Primeiros passos – Estudo, meditação e cuidados pessoais

Fonte: Arquivo pessoal

Agora que já sabemos o que é a Mão Esquerda e já temos uma noção inicial das suas principais vertentes, o Satanismo e o Luciferianismo, podemos começar a organizar nossos primeiros passos dentro da Via Sinistrae. Eles serão compostos de estudo, meditação e cuidados pessoais.

Estudo

A primeira coisa que vamos escutar quando entramos em qualquer vertente do ocultismo é que precisamos fazer nossa própria pesquisa e ter nosso próprio estudo, não é mesmo? No entanto, é raro alguém nos falar sobre como podemos fazer isso. Afinal, como estudar? Como verificar fontes e cruzar informações? Onde e de que forma podemos fazer uma boa pesquisa? E aqui, tudo deve começar no contexto.

Se contextualize primeiro

Se você está seguindo o Guia deste blog, você já escolheu a Mão Esquerda como seu ponto de partida. Saber o que ela é, de onde ela veio e quais são suas maiores vertentes, como estamos fazendo aqui, é o primeiro passo para que você compreenda de forma mais clara o o que, o onde, o quando, o quem e o por qual razão que formam o contexto do meio. Então o que é a Mão Esquerda, de onde ela veio, quando ela se formou, quais nomes a formaram e por qual razão ou motivo ela foi formada devem ser as primeiras perguntas que você deve se fazer e procurar responder para saber exatamente onde você está adentrando e em qual chão você está pisando. Você pode ter um resumo dessas informações aqui no Guia, mas vá mais fundo.

E, daqui em diante, em qualquer coisa que você pegar em mãos para estudo, cultive o hábito de sempre se questionar o o que, o onde, o quando, o quem e o por qual razão.

Por exemplo, se você pegar um livro para o estudar, analise o que exatamente está sendo dito nele, de onde ele veio ou de qual editora e nicho ele saiu, quando ele foi escrito e se a época em que ele foi escrito é relevante para explicar as visões que nele são passadas, quem o escreveu, quem essa pessoa é em seu meio e por qual razão ela passaria o discurso que está passando.

Fazer isso pode parecer chato ou trabalhoso num primeiro momento mas acredite, ter esse cuidado te fará discernir muito melhor tudo com o qual você entrar em contato.

Analise as fontes

Ainda no último exemplo de termos pego um livro específico para estudar, além de procurar o contextualizar respondendo o o que, o onde, o quando, o quem e o por qual razão, como podemos conferir se ele possui boas fontes? Como verificar as fontes de qualquer coisa que estamos lendo, afinal?

Existem três tipos de fontes que encontramos ao estudar basicamente qualquer coisa: As primárias, as secundárias e as terciárias. As fontes primárias são aquelas que são produzidas pelo próprio autor, através de suas pesquisas e experiências em primeira mão. Nas fontes secundárias encontramos análises sobre as fontes primárias, e nas terciárias temos os guias para as duas primeiras, ou seja, são nas fontes terciárias que temos os dicionários, enciclopédias, guias de leitura e outros tipos de centros de informação.

Dentro do ocultismo, por exemplo, uma fonte primária seria um texto religioso ou mesmo um antigo grimório que possua relevância histórica. Uma fonte secundária seria a pesquisa de algum autor analisando e pontuando detalhes a serem observados sobre o texto religioso ou sobre o grimório em questão. E as fontes terciárias seriam os dicionários, os compêndios e as enciclopédias que temos.

