Estudos do Tarot – Uma breve análise numérica

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Os Arcanos Maiores do Tarot de Rider Waite

Além das cores, símbolos e imagens que temos em cada um dos 78 Arcanos do Tarot é comum que também encontremos, na maioria das lâminas, alguma numeração. Nos Arcanos Maiores geralmente ela irá do 0 ao 21, e nos Arcanos Menores, em cada um dos Quatro Naipes, teremos do Ás (número 01) até o 10. Dentro desta classificação, quando analisamos sob a luz da Numerologia, cada um destes números pode nos dizer muito sobre a natureza do Arcano onde se encontram e sobre as relações que eles constroem entre si.

Como diria Platão ”O número é o próprio conhecimento”, e tanto gnósticos quanto cabalistas e alquimistas se dedicaram, ao longo dos séculos, ao estudo do significado e do simbolismo numérico. Aqui colocarei algumas análises simbólico-divinatórias que espero que ajudem no seus estudos sobre essa ferramente fascinante que é o Tarot!

Número 0 – Simbolizando o conceito do Não-Ser, o numeral 0 é em si extremamente neutro. Tendo sido definido apenas na Idade Média, depois da aceitação dos números indo-arábicos divulgados por Leonardo Fibonacci, ele nos traz o momento anterior ao da criação. Temos sua força no Arcano Maior do Louco, que o recebeu no sistema de Rider Waite, como ponto de partida, ou de final, de todas as jornadas.

Número 1 – Aqui temos o número dos novos começos. O principiador. Cheio de calor, se movendo sempre a ação, ele é aquele que se fragmenta para gerar multiplicidade. Nele temos o centro, o ponto irradiador, as oportunidades e as novas ideias. Sua força se encontra no Arcano Maior do Mago, onde temos toda sua a liderança e pró atividade, como também em todos os Ases dos Quatro Naipes.

Número 2 – Aqui encontramos o princípio binário, a harmonia das parcerias, bem como o choque dos opostos. Reflexo e contraposição. A ligação do mortal com o imortal. A conciliação entre dois pólos. Como sendo aquele que inaugura a separação da unidade inicial pode tanto trazer um equilíbrio coerente e bem posto quanto um tensionado também. Encontraremos sua força no Arcano Maior da Sacerdotisa, fazendo a ponte entre o plano material e o imaterial do qual é guardiã, e nos segundos Arcanos de todos os Quatro Naipes.

Número 3 – Aqui teremos o poder criativo! O três é a resolução harmoniosa do que se iniciou nos conflitos do número dois. No conceito da trindade, ele representa o filho. Temos os primeiros frutos ou os primeiros obstáculos das nossas jornadas. Iniciando ciclos, temos sua força no Arcano Maior da Imperatriz, com todo seu poder gerador e ativo, e também nos terceiros Arcanos de todos os Quatro Naipes.

Número 4 – Sendo um grande propiciador de estabilidade, temos no quatro a binaridade do número 2 sendo levada para se firmar no mundo físico, depois da passagem do três. Temos realizações tangíveis, organização, conservadorismo e controle. No negativo ele pode nos paralisar por medo de agir. Temos sua força no Arcano Maior do Imperador, aquele que governa e executa as leis que cria, e também nos quartos Arcanos de todos os Quatro Naipes.

Número 5 –  No cinco somos tirados da zona de conforto ordenada imposta pelo quatro, sendo por isso um número que pode trazer diversos desafios. Ele pode simbolizar mudanças repentinas, dificuldades, obstáculos, mas também a quintessencia agindo sobre toda a matéria. Temos os quatro pontos cardeais e seu centro, a proporção divina e a união do Céu (número três) com a Terra (número dois). Sendo um número tido como aquele que se opõe a rigidez da morte, temos nele também nossos cinco sentidos. Sua força será encontrada no Arcano Maior do Hierofante, ou Papa, o buscador espiritual, e também nos quintos Arcanos de todos os Quatro Naipes.

Número 6 – Considerado um número perfeito, onde temos os temas dos relacionamentos humanos e do amor ao próximo, no número seis temos um florescer de nossas sexualidades, bem como também muita ambiguidade. Teremos sua força no Arcano Maior dos Enamorados, com todo o fogo de suas paixões e dos dilemas de seus romances, e nos sextos Arcanos de todos os Quatro Naipes.

