Magia e Bruxaria – O que são?

O Sabá das Bruxas de Francisco Goya

Como já diria Aleister Crowley, um dos mais influentes ocultistas britânicos, “A Magia é a Ciência e a Arte de causar mudanças de acordo com a Vontade.”

Desde o caçador primitivo, que desenhava sua caça pelas paredes das cavernas e dançava ao redor das fogueiras, até os primeiros ritos funerários e nosso início na compreensão da realidade complexa que nos cerca, a magia sempre foi, de uma forma ou outra, praticada pela humanidade. O estudo e a procura do que é latente no componente humano e nas forças da natureza sempre nos moveu.

Somos impulsionados pela nossa curiosidade em explorar o mundo e seus mecanismos, bem como pela vontade de que, através de alguma forma, possamos os dominar. Essa sensação de conhecimento e controle muitas vezes pode ser alcançada dentro de sistemas religiosos. Mas também existem aqueles que não podem ser limitados por elas, que não se encaixam, que desafiam, e é através deles a magia viveu, se desenvolveu e na bruxaria resistiu.

A Arte dos Indomados, como algumas vezes a magia e a bruxaria foram nomeadas, sempre estiveram a margem das sociedades e de suas religiões. Elas não se resumem as práticas pagãs, mesmo que nas fés anteriores ao advento do cristianismo houvesse uma maior liberdade. A figura da bruxa, do mago e do feiticeiro sempre causou estranheza e muitas vezes, medo. Aliás, o termo ”bruxa/o” nunca foi visto de forma positiva, sendo usado para denunciar aqueles que de alguma forma fossem vistos como perigosos por suas práticas transgressoras. Aqueles que, por algum motivo, ultrapassavam os limites e lidavam com o proibido.

Antes dos movimentos que as tiraram das sombras no século XX tanto a bruxaria quanto a maioria das vertentes da magia eram vistas como algo além do que era seguro. Inclusive tendo sido por muito tempo em sua prática proibidas por lei e perseguidas sob pena de morte. E hoje em dia é muito importante que tenhamos em mente que elas não são produto do atual neopaganismo.

 

O Voo das Bruxas
O Voo das Bruxas de Francisco Goya

Os conhecimentos ocultos de onde a magia e a bruxaria fluem foram construídos as custas de muito sangue, e até hoje exigem de seus praticantes muito. Seus caminhos, tanto internos quanto externos, não causam mudanças facilmente. Pois eles são sobre autocontrole, poder e soberania. Sobre nossa capacidade de governo pessoal e, a partir dele, ter o controle das circunstancias que nos cercam. É a insurgência contra as fraquezas e males sociais, é o domínio do medo e a superação da limitação.

Fluindo pelas veias históricas de todas culturas e sociedades, a magia e a bruxaria sempre floresceram onde menos se esperava, sempre ao lado dos menos favorecidos, dando poder a aqueles que socialmente antes não o possuíam, para influenciar suas próprias vidas. Elas, por si, não são nem boas e nem ruins. Não são nem diabólicas e nem angelicais. Ela são o imprevisível, o incontrolável, provocando inquietação onde se precisa. Mostrando que nunca descobriremos tudo, nunca teremos todas as respostas, nunca dominaremos tudo, é o desafio aberto de que a nossa busca nunca cessará.

Como a arte de provocar mudanças visíveis no mundo interno e externo, através da projeção das nossas intenções no universo, a magia é multifacetada em uma variedade infinita de métodos e técnicas que variam de cultura para cultura. Em suas práticas a característica de se ter o desejo, a vontade, de quem a pratica como central é seu ponto principal. Ela não é e nem nunca poderia ser exclusividade de um só sistema, religião ou cultura, pois faz parte de algo para além de nós. Para além daquilo que é humano. No entanto, nos ajudam a transcender e a evoluir para além dos nossos limites.

O Círculo Mágico de John William Waterhouse 

A bruxaria, muitas vezes dita como um sinônimo da feitiçaria, seria o estudo e a prática de conjuntos de saberes específicos, dependendo da cultura e da região, através do qual podemos aplicar a magia em nossas vidas. Na maioria das vezes a ela se aplicam os saberes e as artes da necromancia, das adivinhações, o contato com diversos tipos de espíritos, o trabalho com ervas, velas, pedras, e elementos da natureza.

Ela não é uma religião, nunca poderia ser, pois está em toda diversidade cultural humana como uma arte, um ofício, aquela prática que muitos tentam nomear, mapear, catalogar, mas de fato nem deveria ser nomeada, pois seus mistérios abarcam muito mais do que temos capacidade para entender. E, consecutivamente, resumir em uma definição só. Mas ela é uma forma do exercício da espiritualidade humana. De como compreendemos e nos relacionamos com a magia, a arte da transformação das probabilidades e dos nossos próprios potenciais interiores.

Sua prática, bem como a prática da magia em si, seja pela vertente que for, sempre será um exercício de intenso estudo, empenho, constante aprimoramento pessoal, superação de limites e de muita prática, análise e riscos. Pois nenhum real aprimoramento vem sem constante esforço. E o extraordinário nunca é alcançado por aqueles que não ousam ir além da segurança de suas zonas de comodidade.

Witches on the Sabbath de Luis Ricardo Falero

Por isso mesmo, a verdadeira beleza e força da Arte sempre veio muito mais dos menos vistos do que daqueles que tinham segurança e conforto. Daqueles que se permitiam e precisavam ousar de verdade. E de fato, transformar as próprias vidas em algo para além de suas realidades. Pelos seus desejos de serem mais, de irem além, e de tocarem aquilo que é verdadeiramente insondável.

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