Ter essas três definições bem claras nos ajuda muito a verificar se um livro, um artigo ou um site é bem embasado nas informações que passa ou se só estão transmitindo opiniões pessoais sem nenhum tipo de fundamento disfarçadas de conhecimento. Então, para identificar se o conteúdo que você consome possui boas fontes e tem credibilidade, verifique sempre se:

  • As informações passadas estão atualizadas e contextualizadas dentro de sua respectiva época
  • As fontes que os autores citam, se citam, são claras, verificáveis, imparciais e contribuem de forma útil para o seu estudo, possuindo em si mais do que fontes primárias mas também secundárias e terciárias.
  • Os autores são de fato do meio sobre o qual eles estão produzindo conteúdo, ou pelo menos tem um envolvimento relevante nele, sendo fácil identificar quem eles são e suas trajetórias

Se você pegar um livro ou a obra de um determinado autor e perceber que ele não cita quase nenhuma fonte, não possui referências nos assuntos que trata, não possui bibliografia ou, se a possui, ela é muito reduzida e pobre, já é um alerta de que estão te vendendo apenas textos opinativos sem nenhuma base ou confiabilidade que os garantam. Pior ainda se for uma figura que desconversa ou se irrita quando questionam de onde ele ou ela tiram as informações e o conhecimento que passam.

Tenha discernimento

Mesmo nos contextualizando e estando atentos as fontes, muitas vezes vamos sim topar com autores e materiais duvidosos em nossos estudos. E nisto entra o discernimento. Se aproxime de absolutamente qualquer coisa com discernimento. Questione quem está falando, com quais credenciais, o que faz quem está falando ter qualquer autoridade no assunto que se propõe a falar, qual pesquisa ou treinamento essa pessoa teve, se estão falando por si mesmos ou em nome de um grupo e quais perspectivas são colocadas ou excluídas do discurso que está sendo passado. Fique atento também na forma como autores colocam suas ideias em seus textos e livros. É comum que, em livros sobre espiritualidade em geral, você seja levado sutilmente a concordar com o autor sem perceber.

Por exemplo, um autor pode colocar em seu texto um “assim como no velho ditado” ou “como sabemos” nenhuma energia pode ser criada ou destruída, apenas transformada. O que não é nenhuma sabedoria ou ditado ancestral e sim uma lei da física, a lei da conservação da energia. Mas o autor não dirá que é uma lei da física, ou de onde vem essa noção, nem te dará citação alguma. Só usará essa frase de forma solta, distante de seu contexto, porque é algo que você provavelmente já ouviu em outros lugares, para que você concorde de forma implícita pela sensação de familiaridade com qualquer coisa que ele ou ela diga a seguir.

Muito cuidado com esse tipo sutil de manipulação. Seja chato sim e muito em relação a citações e fontes justamente para não cair neste tipo de pegadinha.

É válido lembrar também que você não precisa concordar com tudo que um autor ou figura diz para usar seus livros e materiais em sua prática ou em seus estudos. Não existe, até o presente momento, autor com o qual eu concorde totalmente em tudo. Até mesmo no material que eu indico eu sempre indico com minhas críticas e ressalvas incluídas, o que não quer dizer que não exista valor ali para ser absorvido e compreendido. Só diz que eu estou exercendo ativamente o meu discernimento e tendo minhas próprias opiniões e pensamento independente. Não descarte a obra inteira de um autor só porque você não concorda com ele em um ou outro ponto, isso só vai limitar seu campo de pesquisa. O que você de fato deve descartar são discursos de ódio, pseudociência, supremacia branca, racismo, antissemitismo, transfobia e elitismo que se disfarçam de discurso espiritual. Não sendo nada disso, você pode ter pontos em que você concorda e que você discorda livremente sobre os mais diversos livros e autores do meio.

E pegue um ponto de partida

Se atentando aos cuidados já citados sobre contexto, fontes e discernimento estabeleça qual vertente você irá querer seguir dentro da Mão Esquerda e escolha, dentro dela, pelo menos três livros pelos quais começar, cujo foco esteja em iniciantes.

Busque autores bem referenciados, que sejam reconhecidos em seu meio, cuja trajetória você possa pesquisar com clareza, e veja quais são os livros introdutórios eles já lançaram. A Bíblia Satânica, de LaVey, é um bom livro introdutório de fonte primária se você quiser seguir o satanismo, por exemplo.