Número 7 – Unindo o espiritual ao terreno, aqui teremos introspecção e reflexão. Sendo um dos números com a maior quantidade de representações (os sete dias da semana, as notas musicais,  etc) temos no sete um dos números dos quais a análise é a mais complexa. Nele ponderamos sobre tudo o que já fizemos e alcançamos no decorrer de nossas jornadas. Buscamos aperfeiçoar o que vemos que pode ser aperfeiçoado e meditamos a respeito dos conflitos que nos parecem insolúveis. Temos sua força no Arcano Maior do Carro, com sua busca individual pelos seus próprios objetivos, e nos sétimos Arcanos de todos os Quatro Naipes.

Número 8 – Como um número de grande poder e regeneração, temos no oito a sabedoria, a boa administração material, o equilíbrio e a justiça. Sendo ligado aos conceitos do ilimitado, do fluxo sem um início ou final, temos nele a completude e o carácter totalizador. Encontramos sua força no Arcano Maior da Justiça, em sua força de equidade, e nos oitavos Arcanos de todos os Quatro Naipes.

Número 9 – Como um número de conclusão, temos aqui os temas do altruísmo e das nossas ligações com a espiritualidade e também com a fraternidade. Dominando tanto o material quanto o espiritual, chegamos aqui na realização final de todas nossas aspirações. Temos sua força no Arcano Maior do Eremita, no alto da experiência de tudo que conquistou ao longo de sua vida, e nos nonos Arcanos de todos os Quatro Naipes.

Número 10 – Unindo o Ser (número 1) com o Não-Ser (número 0) temos aqui o fim de um ciclo e a possibilidade do início de outro. Temos sua força muito bem exemplificada no Arcano Maior A Roda da Fortuna, que reúne a força ativa com infinitas possibilidades, onde tudo pode acontecer! O destino, nela, é sempre fluído, imprevisível e diverso. Também temos essa energia nos décimos Arcanos de todos os Quatro Naipes.

Número 11 – Quando temos uma repetição de número iguais, perante a numerologia temos um número mestre, onde a força de seus numerais se duplica. No onze nos deparamos com o perfeccionismo, com a colaboração, com a capacidade inventiva para lidar com as mais diversas situações e também com uma certa carga de impaciência. Temos sua força muito bem representada no Arcano Maior da Força, com sua criatividade e pressa.

Número 12 – Neste numeral temos as noções da adaptabilidade, da renúncia e da confiança nos propósitos divinos da alma. São princípios que temos dentro do Arcano Maior do Enforcado. Nos ciclos do número 12 testamos nossas intenções e nos regeneramos. Nos educamos contra velhos hábitos que podem não mais fazer sentido e alcançamos novas aspirações.

Número 13 – Sendo alvo de muitas superstições que o dividem entre um portador ora de sorte e ora de azar, o número 13 contém em si a chance dos recomeços. Com fé, determinação e força, aqui podemos ir longe. Unindo a coragem do numeral um e o poder criativo do três, podemos nos libertar e crescer. Aqui encontramos o Arcano Maior da Morte, uma carta onde encontramos a possibilidade da reconstrução e os nascimentos que sucedem todos os fins.

Número 14 – Sendo a duplicação do número 7, encontramos a perfeição, o equilíbrio e a prudência no número 14. Combinando muito bem com o décimo quarto Arcano Maior, A Temperança, temos neste numeral a unidade justa, a cautela, o foco e a sabedoria.

Número 15 – Na junção do 1, o iniciador de qualquer proposta, com o 5, o que busca se harmonizar através de suas próprias problemáticas, temos no 15 um número onde adquirimos a independência, a criatividade e a libertação das velhas restrições. Temas muito comuns ao Arcanos Maior O Diabo.

Número 16 – Vendo pela junção do número 1, o que inicia atividades, com o número 6, de força terrena e ambígua, podemos ter no 16 atividades em excesso. Podemos cuidar em demasia do próximo, ou nos obcecarmos com nossos próprios ganhos. No seu lado negativo não é raro que, cegos em nossos excessos, percamos muito imprevisivelmente, ou até mesmo tenhamos amores proibidos que não acabam bem. De qualquer forma, aqui temos que refinar nossa força de vontade, para superar todos os obstáculos que a vida nos apresenta, o que combina muito bem com o Arcano Maior A Torre.

