Elementais da Natureza – As Sereias

IMG_7358
Pequeno canto devocional pessoal de contato com as sereias e com as forças das Águas

Como seres encantados, presentes nas mitologias de diversos países representando e personificando aspectos do mar, as sereias (ou sirenas) tem fascinado a humanidade por séculos. A vida em nosso planeta jamais poderia existir sem a presença da água, sendo natural que muitos povos, ao longo da história humana, tenha creditado a ela poderes divinos, e seres igualmente poderosos.

Seu nome, em diversas culturas, as colocam como personificantes dos mistérios marinhos, como por exemplo em inglês, onde mermaid provém do termo mer, significando oceano. O mesmo oceano que até os dias atuais não chegamos a explorar nem sequer 10% (conhecemos mais a superfície lunar do que o conteúdo dos mares, por exemplo). Em francês temos mer também como significante de mar, assim como mère significa mãe, a semelhança entre os termos nos remetendo a como o mar, em sua abundância, é de onde todos viemos. Na cultura celta as teremos como merrow, vindo da palavra muir, igualmente significando oceano. E no português, sereia viria do arcaico serẽa, derivando do grego antigo Σειρῆν (Seirến), divindades dos mares.

O relato mais antigo que temos delas seria proveniente do Império Assírio, na figura da deusa Atargatis. Regente do céu, da lua, do mar, da chuva e da vegetação. Tendo descido do céu como um ovo que, ao se abrir, a revelou como uma bela sereia. Seu culto e fama perdurou até o reino romano, onde ela era adorada sob o nome de Dea Syria, ”a deusa síria”. Meio-peixe, meio-mulher, e inteiramente divina.

Mas antes mesmo dela, a humanidade sempre reverenciou deidades e forças ligadas as águas e aos mares. Teremos com os antigos babilônicos a figura do deus meio-peixe Ea, ou Oannes, como o primeiro rei mitológico pré-diluviano, que ensinou a agricultura e a arquitetura a humanidade. Com os fenícios e cananeus teremos Dagom, igualmente meio-peixe e meio- homem, ligado tanto a agricultura quanto com o pós-morte. E ao longo do Atlântico Africano teremos as Mami Wata, um grupo de divindades aquáticas, versáteis em suas habilidades, e naturalmente encantadoras e belas.

Sendo boa parte do nosso referencial imagético, temos na cultura grega a figura das ninfas. Como divindades menores, vivendo muitas vezes nas águas, seriam descritas como donzelas incrivelmente atraentes. Seu próprio nome, nymphê, significa ”jovem garota”, geralmente com atributos sedutores. Elas eram categorizadas segundo o tipo de meio em que viviam, sendo as Oceânides (filhas do deus Oceano) naturais das profundezas dos mares e águas salgadas, as Nereides (filhas do deus Nereu) naturais especificamente do Mar Mediterrâneo e das águas espumosas dos litorais rochosos e as Náiades, naturais dos rios e das águas doces.

Famosas por encantar marinheiros, e naufragar muitos navios, teremos relatos de seus poderes descritos no poema épico Odisseia, onde o herói Odisseu pediu aos seus companheiros que o amarrassem ao mastro de seu navio, eles próprios cobrindo seus ouvidos com cera, para se proteger contra o encanto das sereias, nesta passagem retratadas como mulheres metade humanas e metade harpias, que o fariam se jogar ao mar e, consecutivamente, morrer afogado.

O canto e os poderes das sereias

Sendo uma constante nas lendas de praticamente todas as culturas, as sereias são famosas por seu talento natural com a música. Ouvir seu canto seria uma experiência tão assombrante quanto sedutora, podendo tanto transformar a vida daqueles que a escutam quanto levar a morte. Sendo capaz de abençoar ou levar até os mais terríveis delírios, suas vozes amedrontam tanto quanto fascinam, nos convidando até o desconhecido. Contendo em si mesmas todo o poder espiritual dos mares, através de suas canções elas tem a capacidade de manipular os sentimentos humanos como bem entendem, entoando melodias capazes de conceder a felicidade e a prosperidade bem como pânico e ruína.

Não são poucos os relatos, principalmente nas lendas inglesas, de que elas poderiam tanto agitar os mares, desencadeando tempestades mortais, quanto também ajudar navios que se perdem no meio das tormentas marinhas a sobreviverem. No Speculum Regale, ou The King’s Mirror, um antigo texto norueguês datado de cerca de 1.250, encontramos sereias podendo, através de seus atos, dizer se uma navegação sobreviveria ou morreria durante uma tempestade.

Assim como o próprio mar, elas são representadas tendo tanto faces benevolentes quanto destrutivas. Mudando e fluindo, sensíveis assim como as águas. Temos na figura de La Sirena, poderosa Lwa do Voodoo, uma figura amistosa especialmente com mulheres, que ela ajudaria abaixo da água, e concederia fortuna e poderes especiais. Grande parte das divindades ligadas ao oceano, as águas, são tanto instrutoras quanto protetoras da humanidade.

No livro The Woman’s Dictionary of Symbols and Sacred Objects, de Barbara G. Walker, temos a teoria de que o famoso gesto das sereias de se pentearem diante de um espelho poderia significar muito mais que simples vaidade (como defendia a Igreja Católica sobre elas na Idade Média), mas sim um tipo de magia. Como os cabelos, em muitas culturas, são símbolos de força, cuidar deles, e tê-los longos, seria também cuidar e aumentar seu próprio poder pessoal. Em Lusty Ladies: Mermaids in the Medieval Irish Church, de Patricia Radford, temos também a possibilidade do pentear dos cabelos como um rito de purificação, libertando o corpo e a alma do excesso de energia nociva que podemos contrair do nosso meio ou de outras pessoas e seres.

Em diversas linhas da magia, e do ocultismo, também temos os espelhos, um de seus grandes ícones, como artefatos de poderes especiais. Podendo serem usados tanto para magias de glamour e amor, como também como portais para outras dimensões, sendo muito perigosos de serem manipulados por quem não tem o devido conhecimento e preparo.

Claramente existe muito mais sobre as sereias e seus poderes para serem analisados e vistos, em todas as particularidades que elas assumem em cada cultura e país diferente em que aparecem, sendo necessário um mergulho muito mais profundo do que apenas um texto daria conta. Abaixo darei uma indicação de leitura introdutória sobre o tema então, ouse ir mais fundo!

 

Indicação de livro 

Processed with VSCO with c1 preset
Mermaids – The Myths, Legends, & Lore de Skye Alexander

Para todos aqueles que querem se aprofundar tanto nas lendas quanto nos mitos das sereias eu recomendo muito o livro Mermaids – The Myths, Legends & Lore de Skye Alexander. Sendo um livro relativamente curto, e lindamente ilustrado, ao longo das suas 226 páginas podemos conhecer desde as mitologias europeias até as africanas e sul-americanas sobre as sereias ao redor de todo o globo. Com uma leitura fácil e fluida, somos transportados para diversas épocas e sociedades, com toda sua riqueza de costumes e também de superstições. Nele você poderá encontrar todas as informações que coloquei nesse texto e muito mais então, fica a dica.

Quer saber como entrar em contato com elas? Veja este texto aqui.

Até mais!

4 comentários em “Elementais da Natureza – As Sereias

Deixe um comentário