Mas nunca fique em um só autor. Varie as opiniões que você consome e anote suas impressões, suas dúvidas e seus pensamentos enquanto estuda. Cruze informações e referências sempre vendo a bibliografia que os autores que você está consumindo trazem em suas obras e quais fontes eles citam. Nunca tome a palavra de ninguém como verdade absoluta. Duvide sim, e de tudo. São as dúvidas que farão você ir mais fundo e mais longe no seu caminho.

Um ponto sobre acessibilidade

Nem todo mundo tem dinheiro para investir na compra de livros no começo de seus estudos. Se você está nessa, não se sinta mal por isso. Existem lugares que disponibilizam materiais em pdf justamente por causa disso. Assim como existem muitos sites e canais confiáveis onde você pode encontrar excelentes informações gratuitamente. Além de sites como o Google Acadêmico onde, além de livros, você pode pesquisar artigos e jornais acadêmicos. Se você possui o inglês como segunda língua o Jstor também pode ajudar bastante. Sebos e livrarias públicas também são locais interessantíssimos para se achar bons materiais. Você pode se surpreender com o que vai encontrar se der uma chance a eles!

Tenha em mente, no entanto, que a Mão Esquerda é um nicho muito pequeno. Não só aqui no Brasil mas no mundo como um todo. Existem poucas editoras que trabalham com títulos de Mão Esquerda e poucas pessoas que pesquisam e escrevem sobre seus temas com profundidade e seriedade. Isso faz com que tenhamos que garimpar um pouco mais no que diz respeito a achar livros e materiais de qualidade. E que sejam poucas as pessoas e os locais que estejam traduzindo material da gringa para cá, para o português. Hoje em dia temos mais material do que tínhamos anos atrás, mas ainda existem centenas de livros e muito material que você até encontra gratuitamente pela internet mas somente em inglês. E outros que até tem alguma tradução, mas feita da pior forma possível. Então tenha paciência nas suas buscas e use todas as ferramentas que puder para ir atrás do conhecimento que você deseja.

Não deixe que a falta de dinheiro te prive de pesquisar e estudar. Apenas quando for possível, dentro das suas possibilidades, vá investindo aos poucos em comprar seus próprios livros. Seja fisicamente ou em formato digital. Isso vai te garantir ter em mãos um bom material, sem cortes, bem traduzido e bem pesquisado. E será muito mais importante e substancial para o seu crescimento e desenvolvimento ter uma boa biblioteca pessoal do que ter um athame importado ou uma varinha cara. Então, faça o melhor que você puder dentro das suas possibilidades e, se você puder investir, invista em conhecimento antes e acima de qualquer outra coisa.

Meditação

Enquanto você estuda, comece a estabelecer uma rotina de meditação. Isso será fundamental para todos os passos que você terá pela frente. É na meditação que aprendemos a focar a nossa mente no momento presente ou em alguma atividade em específico. E foco é essencial para qualquer prática espiritual.

Se você nunca meditou antes, comece devagar. Três ou cinco minutos por dia estão ótimos. Meditação não é tanto sobre o tempo que você consegue praticar, mas sobre regularidade e consistência. Também não se preocupe em esvaziar sua cabeça, ou silenciar completamente os seus pensamentos. Não só não é algo que você vai conseguir facilmente se você é iniciante, como literalmente esse não é o ponto. O ponto é desenvolver sua capacidade de foco. Por isso em práticas iniciais você nunca terá o silencio da mente, mas sim o focar nas suas sensações físicas, no seu corpo, na sua respiração, que te trazem ao momento presente, ou em algum ato como a repetição de um mantra ou a observação da chama de uma vela.