Número 17 – Sendo ligado a boa sorte, temos no numeral 17 a intuição, o contato astral, a compaixão e também os dons psíquicos. Assim como no Arcano Maior A Estrela, temos uma vibração profundamente espiritual, que pode trabalhar o amor e a paz em nossas vidas.

Número 18 – Na junção do 1, força de iniciativa e progresso, com o 8 e seus ciclos infinitos, temos no numeral 18 a ativação de muita magia. É aqui onde exercitamos o poder de vontade que possuímos em nossos espíritos para sairmos de muitos círculos viciosos. No Arcano Maior A Lua, com seus mistérios, fazemos o mesmo exercício. Usamos a fagulha divina que temos em nosso interior para quebrarmos vícios, ilusões, e claro, para também sermos pontes de manifestação para o oculto.

Número 19 – Sendo voltado a independência e a individualidade, no número 19 temos o progresso, a ambição e a motivação para avançar e conquistar. Nos levando até a iluminação, sua energia combina perfeitamente com o Arcano Maior do Sol, onde se insere. O sucesso brilha em nós e assim, seguimos vitoriosos.

Número 20 – Aqui comumente temos alertas, pois tudo que é feito e decidido com pressa pode levar até péssimas consequências. A dualidade do 2 e a neutralidade do 0 se combinam para nos dizer que, antes de concluirmos qualquer coisa, temos que pesar muito bem todos os lados. É  a mensagem que temos com força no exercício do Arcano Maior O Julgamento, sendo a revisão que temos antes da plenitude encontrada no Arcano do Mundo. Tudo o que precede uma grande conclusão precisa ser revisto com esmero e cautela.

Número 21 – Sendo a união da duplicidade do 2 e do pioneirismo do 1, podendo resultar na força de criação do 3, o número 21 nos traz as energias do otimismo, do entusiasmo, da comunicação, e da energia necessária para alcançarmos o sucesso e a maestria em tudo que fazemos. Um número que cai muito bem no Arcano Maior do Mundo. Novas oportunidades surgem, o novo passo, a nova jornada, a nova criação, nos coroando com diversas possibilidades. O equilíbrio é alcançado e as possibilidades podem ser infinitas.

Quando analisamos pelo viés da cabala, os Arcanos que se regem por numerais unitários são tidos como forças ativas, enquanto aqueles que se regem pelas dezenas são tidos como forças receptivas, se correlacionando assim, sempre, com os primeiros.

Podemos dizer, então, que:

A Roda da Fortuna (Arcano 10) é um receptivo interdependente do Arcano 1, O Mago. Volátil como ele é, é ele que percorre os círculos da Roda. E como regente de ciclos contínuos, na Roda da Fortuna corremos o perigo de nos prendermos em círculos viciosos, precisando da habilidade prodigiosa do Mago para nos libertarmos deles.

A Força (Arcano 11) pode ser vista em relação interdependente com o Arcano 2, A Sacerdotisa. Através da análise interna que exercitamos na Sacerdotisa é que domamos de forma harmoniosa os nossos impulsos, representados na carta da Força. Em sua sabedoria, a Sacerdotisa armazena em si os segredos da aplicação bem sucedida da Força. Ela guarda o poder, como uma grande bruxa, e detém suas aplicações.

O Enforcado (Arcano 12) pode ser analisado interdependentemente ao Arcano 3, A Imperatriz. Quando temos o poder gerador da Imperatriz mal aplicado podemos perder nosso direito a exerce-lo, entrando na situação atada do Enforcado. Bem como podemos, muitas vezes, abrir mão de nossa própria força de ação para atingirmos um nível de sabedoria muito maior, nos elevando a outros níveis e possibilidade para o seu investimento.

A Morte (Arcano 13) pode ser analisado em co-dependência ao Arcano 4, O Imperador. Qual seria a única força capaz de destronar um antigo Imperador, e coroar um novo, além da morte? Para que nos retiremos de nossos tronos, e da estagnação que neles podemos atingir, todas nossas estruturas precisam nos ser retiradas. A morte não liga para nossa riqueza, nossa influência, para o poder que adquirimos ou não, ela nos tira de nossas bases, e muitas vezes apenas longe delas podemos aprender algo de fato novo. Em um sentido mágico, apenas mediante a energia bem estabelecida do Imperador podemos, de alguma forma, vencer a letargia da morte, colocando nossa verdadeira vontade e nosso Eu acima da desintegração de nossa própria personalidade.

