peito e vibre Andar

6 – Vire-se para a direção do Oeste, visualize uma chama azul com seu centro sendo de fogo negro e vibre Leviatã

7 – Vire-se para o Sul, visualize um Anjo-Serpente e vibre Samael

8 – Vire-se para o Leste, visualize um anjo radiante e vibre Lúcifer

9 – Vire-se para o Norte, trace um pentagrama invertido e vibre Lilith

10 – Volte-se ao centro do seu espaço e, com os olhos fechados, visualize as forças demoníacas que você invocou e a energia elemental que estará fluindo de cada quadrante. Então, profira: Ao meu redor está o fogo e o poder de Leviatã e a essência de Lilith e Samael. Anuncio minha intenção como Deus na terra e ascendo ás alturas do Céu e Ilumino através das profundezas do Inferno. O que está acima é como o que está abaixo.

E está feito.

Lembre-se, esses são apenas alguns dos exemplos de variantes possíveis para o RmP. Para ler mais sobre ele e sobre rituais similares eu indico o livro Manual Mágico de Kabbala Prática de Helvécio de Resende Urbano Júnior (que é o livro que ilustra a foto deste post!) e para ver mais sobre o sistema de Michael W. Ford indico A Bíblia do Adversário, onde se encontra a descrição do Rito Menor Luciferiano e muitos outros de sua autoria.

Até mais!

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