Existem várias maneiras de se meditar. Se você não consegue fazer a tradicional posição de lótus e se concentrar apenas na sua respiração por três minutos você também pode transformar alguma atividade mais ativa como a dança ou até mesmo uma caminhada, por exemplo, em uma atividade meditativa. Você só precisa ter essa atividade como seu único ponto de atenção e concentração pelo tempo que você a realizar. Principalmente se você tem tdah, te encorajo a procurar formas ativas de meditação. Atividades como ioga são excelentes para o desenvolvimento da atenção focada, além de serem muito benéficas para o nosso corpo e para a nossa mente. Existem ótimos professores de ioga que gravam suas aulas e as disponibilizam gratuitamente no YouTube, ou em outras plataformas. Assim como existem ótimos vídeos e aplicativos sobre meditação. Se você for autista você pode até transformar algum stimming seu em uma atividade meditativa. Pesquise e estabeleça uma rotina inicial que seja confortável e possível para você.

Cuidados pessoais

Se existe uma coisa que todos sabemos que é essencial em nossas vidas como um todo mas muitas vezes acabamos deixando de lado, por inúmeras razões, é o cuidado pessoal. Nos alimentarmos dentro da melhor qualidade que nossas condições permitem, bebermos a quantidade de água que nossos corpos precisam, dormirmos bem e com regularidade, nos exercitarmos e estarmos sempre em dia com nossos exames e cuidados médicos nem sempre é tão fácil na prática quanto é no discurso. Mil fatores e circunstancias podem entrar nisto, como bem sabemos. Mas ter uma base desses cuidados em dia, dentro das nossas possibilidades, é sim importante quando queremos estabelecer uma caminho próprio dentro da Mão Esquerda.

Não só pelo motivo óbvio do nosso corpo ser o maior e mais importante instrumento que temos dentro da nossa prática pessoal mas também porque é um caminho que será fisicamente exigente. E eu coloco minha experiência pessoal aqui, em jogo, para dizer isso. Conforme minha prática foi avançando, naturalmente, eu comecei a fazer rituais mais complexos e elaborados. E eles drenam energia. Muitas vezes saí de ritos completamente tonto, surpreso do quanto eles me exigiram fisicamente. Precisando urgentemente de água, de comer alguma coisa. Muitas vezes eu só caí na minha cama e apaguei. Nunca subestime o quanto um feitiço ou uma ritualística pode exigir da sua própria energia. Principalmente se envolver entidades infernais.

Meu primeiro ritual de Goétia me cobrou um preço físico que nada, em prática alguma que eu já tivesse tido antes, pode ter comparação. Eu fiquei acabado. E eu já era acostumado a lidar com energias e entidades densas faziam anos. O ritual foi um sucesso sob todos níveis que se possa analisar, mas eu saí dele como se uma bigorna energética tivesse caído sobre mim. Naquela noite eu senti o que era estar na presença de algo tão denso que poderia me esmagar. Foi quando eu decidi que já era hora de cuidar não só do meu corpo espiritual mas do físico também. E fez toda a diferença. A parte física conta mais do que as pessoas imaginam e com certeza muito mais do que elas dizem.

E nisto eu não estou dizendo que você precisa ter a melhor dieta do mundo ou ser um atleta. Você pode simplesmente caminhar pelo seu quarteirão, se hidratar melhor e incluir mais frutas e legumes no que você já tem no seu cardápio. Nunca complique desnecessariamente o cuidado com a sua própria saúde. Vá aos poucos. Faça aquilo que está dentro dos seus limites. Dê um passo por vez. O importante é que você se comprometa consigo mesmo. Pode ser chato no início, e muito mundano para ser algo considerado importante dentro de uma prática espiritual, mas acredite, importa.

Até aqui, perceba que não tivemos muitos gastos. Eu indico que você compre algum caderno e canetas para anotar seus estudos e também seus avanços no que tange a meditação e cuidado físico. Além disso, seu maior gasto serão de tempo e esforço. Pesquisa e leitura, principalmente se você for cuidadoso com fontes e referências, é algo que vai te exigir tempo, e que vai demandar esforço. Assim como iniciar uma rotina meditativa e melhorar os cuidados que você tem consigo mesmo. Mas são primeiros passos que fundamentam a sua base prática. Então respire fundo e se organize.

Até mais !

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