A Temperança (Arcano 14) pode ser analisada em interdependência ao Arcano 5, O Hierofante. Para uma figura sacerdotal tão alta quanto é o Hierofante, o equilíbrio emocional da Temperança é muito precioso. A alquimia que temos nas mãos do anjo na lâmina 14 é, em si, o que ele busca desenvolver. Apenas através deste processo ele se transmuta do chumbo ao ouro. E apenas alguém da envergadura dele pode a alcançar, através da maestria que ele já desenvolveu, nos diversos graus de suas iniciações.

O Diabo (Arcano 15) pode ser visto em uma relação mútua com o Arcano 6, Os Enamorados. Ele é a tentação que se esconde no paraíso retratado na lâmina dos Enamorados, dando ao casal a possibilidade da escolha. Mas a mesma força que pode conceder alternativas pode também atormentar, através do medo e das inseguranças, deixando difícil para o casal que eles de fato optem por algum dentre os tantos caminhos que lhes são ofertados. A saída, e o antídoto para as prisões do Diabo, sempre será o uso saudável que fazemos do nosso próprio livre-arbítrio.

A Torre (Arcano 16) pode ser vista em uma relação de causa e consequência com o Arcano 7, O Carro. Quando não mantemos o controle da carruagem invariavelmente sofremos algum acidente, não é mesmo? Aqui temos, como o que pode parar os impulsos do Carro, as próprias más consequências do seu desgoverno. Bem como, para sairmos da destruição da Torre, o que precisamos é do impulso determinado do Carro para seguirmos, uma vez mais, a uma nova jornada.

A Estrela (Arcano 17) pode ser vista em uma relação harmônica com o Arcano 8, A Justiça. O que é perfeitamente equilibrado, simétrico, é justo, e também, por conseguinte, belo. A justiça é um ideal de racionalidade perfeita que temos, enquanto humanos. Assim como a beleza, como aquilo onde encontramos uma proporcionalidade integra. Só sendo justos e racionais podemos aplicar a bondade e a compaixão da Estrela na sua reta medida. Assim como, para nunca corrermos o risco de aplicarmos a racionalidade de forma desumana, precisamos da empatia encontradas da lâmina 17.

A Lua (Arcano 18) pode ser vista em uma relação de aprendizagem com o Arcano 9, O Eremita. O desafio do Eremita, em sua jornada, é saber lidar consigo mesmo, com os oceanos emocionais que ele tem dentro de si. A sua jornada de auto descobrimento é em essência, o exercício de navegar pelos mares internos da Lua. Temos no Arcano da Lua a experiência intuitiva que nenhum livro poderia nos proporcionar. É atrás desse conhecimento que excede, e muito, o escrito, que o Eremita busca tanto conhecer quanto poder em algum momento dominar.

O Sol (Arcano 19) pode ser visto como consequência da maestria do Mago sobre a Roda da Fortuna, respectivamente os Arcanos 10 e 1. Quando ele vence os ciclos da Roda, com todos seus obstáculos e voltas, ele chega a plenitude do Sol. Temos aqui a expressão do nosso Eu Superior na culminação da sua glória.

O Julgamento (Arcano 20) pode ser tido como o desdobramento da energia da  Sacerdotisa (Arcano 2) em sua potencia máxima, depurando, separando, o que é válido e o que não é. Detendo o poder da Força (Arcano 11), ela alia a plena potência a sua capacidade de análise, onde temos por resultado o julgamento daquilo que é real e do que não se é, do que se quer e do que não se quer. Aqui, toda matéria ressurge para receber a verdadeira forma que deve ter.

O Mundo (Arcano 21) pode ser tido como o objetivo máximo da Imperatriz, Arcano 3. Sendo vista como a própria Magia per se em seu viés cabalístico, pelo poder de manifestação que contém em si e em seu corpo, a Imperatriz pode facilmente se distrair com as benesses e com o luxo da vida material, parando assim o prosseguimento do seu caminho. Quando passamos pelo sacrifício da matéria no Enforcado, Arcano que lhe é interdependente, conseguimos a evolução necessária para galgarmos o estágio de plenitude e perfeição daqueles que possuem a maestria de ambos o espiritual e o material do Mundo.

E aí, já tinha analisado o Tarot sob essa perspectiva? Pode contar pra gente o que achou!

 

 

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